Sujeito e Liberdade na Filosofia Moderna Alemã

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LEVINAS CONTRA A MONOLOGIA KANTIANA Hegildo Holanda Gonçalves1 A patologia do tempo, o Inumano, em suas mais diversas formas, constitui-se primariamente como medo, mas não um medo qualquer, um medo sem nome e sobrenome, ou hipocondria, ou cuidado, ou terror, ou Sorge: é o medo mais profundo de todos (...) é o medo do outro realmente concreto, e a impossibilidade de aceitá-lo, o medo do que significa ser realmente atritado ou traumatizado pelo que não sou eu2.

1. A subjetividade kantiana A subjetividade teórica Para o entendimento da estrutura da subjetividade kantiana convém distinguir dois tipos de sujeito: o empírico e o transcendental. O primeiro, é aquele que se dá na experiência, é o eu como realidade fenomênica cuja constituição dá-se através do corpo e da vida psíquica e submetido ao tempo e ao espaço. O sujeito empírico vive no mundo natural numa dimensão espaçotemporal3. O pertencimento do sujeito à natureza e a submissão de seus atos ao determinismo universal acontece, segundo Kant, na Crítica da Razão Pura, justamente pelo caráter empírico do sujeito, o que o diferencia do caráter inteligível, que contrariamente faz com que o sujeito escape do mundo dos fenômenos e viva livremente. Na dimensão empírica, “situa-se o sujeito da sensibilidade, o eu psicológico, o objeto do sentido interno, o qual recebe passivamente as afecções externas e as conforma espaço-temporalmente” (KUIAVA, 2003, p. 25). O segundo, é o sujeito que se constitui como condição de possibilidade última de todas as sínteses de conhecimento. Dá-se na experiência moral. Para Kant, não podemos ter do sujeito transcendental um conhecimento científico, pois sua existência é consequência da reflexão relativa à possibilidade do conhecimento4. Enquanto sujeito, o eu ocupa lugar central na realidade, no sentido de ordenar a experiência. Assim, há um 1

Bolsista CAPES 2009.02. E-mail: holandahg@hotmail.com SOUZA, Ricardo Timm. Metamorfose e extinção: sobre Kafka e a patologia do tempo. Caxias do Sul: EDUSC, 2000. 3 Cf. KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Versão Eletrônica do livro Crítica da Razão Pura. Tradução de J. Rodrigues de Merege. 4 Cf. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa/Portugal: Edições 70, 2005. 2

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