SUJEITO E LIBERDADE NA FILOSOFIA MODERNA ALEMÃ......................................
MOVIMENTO, VIDA E CONTRADIÇÃO Victor Marques1 Introdução A polêmica de Hegel contra o princípio da não-contradição e, em geral, em relação ao modo de pensar que o adota “dogmaticamente” é bem conhecida. Seu conteúdo preciso, contudo, não é tão claro: o que, afinal, Hegel pretendia dizer com a sua aparente rejeição do princípio que, ao longo da tradição filosófica, foi considerado por muitos o próprio pilar da racionalidade? Para alguns, parece evidente que, não importando o que Hegel efetivamente afirme, ele não poderia estar aceitando a existência de contradições – pois uma vez que se aceite uma contradição sequer, tudo mais se segue, e qualquer pretensão de racionalidade escorre ralo abaixo. Segundo essa linha de raciocínio, como Hegel pretendia ser racional, ele não pode estar dizendo que contradições são possíveis, pois a própria definição de possibilidade implica não-contradição – logo, ele só pode estar falando de outra coisa. Uma abordagem alternativa é que Hegel diz o que parece dizer: isso é, absurdos. As opções, então, se resumiriam a: 1) ou Hegel é racional e logo não pode rejeitar o princípio da não-contradição (por mais que pareça fazer isso); ou 2) Hegel de fato faz o que parece fazer, e portanto não é racional. O problema, no entanto, é que nenhuma das opções apresentadas é realmente satisfatória. A primeira nos forçaria a um certo contorcionismo hermenêutico, conduzindo a uma interpretação “metafórica” e forçada de certas passagens chaves – e implica certamente em um enfraquecimento considerável da teoria hegeliana da contradição. A segunda é, de certa forma, ainda pior, pois se trata de um desvio verdadeiramente dogmático do que está em questão: não passa de uma forma de ignorar o argumento racional de Hegel em favor da pensabilidade da contradição e rejeitar sua posição a princípio, sem dar-se o trabalho de examiná-la. É da nossa opinião que Hegel quis mesmo dizer todas as coisas que disse a respeito da contradição. Mais que isso: tais considerações, por fortes e inusitadas que sejam, desempenham um papel central em seu edifício teórico, de modo que não é possível marginalizá-las e manter-se fiel ao espírito da filosofia hegeliana. Afinal de contas, essa filosofia é, como se sabe, 1
Bolsista CAPES 2009.01. E-mail: victorxis@gmail.com Doutorando em Filosofia pela PUCRS.
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