Sujeito e Liberdade na Filosofia Moderna Alemã

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O ENCANTAMENTO DO HOMEM E O NASCIMENTO DO ARTISTA TRÁGICO: O OLHAR VIVIFICANTE DE NIETZSCHE SOBRE A TRAGÉDIA GREGA ANTIGA Eduardo André R. de Lima1 Na obra, O Nascimento da Tragédia, este artigo examina como Nietzsche forja, através da metafísica do artista, sua concepção do aparecimento do ator trágico. Procura-se demonstrar posteriormente como esta metafísica significa um conhecimento positivo, vivificante e afirmativo para a existência, diante das dores e dos limites do conhecimento humano. Nestes largos meandros, se focará mais particularmente as considerações sobre os impulsos, a música (e suas relações com a linguagem e os fenômenos artísticos), o mito trágico e o coro. Detendo-se no estudo da tragédia grega antiga, três reflexões iniciais atraíram o olhar nietzschiano: uma grande propensão do grego para o sofrimento enquanto algo importante para esta cultura; a relação entre a arte e esse sofrimento/pessimismo; e, por fim, como essa arte trágica poderia renascer na Alemanha de seu tempo.2 Com efeito, em fevereiro de 1870, Nietzsche escrevia em carta para um amigo: “Ciência, arte e filosofia se vão fundindo tanto em mim que algum dia, certamente, vou parir um centauro”.3 A dita criatura antropozoomórfica, de fato, veio a nascer em 1871 e foi batizada como O Nascimento da Tragédia. De fato, neste texto, encontram-se de certa forma algumas ideias não tão comuns para a formação acadêmica de Nietzsche.4 Para Nietzsche, 1

Bolsista CAPES 2009.02. E-mail: eduardo_rlima@hotmail.com Doutorando em Filosofia – UFMG. A versão completa deste artigo está publicada na revista “Existência & Arte”, 5ª edição - Ano 2010, disponível em: http://www.ufsj.edu.br/existenciaearte/5_edicao.php. Agradecemos ao gentil corpo de editores por permitir esta nova publicação mais concisa. 2 Nietzsche já tinha apresentado algumas dessas teses em duas conferências, “O drama musical grego”, de 18 de janeiro de 1870, e “Sócrates e a tragédia”, de 1° de fevereiro de 1870. Durante as apresentações, ele já falava, de forma ainda incipiente, de um renascimento da tragédia. Todos na plateia que conheciam um pouco da vida do palestrante compreenderiam facilmente que ele pensava em R. Wagner, pois, nesse momento de sua vida intelectual, era sobejamente sabido que o aclamado compositor portava essas esperanças. Na obra publicada isso fica absolutamente claro, pois as relações e citações são diretas entre Nietzsche e o compositor. Cf. SAFRANSKI, Rüdiger. Nietzsche, biografia de uma tragédia. São Paulo: Geração, 2005, p. 52. 3 SAFRANSKI, Rüdiger. Nietzsche, biografia de uma tragédia. São Paulo: Geração, 2005, p. 56. 4 Nietzsche era, a rigor, filólogo clássico e, no período dessa obra, afirmava que gostaria de poder trabalhar um tema de sua área em condições mais filosóficas, pois sentia que suas


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