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TOTALITARISMO E O TERROR COMO LEI: ACERCA DA ANÁLISE DE HANNAH ARENDT Cícero Samuel Dias Silva1 1. Introdução O confronto com os acontecimentos históricos que marcaram o século XX levou Hannah Arendt a refletir e buscar o sentido da “coisa política”, frente aos atrozes acontecimentos e consequências da dominação totalitária. O conceito de totalitarismo dormita, portanto, na base de toda sua reflexão política. Usado, sobretudo, para abarcar a nova amalgama dos acontecimentos políticos que delineia a contemporaneidade. Partimos, assim, da compreensão de que é própria natureza de princípio do totalitarismo que impossibilita um paralelo histórico aceitável ou o enquadramento de determinada forma de dominação dentro das categorias de governos nos legadas pela tradição. Do ponto vista de uma visão preliminar, seriamos levados à comparação do totalitarismo à tirania, ou ao despotismo, comparação que solapa, à medida que diferente destes, não é o aspecto da ilegalidade, ou da subversão das leis de dado corpo político ao desejo de um único homem que pode constituir o mote inicial e mantedor do totalitarismo. Papel desempenhado pelo terror, empregado não como meio de extermínio e amedrontamento dos oponentes, mas como “instrumento corriqueiro para governar as massas perfeitamente obedientes”2. Nesse sentido, o totalitarismo diferente das outras formas de dominação não se limita a abolir a liberdade pública, mas visa adentrar no âmbito da vida privada, abolindo a espontaneidade em si mesma, através de mecanismos ideologizantes e propagandísticos capazes de forjar uma nova ótica de realidade. O terror empregado pelo totalitarismo diferencia-se das demais formas de terror, empregadas ao longo da história política da humanidade, por seu próprio mote de aparição, uma vez que “o terror genuinamente totalitário aparece apenas quando o regime não tem mais inimigos a prender e torturar até a morte, e quando as várias classes de suspeitos foram eliminadas e não podem mais ficar sob ‘prisão preventiva’”3. Desta forma, o terror dos regimes 1
Bolsista CAPES 2012.01. E-mail: sammueldias@hotmail.com Mestrando em filosofia pela Universidade Federal do Ceará – UFC. 2 ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Tradução de Roberto raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 26. 3 ARENDT, Hannah. Compreender: formação, exílio e totalitarismo (ensaios). Tradução Denise Bottman; organização, introdução e notas de Jerome Konh. – São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: editora UFMG, 2008, p. 321.
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