CONTEÚDO LOCAL
COMO O MOZUP ESTÁ A PROJECTAR O DESENVOLVIMENTO DE MPME NACIONAIS
INOVAÇÕES DAQUI
QUE LIÇÃO NOS DEIXOU O ENERGY OBSERVER QUANDO PASSOU POR MOÇAMBIQUE?
NACALA LOGISTICS
CEO EXPLICA COMO O CORREDOR DE NACALA SE TORNOU NO MAIS COMPETITIVO DA REGIÃO
INVESTIMENTOS
QUE VANTAGENS TRAZ A ALTERAÇÃO DA LEI NO PANORAMA DOS NEGÓCIOS EM MOÇAMBIQUE?
AS LINHAS DO DESENVOLVIMENTO
Que patamar de crescimento Moçambique pode alcançar se explorar em pleno o vasto potencial energético existente?
MOÇAMBIQUE
Agosto • 2023 • Ano 06 • Nº 63 • 350MZN
ENERGIA
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OBSERVAÇÃO
A imagem do caos na saúde pública em Moçambique na sequência da greve dos médicos, que protestam contra os cortes salariais com a aplicação da nova tabela salarial
OPINIÃO
“Construindo o Amanhã: A Força Motriz da Proposta de Valor no Sucesso Empresarial”, Michele Peres, Liderança, Formação, Retenção de Talentos e Cultura no Absa Moçambique
OPINIÃO
“Energias Renováveis: Porque é que Deve Considerá-las no Seu Plano de Negócios?” Vicente Bento, Partner e General Manager da Insite
16
E SG
O impacto do ‘Primeiro Plano da Mulher Empreendedora’, iniciativa conjunta da Ronil e do Standard Bank na promoção de negócios sustentáveis da mulher moçambicana
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OPINIÃO
“Culturas Regenerativas – O Caminho, as Perguntas e a Teia”, Susana Cravo, Consultora & Fundadora da Kutsaca e da Plataforma Reflorestar.org
CONTEÚDO LOCAL
Como o MozUp, um centro de desenvolvimento empresarial liderado pela ExxonMobil, tem ajudado as empresas nacionais a adquirirem competências na indústria do GNL
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P OWERED BY STANDARD BANK
O director de negócios do Standard Bank, João Guirengane, explica porque a instituição dá prioridade ao agro-negócio e que transformações pretende promover no sector
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OPINIÃO
“Os Factores Determinantes da Inflação”, Wilson Tomás, Research do Banco Big Moçambique
NAÇÃO ENERGIA
26 O potencial Autoridades, consultores e empresas consideram criadas as condições para a afirmação de Moçambique como hub regional do sector energético
36 Opinião “As Renováveis e a Transição Energética”, Carlos Lopes, Executive Director da EY
38 Renováveis O papel das fontes limpas na afirmação de Moçambique como hub de energia da África Austral
40 Entrevista Pedro Coutinho, CEO da Source Energia, revela o quanto o País é apetecível a novos investimentos
42 Opinião “Energia Sustentável e a Construção de Pontes entre Países Africanos Lusófonos”, Mayra Pereira, Fundadora da Gaia Consulting, presidente da ALER
44 EDM Responsáveis séniores explicam como se está a coordenar o percurso para o acesso universal à energia
74 Escape O Oeste Americano 76 Gourmet Restaurante
Kuxuva 77 Adega Jack & Coke 78 Empreendedor
Ciclismo e resiliência 80 Empreendedorismo Grupo
VIP fala sobreo estado da arte do Turismo 81 Artes Feira do Livro 82 Ao volante do’The Icon’, da BMW
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NEGÓCIOS
Que resultados trouxeram os recentes investimentos da Nacala Logistics à competitividade do Corredor de Nacala? O CEO da empresa, Abhay Mishra, responde
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OPINIÃO
“Estratégias para Maximizar o ROI dos Projectos de Transformação Digital em África”, João Gomes, Partner@ BlueBiz
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P OWEDED BY RSM
“Q&A - Cinco Perguntas Sobre os Diferentes Tipos de Visto Cujas Respostas Podem Fazer a Diferença para si e para a sua Organização (I)”, Ágata Chiconela, Head of Legal da RSM
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SHAPERS
Quem foi David Ricardo? Conheça o pensamento do economista inglês cujas ideias foram decisivas na definição das regras do comércio internacional
56
MERCADO E FINANÇAS
O que muda com a alteração da Lei de Investimentos? O investidor estrangeiro ganhou novos privilégios, mas não só. O director-geral da APIEX explica a nova dinâmica
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P OWEDED BY NEDBANK
“A Importância da Evolução da Banca Digital Africana no Desenvolvimento Inclusivo”, Terence Sibiya, Group Managing Executive of Nedbank Africa Regions
63 E SPECIAL INOVAÇÕES DAQUI
64 Energy Observer
Navio inovador francês, mensageiro das boas práticas ambientais, esteve em Maputo. O que dele aprendemos?
68 Casa Mozambique
Uma plataforma digital que oferece facilidades e segurança das transacções no mercado imobiliário e que já está no País
73 ÓCIO
14 6
20
26
Celso Chambisso Editor Executivo da Economia & Mercado
Como Transitar do Défice para o Superavit
Orecém-divulgado Relatório do Progresso Energético de 2023 alerta que 675 milhões de pessoas vivem sem electricidade no mundo e coloca Moçambique entre os 20 países com maior défice de acesso à energia a nível global, com 22 milhões de pessoas sem ligação eléctrica.
Os dados diferem dos apresentados pelo Governo que, ao estimar em cerca de 40% a população que vive nesta condição - e considerando um universo de habitantes em torno dos 32 milhões, segundo o Instituto Nacional de Estatística - faz com que o número de pessoas sem acesso à energia seja de aproximadamente 12,8 milhões de pessoas.
Sem querer pôr em causa qualquer um dos números apresentados (apesar de serem diferentes em grande medida), ambos demonstram que o défice energético é ainda um grande desafio. As assimetrias de acesso são uma realidade que fica ainda mais evidente quando comparamos o meio urbano e o meio rural.
Mas é igualmente verdade que o País tem vindo a alcançar avanços assinaláveis na expansão do acesso à energia, graças a investimentos realizados no âmbito dos vários programas públicos e privados desenhados para o efeito, com destaque para o Programa Energia para Todos, cuja meta é assegurar que toda a gente tenha energia até 2030.
Nesta edição, a E&M procura discutir vários pontos. Por um lado, a capacidade de produção que está e ainda será instalada para alcançar a meta do acesso universal à electricidade até 2030, mas também o esforço de transformar o País numa potência energética capaz de suprir o défice da África Austral.
Energético?
Tudo isto enquanto assume um papel relevante no quadro da transição energética global, rumo à neutralidade carbónica até 2050.
Fundamentalmente, a E&M procura explorar as estratégias de integração do enorme potencial disponível em termos de fontes renováveis para percebermos que patamar o País pode alcançar no que diz respeito ao desenvolvimento socioeconómico. Até aqui, Moçambique é o maior exportador de electricidade da região. Este é um bom indicador. Mas tem capacidade para ir mais longe, explorando ao máximo o potencial que tem.
Das várias fontes que a E&M cruzou nesta abordagem, a ideia que fica é a de que Moçambique tem todas as condições para se transformar no hub energético regional e que regista avanços importantes nos últimos tempos rumo a este objectivo - quer em termos de coordenação das estratégias internas, incluindo o quadro legal (lembre-se que no ano passado houve a actualização da Lei de Electricidade que, entre outros aspectos, estimula o investimento privado no sector de energia), quer pelo grande interesse dos parceiros internacionais que dão suporte técnico e financeiro a essas iniciativas.
Para ter uma ideia, foram identificados 21 programas de apoio de parceiros de cooperação, orientados para os diversos segmentos de mercado, num total de 282 milhões de euros, que serão desembolsados sob a forma de assistência técnica, subvenções ou outro tipo. Espera-se que este financiamento dos parceiros tenha um efeito catalisador e atraia investimento extra do sector privado no desenvolvimento de projectos de energia renovável.
AGOSTO 2023 • Nº 63
DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos
EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso
CONSULTOR EDITORIAL Luís Fonseca
JORNALISTAS Ana Mangana, Filomena Bande, Hermenegildo Langa, Nário Sixpene, Yana de Almeida
PAGINAÇÃO José Mundundo
FOTOGRAFIA Mariano Silva
REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos
DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@media4development.com
CONSELHO CONSULTIVO
Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO
E PUBLICIDADE Media4Development
Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
RPO Produção Gráfica
TIRAGEM 4 500 exemplares
EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL
EM MOÇAMBIQUE
Media4Development
NÚMERO DE REGISTO
01/GABINFO-DEPC/2018
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E DITORIAL
Crise na Saúde Pública
A qualidade e o acesso aos serviços de saúde pública em Moçambique são historicamente deficitários, mas nos últimos meses pioraram numa tendência sem fim à vista. Em causa estão as paralisações convocadas pela Associação Médica de Moçambique (AMM), que tem vindo a promover greves a contestar cortes salariais (resultantes da aplicação da nova Tabela Salarial Única), bem como a falta de pagamento de horas extraodinárias. No passado mês de Julho, a paralisação ia já na sua terceira fase por 21 dias prorrogáveis.
O cenário nos hospitais, que já era penoso, ficou ainda mais sombrio. Num país em que o défice de médicos é dos mais elevados do mundo (0,8 médicos por cada 10 000 habitantes, segundo a OMS), os pacientes precisam agora de agregar paciência e fé à persistência para terem assistência médica.
A gravidade da situação levou o ministro da Saúde, Armindo Tiago, a acusar a AMM de violar “os serviços mínimos” durante a greve, o que contraria os princípios consagrados na Constituição da República. Estas situações acontecem
numa altura em que a ThinkWell, uma organização que actua no sector da saúde, apresentou um estudo que mostra que as unidades sanitárias nacionais estão sobrecarregadas: chegam a atender o dobro do número de pacientes recomendado internacionalmente. Aliado a isso, os moçambicanos percorrem, em média, 12 quilómetros para terem acesso a um centro de saúde, uma distância que é o dobro do recomendado.
OBSERVAÇÃO 6
FOTOGRAFIA D.R.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023
Moçambique, 2023
Cibersegurança
Moçambique está determinado a sair da lista cinzenta do GAFI na primeira metade de 2024
O Governo quer que o País saia da lista cinzenta do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI) já no primeiro semestre de 2024, uma vez ter conseguido progressos importantes para o efeito, depois de no ano passado ter caído para uma lista de países de risco elevado de branqueamento de capitais.
“Juntamente com todos os sectores, estamos engajados, estamos comprometidos, estamos a trabalhar para remover Moçambique da lista cinzenta. Temos tido sucessos, temos tido recuos, como em todos os processos. Mas estamos cientes de que tudo vamos fazer para que, em um ano e meio, cumpramos o nosso plano de acção”, garantiu Luís
Economia
Oxford Economics prevê que a inflação possa subir para 8,8% devido ao regresso da TotalEnergies a Moçambique
A consultora Oxford Economics prevê que a inflação em Moçambique aumente para 8,8% no último trimestre deste ano, impulsionada pelo regresso das operações da petrolífera francesa TotalEnergies a Cabo Delgado. Esta análise surge poucos dias depois de terem sido divulgados os mais recentes dados da inflação.
“Apesar de a inflação ter caído para menos de 7% face ao período homólogo pela primeira vez desde Outubro de 2021, antevemos que a taxa vai começar a subir gradualmente no último trimestre do ano devido às importações necessárias ao recomeço do projecto da Total Energies e devido à depreciação do metical”, referem os analistas. Ou seja, a expectativa é de que a TotalEnergies retome a construção do parque industrial de Gás Natural Liquefeito (GNL) em Afungi, Cabo Delgado, ainda este ano, aumentando significativamente as importações, o que, por seu turno, “colocará pressão nas reservas em moeda estrangeira, levando o Banco de Moçambique a tomar medidas no último trimestre do ano”, escrevem os analistas num comentário à inflação de Junho.
Na mesma nota de análise e previsão sobre Moçambique, a consultora argumenta ainda que a depreciação da taxa de câmbio vai ter outro feito: fará aumentar os preços dos bens importados, acabando por contribuir para a aceleração da inflação no País.
Sustentabilidade
Cezerilo, director-geral adjunto do Gabinete de Informação Financeira de Moçambique. O País foi ameaçado de bloqueio nas transacções financeiras internacionais, caso não sejam cumpridas as acções para sair da lista de países incumpridores das normas do GAFI.
Recorde-se que o grupo deu dois anos para Moçambique melhorar a sua estrutura de prevenção e combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, a contar desde Outubro de 2022.
A próxima reunião do Grupo de Acção Financeira Internacional para avaliar os progressos de Moçambique está agendada para 23 de Outubro, em França.
Irlanda vai disponibilizar 1 milhão de euros para projectos de economia azul
O anúncio foi feito durante a visita do governante da Irlanda a uma exposição de produtos agro-pecuários resultantes de projectos financiados pelo Governo de Dublin.
O Governo irlandês, através do ministro dos Negócios Estrangeiros e Defesa, Micheál Martin, anunciou que vai disponibilizar um milhão de euros para financiar projectos ligados à economia azul em Moçambique.
Finanças
Também na sua visita à província de Inhambane, o ministro irlandês voltou a reconhecer o contributo do Presidente da República, Filipe Nyusi, na promoção da resiliência e adaptação às mudanças climáticas, tendo realçado, igualmente, o apoio do seu Governo nessa área.
Moçambique, segundo Martin, “é um parceiro próximo da Irlanda, onde está o segundo maior programa bilateral de desenvolvimento internacional ao nível de África”.
Banco de Moçambique autoriza BFS a constituir-se como sociedade gestora de fundos de investimentos
O Banco de Moçambique (BdM) concedeu autorização para a constituição da sociedade gestora de fundos de investimento Business Financial Solutions (BFS), uma sociedade multidisciplinar de consultoria e gestão de fundos de investimentos sediada na Namíbia.
A autorização surge na sequência de uma avaliação realizada pe-
la BFS, apoiada pelo Financial Sector Deepening Moçambique (FSDMoç) e pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), que identificaram a necessidade de existir um fundo de capital de risco registado e gerido localmente no País.
O objectivo da sociedade gestora de fundos de investimento é iniciar
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 8 RADAR
as actividades de intermediação com enfoque na gestão de financiamentos alternativos para as PME no mercado moçambicano, procurando satisfazer a necessidade de crédito - cujas altas taxas de juro condicionam actualmente o crescimento económico -, melhorando assim a oferta de valor ao sector.
Num comunicado emitido pela CTA, a instituição referiu que até à conclusão da avaliação, não existiam em Moçambique sociedades gestoras de fundos de investimento, fundos de capital de risco ou outros veículos
de investimento financeiros alternativos estruturados e localmente registados. As poucas transacções de capital privado efectuadas directamente nas empresas eram, em grande medida, provenientes de fundos não domiciliados no País.
Igualmente, estudos prévios realizados pelo FSDMoç e seus parceiros indicaram que as linhas de crédito financiadas pelos doadores, geridas pelos bancos comerciais moçambicanos e destinadas às pequenas e médias empresas (PME), não estavam a ter o desempenho esperado.
nado entre o Millennium bim e a ENH é válido por cinco anos e os montantes serão disponibiliza-
dos em função das necessidades e capacidade de reembolso das empresas beneficiárias.
Dívida Serviço da dívida de Moçambique vai custar 2,2 MM$ este ano
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o serviço da dívida pública de Moçambique custe, este ano, 2,2 mil milhões de dólares, o equivalente a 11,8% do Produto Interno Bruto. Os dados constam de um documento de análise à dívida pública moçambicana no período de 2022 a 2024. De acordo com a instituição, estima-se que, em 2022, o serviço da dívida pública (total de juros pagos e de capital reembolsado) do País tenha custado quase 1,1 mil milhões de dólares, o correspondente a 7,2% do PIB.
Ainda segundo os dados do FMI, Moçambique fechou o ano de 2022 com uma dívida pública total superior a 18 mil milhões de dólares, dos quais
13,6 mil milhões foram contraídos no exterior.
O FMI afirma que a dívida nacional está avaliada como de alto risco, mas sustentável, tendo em conta as receitas futuras com a produção de gás natural no País. “Entre a dívida externa a parceiros bilaterais, a China liderava, no ano passado, a origem do endividamento contraído por Moçambique, com mais de 1,7 mil milhões de dólares, seguida de Portugal, com 485,5 milhões. Em particular, o Banco Mundial era credor, no final de Dezembro de 2022, de quase três mil milhões de dólares. No mercado doméstico, o País contava com um endividamento superior a 4,4 mil milhões de dólares”, avança o FMI.
O Millennium bim e a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) assinaram um memorando que visa definir as condições de acesso aos produtos do banco para alavancar as capacidades financeiras das Pequenas e Médias Empresas (PME) do sector de petróleo e gás.
Com este passo, o Millennium bim assegura um mecanismo de financiamento às PME com participação nos projectos de petróleo e gás, visando permitir que este segmento tire proveito das oportunidades criadas nos hidrocarbonetos.
“A parceria com a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) é uma iniciativa muito importante para o Millennium bim, uma vez que através deste memorando de entendimento
que assinámos iremos conceder um conjunto de condições especiais de acesso aos nossos produtos e serviços financeiros às PME previamente identificadas no âmbito do Programa Linkar da ENH”, explicou o presidente da Comissão Executiva do Millennium bim, João Manuel Martins.
Concebido pela ENH e lançado em 2022, o programa LINKAR pretende promover o desenvolvimento das PME nacionais na indústria de Petróleo e Gás através da assistência técnica, capacitação, apoio institucional, certificação e padronização de processos, bem como por via da identificação de oportunidades de ligações empresariais e de firmação de contratos para a prestação de serviços. O acordo assi-
O vice-ministro da Economia e Finanças, Amílcar Tivane, considera ser necessário adequar a legislação do mercado de seguros para conformá-la com as boas práticas internacionais e assegurar a competitividade do sector.
“A legislação que rege o sector de seguros e de pensões data de 2009, daí a necessidade de se proceder à adequação para estar em conformidade com os desenvolvimen-
tos recentes nessa área”, reconheceu o governante, durante o recente Seminário de Revisão da Legislação do Sector de Seguros e de Pensões, que teve como objectivo auscultar diversas partes interessadas sobre a matéria.
Segundo os promotores, espera-se que, após a auscultação, o País produza legislação que assegure o desenvolvimento das actividades neste sector, de forma sã e credível, em defesa dos interesses dos consumidores e da estabilidade de um mercado que, nos últimos anos, mostra sinais de franco crescimento.
O seminário foi promovido pelo Ministério da Economia e Finanças e pelo Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique, em parceria com o Banco Mundial e também com o Consórcio Callund, Ruparelia e Lei, Associados.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 9
Conteúdo local Millennium bim e ENH assinam parceria para assegurar crédito às PME com condições especiais
Seguros Governo reconhece a necessidade de revisão de leis no sector de seguros e de pensões
Num mundo empresarial em constante evolução, a gestão de pessoas tornou-se num dos pilares fundamentais para o sucesso de qualquer organização. Para os profissionais de recursos humanos e líderes, o desafio de atrair e reter talentos é constante.
Neste artigo, quero trazer para reflexão a importância das empresas terem uma proposta de valor ao colaborador (PVC) sólida e inspiradora, que reflicta uma liderança de pensamento e capacidade de adaptação às mudanças do mercado. Trago, por isso, alguns pontos que considero fundamentais para as empresas na construção das suas propostas de valor.
Conquistar talentos num mercado competitivo
Num cenário empresarial altamente competitivo, o pacote salarial per si , mesmo que atractivo, já não é suficiente para atrair e reter os melhores profissionais. A construção de uma abrangente proposta de valor ao colaborador é o caminho para quem quer destacar-se no mercado.
Uma PVC vai além da compensação financeira e inclui elementos como oportunidades de desenvolvimento e crescimento profissional, ambiente e modelo de trabalho, reconhecimento e benefícios tangíveis e intangíveis e a cultura organizacional. É a oportunidade de a empresa se apresentar como um local de trabalho excepcional.
Desenvolvimento de lideranças e retenção de talentos
Investir em programas de desenvolvimento de liderança é essencial para capacitar os líderes a enfrentar os desafios, em constante mudança.
Além disso, os programas de desenvolvimento individual alinhados à
Construindo o Amanhã: A Força Motriz da Proposta de Valor no Sucesso Empresarial
estratégia da empresa garantem que os colaboradores se sentem valorizados e crescem profissionalmente, além de aumentar as probabilidades de sucesso no alcance dos objectivos da empresa.
Criar um ambiente de trabalho que valorize o indivíduo é um diferencial para a retenção de talentos e construção de equipas comprometidas.
O modelo híbrido - um novo paradigma no mundo do trabalho
A pandemia de covid-19 impulsionou a adopção do modelo de trabalho híbrido, combinando o trabalho presencial e remoto. Esta aborda -
Cultura organizacional: a chave para a coesão e lealdade
Uma cultura organizacional sólida, que enfatize o propósito, os valores e princípios da empresa, cria um sentimento de pertença e união entre os colaboradores.
A identificação com a cultura da empresa aumenta a satisfação no trabalho e a coesão da equipa, resultando em colaboradores mais leais e comprometidos com o projecto como um todo.
Valorizar o bem-estar dos colaboradores
A saúde e o bem-estar dos colaboradores são fundamentais para o bom funcionamento da empresa.
Iniciativas abrangentes de saúde mental, actividade física e apoio psicológico protegem a saúde dos colaboradores e aumentam a produtividade, resultando em equipas mais saudáveis e comprometidas.
Conclusão
A gestão de pessoas enfrenta inúmeros desafios num mundo dinâmico e em constante transformação.
gem oferece flexibilidade, autonomia e equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, contribuindo para a satisfação e bem-estar dos colaboradores.
No entanto, para adoptar o modelo híbrido com sucesso, as empresas precisam de enfrentar desafios como a colaboração eficaz entre equipas remotas e presenciais, garantindo o bem-estar dos colaboradores em trabalho à distância, assim como preparar os seus líderes para a mudança de paradigma, bem como acautelar uma infra-estrutura que assegure eficiência.
Para atrair e reter talentos num mercado competitivo, uma proposta de valor ao colaborador autêntica e sólida é essencial e a adopção de uma liderança que abrace as mudanças do mercado são estratégias proactivas para lidar com os desafios da gestão de pessoas.
Proporcionar um ambiente de trabalho positivo, no qual os colaboradores se sintam valorizados e motivados, é a chave para o sucesso a longo prazo e para alcançar resultados excepcionais.
Ao investir nas suas equipas, as organizações estarão a investir no seu próprio crescimento, num futuro sólido, inspirador e sustentável.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 10 OPINIÃO
Michele Peres • Responsável pela Área de Liderança, Formação, Retenção de Talentos e Cultura no Absa Bank Moçambique
Num cenário empresarial altamente competitivo, o pacote salarial persijá não é suficiente para atrair e reter os melhores profissionais
Os Maiores Emissores de Carbono e o Consumo Global de Energia Durante o Último Século
De onde vem a nossa energia e como é que esta mistura se alterou nos últimos 100 anos? Estas infografias examinam a complexa relação entre a produção e o consumo de energia e as respectivas emissões de carbono, utilizando informações do repositório Our World in Data. Nos últimos dez anos, o consumo total de energia a nível mundial aumentou quase 15%. Antes disso, entre 2000 e 2010, aumentou quase 25%. E apesar das frequentes manchetes sobre iniciativas ecológicas nos últimos anos, os combustíveis fósseis continuam a representar a maior parte do consumo total de energia. Em 2021, 77% da energia global era proveniente do carvão, petróleo e gás. Mesmo assim, as fontes de energia renováveis, como a eólica, a solar e a hidroeléctrica, ganharam força desde o ano 2000. A energia hidroeléctrica foi a maior fonte de energia renovável em 2021, representando 6,3% da energia total consumida.
2020: 50 países com as maiores emissões de CO2 (Toneladas)
E os maiores poluentes são...
China, EUA, Índia, Rússia e Japão são os cinco maiores poluidores do mundo, responsáveis por 60% do total das emissões mundiais em 2020.
Uma vez que estes países incluem as maiores potências económicas mundiais, alguns acreditam que as emissões são um subproduto necessário do crescimento económico.
Embora haja excepções, isto parece ter-se mantido, em média, uma vez que os estudos mostram que uma variação de 1% no PIB está correlacionada com uma variação de 0,07% nas emissões de dióxido de carbono.
Quando se olha para o gráfico das emissões de carbono abaixo, o percurso de crescimento económico da China na segunda metade do século XX é um exemplo disso mesmo.
As fontes primárias de consumo energético, por fonte (TWh)
1900: 50 países com as maiores emissões de CO2 (Toneladas)
Este gráfico é escalonado proporcionalmente a 2020
NÚMEROS EM CONTA
12 www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 FONTE Our World in Data
Vicente Bento • Partner e General Manager
De acordo com o último estudo da IRENA - Agência Internacional de Energia Renovável - publicado em Junho de 2023, para que o planeta não exceda a temperatura média global de 1,5ºC comparando com a era pré-industrial, o mundo deve adicionar à rede cerca de 1000 GW de capacidade de energia renovável, por ano, até 2030. Ora, para se ter uma ideia da ordem de grandeza, 1000 GW é a potência que os Estados Unidos da Améria precisam todos os anos para satisfazer as suas necessidades de consumo (1). Como se prevê, não será uma tarefa fácil…
No entanto, a revolução energética veio para ficar e as empresas a nível mundial começam a consciencializar-se que algo tem de mudar no seu dia-a-dia. Não só por causa de questões ambientais (ex.: redução da pegada carbónica), como também pelas questões sociais e económicas, tendo em conta que o aumento do custo da energia nos últimos tempos se tem reflectido de uma forma dramática no consumidor final.
Razões para a inclusão de Energias Renováveis
Implementar numa empresa um plano de transição energética considerando o uso de energias renováveis, tais como a solar ou a eólica, não só é uma acção sensata. É, também, uma atitude altamente responsável, demonstrando o compromisso da empresa para com a sustentabilidade. A inclusão das renováveis permitirá às empresas diversificarem a sua matriz energética, reduzindo, assim, a sua dependência de uma única fonte, como por exemplo o carvão ou o gás natural, ambos exemplos de energias fósseis que serão descontinuadas a curto e a médio prazo, respectivamente.
Embora o investimento inicial na infra-estrutura possa exigir recursos financeiros, a geração de energia a partir de fontes renováveis pode resultar em redução de custos operacionais a longo prazo, pois permite às empresas beneficiarem de tarifas de energia mais estáveis, reduzir a dependência de combustíveis fósseis, sujeitos a flutuações de preço no mercado, e até vender a energia ex-
Energias Renováveis: Porque é que Deve Considerá-las no Seu Plano de Negócios?
cedente à rede (algo que já tem enquadramento legal no âmbito da Lei da Electricidade n.º 12/2022, publicada em Julho do ano passado em Moçambique).
A transição para energias renováveis exige inovação e desenvolvimento de novas soluções tecnológicas. Ao incorporarem esse tipo de iniciativas no seu plano de negócios, as empresas podem impulsionar a inovação interna, diferenciar-se dos concorrentes e posicionarem-se como líderes no seu sector. Algumas empresas localizadas no MOZPARKS (Parque Industrial de Beluluane) já são exemplo disso. Tal permitirá às empresas abrirem portas a novos mercados e a novas oportunidades de negócio, assim como tornarem-se apelativas para potenciais investidores que, cada vez mais, optam por colocar o dinheiro em empresas ambientalmente responsáveis, satisfazendo os critérios ESG (Environmental, Social e Governance), que
dos em 2022 vários diplomas que visam a regularização deste sector. Neste sentido, cabe às empresas estarem atentas e perceberem como podem tirar proveito destes novos regulamentos, assim como garantir que estão em conformidade com os mesmos.
Avaliar os Riscos e as Oportunidades
Ao considerar a transição para as energias renováveis no seu negócio, é importante realizar uma análise cuidadosa da viabilidade económica do projecto, avaliando os riscos e oportunidades específicos para o seu sector de actividade, de modo que, posteriormente, possam identificar as melhores estratégias de implementação das acções. Nessa avaliação, é também importante considerar os riscos associados, tais como os custos elevados na fase de construção da infra-estrutura, a intermitência das energias solar e eólica e até os impactos ambientais negativos causados não só na fase de construção, como também aquando do fim de vida da infra-estrutura (ex.: parque fotovoltaico). Para tal, deve ser elaborado um plano onde esteja previsto um destino adequado para os resíduos gerados, privilegiando soluções de economia circular.
são uma medida para avaliar o desempenho das empresas nessas áreas.
Por último, mas não menos importante, os governos de todo o mundo, incluindo o de Moçambique, encontram-se a criar regulamentos e normas cada vez mais rígidas relacionadas com as emissões de carbono e com o uso de energias renováveis nos países. Neste âmbito, o papel da Autoridade Reguladora de Energia (ARENE) e do Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME) tem sido bastante importante, tendo sido publica-
Curiosidade:
Para além das razões já apresentadas, a transição para as energias renováveis permite ainda criar empregos “verdes”, impulsionado a crescimento económico do país. Serão necessários quadros técnicos para a instalação e manutenção de painéis solares e fotovoltaicos, técnicos de turbinas eólicas, engenheiros de energias renováveis, especialistas em eficiência energética, entre muitos outros. Num país em que sol e vento não faltam, Moçambique e as suas empresas só têm a ganhar ao fazerem esta transição!
(1) Fonte: “Como evitar um desastre climático”, Bill Gates (Fevereiro, 2021)
Livro “Energia e Civilização”, Vaclav Smil (Outubro, 2021)
“O efeito fotovoltaico (FV) - a geração de electricidade por meio de eléctrodos metálicos expostos à luz – foi descoberto por Edmond Becquerel em 1839, mas foi só em 1954 é que os Laboratórios Bell produziram células solares de silício, caras e de baixa eficiência, que foram primeiro usadas em 1958 para alimentar (com somente 0,1W) o satélite Vanguard 1…”
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 14 OPINIÃO
A revolução energética veio para ficar e as empresas começam a consciencializarse que algo tem de mudar...
Ronil Impulsiona “Sonhos Verdes” de Empreendedoras
A empresa do ramo automóvel Ronil tem um longo histórico de envolvimento em acções de responsabilidade social ao longo dos seus 75 anos de presença no País. Essa intervenção está cada vez mais forte. A Ronil decidiu agora dedicar especial atenção à sustentabilidade e às mulheres
Texto Filomena Bande • Fotografia Mariano Silva
Já não há dúvidas de que iniciativas para a emancipação económica da mulher e com alcance ao nível da sustentabilidade (económica, social e ambiental) geram impacto directo no crescimento e no desenvolvimento. Foi a pensar nestes resultados que a Ronil e a Hyundai lançaram o Primeiro Plano da Mulher Empreendedora, no âmbito do Dia da Mulher Moçambicana, assinalado a 7 de Abril. Trata-se de uma incubadora de projectos de empreendedorismo para apoiar mulheres com interesse em investir em iniciativas ambientalmente ‘verdes’.
Segundo Dalila Tsihlakis, PCA da Ronil, “o programa faz parte do plano da empresa para se tornar mais proactiva em questões sociais e tinha dois objectivos concretos. O primeiro era apoiar o crescimento e desenvolvimento de negócios ‘verdes’, através de um programa de imersão, que ajudará a criar ou a transformar ideias em acções concretas – acções que permitam criar impacto e construir um negócio de elevado potencial. O segundo consistia em expor e dar a conhecer histórias de mulheres empreendedoras moçambicanas”.
Um dos pontos positivos desta primeira edição do programa (a Ronil já planeia avançar com a segunda edição em Abril de 2024) foi o facto de ter abrangido mulheres que vivem fora da capital, Maputo, e que, por isso, não têm tido oportunidade de beneficiar de iniciativas de incubação de negócios como este.
Mudança nos projectos de empreendedoras
O programa já está a influenciar de forma decisiva a actividade das mulheres empreendedoras beneficiárias.
zYara Muchanga, 25 anos, do distrito de Xai-xai na província de Gaza, é finalista do curso de licenciatura em Química Industrial e é igualmente designer e artesã. Yara investe na produção de bijuterias e personalização de bolsas e calçados com carcaças de pescado (espinhas e escamas) e plástico. “Já tenho ferramentas que me permitem ver que a minha ideia de negócio ‘verde’ pode prosperar”, garante.
Sheila Badru, da província de Maputo, é licenciada em Engenharia Agronómica e frequenta um mestrado em Saúde Pública. Tem um negócio que consiste em produzir, em estufa, hortícolas e frutas, como mirtilos, tomate, entre outros. “Percebi que pouca gente se dedica às culturas que eu me proponho produzir e que a maioria das pessoas não compra no mercado interno, preferindo importar da África do Sul. Eu produzo em estufas durante todas as estações do ano e garanto a qualidade e a disponibilidade contínua”, explicou. Sheila oferece solução para outros grandes dilemas dos produtores que são o armazenamento, processamento e gestão de outros recursos como a água. Graças ao programa de incubação da Ronil e do Standard Bank, Sheila descobriu outras oportunidades para o seu negócio. “Posso fazer consultoria a outros agricultores e programas de formação. De agora em diante, sinto-me mais preparada. Vou implementar e procurar acelerar o meu negócio”, assegurou.
Outras beneficiárias que confirmaram resultados encorajadores incluem Lurdes Mucavel (24 anos) da cidade da Matola, província de Maputo, e Olga Matavel do distrito de Chibuto em Gaza. Ambas investem na reciclagem de pneus velhos para os transformar em objec-
tos de decoração e de uso doméstico, nomeadamente cadeiras e puffs.
Um trabalho com parcerias
A Ronil trabalhou com o Standard Bank através do programa de incubação que o banco vem levando a cabo, designado iDeate Bootcamp. De acordo com Eric Vidal, coordenador de Marketing da Ronil, a parceria com o banco surgiu porque “o Standard Bank estava a trabalhar na segunda edição do iDeate” na mesma altura. “Portanto, o que era a ideia da Ronil e da Hyundai acabou por ser associada ao Standard Bank em todo o processo de desenvolvimento”. A iniciativa foi lançada no Dia da Mulher Moçambicana (7 de Abril) e o concurso decorreu durante as duas semanas seguintes. Nesta primeira edição, inscreveram-se mais de 90 jovens mulheres, entre os 18 e os 35 anos, das quais foram seleccionadas cinco vencedoras que tiveram a oportunidade de participar no iDeate Bootcamp do Standard Bank.
Nesta busca pelo apoio ao empreendedorismo ‘verde’, a empresa procura associar-se a parceiros que agreguem valor.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 16 E SG RONIL
Apoio em todos os domínios
O programa de incubação não se limitou à formação. A Ronil dispôs-se a apoiar em todas as componentes de que as empreendedoras precisavam para concretizar as suas ideias, tudo em parceria com o Standard Bank.
A postura da empresa, segundo Dalila Tsihlakis, tem alicerces no facto de a Ronil pretender ser “uma força motriz para a transformação social, promovendo a igualdade de género, o empreendedorismo e a sustentabilidade”, além do papel de representante da BMW, Hyundai e Mazda em Moçambique,
A presidente da Ronil revela que “a empresa está também a trabalhar para atrair mais mulheres para um sector que, pelas suas características, é dominado por homens”. “Temos vindo a procurar mulheres que tenham interesse pelo sector automóvel, apostando posteriormente na sua formação para que possam continuar a crescer pessoal e profissionalmente, seja como mecânicas, seja numa área mais administrativa”, concluiu.
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A Ronil trabalhou com o Standard Bank através do programa de incubação que o banco está a realizar, designado iDeate Bootcamp
Corria o ano de 2016 e eu começava literalmente a primeira obra da minha vida: construir uma escola na aldeia de Mahungo, no Bilene, num local cedido pelo município, em que ainda não havia nem água nem electricidade.
Cerca de 60 crianças vinham às aulas nesse ano lectivo, ainda na palhota inicial, que ficava a dez minutos deste terreno, e a complexidade que emergia exigia da nossa associação, já formalizada em Moçambique, cada vez mais recursos. Não apenas financeiros, suportados ainda por mim, na altura, mas exigia também uma espécie de omnipresença, omnicompetência e sobretudo paciência e resiliência. Um caminho que exigia atenção e cuidado para não entrar em meandros perigosos.
Uma das pessoas a quem pedi ajuda, que estava bem por dentro do tema - e muito bem posicionada no mercado do terceiro sector - teve a amabilidade e transparência de me explicar, sem filtros, as regras do jogo da assistência humanitária e a impossibilidade - não assumida - de irmos à corrida, onde só entravam “organizações previamente qualificadas” que obedecessem aos requisitos do sistema.
Eu conhecia este sistema, a partir de outros lugares, mas era a primeira vez enquanto fundadora de uma pequena organização, sem qualquer tipo de lobby
A partir daí, outro caminho independente se desenhou, mas claramente assente no poder da comunidade e da sinergia que um colectivo pode fazer emergir.
Nunca me deixei fascinar pelos convites que surgiram para “parceirizar” com grandes projectos, pois era claro que, alguns não passavam de conversa fiada e outros, sendo reais, implicavam vender a alma (e a essência) e/ou ficar escrava de doadores (de números, de relatórios e, acima de tudo, de exigências desumanas e extractivistas) que eu (re)conhecia
Culturas Regenerativas – O Caminho, as Perguntas e a Teia
de outros mundos. Sempre achei absurda a segregação entre sectores empresarial, público e social e mantive sempre relação com todos, enquanto consultora e enquanto fundadora da Kutsaca, mas sempre com reserva e atenção aos perigos de perseguir os fundos em vez dos sonhos.
Hoje, enquanto líder de uma pequena ONGD, reconheço e assumo com orgulho e discrição que trilhar um caminho diferente exige coragem, humildade e perseverança. Mas a minha grande aliada, nesta que é uma jornada de quase dez anos, é a curiosidade experimental. É a fazer perguntas e a habitá-las que eu vou encontrando caminhos. As respostas raramente me chegam.
dora, pela qualidade dos oradores e das reflexões geradas nas quatro sessões subordinadas a diferentes temas.
E é precisamente sobre o tema de uma das sessões “INGOs and Localization” que eu gostava de gerar uma reflexão. Nada melhor do que começar com a pergunta de Themrise Khan, investigadora independente e analista de políticas, baseada no Paquistão e consultora com vasta experiência em desenvolvimento internacional:
“A quem nos referimos quando falamos em Organizações Internacionais? Porque é que uma organização no Paquistão é considerada local e uma Organização no Reino Unido é considerada Internacional?”
E não há dúvida de que esta pergunta é poderosa. Reflecte, por si só, o tema da descolonização da ajuda e a emergência da localização. Isto não é novo. Tem que ver com a desigualdade de poder – e dinheiro, claro – que é absorvido pelos gigantes que todos conhecemos e depois distribuído pelos “parceiros qualificados”, chegando muitas vezes à linha da frente valores residuais (fixados em pelo menos 20% em 2016), deixando antever que:
Não se tratam apenas de questões monetárias, trata-se da forma como vemos os outros, como muito bem referiu a investigadora.
O que chega são sensações de paz ou de alerta, impulsos de vontade ou de fuga. São sensações viscerais de abertura ou fechamento. E, claro, é a voz que fala baixinho, que só se ouve no silêncio – há quem lhe chame intuição. Para mim, é uma espécie de bússola que me vai mostrando por onde é o caminho, a cada momento.
Num destes impulsos imediatos de vontade, inscrevi-me, no mês passado, no International Development Summer Course organizado pela Plataforma Portuguesa das ONGD, em parceria com a Fundação Calouste Gulbenkian, o ISEG e o Instituto Pedro Nunes. Não sendo novos os temas, está de parabéns a equipa organiza-
O sentimento de superioridade é notório nesta e noutras classificações. E a semântica patente no mainstream social - “beneficiário”, “parceiro de implementação”, “problemas a resolver”, “impacto”, “escalar” – levam-me logo para as histórias de Heróis-Salvadores que abordei ao de leve no artigo passado.
Alguns dos autores, entre os quais Keeanga Yamahttha Taylor, uma académica, autora e activista da NorthWestern University, questiona até com muito sentido: quem criou o conceito? De onde vem? Serve a toda(o)s? Ainda se mantém?
Ou a própria semântica já precisa de ser ajustada, de acordo com a transformação vivida? As organizações são todas locais!
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 18 OPINIÃO
Sempre achei absurda a segregação entre sectores empresarial, público e social e mantive sempre relação com todos, enquanto consultora e enquanto fundadora da Kutsaca...
Susana Cravo • Consultora & Fundadora da Kutsaca e da Plataforma Reflorestar.org
O que acontece é que as Organizações do Sul, em particular as baseadas nestes territórios descredibilizados, não são consideradas capazes pelos doadores internacionais (ou serão locais?).
Khan acrescenta que termos como ‘descolonização’ ou ‘localização’ não nos levam a lado nenhum. É retórica para politizar a discussão.
Assim como considera que devemos distanciar-nos dos termos ‘Norte Global’ e ‘Sul Global’, que criam mais divisões, salientando que houve mudanças geopolíticas e que há países do Sul que mudaram/ aumentaram o seu poder. A investigadora sugere que, estas organizações “internacionais” devem simplesmente questionar-se com frontalidade sobre se faz sentido continuarem a existir. Talvez há 15 anos fizessem sentido, mas o mundo mudou.
Deborah Doane, directora da Funder’s Initiative for Civil Society, considera também importante sairmos da dicotomia Norte-Sul e trabalhar para o que chama de “Shift the Power”, pensar colectivamente para conseguir a mudança social em cada contexto, promovendo a liderança local e a subsidiariedade, o que pressupõe que as grandes ONGDs devem abrir mão do poder e criar novas redes focadas em relações de interdependência e num caminho mais equilibrado e con-
junto. Ora, isto não é naturalmente fácil. Dylan Mathews da Making Peace sublinhou, sem filtros, a “hipocrisia do sistema humanitário” e a “dificuldade em falar nas questões basilares: desigualdade de poder e racismo estrutural. É preciso mudar, primeiro, a mentalidade e, só depois, as práticas.”
As políticas e práticas revelam que a mentalidade se mantém colonial: a forma como estão configurados os processos de financiamento, a linguagem complexa e obsoleta e até a língua. A que propósito é que uma organização local tem de concorrer em inglês para um fundo que se diz nacional?
É verdade que os sistemas se retroalimentam, o macro influencia o micro, mas o contrário também acontece. E, por isso, pequenas práticas quotidianas num pequeno lugar ou sistema, criam realidades, outros modos de fazer e de viver. E já dizia o Buckminster Fuller: “nunca se mudam as coisas lutando contra a realidade existente. Para mudar alguma coisa, construa um novo modelo que torne o modelo existente obsoleto”.
Continuamos, sem dúvida, com um trabalho de fundo por fazer nas questões basilares (difíceis de ver e assumir) e a forma como os sectores social, empresarial e público se relacionam, pede mudanças profundas. Mas a busca de culpa-
dos, a desvalorização gratuita dos caminhos percorridos e o combate (face a outros e aos problemas), deixa-nos nas mesmas espirais degenerativas.
A verdade é que sinto que as coisas estão realmente a mudar. Há cada vez mais abertura e vontade genuína em escutar, em incluir outras vozes, em experimentar novos caminhos. O caminho é muito mais importante do que a forma/organização. A forma/organização pode, no entanto, ajudar ou prejudicar o caminho. É preciso estar atenta(o).
O que agora sinto mais evidente vem de longe, foi semeado há muito, em conjunto, por muitas vozes distintas. Já dizia o nosso querido senhor Domingos, secretário do régulo e nosso braço direito: “mana, a sua igreja são as crianças e o Deus está a ver”. Não tenho Igreja, não tenho pretensão de tornar algo obsoleto e tenho cada vez menos convicções. Mas continuo com muita vontade de continuar a fazer perguntas. De escutar diferentes vozes. E de criar pontes. Podem ser pequenas, daqui prali. De vez em quando afasto-me e vou vendo uma teia já jeitosa. E vou-me perguntando: a quem serve esta teia? Conecta ou exclui? Vivifica e regenera ou desgasta e degenera? Liberta ou prende? Acima de tudo, que ela sirva ao Lugar, aos que o Habitam e aos que hão-de vir. E à Vida.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 19
“É preciso pensar colectivamente para conseguir a mudança social em cada contexto, promovendo a liderança local e a subsidiariedade”
“Estamos Aqui Para Elevar a Capacidade e Qualidade das PME Para Tomarem Decisões Informadas”
O MozUp é um Centro de Desenvolvimento Empresarial que serve de plataforma para apoiar o crescimento e desenvolvimento de empresas moçambicanas, financiado pelos parceiros da Área 4 e implementado pela Mozambique Enterprise for Sustainability. Três anos após o seu lançamento e poucas semanas depois de ter inaugurado o seu primeiro centro em Cabo Delgado, Taciana Peão Lopes explica o projecto à E&M
Conseguir, enquanto pequeno empreendedor ou líder de uma PME, gerir um negócio que tem a intenção de crescer e fazer parte da cadeia de valor das grandes multinacionais - especialmente numa área como a do gás naturalnão é fácil. Isto é especialmente verdade no contexto de Moçambique que, como se sabe, apresenta inúmeros desafios. É por isso que ao longo dos últimos anos têm surgido várias iniciativas que se propõem preencher esse espaço vazio entre a vontade de crescer e a capacidade para o fazer. O MozUp é uma dessas iniciativas. Operado pela Mozambique Enterprise for Sustainability (MES), trata-se de um empreendimento conjunto entre a DAI – empresa global de desenvolvimento social e económico – e a TPLA Consulting, parceiro de implementação moçambicano. É uma iniciativa financiada pelos parceiros da Área 4, com a ExxonMobil à cabeça, e por outros parceiros nacionais. Completados três anos, são já consideráveis as metas alcançadas. Até à data, 55% (ou seja, 1404 de um total de 2559) das entidades registadas no portal de fornecedores da Área 4 e do projecto Rovuma LNG são maioritariamente de propriedade moçambicana que, de alguma forma, passaram pelo MozUp. Lançado em 2020, inaugurou, em Junho, um novo centro em Pemba, direccionado para fazer a ponte entre as empresas locais e os grandes operadores do gás. E é nesse contexto que Taciana Peão Lopes, PCA do
MES, explica à E&M os objectivos de curto e médio prazo do projecto.
Qual é o tipo de apoio que prestam às PME? E essa oferta foi evoluindo desde o início do projecto?
Através dos seus dois centros de desenvolvimento empresarial (Maputo e Pemba), bem como dos serviços virtuais disponibilizados em todo o país, o MozUp oferece uma variedade de serviços às empresas, nomeadamente a análise de dados de negócios e empresas locais. O MozUp realiza análise de dados para fornecer informações valiosas sobre o mercado local e o ambiente empresarial em Moçambique, auxiliando as empresas na tomada de decisões estratégicas e no desenvolvimento de planos de negócios sólidos. O Portal de Registo de Fornecedores online facilita o acesso das empresas moçambicanas a oportunidades de negócio e parcerias. O MozUp oferece também um diagnóstico empresarial (avalia a situação actual das empresas e identifica áreas a melhorar), além de dar orientações sobre como se aprimorar a eficiência operacional. Prestamos ainda formação empresarial que capacita empreendedores e profissionais, abrangendo uma variedade de temas relevantes, incluindo gestão, marketing, finanças e empreendedorismo; a consultoria e assessoria para ajudar as empresas a enfrentar desafios específicos e desenvolver estratégias eficazes; a mentoria que conecta empresários e líderes experientes
com empreendedores que pretendam melhorar os processos das suas empresas; e a consultoria financeira através de parcerias com a banca comercial para ajudar as empresas na gestão eficaz das suas finanças, incluindo planeamento financeiro, análise de viabilidade e acesso ao financiamento adequado.
Além desses serviços, o MozUp tem trabalhado na conceptualização e desenvolvimento de outras formações em conjunto com os seus parceiros. Como está a decorrer esse processo?
Sim. Essas formações abrangem temas como a Introdução à Transição Energética e Renováveis, Ética e Anticorrupção e Marketing Your Business, visando capacitar as empresas em áreas-chave para se adaptarem às demandas em evolução no mercado. No campo da certificação, o MozUp tem apoiado empresas moçambicanas no processo de mentoria centrada nas normas de qualidade e sistemas de gestão, preparando as PME para o cumprimento dos requisitos da Organização Internacional de Normalização (ISO) e apoiando-as através da Certificação ISO relevante para o seu negócio, incluindo ISO 9001, ISO 14001, ISO 45001 e ISO 22000. Até ao momento, dez empresas foram colocadas no processo de mentoria, seis das quais já o concluíram com sucesso. Neste campo, apoiamos a primeira empresa 100% moçambicana que presta serviços de catering (desde a recepção da matéria-prima até à distribuição do produto acabado) a obter o certificado da Norma ISO 22000 no âmbito do Sistema de Segurança, resultado de um trabalho dedicado em parceria com o Instituto Nacional de Normalização e Qualidade (INNOQ).
Têm mais de duas mil empresas registadas, na sua maioria PME. Que tipo de ligação desenvolvem com estas empresas?
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 20 CONTEÚDO LOCAL
“O MozUp ajusta a sua oferta de serviços de acordo com as necessidades das empresas, numa parceria de longo prazo para construir relações empresariais sólidas”
Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva
Através de uma abordagem de proximidade, o MozUp estabelece vínculos fortes com essas empresas, buscando entender as suas necessidades, desafios e aspirações. A relação do MozUp com as empresas registadas é marcada por apoio personalizado e contínuo, ou seja, desenhado à medida de cada empresa, reconhecendo que cada uma delas tem necessidades e objectivos únicos. A comunicação é constante, ouvindo as suas preocupações, feedback e sugestões, permitindo que o MozUp ajuste a sua oferta de serviços de acordo com as necessidades de evolução das empresas. É uma parceria de longo prazo para construir relações sólidas e duradouras, ligações empresariais através das quais o MozUp facilita o acesso das empresas registadas a uma rede de contactos, ampliando as suas oportunidades de negócios.
O projecto tem uma dupla função — a criação de ligações entre as PME e os grandes projectos e, simultaneamente, capacitação empresarial. É assim?
O MozUp adopta uma abordagem multidimensional. Além do trabalho diário com as MPME realizado por meio do Portal de Registo de Fornecedores, formações, diagnósticos empresariais e mentoria durante o processo de certificação, a criação de ligações empresariais é um dos instrumentos mais eficazes de desenvolvimento de uma empresa. Essas ligações, ou parcerias,
desempenham um papel fundamental no acesso a oportunidades e na transferência de conhecimentos para as entidades nacionais. O MozUp mantém contacto diário com as MPME, o que permite partilhar informações relevantes para que possam tomar decisões informadas sobre as características dos projectos, necessidades de fornecimento, financiamento e potenciais parcerias. Essas parcerias estabelecidas criam sinergias e promovem um ambiente de colaboração.
Em que sentido é que o MozUp irá evoluir após o início dos megaprojectos de gás, numa altura em que se fala de uma DFI da ExxonMobil em 2025?
Quando olhamos para o projecto numa perspectiva de médio a longo prazo, conseguimos visualizar que continuará a desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento das empresas moçambicanas e na capacitação da força de trabalho local, promovendo a competitividade e o crescimento sustentável. É importante sublinhar a visão da Exxon Mobil e dos parceiros da Área 4, de envolver ao máximo as empresas nacionais para que estas se possam desenvolver e servir a indústria num futuro próximo. Podemos afirmar que existe a intenção de expandir a oferta dos nossos serviços para Palma, por forma a impulsionar a capacidade e qualidade das empresas locais.
O QUE É O MOZUP ?
Financiado pelos parceiros da Área 4 e implementado pela Mozambique Enterprise for Sustainability (MES, uma empresa moçambicana), o MozUp é um Centro de Desenvolvimento Empresarial que serve de plataforma para apoiar o crescimento e desenvolvimento das empresas moçambicanas em todos os sectores, incluindo o sector energético. O objectivo da MozUp é desenvolver a capacidade das PME locais para se tornarem competitivas e capazes de prestar serviços na indústria de GNL e noutros sectores em crescimento no país. O MozUp oferece vários serviços às PME, incluindo avaliação de negócios, formação, coaching, mentoria em conformidade com os requisitos de saúde e segurança ocupacional, certificação, criação de oportunidades para ligação de negócios e fornecimento de informações sobre o acesso ao financiamento. Para saber mais sobre o MozUp, visite — www.Mozup .org.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 21
“Apostamos no Agro-Negócio Pelo Seu Grande Potencial”
O Standard Bank organiza fóruns de agro-negócio desde 2021 - já vão na quarta edição - como mecanismo para encontrar soluções para os desafios do sector. Qual tem sido o papel destes fóruns e o posicionamento da instituição? É o que nos explica o director de Banca Comercial e Negócios, João Guirengane
Osector do agro-negócio ocupa um lugar de destaque na economia moçambicana. Existe um enorme potencial no sector agrário, mas ainda existem desafios que devem ser superados, sendo os mais gritantes uma infra-estrutura logística deficiente, a fraca integração das cadeias de valor e o baixo nível de produtividade do sector, de uma forma geral. A partir desta constatação, o Standard Bank está a adoptar uma abordagem holística na oferta de soluções financeiras a este sector, que inclui a realização de fóruns, juntando os principais operadores da indústria da agricultura. Como é que isto funciona e que resultados se podem esperar?
Quem é a audiência target dos fóruns de agro-negócio realizados pelo Standard Bank?
Estes fóruns são destinados a todos os actores da cadeia de valor do agro-negócio, incluindo fornecedores de produtos e serviços, pequenos agricultores, produtores, agregadores de produção, processadores, operadores de logística, comerciantes, empresas de inspecção e certificação, empresas de marketing e distribuição domésticas e internacionais, entre outras entidades.
O agro-negócio é um sector estruturante do presente e do futuro da economia nacional. Como é que o Standard Bank o encara e de que forma é que isto se reflecte na vossa oferta de serviços?
O Standard Bank reconhece o papel estruturante do agro-negócio na economia
Texto e Fotografia M4D Targeted Content
nacional e, em linha com esse potencial, tem organizado sessões de reflexão sobre o desenvolvimento deste sector, particularmente sobre o aumento da competitividade e resiliência e também sobre as oportunidades de crescimento. O Standard Bank adopta uma abordagem holística na oferta de produtos e serviços ao sector do agro-negócio, no sentido de ajudar o País a passar de uma economia agrícola de subsistência para uma agricultura comercial, através da bancarização do sector como um todo. Isto inclui a prestação de serviços à medida das necessidades dos vários operadores da cadeia de valor, para que possam transformar e fazer crescer o seu negócio de uma forma sustentável. O Standard Bank oferece um conjunto de soluções financeiras que facilitam o comércio doméstico e externo, incluindo empréstimos, crédito documentário, leasing e seguros.
Numa perspectiva mais macro, qual é a estratégia do banco face ao agro-negócio?
O agro-negócio é dos sectores da economia que melhor pode alavancar um desenvolvimento económico de base alargada, estimulando a aceleração do crescimento do PIB, a criação de mais postos de trabalho, a segurança alimentar, contenção da inflação, equilíbrio da balança comercial e com impacto positivo no desenvolvimento da infra-estrutura logística do País. Em reconhecimento a deste importante papel e efeito multiplicador que o sector desempenha na economia, o banco posiciona-se como parceiro de crescimento do sector de agro-negócio.
As PME estão no centro deste segmento. Qual é a estratégia do banco para este universo empresarial?
As PME constituem a larga maioria do tecido agro-empresarial moçambicano, por isso, não podem, de forma alguma, ser negligenciadas. Ciente deste facto, o banco tem como estratégia-mãe a exploração de ecossistemas de negócio que incluem, por exemplo, as ligações empresariais intrínsecas das grandes empresas com as PME, reflectindo a relação de interdependência entre ambos os segmentos empresariais. O Standard Bank foi o primeiro banco no mercado a criar uma incubadora de negócios com o objectivo de alavancar as startups e PME, incluindo as do sector de agro-negócio, através da qual o banco auxilia na estruturação de ideias de negócio que tenham impacto na comunidade e ajuda a resolver os problemas do dia-a-dia de forma simples e criativa.
Há outros eventos do género, dentro deste tema, e outros em agenda para o resto do ano?
Prevemos realizar mais um fórum de agro-negócio este ano. Após o evento dos dias 27 e 28 de Junho em Chimoio, o banco encontra-se neste momento a fazer uma avaliação para decidir onde e quando exactamente será o próximo.
A questão do financiamento: como é que a banca se pode posicionar como um player ao serviço do desenvolvimento do sector agrário?
O banco já é um player importante no financiamento ao sector, tendo forte exposição de crédito a subsectores agrários relevantes do País como o tabaco, milho, açúcar e banana. Tal financiamento é concedido a mutuários ao longo das várias cadeias de valor, incluindo traders, operadores logísticos, processadores, produtores (como os casos dos outgrowers) e fornecedores de produtos e serviços interligados comercialmente. Temos o exemplo da interligação existente entre uma empresa açucareira e os seus outgrowers que produzem cana para a empre-
22 www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 P OWERED BY STANDARD BANK
“ O banco já é um player importante no financiamento ao sector, tendo forte exposição de crédito a subsectores agrários relevantes do País”, João Guirengane
sa açucareira. Tendo dito isto, continua ainda a ser um desafio para os bancos comerciais financiarem o sector tendo em conta os riscos e incertezas inerentes. Contudo, o conhecimento especializado e experiência na estruturação de propostas de crédito ao sector que o banco detém, ajuda a manter o Standard Bank como um líder no financiamento ao agro-negócio no País.
Outro tópico que, por certo, é debatido nestes fóruns é a questão da promoção das exportações agrícolas: isto mexe com a questão da qualidade, infra-estruturas, energia, tecnologia, tudo temas e áreas em que o banco está a apostar.
Exactamente. Neste último fórum de Manica e no segundo fórum realizado em meados do ano passado em Nampula houve discussões muito centradas na promoção das exportações. Aí entram todos esses factores com impacto na capacidade de os produtos de Moçambique poderem penetrar e competir em mercados externos com outros países. As reflexões que temos tido nestes fóruns e a experiência do banco sugerem que a construção da competitividade no comércio internacional é um processo contínuo que vai muito além de os produtos do País serem ou não competitivos na perspectiva de custo-preço. Há muitos outros factores como, por exemplo, a qualidade em conformidade com os padrões internacionalmente aceites, capacidade de fornecer com a regularidade requerida pelo mercado, rastreabilidade do produto desde a sua origem e muito mais. Mais recentemente, factores
como a compatibilidade dos processos produtivos com metas ambientais e sociais começam a pesar também na questão de competitividade associada a exportações para certos mercados mais exigentes. Ainda para promover a exportação de produtos agrícolas e o acesso a novos mercados, o banco tem facilitado a entrada de empresas moçambicanas no mercado chinês. Recentemente, o Standard Bank levou algumas empresas que operam no sector agrícola a duas feiras na China, nomeadamente a China International Import Expo e China Africa Economic and Trade Expo.
Sendo o Standard um banco muito associado ao investimento e à relação com parceiros de investimento externos, que tipo de valor acrescentado é que este tipo de iniciativa pode trazer? De que forma se pode fazer a ponte entre o sector e os principais investidores e parceiros de investimento no País?
Tipicamente, os investidores e potenciais investidores baseiam as suas decisões, entre outros factores, em informação concreta de mercado para aferir a viabilidade e o nível de retorno do seu investimento. Nesta perspectiva, este tipo de iniciativas apoia a identificação e divulgação de oportunidades de investimento, apoia o mapeamento e ligação de investidores com outras entidades (fornecedores de produtos e serviços, parceiros de negócio) e serve como um canal para networking entre investidores. O Standard Bank é um banco com presença em várias praças financeiras em África e fo-
ra do continente, ou seja, com uma vasta rede de comunicação que serve para divulgação e promoção de oportunidades de investimento no agro-negócio do País e não só.
Qual é o balanço que o Standard Bank faz dos três fóruns de agro-negócios já realizados?
O balanço é positivo. A cada fórum realizado verificamos maior percepção dos objectivos e interesse do público-alvo, através de uma participação activa crescente. Por outro lado, o evento tem conseguido alcançar o seu propósito de ligar todos os intervenientes da indústria da agricultura, sejam eles pequenas ou grandes empresas, produtores ou prestadores de serviços, do sector privado ou do sector público. Um exemplo disso é o facto de, na última edição, realizada nos dias 27 e 28 de Junho, em Chimoio, ter-se verificado a participação de empresas sediadas em províncias distantes como Maputo, por exemplo. E de representantes de produtores de pequena escala também terem participado. Neste último fórum, em Chimoio, tivemos também a participação de representantes do sector de países vizinhos, nomeadamente do Zimbabué e da África do Sul, o que é um grande ganho, na medida em que um dos objectivos é ligar todos os integrantes da cadeia de valor também na perspectiva da zona africana de comércio livre – adesão à qual Moçambique ratificou recentemente, promovendo maior investimento, mais resiliência e maior competitividade.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 23
Ainflação tem sido um tema de grande destaque desde 2020 até ao momento devido às repercussões que tem provocado e aos efeitos no custo de vida dos agentes económicos. Os factores que predominantemente contribuem para a evolução dos preços na economia global são: a inflação motivada pela procura, a inflação por custos, a depreciação da moeda, o aumento da base monetária e os aumentos salariais.
A inflação por via da procura, também conhecida como demand pull inflation, ocorre quando a procura por bens e serviços excede a capacidade da economia de produzi-los e fornecê-los, resultando em pressões positivas nos preços. A inflação por custos, também chamada de cost-pull inflation, acontece quando os custos relacionados com a produção das empresas aumentam, levando-as a repassar esses custos para os preços pagos pelos consumidores. A depreciação da moeda é outro factor importante, pois quando a moeda nacional se desvaloriza no mercado cambial, as exportações do país tornam-se mais atraentes para outras economias, aumentando a procura por bens domésticos e tornando os produtos estrangeiros mais caros devido à taxa de câmbio. Isso leva o país a importar inflação do exterior de forma directa. O aumento da base monetária exerce também pressão sobre os preços, pois aumenta a quantidade de dinheiro em circulação na economia, geralmente por meio da actividade de concessão de crédito pelos bancos comerciais.
Esses quatro factores têm sido observados desde o relaxamento das restrições impostas durante a pandemia de covid-19 em 2020. Os elevados estímulos económicos dos bancos centrais, juntamente com os constrangimentos nas cadeias de abastecimento e a retoma da procura com a abertura das economias, levaram à alta da inflação em todo o mundo. A eclosão da guerra na Ucrânia também agravou significativamente os preços das commodities energéticas e alimentares, gerando inflação a nível global. Actualmente, temos observado uma reversão na tendência da inflação, com quedas em muitas economias devido ao ajustamento nos preços das commodities. Por exemplo, nos Estados Unidos, a inflação em Junho de 2022 fixou-se em
Os Factores Determinantes da Inflação
cerca de 9,0% e caiu para 3,0% em Junho de 2023. O quinto e último factor observado como determinante da inflação é o aumento dos salários. Os aumentos salariais levam ao aumento do custo de produção, principalmente em economias onde o sector de serviços tem um grande peso no PIB, uma vez que o capital humano é o principal custo dessas empresas. Essas empresas precisam de aumentar os preços dos seus serviços à medida que os salários aumentam, para não comprometer as suas margens, contribuindo assim para o aumento da inflação na economia.
Este factor tem sido observado nalgumas economias, com destaque para a Europa, onde tem havido um acumular de mão-de-obra por parte das empresas que procuram evitar as mesmas dificuldades enfrentadas nas contratações logo após a pandemia. Essa medida tem levado a aumentos salariais. A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, afirmou que a inflação da Zona Euro entrou numa nova fase, considerada persistente, que poderá prolongar-se por algum tempo. Tal mostra que o BCE terá uma longa luta contra o crescimento dos preços, o que deverá reduzir a procura e for-
çar as empresas a reduzir preços. A maioria dos presidentes dos bancos centrais europeus reunidos em Sintra, Portugal, concordou em manter a postura hawkish (restritiva) para continuar a combater a inflação persistente proveniente do mercado de trabalho.
Como é sabido, Moçambique não foi excepção nesse cenário inflacionário observado nos últimos anos. Foi afectado por ser um importador de inflação, através das commodities energéticas, alimentos e outros produtos, assim como outras economias da África Subsaariana. Por outro lado, temos a contribuição do Banco de Moçambique, que, em duas reuniões de Política Monetária (CPMO) realizadas em Janeiro e Maio, aumentou as Reservas Obrigatórias (RO) num total de 28,5% para passivos em moeda nacional, fixando-se em 39,0%, e 28,0% para moeda estrangeira, fixando-se em 39,5%. Isso foi feito com a intenção de continuar a combater o excesso de liquidez no sistema bancário, o que poderia gerar pressões inflacionárias.
Nos últimos meses, a inflação tem apresentado uma contínua desaceleração. Por exemplo, em Junho, ficou em 6,81% em termos homólogos no País. Os números continuam a demonstrar o sucesso das medidas adoptadas pelo Banco de Moçambique. Se as perspectivas no sector externo indicarem redução de riscos e incertezas na projecção da inflação, considerando que a inflação doméstica permanece consideravelmente dentro de um dígito, poderemos assistir a uma mudança na actual postura restritiva por parte do Banco de Moçambique, ainda em 2023.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 24 OPINIÃO
Moçambique não foi excepção no cenário inflacionário observado nos últimos anos.
Wilson Tomás • Research, Banco BIG Moçambique
NAÇÃO | ENERGIA
Como Transformar o Potencial em Desenvolvimento?
Moçambique já é um pólo de produção e exportação de energia da África Austral, mas tem condições para ampliar esta posição. As metas incluem o acesso universal à electricidade até 2030, o desenvolvimento industrial interno, bem como suprir o défice energético regional. Esforços para atingir estes objectivos já estão a ser feitos pelas autoridades do sector e parceiros internacionais. Estão em jogo importantes receitas para o desenvolvimento socioeconómico do País. Mas como é que estão a ser coordenadas as várias iniciativas? Como estão a ser combinadas as diferentes componentes da matriz energética, incluindo as renováveis? É possível quantificar a riqueza que o País será capaz de produzir para o seu próprio desenvolvimento?
Texto Celso Chambisso • Fotografia Istock Photo & D.R.
Energia
Comecemos esta discussão, revisitando uma frase do presidente da república, filipe nyusi, aquando do lançamento do programa Energia para Todos, há cinco anos, e que resume o alcance estratégico da energia como pólo de desenvolvimento socioeconómico de Moçambique: “entre os males que queremos contrariar (ao lutar pelo acesso universal à energia), está a ausência de estabilidade social, o baixo nível de produtividade agrícola e industrial e o impacto negativo sobre a educação, saúde e meio ambiente" que a falta de electricidade provoca. Garantir o acesso "vai contribuir para melhorar o uso das tecnologias de informação e comunicação e garantir maior disponibilidade de informação, que é um direito consagrado na nossa Constituição”.
Se o sector da energia assume estas funções centrais, há que olhar para a forma como se está a gerir a sua transformação no bem-estar que se pretende para o País.
O potencial energético
De acordo com o Atlas das Energias Renováveis, publicado pelo Fundo de Energia (FUNAE), Moçambique tem um extenso potencial, que perfaz um total de 23 026 GW, correspondentes a 7537 MW de projectos prioritários, entre os quais se destacam 599 MW de origem solar, 5645 MW de fontes hídricas e 1 146 MW em energia eólica.
O potencial hídrico é o mais aproveitado e corresponde a 78% do total actual de 2799 MW de potência instalada no País. Deste total, apenas 39% estão de facto disponíveis para consumo nacional, uma vez que parte se destina à exportação ou ao consumo próprio, como acontece no caso da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), em que, dos 2075 MW instalados, apenas 500 MW estão disponíveis para a Electricidade de Moçambique (EDM).
O potencial de novas fontes começou a ser explorado em grande escala desde 2019. A actual capacidade de 60 MW de origem solar aumentará para 575 MW até 2030, juntando energia solar e eólica, ultrapassando as projecções do Plano Quinquenal do Governo, que prevê que dos 600 MW adicionais a injectar na rede até 2030, 200 MW sejam de energias renováveis.
Os Produtores Independentes de Energia (PIE) representam, actualmente, 18% da capacidade instalada e 34% da produção, esperando-se que a sua contribuição continue a aumentar subs-
tancialmente durante a próxima década. Há vários outros projectos em funcionamento e projectos futuros (ver caixas sobre o potencial térmico e hídrico), e que devem adicionar competitividade ao sector energético nacional.
A transformação em curso Com uma matriz energética quase inesgotável, de que factores depende a consolidação da posição do País como o mais importante interveniente do sector na região? Para o director de Operações de Mercado da EDM, Luís Ganje, essa dimensão depende, principalmente, da estratégia do sector energético moçambicano na abordagem do mercado regional de electricidade e gás natural. Luís Ganje
entende que o gás natural, enquanto fonte transitória para as energias limpas, tem um papel determinante para a produção e exportação de electricidade de qualidade e com a fiabilidade requerida na região, devendo a estratégia para a quota de gás doméstico priorizar os projectos de produção de energia (designados no sector como 'Gas to Power'). “E isso já está a ser levado em conta”, defende.
Por outro lado, prosseguiu, a posição de Moçambique como o mais importante actor na região, depende, igualmente, da participação do sector privado nos projectos de geração e transporte de energia – o que também está salvaguardado na nova legislação do sector aprovada em Julho de 2022 –, para acelerar a implemen-
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NAÇÃO | ENERGIA
Apesar de já ser o maior exportador de energia da África Austral, Moçambique está longe de poder aproveitar a oportunidade de uma procura em crescimento. Mas é para lá que se caminha
tação destes projectos em parceria com o sector público, que vem enfrentando elevados encargos financeiros. Mais do que isso, de acordo com o director de Operações de Mercado da EDM, é preciso definir uma estratégia sectorial para a exportação de energia, que dissipe o risco de concorrência interna sobre a quota do mercado regional, onde as iniciativas dos diferentes actores do mercado sejam integradas e complementares para a materialização do objectivo do sector.
Paralelamente, devem ser promovidos os grandes projectos como a Central Térmica de Temane e a Hidroeléctrica de Mphanda Nkuwa, iniciativas governamentais no sector para a exploração de potencial a gás e hídrico, respectivamente. O Estado dirige ainda iniciativas como o PROLER, o programa lançado em 2020 com o apoio da União Europeia e que consiste em leilões através dos quais são entregues concessões de produção de electricidade através de fontes renováveis.
“Sendo a configuração do mercado regional complexa e dinâmica, torna-se
O potencial energético nacional
difícil medir" até que ponto o País já é o maior actor regional no sector, diz Luís Ganje. Além disso, outros países têm a mesma ambição "e estão a desenvolver projectos de geração para suprir o défice interno e exportar. Neste momento, o nosso país já é o principal exportador de energia do mercado regional, cabendo-nos o desafio de consolidar essa posição nos próximos anos com as diferentes iniciativas, visando o alargamento desta carteira”, explicou.
Deloitte destaca as grandes oportunidades do mercado
Com vários estudos feitos e uma intervenção importante no sector das energias em vários mercados pelo mundo, a consultora Deloitte fala dos factores-chave e transformadores da economia que podem advir da exploração do potencial energético.
De acordo com Mário Fernandes, partner da Deloitte e líder para a indústria de energia, a electrificação universal apresenta oportunidades para Moçambique, transversais a outros países afri-
canos. Um mercado de consumo relevante deverá crescer, em que as receitas não advêm somente da venda de energia, mas também do comércio de produtos (especialmente electrodomésticos), atraindo manufactura para servir os mercados locais e acelerar a industrialização. Por exemplo, um estudo da Agência Internacional de Energia (AIE) mostra que o número de ventoinhas em África deverá mais que triplicar, de 110 milhões em 2020 para 340 milhões em 2030. A mesma tendência é expectável para outros electrodomésticos como frigoríficos, máquinas de lavar e aparelhos de ar condicionado.
Estas mudanças requerem uma nova forma de pensar no desenvolvimento e no perfil económico-social de países como Moçambique, com efectivas oportunidades comerciais, em vez de mero receptor de doações. Aliado a isso, as previsões demográficas das Nações Unidas indicam que Moçambique atingirá uma população de 44 milhões em 2033, o que reforça o potencial e oportunidade do mercado.
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energia hídrica é e continuará a ser a principal fonte de energia na matriz nacional. Existe um total de 1446 novos possíveis projectos hidroeléctricos, com um potencial total de 18 GW, dos quais 3 GW muito competitivos.
Tete tem o maior potencial
Número de projectos hidroeléctricos por província (Em MW) 109 669 643 3185 431 763 257 934 235 631 49 526 373 6626 430 2187 61 51 7 406 Cabo Delgado Nampula Zambézia Manica Gaza Inhambane
Maputo Niassa Tete Prioritários Não prioritários
Sofala
“Moçambique tem a oportunidade de se posicionar para responder às necessidades energéticas mundiais, quer para um período de transição em que é expectável que o gás natural tenha um papel de relevo (mantendo a quota no mix energético), quer com um posicionamento nas renováveis, dado o potencial hídrico e solar do País", sublinha Mário Fernandes.
Gás pode colocar-nos no top 10 mundial
Mário Fernandes realça que as vastas reservas de gás natural podem colocar Moçambique como um produtor do top 10 do mundo e potencialmente responsável por 20% do output do continente africano.
“O gás natural terá um papel preponderante no mix energético em 2040 (como energia de transição, com menos 50-60% de carbono comparando com o carvão ou o petróleo): a AIE estima que em 2040 a quota de gás natural no fornecimento de energia ronde 23% a 26% comparado com 23% em 2019. Prevê-se que o gás traga também receitas ao Estado moçambicano de cerca de 100 mil
A central térmica de Ressano Garcia é um dos mais importantes projectos de expansão, respondendo por 25% do consumo interno. Esta lógica já inspira a estratégia a ser seguida nos próximos anos.
milhões de dólares, ao longo do seu ciclo de vida, devendo ser canalizadas para suporte à industrialização e modernização do País e melhorar o potencial de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). A infra-estrutura de gás não é perdida e pode, no futuro, ser reaproveitada para o transporte de hidrogénio verde, por exemplo”, explicou.
Um negócio com boas perspectivas
A E&M procurou ouvir o Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME), mas até ao fecho desta edição não obteve resposta. Já o antigo ministro da Energia, Castigo Langa, vê com optimismo o caminho que o País está a trilhar. “A iniciativa Energia para Todos, só por si, é de louvar, e os desafios estão a ser encarados com mérito. Por
exemplo, o investimento na geração e no transporte é muito caro, mas a nova Lei de Electricidade, ao prever a participação do sector privado, ajuda a resolver esta questão”, defende o engenheiro e antigo governante.
Entretanto, na perspectiva de negócio, para alimentar as necessidades da região, Castigo Langa faz menção à fragilidade da rede de transporte nacional e dos países compradores. Mesmo assim, acredita que estes problemas estão a ser bem abordados no terreno, com a realização de grandes investimentos apoiados pelos parceiros internacionais.
Por seu turno, Miquelina Meneses, antiga presidente do Fundo de Energia (FUNAE), dando ênfase às energias alternativas, defende que as ini-
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ciativas em curso trazem “boas perspectivas”, em relação à capacidade que se vai criar de geração e exportação de energia.
Mérito da nova legislação
Outro avanço importante para a capacidade de produção de energia foi o fim do monopólio da EDM, por muito tempo criticado por ser associado a uma expansão lenta e de baixa qualidade de energia fornecida. O cenário mudou com a actualização da Lei de Electricidade em 2022.
O principal mérito está na abertura de espaço para o investimento privado, diz Pedro Moleirinho, consultor em energias renováveis na SNV, organização holandesa de desenvolvimento, com muitos investimentos no sector das renováveis e que tem na sua carteira o Programa BRILHO 2019 –2024. À E&M, o consultor revelou que o novo quadro regulatório vai credibilizar o mercado e despertar maior confiança das diversas instituições nacionais e internacionais para atrair investimentos e financiamentos adicionais. De acordo com Pedro Moleirinho, es-
Biomassa
O POTENCIAL ENERGÉTICO
A biomassa não é uma grande aposta. Ainda assim, o País apresenta condições excepcionais para desenvolver plantações dedicadas
Número de projectos de biomassa por província
Solar Número de projectos de energia solar por província
O País tem mais de 2,7 GW de potencial, dos quais 599 MW com capacidade de ligação à rede. Cabo Delgado
Foram identificados mais de 60 locais ao longo de mais de 8500 quilómetros em todo o País e foram registados 4,5 GW de capacidade eólica, dos quais 1,1 GW com potencial de ligação imediata
O fluxo médio da energia das ondas em Moçambique tem valores considerados baixos para a geração de energia eléctrica
Geotérmico
Foram identificados possíveis projectos num total de 47 MW em 147 MW de potencial, sendo o projecto de Metangula, na província de Niassa, o mais importante
Projectos de geotérmico por província
E o que pretendemos (2030)?
A meta é o acesso universal à energia em todo o território nacional. Faltando poucos anos, a pressão cresce. O que deve acontecer até lá?
(Em Mw)
Capacidade instalada
2799 6320
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 31 Seleccionados Não identificados
2022 2030
Niassa Nampula Zambézia Tete Sofala Manica Inhambane Gaza Maputo 2 4 6 9 12 68 37 64 107 23 2 30 48 9 370 1196 15 4 46 644
Niassa Zambézia Tete 20 20 7 Prioritários Projecto marítimo (Em kW/m)
Projecto Norte Projecto Centro Projecto Sul 3,57 5,11 4,22 Fluxo de energia FONTE FUNAE
Cabo Delgado Niassa Zambézia Sofala Nampula Manica Gaza Maputo 129 13 241 168 9 27 308 187 116 79 146 759 Eólica Projectos de eólica por província
Prioritários Não prioritários Cabo Delgado Niassa Zambézia Tete Sofala Inhambane Maputo Gaza 300 670 490 60 130 50 98 262 510 136 1746 30 30
Taxa
Será preciso ampliar a taxa de acesso para mais de metade (56%) da população sem electricidade em menos de sete anos
Produtores Independentes de Energia (PIE) e EDM
A estatal Electricidade de Moçambique (EDM) continuará a ter um peso importante enquanto fornecedor.
Garantidos 282 milhões de euros
Os vários programas de apoio para o mercado ligado à rede e fora da rede já disponibilizaram parte dos recursos necessários para a expansão do acesso à energia
A aposta está dentro da rede
Fora da rede
182,4
282
Ligado à rede 28,5%
Estrutura do consumo interno
Dados indicam que as ligações domésticas representam mais procura por energia do que a actividade económica
Factura anual por categoria de consumo
A capacidade instalada de geração de energia vai ter de aumentar significativamente em todas as fontes, estando a hidroeléctrica no topo das prioridades
tão agora criadas condições para iniciar projectos de mini-redes geridas totalmente pelo sector privado e para que as mini-redes do FUNAE possam ter uma gestão privada, o que vai assegurar qualidade dos serviços de fornecimento de energia. “Relembro que, quando o programa começou, em finais de 2019, não existia qualquer legislação adequada para este sector e isso era uma enorme barreira. Em 2020, sob a liderança do Governo, fomos indicados para dar assistência técnica ao MIREME, ARENE (Autoridade Reguladora de Energia) e FUNAE. Foi um trabalho muito interessante, inspirador e bastante inclusivo. Em tempo recorde foi desenvolvido e aprovado o novo quadro legal, em 2022, e agora publicado", apontou o consultor.
O peso de Mphanda Nkuwa
O recente anúncio dos parceiros da Hidroeléctrica de Mphanda Nkuwa afigura-se como um dos mais importantes passos de afirmação de Moçambique no panorama regional dos produtores de energia. Apesar das tentativas, não foi possível um contacto com o Gabi-
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(em %) Doméstica Comercial Agricultura EDM consumos Industrial Iluminação Pública FONTE Relatorio “Renováveis em Moçambique 2022” publicado pela ALER E AMER 44,9 37,5 15 1,4 0,2 0,9
(Em %)
de electrificação para
acesso universal até
A opção solar vem em segundo plano 13 68 Mini-redes Sistemas Solares Caseiros Rede eléctrica nacional Hídrica vai duplicar (em Mw)
Opções
atingir o
2030.
2022 2030 Hídrica Gás Solar Eólica Óleo e Combust. Pesado 4539 (72%) 2189 (78%) 442 (16%) 1098 (17%) 108 (4%) 108 (2%) 60 (2%) 405 (6%) 170 (3%)
2022 2030 1091 (39%) 493 (18%) 4612 (73%) 1908 (30%) EDM PIE
de electrificação (Em %)
total
2022 2030 44 100
19
O potencial hidroeléctrico nacional
São seis as centrais hidroeléctricas em funcionamento em todo o País, sendo a de Cahora Bassa (HCB) a maior, fornecendo cerca de 400 MW à EDM.
Cahora Bassa
Capacidade instalada: 2075 MW
Localização: Tete
Operador: HCB
Mavusi e Chicamba
Capacidade instalada: 52 e 44MW
Localização: Manica Operador: EDM
Corumana
Capacidade instalada: 16,6 MW
Localização: Maputo Operador: EDM
Cuamba
Capacidade instalada: 1,09 MW
Localização: Niassa Operador: EDM
Lichinga
Capacidade instalada: 0,73 MW
Localização: Niassa Operador: EDM
O potencial de novas fontes começou a ser explorado em grande escala desde 2019. A actual capacidade de 60 MW de origem solar aumentará para 575 MW até 2030, juntando energia solar e eólica.
nete de Implementação do Projecto Hidroeléctrico de Mphanda Nkuwa, mas a E&M recorreu à informação da também parceira EDM sobre o andamento deste projecto. Segundo o director de operações de mercado, Luís Ganje, “o projecto de Mphanda Nkuwa encontra-se em bom ritmo de desenvolvimento”. Além de estarem a ser cumpridos os requisitos de governança exigidos para o financiamento de megaprojectos de infra-estrutura, destaca-se o compromisso de Mphanda Nkuwa com as melhores práticas exigidas pelas principais instituições de financiamento bilaterais e multilaterais: a estruturação do project finance, a adopção de políticas de aquisição transparentes e o respeito por altos padrões sociais e ambientais, entre outros aspectos que deverão favorecer o
alcance do fecho financeiro conforme o cronograma definido. “Vários sinais positivos já foram dados pelos principais parceiros, incluindo o mercado, que é outro elemento importante para o fecho financeiro”, revelou, dando a entender que o projecto vai, finalmente, avançar.
Recorde-se que, em finais de Maio, o Governo anunciou a escolha do consórcio francês liderado pela Electricidade da França, e que integra a TotalEnergies, para estar à frente do projecto de Mphanda Nkuwa, que será a segunda maior hidroelétrica moçambicana depois da HCB.
É um projecto ao qual toda a região está atenta, pelo potencial de aumentar a competitividade do sector privado através do desenvolvimento de infra-estruturas e do comércio regional de ener-
Os (bons) resultados do investimento privado
O projecto de Mphanda Nkuwa é também inspirado em sucessos anteriores de atracção de investimento. Aqui estão os mais destacados:
Central Térmica de Ressano Garcia
Localização: Maputo
Capacidade: 175 MW
Investimento: 189 milhões USD
Central Térmica de Gigawatt
Localização: Maputo
Capacidade: 120 MW
Investimento: 200 milhões USD
Central Solar de Mocuba
Localização: Zambézia
Capacidade: 40 MW
Investimento: 76 milhões USD
Central Solar de Metoro
Localização: Cabo Delgado
Capacidade: 40 MW
Investimento: 56 milhões USD
Projecto Temane Power
Localização: Inhambane
Capacidade: 450 MW
Investimento: 400 milhões USD
gia - estando, por isso, alinhado com a estratégia decenal do Banco Africano de Desenvolvimento, bem como com a sua prioridade estratégica “Acender e Energizar África”. Com um custo estimado de 4,5 mil milhões de dólares, Mphanda Nkuwa inclui o desenvolvimento de uma barragem a fio de água, localizada 61 quilómetros a jusante de Cahora Bassa, no Rio Zambeze, na província de Tete, bem como a construção de uma central hidroeléctrica com capacidade instalada de produção de energia de até 1500 MW e uma linha de transporte de energia de Tete a Maputo de 1300 quilómetros. Dos 4,5 mil milhões de dólares, aproximadamente 50% irão para a central hidroeléctrica e o restante para instalar a linha de transmissão de energia Tete-Maputo.
Que futuro nos reserva a descarbonização?
Fala-se da descarbonização da energia na próxima década, mas será legítimo impor isso a Moçambique, tendo em conta que algumas das principais riquezas do País são hidrocarbonetos? Ou seja, essas imposições 'verdes' podem tra-
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var o desenvolvimento social? Segundo o partner da Deloitte, Mário Fernandes, existe o conceito de Just Energy Transition Partnerships (JETP, parcerias para uma transição energética justa), mecanismo de financiamento através do qual se disponibilizam empréstimos ou investimentos para auxiliar os países em desenvolvimento a seguir o caminho mais sustentável para a transição energética. A África do Sul, Indonésia e Vietname foram os três primeiros países a receber este tipo de financiamento.
A África do Sul, por exemplo, recebeu 8,5 mil milhões de dólares para apoiar a Eskom a desactivar a central térmica de carvão de Komati e reaproveitar a área para projectos renováveis. Se for bem-sucedido, o projecto pode criar emprego para a comunidade e ajudar na transição energética do país.
Por isso, segundo o responsável, os países em desenvolvimento precisam de definir melhor o seu posicionamen
to ecossistema energético e Moçambique não foge à regra. Entretanto, o gás será extremamente importante nas próximas décadas rumo à descarbonização e Moçambique não deverá perder esta oportunidade. Nesse sentido, o Governo lançou a sexta ronda de licitação de blocos de prospecção e exploração de hidrocarbonetos, que está no processo de adjudicação. Será importante assegurar o conceito de “tempo e hora certa” e o País desenvolver uma visão estratégica que aproveite os seus recursos em tempo oportuno. “Assim, quando eventualmente o gás ou o carvão já não forem prioridades nos mercados internacionais, teremos tirado o maior proveito dessa oportunidade e teremos a flexibilidade e visão de nos focarmos noutras prioridades, como os minérios raros - críticos para as renováveis -, caso do cobalto, grafite, lítio, entre outros, além das próprias fontes de energia renovável”, esclareceu.
CINCO KEY TAKEAWAYS PARA CAPTURAR O POTENCIAL ENERGÉTICO
Segundo a Deloitte, só os factores abaixo podem possibilitar a realização do sonho de transformar Moçambique no hub energético da região.
1. Ter visão estratégica, olhar para o futuro a longo prazo, definindo blueprints (planos) coerentes e inovadores para exploração de hidrocarbonetos, que ao mesmo tempo construam a plataforma de renováveis do País, como, por exemplo, aconteceu no Uganda com a TotalEnergies;
2. Usar mecanismos de mercado livre para, nalguns casos, ‘forçar’ a construção de novas cadeias de valor e de maior valor agregado no País, como fez a Indonésia com o níquel, em que tinha 37% da produção mundial. Porém, nada substitui as reformas estruturais para facilitar o ambiente de negócios, principalmente se o País não tiver um poder negocial claro, como no caso do gás natural (em que até dispõe de reservas de grande dimensão);
3. Um enquadramento claro e formal do que é o conteúdo local, que promova mais benefícios para empresas e talentos locais, face a investimentos esperados - como por exemplo no gás e na electrificação - assegurando que o País não perde estas oportunidades. Dada a urgência dos projectos, é necessária uma imposição gradual de conteúdo local, que assegure transferência de competências para a economia nacional.
4. Adoptar reformas estruturais que permitam uma maior liberalização e transparência económica, como zonas económicas exclusivas, investimento sustentável em infra-estruturas, melhor governança, etc.
5. Tomadas de decisão para benefício do País, com base em casos de estudo (business cases) economicamente vantajosos, para melhor orientar a planificação e as apostas - dada a realidade de recursos limitados -, em soluções que representam o futuro do sector.
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A nova legislação de electricidade cria condições para um maior envolvimento do sector privado, o que vai estimular investimentos e acelerar a afirmação do País no panorama regional.
Carlos Lopes • EY Executive Director
As Renováveis e a Transição Energética
Moçambique, uma nação rica em recursos naturais, pretende emergir como agente relevante da dinâmica de transição energética e, em particular, da geração a partir de fontes de energia renovável. Com um potencial imenso para a produção de energia solar, eólica e hidroeléctrica, o País está a fazer avanços na transição para uma economia de baixo carbono, como importante factor para impulsionar o desenvolvimento sustentável e melhorar a qualidade de vida dos moçambicanos, muitos dos quais ainda sem acesso à rede eléctrica.
Um dos principais objectivos estratégicos do sector público passa por elevar a taxa de electrificação nacional até aos 100% até 2030, sendo expectável, segundo a EDM, que, entre 2023-2028, cerca de 58% da capacidade de produção tenha origem em renováveis. Esta é a visão de um país que, apesar dos desafios, está a aproveitar as suas capacidades naturais para criar um futuro energético mais verde e sustentável.
O panorama energético actual de Moçambique é marcado por uma dependência significativa de fontes de energia não renováveis, principalmente o gás natural. Com projectos de exploração em grande escala, Moçambique tem atraído investimentos significativos nesta área. No entanto, diversos factores têm levado a atrasos e interrupções, impedindo que se feche o fosso entre a oferta e a procura de energia no País.
Seja como for, o potencial de Moçambique na transição para as energias renováveis é inegável. A exploração de recursos de energia renovável, como a energia hidroeléctrica, solar, eólica ou a biomassa, tem vindo a ganhar tracção.
Em particular, apesar da radiação global em plano horizontal ser elevada, o aproveitamento do potencial da energia solar é limitado. Dos mais de 20 000
GW de potencial, pensa-se que 2,7 GW sejam adequados para projectos solares. Até ao final de 2022, cerca de 120 MW estavam em operação, dos quais metade encontravam-se ligados à rede nacional.
Em termos de energia eólica, Moçambique terá 4,5 GW de potencial, dos quais cerca de 25% poderiam ser ligados de imediato à rede existente. A este nível será de destacar os esforços de um produtor independente de energia que está a liderar o desenvolvimento de um projecto eólico de 120 MW na Namaacha, perto de Maputo.
Igualmente, há confirmação de um vasto potencial em termos de biomassa, superior a 2 GW, sendo que o maior potencial provém de florestas produtivas. Existem planos para produção de energia, como o de construção de uma bio-refinaria para produção de biodiesel a partir de óleo de palma.
Por último, o potencial hidroeléctrico, um dos maiores em África, estimado em mais de 12 000 MW, especialmente na província de Tete, no rio Zambeze, onde se situa a central eléctrica de grande escala de Cahora Bassa. A exportação de electricidade gerada nesta unidade é uma actividade regular, o que faz de Moçambique um fornecedor crítico de electricidade para os países vizinhos. Espera-se que a implementação da hidroeléctrica de Mphanda Nkuwa (1500 MW), 60 quilómetros a jusante de Cahora Bassa, fortaleça ainda mais a capacidade instalada e a posição estratégica de Moçambique na região. Em paralelo, a construção de micro centrais hidroeléctricas estrategicamente localizadas é vista como uma opção de melhoria da taxa de electrificação para o segmento rural.
O potencial para energias renováveis é tremendo, sendo o hídrico o mais aproveitado, representando uma parcela muito significativa da capacidade total de produção de energia. A captura de todo este potencial pode e deve apoiar
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SaT Infrastructure Advisory
Há confirmação de um vasto potencial em termos de biomassa, superior a 2 GW, sendo que o maior provém de florestas produtivas. Existem planos como o de construção de uma bio-refinaria para produção de biodiesel a partir de óleo de palma.
o alcance dos dois objectivos estratégicos elencados: a melhoria da taxa de acesso à electrificação e o fortalecimento do País como actor activo da transição energética.
Neste contexto, há um conjunto de eixos estratégicos fundamentais para apoiar a captação de todo este potencial, com acções e iniciativas implementadas pelo sector público.
Em primeiro lugar, a definição de uma visão e metas concretas como sinal de compromisso e incentivo ao investimento. Em 2018, foi aprovada a Estratégia Nacional de Electrificação, que fixou o objectivo de acesso universal até 2030, além da previsão de tarifas uniformes e sustentáveis, que permitam recuperar os custos e que sejam periodicamente ajustadas.
Em segundo lugar, a criação de um ambiente legal e regulatório favorável como factor essencial para a atracção de investimentos em energia renovável. Em Julho de 2022, foi actualizada a Lei de Electricidade, o instrumento legal vigente para a electrificação em Moçambique. Esta lei reflecte a actual dinâmica
social, técnica e financeira em Moçambique, com ênfase nas energias renováveis e na participação do sector privado. Destaca-se igualmente o primeiro programa de leilões de energias renováveis, no final de Setembro de 2020.
Em terceiro lugar, a construção e melhoria da infra-estrutura. Em 2018, o Governo aprovou o Plano Director de Infra-estruturas Eléctricas 2018-2043, apontando como solução de menor custo a integração de 20% de energias renováveis na matriz energética nacional, para garantir uma maior diversificação e segurança energética.
Igualmente, a melhoria da capacitação dos recursos locais e a educação do público sobre os benefícios da energia renovável promove a aceitação e procura por essas tecnologias. Neste ponto, destacam-se algumas subvenções já aprovadas, bem como contratos de partilha de conhecimento técnico com entidades internacionais.
Há, também, o incentivo à participação do sector privado, como fonte de capital e experiência. No âmbito do programa Energia para Todos, o Gover-
no de Moçambique tem trabalhado para garantir o aumento da disponibilidade de energia eléctrica, promovendo o investimento público-privado em novas infra-estruturas de produção.
Por último, existe o acesso ao financiamento, destacando-se os programas de apoio dos parceiros de cooperação, orientados para os diversos segmentos de mercado, a desembolsar sob a forma de assistência técnica, subvenções ou outro tipo. Iniciativas que terão certamente um efeito catalisador na atracção de investimento extra por parte do sector privado.
Moçambique enfrenta desafios na transição para fontes de energia renovável, mas está empenhado em tornar-se num agente relevante nesse processo. Com grande potencial em energia solar, eólica, hidroeléctrica e biomassa, o País procura ter uma economia sustentável, com metas ambiciosas de electrificação até 2030. Apoiado por regulamentações favoráveis, infra-estrutura melhorada e investimento privado, Moçambique está a caminho de um futuro energético mais verde e acessível para todos.
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No conjunto das fontes renováveis, Moçambique apresenta maior potencial em energia solar
A Força das Renováveis
Estão incluídas nos planos para Moçambique ter acesso universal à electricidade até 2030 e até já fazem a sua parte nesta caminhada. Mas que potencial e alternativas existem? O que está a ser explorado e o que falta? Quem paga e até onde chegam estas fontes de energia?
Nos últimos anos, os projectos de energias renováveis entraram em força na matriz energética nacional. Muitas razões poderão justificar esta mudança, quase que abrupta, mas há duas que melhor explicam a nova tendência: o crescente interesse dos investidores internacionais em potenciar as energias limpas perante o imperativo mundial de descarbonização até 2050 e, principalmente, o facto de o País possuir um potencial imensurável para a produção das renováveis de todas as fontes, com destaque para a solar, eólica, hídrica e biomassa. De acordo com o presidente da Associação Moçambicana de Energias Renováveis (AMER), Ricardo Pereira, do levantamento feito há dez anos (2013) e divulgado no Atlas das Energias Renováveis de Moçambique pelo Fundo Nacional de Energia (FUNAE), constatou-se um potencial à volta de 23 mil gigawatts (GW) dos vários recursos energéticos espalhados pelo País. “Neste caso, os recursos mais abundantes são de origem hídrica, eólica, biomassa, solar e até geotérmica. O único que não foi incluído na altura foi o potencial das marés, porque havia valores muito baixos. Apesar de a origem ser a mais abundante, neste momento, o maior aproveitamento de energias renováveis é feito através dos recursos hídricos, onde temos a hidroeléctrica de Cahora Bassa e, mais recentemente aprovada, a hidroeléctrica de Mphanda Nkua”, explicou o presidente da AMER. O Atlas das Energias Renováveis de Moçambique, publicado pelo FUNAE em 2014, indica um potencial total de 23 026 GW. Deste número, 7537 MW correspondem a projectos prioritários, entre os quais se destacam 599 MW de solar, 5645 MW de hídrica e 1146 MW de eólica.
Muito potencial (ainda) ocioso...
Ricardo Pereira explica que “a parte solar já está a ter algum aproveitamento, porque já temos grandes cen-
trais instaladas, com destaque para Mocuba com capacidade de 40 MW. Mas ainda não é comparável com o potencial das energias renováveis que poderá ser injectado na rede até 2030”. A matriz energética nacional revela um grande aproveitamento hídrico, mas “à medida que formos olhando para o futuro”, esse aproveitamento deverá desacelerar “em comparação com as energias solar e eólica, que vão ganhando alguma expressão”, referiu Ricardo Pereira. Segundo o Resumo das Renováveis em Moçambique, produzido pela AMER, os 2799 MW de potência instalada no País correspondem sensivelmente a metade do potencial em projectos prioritários. Por outro lado, do total de potência hoje instalada, apenas 39% estão de facto disponíveis para consumo nacional, uma vez que a maioria se destina a exportação ou a consumo próprio (como no caso da HCB, que dos 2075 MW instalados, apenas dispõe de 500 MW para a Electricidade de Moçambique).
Como se estão a expandir as renováveis?
Comecemos pelas mini-redes. Segundo a AMER, neste segmento, o envolvimento do sector privado tem sido diminuto e baseia-se apenas numa lógica de empreitadas públicas de construção. Assim sendo, o sector público está na dianteira através do FUNAE, que detém actualmente 97 mini-redes, correspondentes a 9,2 MW, com 79 em funcionamento, sete em construção e 11 por iniciar. A estas poderão rapidamente juntar-se novos projectos de iniciativa privada, beneficiando do apoio de parceiros de cooperação e dos programas por eles financiados que já promoveram estudos de viabilidade para mais de 70 locais. Em relação aos sistemas solares caseiros (SSC), os operadores privados começaram a comercializar estas alternativas num modelo ‘pay as you go’ (também abreviado para ‘paygo’) desde 2017. Neste modelo, os utilizadores finais vão pagando o equipamento ao longo da utiliza-
ção. Foram identificados oito operadores privados ‘paygo’ no mercado, face aos quatro existentes em 2021, apesar de existirem muitos outros a venderem SSC num modelo de compra directa. Até 2022 foram vendidos mais de 255 mil sistemas, o que corresponde a um aumento de mais do triplo face ao início do ano anterior. Um estudo elaborado em 2017, citado pela AMER, quantificava o potencial deste mercado em 824 mil habitações, tendo em conta que apenas 22% da população sem acesso à rede podia suportar o custo mensal de SSC básicos, na altura de 7,5 dólares. No entanto, em 2022, alguns operadores conseguiram baixar o valor mensal dos sistemas para 4,5 dólares o que faz com que mais de 40% da população alvo já tenha capacidade para pagar, duplicando o potencial do mercado para 1,6 milhões de habitações.
Quem são os financiadores das renováveis?
Segundo Ricardo Pereira, existem quase 21 programas de apoio financiados por parceiros de cooperação e são orientados para diferentes segmentos
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Texto Nário Sixpene • Fotografia Mariano Silva
do mercado das energias renováveis. “Existem também financiamentos directos às empresas e aqui posso destacar um financiamento de electrificação da União Europeia, chamado Electrify, que já prevê uma janela para Moçambique a rondar 500 milhões de euros para financiar empresas privadas com valores entre 500 mil euros a 10 milhões de euros, dependendo da fase em que a empresa estiver”. A estes financiadores junta-se a banca comercial. O BCI tem uma linha chamada Super, que significa ‘sustentabilidade, uso produtivo de energias’ e é financiada pelo Global Environmental Facility. O Millennium bim tem algumas soluções de financiamento para apoiar tanto na parte de investimento, quanto na de CAPEX (investimentos em bens de capital) e na
parte operacional para algumas empresas que estejam no ramo das energias renováveis. Para energia ‘dentro da rede’, existe um grande apoio do Banco Mundial, do Banco Africano de Desenvolvimento e da União Europeia para a campanha de electrificação, gestão da rede e construção de novas subestações. No que diz respeito à energia ‘fora da rede’, marcam presença a União Europeia, a Agência de Desenvolvimento Alemã (GIZ), a Embaixada da Suécia, através da sua entidade de cooperação (SIDA), a Noruega, a Bélgica, através da ENABEL, e há também um parceiro bastante importante que é o Reino Unido através do FCDO, que financia um dos maiores programas de energia fora da rede em Moçambique que é o programa Brilho.
Os principais projectos solares
Dados da AMER indicam que a maior parte destes estão a ser implementados pelo Fundo Nacional de Energia
Programa Valor em milhões de dólares Financiadores
Proenergia + 53 Banco Mundial
Endev 47,5 Alemanha, Holanda, Noruega, Suíça e UE
Brilho 37,6 Reino Unido e Suécia
Proenergia 9,5 Banco Mundial
Bgfa 8,6 Sida-Suécia
Green People’s Energy 7,4 Cooperação Alemã
Ilumina 6,5 Aics - Itália
React Ssa Moz. 3,3 Sida-Suécia
Mas é preciso mais apoio Afinal, como em tudo, há o outro lado: o das dificuldades de acesso ao financiamento que limitam o avanço de determinados projectos. A E&M ouviu o especialista Pedro Moleirinho, consultor na área de energias renováveis na SNV (ONG holandesa focada em melhorar a qualidade de vida das comunidades), que revela que as empresas que fornecem soluções de energia fora da rede até apresentam bom desempenho do ponto de vista de inovação e qualidade dos serviços. No entanto, “todo este sector ainda é muito recente e frágil. Não podemos esquecer que os clientes destas empresas são famílias de baixa renda que fazem estes investimentos com muito esforço, negligenciadas por muitos sectores como a banca comercial. Daí ser fundamental dar-lhes um bom serviço e produtos de qualidade. Para isso tem de existir este apoio do programa na partilha de riscos. Conseguir chegar às zonas remotas de Moçambique requer grandes investimentos”, sublinhou Pedro Moleirinho.
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“A energia solar já está a ter algum aproveitamento porque temos grandes centrais instaladas”, Ricardo Pereira, presidente da AMER
“Há Muita Vontade de Investidores em Apostar no País”
É a voz de quem já opera no mercado e tem a noção do que está bem, do que vai mal e do futuro do sector energético. Pedro Pereira Coutinho, CEO da Source Energia, é optimista quanto ao futuro do mercado moçambicano, mas aponta para um maior envolvimento do sector privado como um desafio a ultrapassar
ASource Energia é uma empresa diversificada de energias renováveis focada no desenvolvimento, gestão, operação e manutenção de projectos de grande e pequena escala, dentro e fora das redes de energia na África Lusófona. Entrou no País entre 2014 e 2015 e arrancou com foco no sector imobiliário e nas energias renováveis. Mas logo a atenção para o imobiliário caiu por causa das constantes crises que a empresa enfrentou. As energias renováveis ganharam relevância e passaram a ser o único foco. Na parte da electrificação rural, a Source Energia cobre, actualmente, 50 mil casas. Está a ligar uma média de quatro mil casas por mês. De acordo com o CEO da empresa, Pedro Pereira Coutinho, há muito potencial por explorar e espaço para crescer, partindo do princípio que cerca de 60% da população não tem acesso a electricidade (correspondente a 20 milhões de pessoas), num mercado recente, com apenas 1% ou 2% da população a usar sistemas solares caseiros (SSC). E é esse crescimento que espera que vá acontecer daqui para a frente.
A Source Energia tem uma relação directa com as pessoas no âmbito da electrificação rural, mas também tem foco noutras áreas.
A área em que arrancámos é a que chamamos on-grid, ou seja, Independent Power Producers [produtores independentes]. Estudámos os desafios da EDM [Electricidade de Moçambique] e os do Governo, alinhámo-nos com a estratégia deles e fomos desenvolver projectos criativos que viessem ajudar a cumprir os objectivos de ambos. Os da EDM são muitos, desde as linhas de transmissão, expansão até à falta de geração em cer-
tos pontos de grande consumo. Então, há toda uma série de questões que é preciso estudar e entender e isto tem-nos corrido bem. Mas foi muito duro. Demorámos sete anos a fazer o primeiro projecto, que foi o de Cuamba (província do Niassa) de 19 MW e que foi o primeiro com uma bateria em grande escala no País. Este projecto começou agora a operar e a injectar energia na rede. Faremos a inauguração oficial em Setembro. Estamos a desenvolver o primeiro projecto de vento na Namaacha (Sul), de 120 MW num investimento de cerca de 300 milhões de dólares. Este projecto tem vários elementos de interesse: vai ajudar a melhorar a segurança energética no Sul do País e a exportar energia, porque é um projecto essencialmente para exportação.
Ouve-se muito dizer que Moçambique é ou pode vir a ser um hub de energia da região. Tem a mesma percepção?
Pelo que entendo, Moçambique já é o maior exportador de energia da região por causa da crise energética da África do Sul, que tinha uma capacidade de geração de 5000MW e actualmente tem apenas 3000 MW. Priorizaram o fornecimento interno de energia e deixaram de vender para a região. E Moçambique, a pouco e pouco, vem ocupando esse papel, seja através de Cahora Bassa, seja através das outras centrais existentes, com destaque para a futura central térmica de Temane (província de Inhambane) que está em construção pela Globeleq e o projecto da Namaacha que ainda não avançou. Ambos vão apoiar a exportação da EDM. Em relação à Namaacha, está agendada a assinatura dos contratos comerciais para 3 de Novembro, o fecho financeiro para o início de 2024 e o início das obras também para os primeiros meses de 2024.
Qual é o grande potencial de Moçambique no que diz respeito à fonte predominante?
Em Moçambique há de tudo. Se pensarmos nas principais fontes de energia, antigamente era o carvão, mas hoje em dia não se consegue mais financiamento para fazer centrais a carvão. Em termos de capacidade hídrica, Moçambique é um dos países com mais água e, portanto, tem uma grande capacidade. Tem Cahora Bassa a funcionar e tem mais dois projectos hídricos em funcionamento: Chicamba e Mavusi (província de Manica). E agora tem um projecto grande que é Mpanda Nkuwa, que corre a passos largos para ser uma realidade. A energia hídrica consegue ser constante, ao contrário da solar e da dos ventos, que são intermitentes, ou seja, quando não há sol ou não há vento, não há energia. Em relação à energia solar, quanto mais nos deslocamos para norte, mais aumenta a irradiação e mais os painéis conseguem produzir.
Mas fala-se muito pouco das eólicas. Porquê?
Sim, porque demora mais tempo para se desenvolver. Ou seja, para se
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Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva
Projectos da Source Energia
Sem incluir os serviços de consultoria, os sistemas solares domésticos estão todos concentrados nas províncias do Centro e Norte do País, num total de 37 distritos. Como estão distribuídos?
Manica
Mossurize, Gondola, Manica, Báruè, Sussudenga, Machaze, Vanduzi
Nhamatanda, Muanza , Gorongosa, Buzi , Chibabava, Caia, Marromeu
Gilé, Mocuba, Milange, Morrumbala, Gurue, Molumbo, Ilé, Alto Molocué, Maganja da Costa
Cuamba, Mecanhelas, Metarica, Nipepe, Maúa, Marrupa, Mecula, Mandimba
Nampula
Angoche, Mogovolas, Moma, Murrupula, Ribaue, Malema
mas, por falta de comunicação ou outros aspectos.
Pereira Coutinho, CEO da Source Energia
viabilizar um projecto tem de haver, no mínimo, 12 meses de medição do vento, há barreiras de tecnologia por falta de experiência da sua utilização em Moçambique e não existe tanto vento. Os dois grandes hubs de vento são as províncias de Maputo e Tete. Actualmente temos projectos em ambas.
Nota-se que os financiamentos para estes projectos aumentaram muito nos últimos anos.
Sempre fui da opinião que o dinheiro não falta. O que falta são bons projectos, que sejam inteligentes. Por exemplo, que percebam os desafios do Governo e da EDM e encontrem o espaço em que devem jogar. O Governo tem o programa PROLER para concur-
sos públicos. Actualmente aceita dois tipos de situações: concursos públicos e negociação directa, porque através do concurso público não têm capacidade de fazer tudo. Há disponibilidade de financiamento específico para a indústria das energias renováveis por causa do combate às mudanças climáticas - em Moçambique especialmente por ser um país classificado como pobre. Então, quando se juntam estas duas narrativas - clima e país em desenvolvimento -, Moçambique é um dos países onde não há falta de vontade de investidores em cá virem. Dinheiro disponível e investimento não faltam. O que pode faltar é o empresariado moçambicano ter conhecimento ou acesso óbvio a esses progra-
Umas das questões que já foi imensamente falada é o uso do gás como fonte energética ao nível interno.
Claro. Actualmente há muitos projectos de gás a funcionar: da ENI offshore , da Sasol (projectos de Pande e Temane que estão a ser utilizados para gerar energia), da Gigawatt, da central térmica de Ressano Garcia e da central térmica de Maputo. Sem dúvida que o gás desempenha um papel importante.
Em que fase estamos hoje em termos de capacidade de geração de energia e para onde é que vamos?
O potencial é grande e o plano é alcançar o acesso universal em 2030. Então, podemos crescer em três caminhos: através dos sistemas solares caseiros, mini-redes e crescimento de linhas de transmissão. Existe lei, regulamento, capital, capacidade do Governo liderar o processo e a EDM é uma empresa bem organizada e gerida, com resultados positivos. O caminho está traçado e é certo que é de crescimento.
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“Sempre fui da opinião que dinheiro não falta. O que falta são bons projectos, inteligentes e que percebam e vão ao encontro dos desafios do Governo e da EDM”, Pedro
Províncias Distritos Sofala Zambézia Niassa
Niassa
Manica Zambézia
Sofala Nampula
FONTE SOURCE ENERGIA
Mayra Pereira • Fundadora da Gaia Consulting, Presidente
Os “Meninos do Huambo”, obra do escritor angolano Manuel Rui Monteiro, também conhecida pela descrição dos “meninos à volta da fogueira”, marcou a minha infância e a de muitas crianças africanas falantes da língua portuguesa espalhadas pelo mundo. Não sei ao certo se esta música chegou ou se ainda chega aos ouvidos de milhões de crianças que, até hoje, não o têm acesso a energia, mas o que é certo é que não terão parado de sonhar com uma vida melhor.
A Organização das Nações Unidas (ONU) lançou o desafio global de assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos. Entre irmãos de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), em que a biomassa lenhosa ainda é uma das principais fontes de energia, fica sempre a questão: como garantir o à energia de forma que inspire novas histórias de esperança e progresso?
No cenário actual, Moçambique, Angola e Guiná-Bissau enfrentam taxas de electrificação abaixo dos 60%, mas este contexto é diferente noutros países, como Cabo Verde e São Tomé. Talvez pela sua pequena dimensão, apresentam, a nível de acesso, taxas de electrificação acima de 90% e 70%, respectivamente. Estes feitos destacam o potencial de acesso à energia que o continente africano falante de português pode alcançar e abre portas para considerações sobre o desenvolvimento de várias opções a nível da transição energética.
Em busca de um mundo mais inclusivo, a grande maioria das nações do Mundo abraçou a nobre missão de não deixar ninguém para trás. Embora distantes, os PALOP encontram-se unidos por uma língua que poderá ser a chave para abrir portas e construir pontes entre culturas e tradições diversas. A união de forças é essencial para alcançar este objectivo, principalmente quando toda a envolvente do sector energético internacional é feita noutro idioma.
A Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER) tem exercido um papel fundamental no desenvolvimento e promoção de energias renováveis nos PALOP, junto dos sectors público e privado, criando plataformas de cooperação com os vários stakeholders e fun-
Energia Sustentável e a Construção de Pontes entre Países Africanos
Lusófonos: Moçambique como País de Destaque
cionando como uma voz comum, para melhorar o ambiente de negócios e potenciar os benefícios socioeconómicos das energias renováveis. Os PALOP têm muito a ganhar ao colaborar e partilhar conhecimentos no sector energético. Cabo Verde, que teve muito sucesso no acesso à energia, pode compartilhar as suas experiências, lições aprendidas e melhores práticas. Acções de intercâmbio institucional Angola-Moçambique no âmbito das energias renováveis têm vindo a ser desenvolvidas de forma que explorem potenciais sinergias e troca de conhecimento. São Tomé e Príncipe tem apostado e pretende intensificar esta aposta aproveitando o potencial renovável, a fim de gerar energia com mais qualidade e, sobretudo, para atender à necessidade de redução da actual fonte primária de energia eléctri-
o seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e o acesso à energia para todos. Além disso, o regulamento de acesso à energia em zonas fora da rede e os demais regulamentos complementares proporcionam um arcabouço regulatório sólido para garantir a efectiva implementação das normas estabelecidas.
A disponibilidade de 282 milhões de euros de financiamento vindos dos parceiros de cooperação, conforme apresentado no resumo “Renováveis em Moçambique 2022”, dos quais aproximadamente 180 milhões de euros são para o mercado fora da rede, é uma oportunidade significativa para impulsionar o uso de energias renováveis em áreas remotas e carenciadas de acesso à electricidade. Esses recursos podem ser utilizados para desenvolver projectos sustentáveis e inovadores, promovendo o crescimento económico e a melhoria da qualidade de vida das comunidades.
ca no país, o gasóleo. Nos últimos anos, a realidade vivida na Guiné-Bissau, Timor-Leste e Guiné Equatorial no que toca ao estado da rede eléctrica gera oportunidades para o design de um conjunto de soluções inovadoras e adaptadas às necessidades específicas de cada país. Brasil e Portugal apresentam uma vasta experiência em energias renováveis e podem oferecer valiosos insights na implementação de projectos sustentáveis.
Como país de destaque, Moçambique pode ser um importante contribuidor para a colaboração entre os PALOP no sector energético renovável fora da rede. O sector público tem demonstrado um compromisso significativo perante a concretização da Agenda 2030. Com a Nova Lei de Electricidade, alinhada com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o Governo moçambicano demonstra
A Associação Moçambicana de Energias Renováveis (AMER) é uma associação sem fins lucrativos que tem como missão promover as energias renováveis em Moçambique. A AMER conta com mais de 100 membros, sinal de que há um interesse significativo e apoio por parte de empresas, organizações e indivíduos em promover e desenvolver soluções energéticas sustentáveis no País. A associação tem a oportunidade de criar parcerias estratégicas, partilhar conhecimento, promover a consciencialização e a adopção de energias renováveis, além de trabalhar em conjunto com o sector público para superar os desafios enfrentados pelo sector.
O fortalecimento da nossa identidade compartilhada constitui um pilar fundamental para a cooperação entre os PALOP. Em África, costumamos dizer: “se quer ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado”. Assim como tantos abraçaram os “Meninos do Huambo” como símbolo próprio, temos menos de sete anos para garantir que os meninos e meninas espalhados pela África lusófona tenham acesso a energia de qualidade e sustentável. Juntos, poderemos encontrar soluções para trilhar um caminho progressivamente mais sustentável em todo o mundo que fala a língua portugeusa, deixando uma herança e uma marca inspiradora para as gerações futuras.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 42 OPINIÃO
Moçambique pode ser um importante contribuidor para a colaboração entre os países lusófonos no sector energético renovável fora da rede
da ALER e Membro da Direcção da AMER
A Corrida da EDM Pelo Acesso Universal à Electricidade
A Electricidade de Moçambique (EDM) tem um grande desafio para os próximos seis anos: ajudar a abastecer cerca de metade da população moçambicana ainda sem acesso a energia. É uma missão árdua, mas a empresa garante que vai conquistar a meta, até porque já soma grandes avanços. Como está a empresa pública a planear este percurso?
Quando há cinco anos o Governo se comprometeu em alcançar a meta do acesso universal à energia até 2030, através do programa Energia para Todos, nomeou a Electricidade de Moçambique (EDM) para levar a cabo as actividades de electrificação, em paralelo com o Fundo Nacional de Energia (FUNAE). Três responsáveis da EDM falam à E&M sobre as mudanças que esta missão está a imprimir no terreno e em diferentes contextos da actividade da empresa.
Têm a palavra o director de Electrificação e Projecto, Cláudio Dambe, o director da Sociedade de Transporte de Energia, Adriano Jonas, e o director de Operações de Mercado, Luís Ganje. Como é que o País está em cada uma destas áreas, na óptica dos projectos que estão a ser conduzidos pela estatal EDM?
Energia para Todos: “o plano foi bem preparado”
O director de Electrificação e Projectos, Cláudio Dambe, explica que no âmbito do programa Energia para Todos (PROENERGIA) já foram mobilizados
287,7 milhões de dólares para a massificação de ligações, dentro e fora da rede.
E na segunda fase foram mobilizados 376,8 milhões de dólares em procurement. Além do projecto de massificação das ligações, muitos outros projectos estão a ser implementados com vá-
rios parceiros, visando robustecer a estrutura primária para suportar as ligações massivas dentro da rede.
Graças a esse esforço, segundo Cláudio Dambe, a avaliação do ritmo da expansão é positiva. Em menos de seis anos, foi possível aumentar o acesso à electricidade de 35% para 50% da população.
As ligações domésticas têm aumentado a cada ano: e em 2018 foram ligadas 150 mil famílias; em 2019 foram 205 mil famílias; em 2020 ligaram-se 304 mil famílias; em 2021 foram abrangidas 390 mil famílias e em 2022 a rede abraçou 470 mil famílias. Este ano, até Junho, já estavam ligadas 202 mil novas famílias.
O director de Electrificação e Projectos da EDM explica ainda que, apesar de o número de novas ligações estar a ser pressionado pelo crescimento da procura, “o projecto tem muito mérito, porque a planificação foi bem preparada.
Estabelece uma meta até 2030 e um processo de cobertura crescente a cada ano, à luz da Estratégia Nacional de Electrificação (ENE), adoptada no âmbito do PROENERGIA”. Entretanto, “a questão que se levanta é a ansiedade das famílias” ainda sem acesso a electricidade. “Todos desejam ser abrangidos ‘hoje’”, descreve.
Há avanços, também, ao nível da qualidade [estabilidade] de energia for-
necida. Há alguns anos, a EDM veio a público admitir que estava a enfrentar um dilema, entre expandir o acesso a novos consumidores ou investir na melhoria de qualidade da energia fornecida a quem já era cliente. Ou seja, havia dificuldade em assegurar os dois objectivos em simultâneo.
A situação mudou. Cláudio Dambe assegura que, “hoje, a EDM está a implementar projectos de reforço da rede primária para que a massificação não prejudique a qualidade da energia fornecida aos clientes actuais e futuros”.
O impacto transformador das linhas de transmissão
A EDM tem em carteira uma série de investimentos em linhas de transmissão. Uma delas é a Linha de Transporte Temane-Maputo (TTP), refere o director da Sociedade de Transporte de Energia, Adriano Jonas.
Trata-se de uma linha de 400 kV que está associada à construção da Central Térmica de Temane (CTT), em Inhassoro, província de Inhambane - central de
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Texto Celso Chambisso • Fotografia EDM
“Hoje, a EDM está a implementar projectos de reforço da rede primária para que a massificação não prejudique a qualidade de energia fornecida aos clientes actuais e futuros”
produção de electricidade a gás natural, a maior do País no pós-independência, com capacidade instalada de 450 MW. A CTT terá grande impacto no fortalecimento do sector energético. Adriano Jonas fala de uma adição equivalente a 14% da actual capacidade de fornecimento de electricidade, um passo importante para satisfazer a procura em Moçambique.
O papel da TTP será reforçar a segurança e qualidade de fornecimento de energia, impulsionar a indústria mineira, a agro-indústria e contribuir para o acesso universal através da ligação de cerca de 1,5 milhões de novos consumidores. Tudo isto a par do contributo para a balança de exportações, com o excedente de energia a ser gerado.
E quando é que chegaremos a esse ponto? “O progresso físico actual estima-se em 65% contra 95% previstos. Tinha como prazo de conclusão o presente mês de Agosto. Mas a previsão aponta agora para o primeiro trimestre de 2024, prevendo-se a disponibilidade da linha - para o início de comissionamento da
CTT - para Maio de 2024”, explicou o director da Sociedade de Transporte de Energia da EDM.
A TTP tem um custo global da ordem de 500 milhões de dólares e, além das infra-estruturas de transporte de energia, inclui custos de reassentamento e de compensações de comunidade afectadas pelo projecto.
O empreendimento é financiado pelo Governo de Moçambique com suporte dos seus parceiros de cooperação, nomeadamente o Banco Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD),o Banco Islâmico para o Desenvolvimento (BID), o Fundo da OPEC para o Desenvolvimento Internacional (OFID) e Governo da Noruega.
Outros componentes relevantes a caminho
Na segunda fase, ainda de acordo com Adriano Jonas, será desenvolvida a Linha de Transporte Tete-Vilanculos, associada ao projecto da Central Hidroeléctrica de Mphanda-Nkuwa, com capacidade estimada em 1500 MW, que se
EM QUE PÉ ESTAMOS?
Tudo indica que... no bom caminho. Em quase todos os contextos, de acordo com os representantes séniores da EDM
“A EDM está a implementar projectos visando o reforço da rede primária, para que a massificação não prejudique a qualidade da energia fornecida”
“Existe um plano da EDM de instalar uma central flutuante em Maputo, que pode enquadrar-se perfeitamente na resposta à actual situação de emergência na RAS”
“A Central Térmica de Temane irá adicionar o equivalente a cerca de 14% da capacidade de fornecimento no País e a Linha Temane-Maputo TTP irá reforçar a qualidade”
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Cláudio Dambe, director de Electrificação e Projecto
Luís Ganje, director de Operações de Mercado/EDM
Adriano Jonas, director da Sociedade de Transporte/EDM
encontra em fase de desenvolvimento através do Gabinete de Mphanda Nkuwa, suportado pela EDM e HCB. Em relação à central de Temane, a conclusão está prevista para Novembro de 2024, sendo que os testes de comissionamento deverão arrancar em Maio do mesmo ano, prolongando-se por um período de seis meses. “Não há, de momento, indicação de qualquer atraso em relação ao cronograma original”, garante Adriano Jonas.
Mais uma central flutuante, desta vez em Maputo
Já o director de Operações de Mercado da EDM, Luís Ganje, acrescentou que existe um plano da EDM para estacionar uma nova embarcação de geradores em Maputo, numa parceria com a Karpowership, uma espécie de réplica da experiência “bem sucedida” de Nacala, onde um barco semelhante fornece
electricidade à região norte e à vizinha Zâmbia, desde 2016.
“Tendo sido a experiência de Nacala, para atender à emergência na Zâmbia, eficaz e rápida na implementação, a mesma pode enquadrar-se perfeitamente na resposta à actual situação de emergência na África do Sul, fixando-se no porto de Maputo”, argumentou o responsável: a fronteira sul-africana está a cerca de 100 quilómetros da capital moçambicana e o território encara cortes programados para enfrentar a falta de centrais elétricas.
A implementação desta solução a curto prazo depende, principalmente, da existência de quantidades de gás doméstico que justifiquem a mobilização de uma nova barcaça para um período curto, de um a dois anos de exploração.
Ou, numa perspectiva de médio a longo prazo, considerar o gás de importação ou fontes de gás por explorar em Ca-
bo Delgado para a implementação desta solução.
Crise energética na RAS: como se deve posicionar Moçambique?
A África do Sul está a viver uma grave crise energética com ‘apagões’ que já duram há anos e afectam todos os sectores da economia. Uma situação face à qual Moçambique se deve posicionar, segundo Luís Ganje. Pode haver ganhos para os dois lados.
Nos últimos meses, houve novas conversas com o Governo sul-africano e espera-se que, desta vez, a EDM forneça muito mais electricidade ao Estado vizinho. “Ainda existem processos que devem ser seguidos, mas, entretanto, já há um sinal bastante claro deixado pelos governantes nas reuniões realizadas recentemente. Há intenção de alargar a base de exportação de energia de Moçambique para a África do Sul, estando em curso discussões dos detalhes técnicos e comerciais para materializar este interesse das partes”, esclareceu Luís Ganje. Já foram anunciados mais 100 MW para a África do Sul, assim que se concluir um acordo comercial. Mas Moçambique pode fornecer mais. A EDM reitera que pode contribuir para se pôr fim aos cortes programados (ou load shedding) na África do Sul, que às vezes se arrastam por dez horas de indisponibilidade de energia.
“Tendo em conta a dimensão do load shedding na África do Sul”, país que necessita de 6 GW de capacidade extra para suprimir o défice energético, “e tendo em conta o horizonte temporal definido pelos sul-africanos para resolver o problema, Moçambique pode ser parte da solução, fornecendo a capacidade que puder”, explicou o director de Operações de Mercado da EDM. Mas para isso, acrescentou, a capacidade deve ser complementada por outras fontes e aquele país já tem vários projectos de geração em carteira para mitigar o défice.
“Todavia, em termos de potencial e havendo um compromisso do lado sul-africano em receber energia de projectos de longo prazo de Moçambique, há um potencial para o nosso País exportar até cerca de 3 GW de capacidade nos próximos três a cinco anos”, sublinhou.
Há muitos argumentos para acreditar que a EDM vá levar a bom porto o sonho do acesso universal à energia até 2030 (apesar de aparentemente faltar pouco tempo para esse prazo), a par do objectivo de transformar Moçambique num hub regional de energia. As renováveis já estão a fazer a sua parte no processo, resta esperar para ver se as metas se cumprem. Oxalá estejamos a caminhar para lá!
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“Há intenção de alargar a base de exportação de energia para a África do Sul, estando em curso discussões dos detalhes técnicos e comerciais para materializar este interesse das partes”
“Investimos Muito e Tornámo-nos Numa Referência Regional”
Nos últimos anos, a Nacala Logistics realizou grandes intervenções na modernização da infra-estrutura logística e portuária, tornando o Corredor de Nacala num dos maiores projectos da região. Qual é a resposta em termos de competitividade e qual o contributo para o desenvolvimento nacional e regional?
Texto Celso Chambisso • Fotografia Nacala Logistics
ANacala Logistics é parceira do grande exportador de carvão, a Vulcan Moçambique. É especializada em logística de carvão, carga geral e transporte de passageiros, além das operações portuárias. Hoje, os interesses das empresas de logística que operam ao longo do corredor - o Corredor de Desenvolvimento do Norte (CDN), o Corredor de Logística Integrada de Nacala (CLN) e as ferrovias do Centro Oriente Africano (CEAR) - estão consolidados e são representados pela Nacala Logistics.Numa entrevista à revista “Africa Outlook Magazine”, do Reino Unido, o CEO da Nacala Logistics, Abhay Mishra, afirmou que “o Corredor de Nacala é já um dos maiores projectos de infra-estrutura logística construído na África Austral”. O responsável referia-se ao resultado dos investimentos feitos nos últimos anos.
Qual é a magnitude de todo o empreendimento da Nacala Logistics e qual o seu peso em termos de competitividade, visibilidade e rentabilidade, comparando com outros corredores importantes como os de Maputo e da Beira?
O Corredor Logístico de Nacala é um projecto ambicioso que procura impulsionar o desenvolvimento económico e a competitividade do País. O Corredor de Desenvolvimento do Norte (CDN, ferrovia) é parte fundamental deste desenvolvimento, criado para conectar o Maláui e atender às necessidades de transporte de carga em trânsito (importação e exportação) para aquele país através do Porto de
Nacala. Comparando com outros corredores logísticos importantes, como o Corredor de Maputo e o Corredor da Beira, o de Nacala destaca-se por ocupar uma posição estratégica em termos de transporte de cargas em trânsito, ao nível da eficiência operacional e da qualidade de infra-estruturas nesta região. Esta posição estratégica torna-o numa peça chave para o desenvolvimento económico da região e para a competitividade de Moçambique no cenário global. Pela sua relevância no comércio externo do País e dos países vizinhos, o Corredor Logístico de Nacala desempenha um papel crucial para a economia regional. O transporte de produtos como gesso, clínquer, fertilizantes, grãos e outras commodities por este corredor é fundamental para o crescimento económico. Nos últimos anos foram realizados investimentos significativos na modernização das suas infra-estruturas, concretamente na ferrovia e no Porto de Nacala, resultando numa operação mais eficiente e confiável. Também foram feitos investimentos na construção de portos secos ao longo do corredor e as obras de ligação à Zâmbia, através da fronteira de Chipata, estão em andamento.
A Nacala Logistics vai introduzir mais uma rota de passageiros, entre Nampula e Nacala, após 33 anos sem o serviço neste percurso. Qual é a importância e o objectivo desta retoma?
É um grande marco na história da empresa e do País. Estamos para dar à comunidade de Nacala e à província de Nampula, em geral, mais uma via para o transporte de pessoas e mercadorias na rota
Nampula – Muchilipo, a um custo reduzido e com mais segurança que as outras alternativas. Onde há transporte, há desenvolvimento, há possibilidades de expansão de mercados de todo o tipo para melhorar a vida das comunidades. Para este serviço investimos na melhoria das infra-estruturas, como estações ferroviárias (em Namialo e Muchilipo) que, durante décadas, estiveram inoperacionais. Com a introdução deste comboio, mais pessoas poderão transportar os seus produtos, com menor custo. Temos orgulho em contribuir para este objectivo e fortalecer o nosso papel de impulsionadores da economia local.
A Nacala Logistics é uma empresa ferro-portuária responsável pela gestão de várias infra-estruturas: o Terminal Portuário Multiusos de Nacala-a-Velha e 1600 quilómetros de ferrovia. Os serviços de logística de carvão e das operações portuárias em Nacala-à-Velha têm maior peso que os restantes?
Com uma rede ferroviária com activos de nível mundial, a Nacala Logistics entrega um valor inesgotável aos seus utilizadores. Atendendo a uma lista diversa de clientes em todo o mundo, aproximadamente 70% do mercado da empresa está baseado na Ásia. Enquanto isso, África representa o segundo maior mercado com 5%. Sendo o carvão a principal carga do transporte ferroviário no Corredor de Nacala, é quase natural que seja a maior operação da empresa. No entanto, isso não significa que seja a nossa única prioridade. Fazemos todos os esforços de investimento, técnicos e de pessoal, para tornar o transporte de cargas gerais numa referência na região.
Nos últimos tempos, anunciaram intervenções de vulto na modernização. Em que consistiram, quanto custaram e que impacto trouxeram para a eficiência e rentabilidade da empresa?
Nos últimos três anos fizemos um grande investimento para aumentar a
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“A equipa da Nacala Logistics quebrou todos os recordes anteriores de operação ferroviária e portuária no primeiro ano de gestão da actual companhia”.
capacidade de movimentação e transporte de cargas na ferrovia, com melhorias nas linhas sul e norte. Fizemos um investimento específico para carga geral na secção sul-norte do Maláui e adquirimos mais locomotivas. Estamos a falar de milhares de dólares em investimentos que, obviamente, trazem resultados. Desde que assumimos a gestão da empresa, realizámos melhorias significativas e superámos grandes problemas operacionais e de manutenção em pouco tempo. Estou feliz por partilhar que a equipa da Nacala Logistics quebrou todos os recordes anteriores de operação ferroviária e portuária no primeiro ano de gestão da actual companhia. Para complementar, de 2019 até ao final de 2022, pagámos aproximadamente 540 milhões em impostos, incluindo impostos corporativos, taxas de concessão e outros.
O conflito entre a Rússia e Ucrânia também determinou mudanças importantes ao nível do comércio inter-
nacional. Isso teve impacto no Corredor de Nacala?
No primeiro ano teve um impacto significativo. As consequências foram sentidas directamente nas operações logísticas da região. O Corredor de Nacala é vital no transporte de commodities como fertilizantes e trigo para os países da África Austral, e como o conflito afectou a disponibilidade desses produtos no mercado internacional, isso levou a uma redução do volume de importação pelo Corredor. Além disso, a falta de produtos importados, principalmente trigo e fertilizantes, causou um aumento significativo dos seus preços, o que tem um impacto negativo na competitividade do Corredor de Nacala em relação a outras rotas comerciais disponíveis na região. Os países dependentes desta rota depararam-se com a difícil decisão de absorver os custos de transporte mais elevados ao longo do Corredor de Nacala ou de explorar alternativas de importação através de outras rotas, procurando preços mais vantajosos.
Quais os grandes desafios que os operadores do Corredor de Nacala enfrentam na actualidade e quais são as ambições e compromissos para o futuro?
A prioridade é estabilizar as operações. Depois da transição da reestruturação societária e do enorme impacto dos ciclones que este ano passaram por Moçambique e Maláui, tivemos de recuperar praticamente do zero. Olhando do ponto de vista comercial, a vocação natural do corredor é atingir toda a sua extensão, ou seja, levar os caminhos-de-ferro a operar até à fronteira da Zâmbia, no curto prazo. Diversificar a actividade para outros modelos logísticos está também em cima da mesa. O caminho-de-ferro é o modo de transporte por excelência, mas, eventualmente, o envolvimento com o modelo rodoviário pode optimizar alguns fluxos e apoiar o crescimento do corredor na sua capacidade total.
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João Gomes • Partner @BlueBiz
Vem este artigo a propósito de estudos1 recentes que nos revelam que:
- 45%2 das empresas africanas classificaram a Transformação Digital (TD) como uma prioridade estratégica.
- A adopção de tecnologias digitais nas empresas africanas pode aumentar a produtividade em até 20% e os lucros em até 25%.3
Contudo, em África, a adopção da TD apresenta oportunidades e desafios únicos.
Neste artigo, convido o meu leitor@ a responder à pergunta: Que estratégias poderão as empresas africanas utilizar para maximizar o retorno sobre o investimento (ROI) dos seus projectos de TD?
Vejamos sucessivamente:
- O que é a Transformação Digital (TD) no contexto africano.
- Como se calcula o Retorno do Investimento (ROI).
- Que estratégias empregar para maximizar o ROI dos projectos de TD. - Conclusão.
1. O que é a Transformação Digital (TD), no contexto africano?
Na minha opinião, e de acordo com o Projecto de Estratégia de Transformação Digital para África (2020-2030)4, a Transformação Digital consiste:
- Num conjunto articulado de iniciativas: Por exemplo, até 2030, todos os cidadãos africanos deverão estar digitalmente habilitados e capazes de aceder de forma segura e protegida a, pelo menos, 6 Mb/s [megabits por segundo de largura de banda de Internet] em qualquer lugar do continente africano, a um preço acessível não superior a 1 cts USD por Mb, através de um dispositivo inteligente fabricado no continente, a um preço que não ultrapasse 100 USD, para be-
Estratégias para Maximizar o ROI dos Projectos de Transformação Digital em África
neficiar de todos os serviços e conteúdos electrónicos básicos, dos quais pelo menos 30% são desenvolvidos e produzidos em África.
- Iniciativas que visam substituir as tecnologias analógicas5
- Acções que se baseiam em tecnologias digitais: por exemplo, inteligência artificial, robótica, blockchain, drones, Internet das Coisas, impressão 3D, Big Data, 5G.
- E que são promovidas por diferentes entidades: Por exemplo, pela União Africana, pelos Estados africanos, pelas empresas e organizações, e até pelos indivíduos.
- Contudo, tais iniciativas ou acções de-
(i.e., a Zona de Comércio Livre Continental Africana).
2- Como se calcula o Retorno do Investimento (ROI)?
O Retorno sobre o Investimento (ROI)6 é um cálculo básico que mede a percentagem de retorno de um investimento em relação ao seu custo inicial e que pode ser representado pela seguinte equação:
- ROI Simples = (Resultado Líquido/ Investimento Inicial) x 100
- Lucro Líquido = Receitas–Custos7
3. Que estratégias empregar para maximizar o ROI dos projectos de TD? Consequentemente, qualquer estratégia de maximização do ROI, também para os projectos de TD, passará por trabalhar simultaneamente nas suas três dimensões:
- Investimento inicial: A estratégia genérica recomendada vai no sentido da sua redução;
- Receitas: A estratégia genérica recomendada vai no sentido do seu aumento;
- Custos: A estratégia genérica recomendada vai no sentido da sua redução.
3.1 Estratégias de Redução do Investimento Inicial (ERI)
frontam-se com vários desafios: Por exemplo, ao nível das infra-estruturas de conexão digital, quase 300 milhões de Africanos vivem a mais de 50 km de uma ligação de banda larga por fibra ou cabo.
- Mas tais acções beneficiam de oportunidades: por exemplo, a demografia jovem. A população jovem e familiarizada com a tecnologia em África abraça entusiasticamente as tecnologias digitais, criando uma procura por soluções digitais inovadoras.
- Beneficiam do objectivo de transformar os indivíduos, as empresas e organizações, as sociedades e economias africanas - por exemplo, com a promoção da integração comercial de África
a) ERI no sector agrícola Optimização da produção: Com a TD, as empresas agrícolas podem adoptar práticas de agricultura de precisão, como o mapeamento de solos, a monitorização de nutrientes e a aplicação direccionada de insumos. Isso ajuda a optimizar o uso de recursos e a reduzir a necessidade de investimentos em fertilizantes e insumos agrícolas.
Gestão de stocks e cadeia de suprimentos: O uso de tecnologias de rastreamento e gestão de stocks permite melhorar a gestão da cadeia de suprimentos agrícolas, reduzindo os custos associados a stocks excessivos ou obsoletos.
b) ERI no sector da educação
Infra-estrutura física: A incorporação de
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Para maximizar o ROI dos projectos de TD, é crucial adoptar estratégias que abordem, simultaneamente, a redução de investimentos, o aumento de receitas e a redução de custos
Soluções digitais na agricultura garantem o aumento da produtividade
tecnologias digitais na educação pode reduzir a necessidade de investimentos em infra-estrutura física, como salas de aula, ampliação de instalações e equipamentos tradicionais.
Acesso remoto: A utilização de plataformas de aprendizagem online e recursos digitais permite a oferta de cursos e treino à distância, eliminando a necessidade de investimentos em espaços físicos adicionais.
que as instituições de ensino ofereçam programas de aprendizagem online para um público mais amplo, expandindo a base de alunos e gerando novas fontes de receita.
Cursos personalizados: Com o uso de tecnologias digitais, é possível desenvolver cursos personalizados, adaptados às necessidades individuais dos alunos. Essa abordagem pode atrair mais estudantes e aumentar as receitas por meio de programas especializados.
gas, permitindo uma gestão proactiva e reduzindo perdas.
b) ERC no sector da educação
Economia de papel: A adopção de soluções digitais pode reduzir a dependência de materiais impressos, como livros e documentos físicos, resultando em economia de custos relacionados com a impressão, transporte e armazenamento. Eficiência administrativa: A digitalização de processos administrativos, como matrículas, registo de notas e gerenciamento de documentos, pode simplificar e agilizar as operações, reduzindo os custos associados a tarefas manuais e burocráticas.
Conclusão
A Transformação Digital (TD) em África oferece a oportunidade de impulsionar o crescimento e melhorar a eficiência em vários sectores-chave. No entanto, para maximizar o ROI (Retorno do Investimento) dos projectos de TD, é crucial adoptar estratégias que abordem, simultaneamente, a redução de investimentos, o aumento de receitas e a redução de custos.
Essas estratégias baseiam-se no uso de tecnologias digitais como, por exemplo, a inteligência artificial, a robótica, Blockchain, os drones e a Internet das Coisas (IoT).
Ao implementar essas estratégias, as empresas africanas não só criarão condições para alcançar resultados positivos em termos de produtividade, lucro e sustentabilidade, mas também impulsionarão os objectivos da “Agenda 2063 – A África que Queremos”.
3.2
Estratégias de Aumento das Receitas (EAR)
a) EAT no sector agrícola
Melhoria da produtividade: A adopção de soluções digitais na agricultura pode aumentar a produtividade das culturas, resultando em maior produção e, consequentemente, no aumento das receitas.
Acesso a novos mercados: Através da TD, as empresas agrícolas podem expandir o seu alcance e aceder a novos mercados através do comércio electrónico, plataformas de venda online e parcerias com distribuidores.
Agricultura de precisão: A aplicação de tecnologias de precisão permite uma produção agrícola mais eficiente e de alta qualidade, atendendo à procura crescente por alimentos sustentáveis e com rastreabilidade. Isso pode levar a uma maior valorização dos produtos agrícolas e aumento das receitas.
b) EAR no sector da educação
Expansão da oferta: A TD pode permitir
3.3 Estratégias de Redução dos Custos (ERC)
a) ERC no sector agrícola Automação de processos agrícolas: Aplicação de tecnologias como sensores, drones e sistemas de monitorização remoto para optimizar actividades agrícolas como irrigação, aplicação de fertilizantes e controlo de pragas. Isso pode resultar em poupança de recursos, redução de desperdícios e economia de custos.
Gestão eficiente de recursos: A utilização de soluções digitais para monitorizar o uso de água, energia e insumos agrícolas permite uma gestão mais precisa e eficiente desses recursos, reduzindo custos operacionais.
Previsão e gestão de riscos: A análise de dados agrícolas e a utilização de tecnologias como a inteligência artificial podem melhorar a previsão de condições meteorológicas, riscos de doenças e pra-
1 McKinsey & Company. (2021). “Digital Transformation in Africa: Unlocking the Potential”; World Bank. (2021). Digital Transformation for Inclusive Growth in Africa.
2 Deloitte. “Driving Digital Transformation in Africa: Challenges and Opportunities”.
3 Digital Transformation in Africa: Cost Savings and Efficiency Gains.
4 Uma iniciativa da União Africana, integrada na Agenda 2063: https://au.int/sites/default/files/ documents/38507-doc-ie25718_dts_-_portuguese. pdf
5 Exemplos de projectos de TD em África: Quénia
- Plataforma “mFarm”; Nigéria - app “Lifesaver”; Senegal - Plataforma “Agrisoko”
6 Contudo, existem outras formas mais complexas de cálculo do ROI: ROI Anualizado; ROI com Cash Flow Líquido, etc.
7 Custos em sentido amplo, i.e., englobando (Custos + Despesas).
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Q&A — Cinco Perguntas Sobre os Diferentes Tipos de Visto Cujas
Respostas Podem Fazer Toda a Diferença Para Si e Para a Sua Organização ou Empresa (I)
Éestrangeiro e gostaria de trabalhar em Moçambique? Ou é empresário e gostaria de perceber melhor como deve a sua empresa proceder para contratar um trabalhador estrangeiro? E que tipos de visto existem para quem quer fazer negócios, investir ou permanecer legalmente no País?
Neste Consultório Empresarial Powered by RSM respondemos a algumas destas questões, umas mais, outras ainda a carecer de esclarecimentos por parte de muitos profissionais, empresas e organizações.
Quais são os tipos de visto mais solicitados para a entrada em Moçambique? São várias as opções de visto de entrada em Moçambique. Vejamos:
a) Residência - Concedido ao cidadão estrangeiro que pretenda fixar-se em Moçambique. O seu titular deve entrar no País e solicitar a sua autorização de residência, razão pela qual é válido para uma única entrada e permanência por um período de 30 dias, prorrogáveis até 60. Diferente dos outros vistos, pode ser extensivo aos filhos incapazes que se encontrem a cargo do titular, bem como ao respectivo cônjuge.
b) Actividades Desportivas e Culturais – Permite a entrada do seu titular em Moçambique para participar em competições desportivas ou demonstrações culturais.
c) Turístico – Este visto é concedido ao cidadão estrangeiro que venha a Moçambique em viagem de carácter turístico ou recreativo e a estadia tem o limite de 90 dias.
d) Trânsito – Concedido ao cidadão estrangeiro que tenha de entrar no País para alcançar o país de destino, razão pela qual é concedido por um período não superior a sete dias e a sua concessão depende da apresentação do visto do país de destino.
e) Visitante – É concedido sempre que os fins apresentados pelo cidadão estrangeiro sejam aceites pelas autoridades competentes e não justifiquem a concessão de outra modalidade de visto. A sua validade mínima são 15 dias, prorrogáveis até ao limite máximo de 90.
f) Fronteira – é atribuído a cidadão estrangeiro proveniente de país onde exista Embaixada ou Representação Consular da República de Moçambique, para fins turísticos ou que por razões devidamente fundamentadas não tenha podido solicitar o respectivo visto. Actualmente, é válido para duas entradas e permite ao seu titular a permanência por 30 dias, não prorrogáveis, contados a partir da data da primeira entrada em Moçambique (não permite a obtenção de autorização de residência, nem de autorização de trabalho).
g) Estudante – Tem validade se 12 meses prorrogáveis e é concedido nos casos em que o cidadão estrangeiro tenha de entrar em Moçambique com o objectivo de frequentar um estabelecimento de ensino oficialmente reconhecido.
E se quiser apenas fazer negócios em Moçambique, que tipo de visto devo requisitar?
O visto de negócios é concedido ao cidadão estrangeiro que se desloca a Moçambique com o objectivo de fazer prospecção de negócios, realizar pesquisas, participar em reuniões, conferências, workshops, assembleias-gerais, estabelecer contactos com empresas e outros eventos afins, não habilitando o seu titular a exercer actividade laboral, nem a residir em Moçambique.
A concessão do visto de negócios fica a cargo das missões diplomáticas e consulares da República de Moçambique ou dos postos de travessia e é válida para múltiplas entradas, permitindo ao seu titular a permanência até 90 dias, não prorrogáveis, contados a partir da data da primeira entrada.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 52 CONSULTÓRIO
"O visto de negócios é concedido ao cidadão estrangeiro que se desloca a Moçambique com o objectivo de fazer prospecção de negócios, realizar pesquisas, participar em reuniões, conferências..."
Ágata Chiconela • Head of Legal da RSM Moçambique
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E se após este período pretender permanecer no país?
Nesse caso, a opção ideal será o visto de trabalho, que se destina a permitir a entrada em território nacional do seu titular a fim de nele exercer, temporariamente, uma actividade profissional remunerada ou não, no interesse do Estado ou por conta de outrem.
Este permite ao titular múltiplas entradas e permanência até ao termo do contrato de trabalho, devendo a entidade empregadora comunicar qualquer alteração que se verifique durante a vigência do contrato, razão pela qual o visto de trabalho habilita o seu titular a dedicar-se exclusivamente ao serviço da entidade empregadora que o requereu.
No caso de cancelamento de visto ou cessação da relação de trabalho, a entidade empregadora é responsável pelo pagamento de todas as despesas inerentes ao repatriamento do cidadão estrangeiro.
E se quiser investir em Moçambique, existe um visto específico para essa actividade?
Sim, existe. Ele é concedido unicamente ao cidadão estrangeiro investidor, representante, procurador ou titular de órgão de direcção da empresa investidora e destina-se a permitir a entrada do seu titular em Moçambique, para fins de implementação de projectos de investimento de valor igual ou superior a 500 mil dólares norte-americanos, aprovados pela
entidade competente, desde que o referido visto esteja alinhado com os formalismos legais de contratação de trabalhador de nacionalidade estrangeira.
• Estando fora do país é concedido pelas Representações Diplomáticas;
• Estando dentro do país, é concedido pelo Serviço Nacional de Migração mediante Termo de Autorização de Investimento (ou Certificado de Investimento) emitido pela APIEXAgência para a Promoção de Investimento e Exportações.
O Visto de Actividade de Investimento permite ao seu titular múltiplas entradas e permanência até dois anos para projectos de investimento de valor igual ou superior a 500 mil dólares norte-americanos e cinco anos para projectos de investimento de valor igual ou superior a 50 milhões de dólares norte-americanos ou equivalente, prorrogáveis por igual período, enquanto perdurarem as razões da sua concessão.
O cidadão estrangeiro titular do visto de actividade de investimento pode solicitar autorização de residência com validade de dois anos para projectos de investimento de valor igual ou superior a 500 mil dólares norte-americanos e cinco anos para projectos de investimento de valor igual ou superior a 50 milhões de dólares norte-americanos ou equivalente, renovável por igual período enquanto perdurarem as razões da sua concessão.
Os documentos são submetidos nas representações diplomáticas de Moçambique no país de origem ou de residência do cidadão estrangeiro requerente ou no Serviço Nacional de Migração, devendo o processo ser tramitado em sete dias úteis
Devo sempre manter a comunicação com as autoridades, caso mude de empregador ou domicílio?
Sim. Para sua segurança e total manutenção dos seus direitos, como do próprio País, sempre que o cidadão estrangeiro mude o seu domicílio deve comunicar à Migração, com antecedência mínima de oito dias para ao devido averbamento do novo domicílio. Mas não só: sempre que o cidadão estrangeiro se ausente do País por período superior a 90 dias deve pedir autorização. E qualquer alteração dos elementos de identificação ou do estatuto pessoal do cidadão estrangeiro obriga à devida comunicação no prazo de 30 dias desde a sua verificação.
A informação contida neste artigo é genérica, retirada da Lei Geral de Moçambique e serve apenas como guia para que, no âmbito da sua actividade profissional ou empresarial, possa, junto da RSM, procurar aprofundar algumas destas questões junto dos nossos profissionais.
Escreva-nos: rsmmocambique@rsmmz.com
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O visto de actividade de investimento permite ao seu titular múltiplas entradas e permanência até dois anos
David Ricardo. Pessimista ou Justo no Comércio entre Nações?
Com um forte contributo no campo teórico, o economista inglês David Ricardo foi decisivo na definição das regras de jogo do comércio internacional. As suas ideias sofreram influências, mas a sua visão deixa uma marca muito própria: o pessimismo!
David Ricardo, nascido em Londres, viveu entre 1772 e 1823, foi um político e economista inglês, um dos mais influentes membros da Escola Clássica, conhecido pela sua teoria das vantagens comparativas. Proveniente de uma família judia holandesa, recebeu uma educação judaica ortodoxa.
Formou-se e cedo foi trabalhar com o seu pai que era trader na Bolsa de Valores de Londres. Casou com uma mulher cristã, facto que o afastou da família e levou a que fosse trabalhar por conta própria como corretor e especulador de câmbios, fazendo fortuna rapidamente.
A sua formação económica foi muito autodidacta, tendo sido fortemente influenciada pela obra de Adam Smith, “A Riqueza das Nações”. A partir desta obra desenvolveu o seu próprio pensamento, inicialmente focado em questões monetárias. Nesta área não foi muito original, defendendo a teoria quantitativa da moeda que estabelecia uma relação directa entre a inflação e a quantidade de moeda no mercado. Por outras palavras, é o princípio segundo o qual aumentar a quantidade de moeda em circulação numa economia eleva o poder de compra dos agentes económicos (famílias, empresas e Governo), o que, por sua vez,
aumenta a procura por bens e serviços e acelera a inflação. Trata-se de uma teoria muito presente na gestão macroeconómica de quase todos os países, sendo um dos exemplos a política monetária restritiva do Banco de Moçambique que, recorrendo aos instrumentos que limitam a emissão de moeda, busca cumprir o seu principal mandato: manter a inflação baixa e estável. James Mill, célebre historiador e filósofo inglês, e grande defensor do liberalismo, foi amigo de David Ricardo e, consciente do valor intelectual deste, encorajou-o a divulgar a sua concepção teórica do sistema económico.
Foi assim que em 1817 surgiu a obra “Princípios da Economia Política e Tributação” que, apesar de sintética, contém a formulação mais sistemática e consistente do pensamento económico clássico.
Teoria da vantagem comparativa e a “confusão” com o marxismo
Apesar dos vários contributos dados para o desenvolvimento da Teoria Económica, aquele pelo qual David Ricardo ficou mais conhecido foi a Teoria da Vantagem Comparativa relativa ao comércio internacional. Segundo esta teoria, todos os países, mesmo aqueles com menos capacidades produtivas,
lucram com o comércio livre, sem restrições e sem monopólios, desde que se especializem na produção daquilo em que sejam comparativamente mais eficientes. Este pensamento de Ricardo é ainda hoje a base de todos quantos defendem a existência de comércio livre e a abolição de todo o tipo de barreiras e medidas proteccionistas como condição para um maior desenvolvimento e crescimento económico.
Mas a obra que David Ricardo haveria de deixar como seu legado continha também diversos elementos que permitiram interpretações de tipo socialista. De facto, o pensamento económico do russo Karl Marx (filósofo, economista e revolucionário socialista, autor do “Manifesto Comunista” e do triplo volume “O Capital”) consistiu, em grande parte, no desenvolvimento das ideias de Ricardo. Por exemplo, defendia que apenas o trabalho produz valor, ideia esta utilizada por Marx para defender que os capitalistas exploram os trabalhadores. Marx também aproveitou a ideia de estado estacionário por profetizar o inevitável colapso do sistema capitalista, esgotado pelas suas próprias contradições.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 54 SHAPERS
A sua obra continha elementos que permitiram interpretações socialistas. De facto, o pensamento económico de Karl Marx consistiu no desenvolvimento das ideias de David Ricardo
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R
Teoria do valor-trabalho
David Ricardo argumentava que o valor de determinado bem poderia ser medido a partir do trabalho necessário para que ele fosse produzido. Assim, dizia que o custo não deveria basear-se apenas na compensação da mão-de-obra, mas em todo o custo envolvido no processo produtivo. Essa teoria seria, mais tarde, um dos fundamentos do marxismo.
Para Marx, aliás, esta teoria supõe que em toda e qualquer troca de mercadorias há tendência para existir uma permuta de quantidades iguais de trabalho utilizado na produção. Por exemplo, um maço de cigarros vale vinte caixas de fósforos, porque o tempo de trabalho necessário à produção do primeiro seria vinte vezes maior do que aquele utilizado para produzir o segundo.
Foi essa que se consagrou como a teoria clássica do valor, cuja influência na teoria económica foi absoluta até à segunda metade do século XIX, quando ocorre a chamada revolução marginalista, defendendo a tese de que o valor de uma mercadoria não depen-
de das horas de trabalho necessárias à sua produção – uma medida objectiva –, mas sim do grau de satisfação que essa mercadoria é capaz de proporcionar ao consumidor – uma medida subjectiva. Desde então, essas duas concepções teóricas têm ocupado espaço destacado na arena do debate teórico da economia.
Pessimismo expresso na lei dos salários a ferro e fogo
Ao contrário de Adam Smith e de alguns dos seus intérpretes que tinham uma visão geralmente optimista quanto às perspectivas da humanidade, David Ricardo jamais foi considerado optimista, segundo John Kenneth Galbraith, outro dos mais importantes economistas canadianos do século XX, na sua obra “A era da incerteza”.
O mesmo pessimismo subjacente à concepção do “estado estacionário” pode ser observado na forma como Ricardo, influenciado por Thomas Robert Malthus (economista inglês que desenvolveu uma teoria sobre o crescimento populacional e a produção de alimentos) olha para a tendência per-
BBIOGRAFIA DE DAVID RICARDO
David Ricardo (1772-1823) nasceu em Londres, Inglaterra, no dia 18 de Abril de 1772. Seu pai era um judeu holandês que fez fortuna na Bolsa de Valores. Em 1799, com a leitura da obra de Adam Smith, “A Riqueza das Nações”, passou a interessar-se por economia. Escreveu “O Alto Preço do Ouro, uma Prova da Depreciação das Notas de Banco”. A sua teoria foi aceite por um comité da Câmara dos Comuns, o que lhe deu grande prestígio.
Em 1817, escreveu “Princípios da Economia Política e Tributação”, onde são analisadas as leis que determinam a distribuição de tudo o que poderia ser produzido pelas três classes da comunidade: os proprietários da terra, os trabalhadores e os donos do capital.
manente de queda nos salários. Ainda de acordo com Galbraith, tal como o seu amigo Malthus, David Ricardo previa um contínuo aumento da população, e a população de Malthus tornou-se o operariado de Ricardo. Entre os operários haveria tamanha concorrência na procura de emprego, de um lado, e de comida, do outro, que tudo ficaria reduzido a um simples processo de subsistência.
No mundo ‘ricardiano’, os trabalhadores receberiam o mínimo necessário à subsistência, nada mais do que isso. Era a chamada lei de ferro e fogo dos salários. E era, na sua óptica, o destino da humanidade.
Em relação ao “estado estacionário”, Ricardo previa, igualmente, o fenómeno de uma pressão populacional que seria responsável pelo cultivo de terras cada vez menos férteis.
Ao chegar a determinado limite, o lucro seria tão baixo que a acumulação de capital simplesmente cessaria, prejudicando o desenvolvimento económico. Para adiar esse “estado estacionário”, seria necessária a aplicação de um programa económico liberal.
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Em que (novo)
Ambiente Passa a Operar o Investidor?
Uma vez aprovada a nova Lei de Investimentos, é hora de explorar o que ela traz de novo. O destaque vai para a necessidade de “acarinhar” o investidor estrangeiro. Este passa a ter igualdade de tratamento com o nacional, o que permite acesso a uma série de privilégios que antes não tinha. E o que mais? É o que nos explica o director-geral da APIEX, Gil Bires
Tendo vigorado durante quase 30 anos, a Lei n.°3/93, de 24 de Junho (Lei de Investimentos) foi revista com o objectivo principal de a adequar às melhores práticas internacionais e aos mais elevados padrões impostos pela dinâmica da economia regional, continental e mundial, no âmbito da integração económica. Esta revisão teve igualmente em consideração os compromissos assumidos internacionalmente por Moçambique, sobretudo os acordos de investimento em vigor, visando a atracção e retenção de investimento privado nacional e estrangeiro. Na verdade, a nova lei é produto do Pacote de Medidas de Aceleração Económica (PAE) aprovado pelo Governo moçambicano em 2022. E agora, o que é que efectivamente vai mudar? Em entrevista, o director-geral da Agência para a Promoção de Investimentos e Exportações (APIEX), Gil Bires, traça um quadro favorável à competitividade do País e à melhoria da classificação no ranking global “Doing Business” do Banco Mundial, que revela as economias mais atractivas para realizar negócios.
Que inovações traz a nova Lei de Investimentos em comparação com a anterior?
O primeiro aspecto é a designação: Lei do Investimento Privado, ao invés
de Lei de Investimentos, como consagrado na versão de 1993, tornando assim mais clara a intenção de regular, primeiramente, o investimento, seja de origem nacional ou estrangeira, que tenha base na iniciativa privada. Segundo, no que se refere aos Princípios Gerais, destaca-se o reforço do princípio da não discriminação entre investidores nacionais e estrangeiros. Enfatiza a protecção do direito de propriedade e estabelece que a expropriação e outras medidas de efeito equivalente apenas podem ter por fundamento o interesse público (tal como previsto na Constituição da República). Terceiro, consagra-se, de forma expressa, os deveres gerais e especiais dos investidores, destacando-se a importância da responsabilidade social dos investidores e dos respectivos projectos no contexto da área geográfica de implementação efectiva do empreendimento. Em quarto lugar, na nova Lei faz-se a enunciação das acções inseridas no âmbito da responsabilidade social, com destaque, entre outros aspectos, para a promoção de políticas activas de defesa e protecção do ambiente e promoção da igualdade de género; criação ou desenvolvimento de infra-estruturas, nas áreas da educação, saúde, transportes e vias de comunicação, energia eléctrica, água e saneamento; contratação de mão-de-obra, bens e serviços locais; e ainda
programas de reassentamento da população afectada pelo projecto.
Todos estes pontos não estavam previstos na lei anterior ou tinham tratamento diferente?
Não exactamente. Trata-se de matéria actualmente dispersa por diversos instrumentos legais e que passa a estar consagrada na própria Lei do Investimento Privado e sua posterior regulamentação em instrumentos complementares. Um quinto aspecto particular na nova lei é a simplificação procedimental. Um dos pontos de realce neste contexto é a consagração de dois regimes de tratamento de projectos de investimento, designadamente o Mero Registo (regime simplificado) e o Regime de Autorização, este último aplicável aos projectos de grande dimensão e aos investimentos realizados em determinadas áreas e sectores de natureza mais sensível, nomeadamente por envolverem a apreciação de matérias relacionadas com segurança, ambiente ou saúde pública, bem como os em-
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Texto Manuel Madlaze • Fotografia APIEX
A legislação de investimentos vigente mostra-se desajustada do contexto de desenvolvimento da economia nacional, pelo simples facto de estarmos perante uma lei em vigor há cerca de 30 anos
preendimentos de parcerias público-privadas e concessões empresariais e projectos que requeiram grandes extensões de terra e concessões florestais.
Estão também eliminadas as diferenças em relação ao tratamento que era dado ao investidor estrangeiro e ao nacional. Gostava que se focasse nesta questão.
A isso designamos de “operações de investimento”. A nova lei classifica as operações de investimento quanto à sua origem (nacionais, estrangeiras e mistas) e quanto ao respectivo tipo (directo e indirecto), passando igualmente a prever, nas formas do investimento directo nacional e/ou estrangeiro, a aplicação de capitais em território nacional no âmbito do reinvestimento e a modalidade de conversão da dívida externa relativa a empréstimos e financiamentos registados oficialmente, nos termos da legislação aplicável. Mas a nova lei também traz uma inovação na resolução de diferendos, tendo-se procedido à revisão e clarificação do âmbito das disposições sobre Resolução de
Diferendos entre o Estado e o Investidor. Privilegia-se, em primeiro lugar, a resolução de diferendos de forma amigável ou negocial, e há uma estímulo à possibilidade de mediação e conciliação antes de as partes avançarem para resolução de litígios perante tribunais arbitrais ou judiciais.
Que barreiras foram removidas para o investimento nacional e, sobretudo, para o investimento estrangeiro?
A legislação de investimentos vigente mostra-se desajustada do actual contexto de desenvolvimento da economia nacional. O simples facto de estarmos perante uma lei em vigor há cerca de 30 anos revela, por si, a necessidade do seu alinhamento com vários outros instrumentos legais no domínio de promoção e facilitação de investimentos privados. Um dos aspectos a destacar, com a entrada em vigor da nova lei, prende-se com o processo de aprovação de projectos de investimentos privados, tanto nacionais como estrangeiros, que se pretende mais célere com
ALGUNS PONTOS NOVOS DA LEI
São diversos os pontos que mudaram. Eis alguns dos mais destacados:
• Quanto aos deveres dos investidores, fica expressa a importância da responsabilidade social que recai sobre o investidor proponente do projecto;
• Foi estabelecida a igualdade de tratamento dos investidores estrangeiros em relação aos nacionais quanto a direitos, áreas de investimentos, entre outros parâmetros.
• Fixam-se dois regimes de investimento: o Mero Registo (simplificado) e o Regime de Autorização, aplicável aos grandes projectos e aos realizados em áreas e sectores sensível;
• Passa a ser obrigatório fundamentar quaisquer actos de indeferimento, o que tornará os procedimentos e o ambiente de negócios mais transparentes;
• Há a introdução de outros meios de resolução de litígios, consagrando--se novos mecanismos sobre a resolução de diferendos entre o Estado e o investidor.
a nova lei, consagrado-se para o efeito os regimes de Mero Registo e de Autorização, eliminando-se alguns procedimentos considerados burocráticos e desajustados às melhores práticas internacionais na facilitação de investimentos. Actualmente, o processo de aprovação de projectos de investimento pressupõe harmonização interinstitucional com vários organismos de tutela sectorial, independentemente da natureza e dimensão do empreendimento. O que se pretende com a nova lei é que se proceda à referida harmonização interinstitucional nos casos em que ela se justifique, consoante as especificidades do projecto. Com esta alteração, visa-se melhorar o ambiente de investimentos em Moçambique através da simplificação e facilitação dos procedimentos aplicáveis aos investimentos.
Que diferenças existem no enquadramento do investimento estrangeiro e nacional privado na lei?
A nova lei mantém e reforça o princípio da não discriminação entre in -
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vestidores nacionais e estrangeiros, ao mesmo tempo que enfatiza a protecção do direito de propriedade e estabelece que a expropriação e outras medidas de efeito equivalente apenas podem ter por fundamento o interesse público, tal como previsto na Constituição da República. Em suma, o Estado continua a reconhecer e a garantir o direito de propriedade, nomeadamente a protecção jurídica do direito de propriedade e dos demais direitos de conteúdo patrimonial - incluindo o direito de propriedade intelectual e industrial -, contra quaisquer medidas públicas ou privadas, directas ou indirectas, que os possam lesar. Isto a par da protecção jurídica do direito de uso e aproveitamento da terra, nos termos da lei, questão relevante no domínio de promo -
ção de investimentos, sobretudo no que concerne ao investimento directo estrangeiro. Outro aspecto de realce é a consagração do Princípio da Liberdade de Investir, segundo o qual os investidores, tanto nacionais como estrangeiros, são livres de investir em todas as áreas de actividade económica, dentro dos limites da lei - excepto em actividades reservadas à propriedade ou exploração exclusivas do Estado, bem como os investimentos em sectores ou actividades com restrições em função da nacionalidade, de acordo com o previsto em legislação específica.
Com todas estas alterações, o que garante que a nova lei vá ajudar na aceleração económica que se pretende alcançar, visto que outros paí-
ses também estão atentos e a realizar reformas?
No domínio da promoção de investimentos, o Pacote de Medidas de Aceleração Económica trouxe outras reformas de enorme impacto no contexto da melhoria do ambiente de negócios, sendo de mencionar, a título de exemplo, o processo de facilitação de entrada de investidores no País, como resultado da aprovação do Decreto n.˚10/ 2023, de 31 de Março, que isenta cidadãos de determinados países de apresentação de visto de entrada, sendo tais países, na sua maioria, fonte do Investimento Directo Estrangeiro (IDE) em Moçambique.
Que incentivos diferenciadores existem para a agricultura?
A Lei do Investimento Privado define o quadro legal, as bases e os princípios gerais aplicáveis à realização dos investimentos privados e elegíveis ao gozo de garantias e incentivos fiscais e não fiscais. A matéria sobre incentivos fiscais é regida pelo Código dos Benefícios Fiscais e não pela Lei de Investimentos. Entretanto, é importante relembrar que o Pacote de Medidas de Aceleração Económica já consagra incentivos específicos para o sector da agricultura, a par da aqua-
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A regulamentação da nova lei definirá os procedimentos e as facilidades para que mais empresas operem no sector da transformação local dos recursos minerais
cultura e transportes urbanos. Estes sectores beneficiam de uma taxa reduzida do IRPC, tendo passado de 32% para 10%. Por outro lado, têm cobertura à luz da Lei de Investimentos os projectos relacionados com o processamento industrial de recursos minerais e outras actividades correlacionadas, nomeadamente prestação de serviços e contexto económico actual.
Até que ponto a nova lei incentiva a transformação local dos recursos minerais?
O conjunto de inovações que a lei apresenta irá contribuir para impulsionar a ampliação da cadeia de valor da indústria extractiva, com a entrada de mais empresas, tanto para actividades de processamento quanto de empresas prestadoras de serviços à indústria extractiva de recursos minerais. A regulamentação da nova lei definirá os procedimentos e as facilidades para que mais empresas operem no sector da transformação local dos recursos minerais, contribuindo para a adição de valor à matéria-prima nacional, em linha com o Programa Nacional Industrializar Moçambique (PRONAI), com impacto positivo no incremento e diversificação das exportações nacionais.
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Osector bancário africano está numa fase de profunda transformação à medida que os canais e serviços digitais assumem um papel central. No entanto, para concretizar todo o potencial da banca na era digital, temos de ultrapassar alguns obstáculos: a infra-estrutura digital inadequada e a iliteracia financeira.
O surgimento da banca digital representa uma oportunidade sem precedentes para alargar a inclusão financeira em toda a África Subsaariana e impulsionar avanços nas infra-estruturas, na boa governação e na transformação digital global. Para prosperar nesta nova era, os bancos devem responder às necessidades dos clientes, manter a sua relevância e aproveitar o poder das soluções digitais para contribuir activamente para o desenvolvimento económico do continente africano.
Existe uma real oportunidade para acelerar a inclusão financeira através da banca digital, particularmente entre as populações que estão afastadas dos meios digitais e para colmatar a lacuna no acesso a serviços críticos, tais como serviços de poupança, pagamentos, empréstimos e seguros.
Estas plataformas permitem a distribuição imediata de fundos provenientes de iniciativas sociais, aliviando atrasos e diminuindo as perdas nos pagamentos.
Munidas destes recursos, as comunidades passam a estar mais bem equipadas para lidar com acontecimentos imprevisíveis, gerir contas e serviços públicos e investir em sectores cruciais como a saúde e a educação.
No entanto, para libertar todo o potencial da banca digital é necessário enfrentar um conjunto de desafios específicos. A inadequação das infra-estruturas digitais continua a ser um obstáculo significativo, especialmente nas zonas rurais e remotas, onde o acesso a ligações estáveis à internet e a smartphones a pre-
Africana no Desenvolvimento Inclusivo
ços acessíveis é limitado. Os governos, as empresas, os prestadores de serviços móveis e as instituições financeiras devem dar prioridade e acelerar os investimentos necessários em infra-estruturas digitais para garantir que todos os cidadãos beneficiem de uma conectividade fiável e segura. Os esforços de colaboração entre as empresas de telecomunicações e os bancos podem desempenhar um papel fundamental na redução deste ‘gap’ digital, uma vez que o acesso à internet e a preços acessíveis é um pré-requisito para os progressos que todos desejamos.
A baixa taxa de literacia financeira, nomeadamente nas zonas rurais, constitui, ainda, um obstáculo considerável. Em média, na região da África Subsaa-
Programas abrangentes de literacia financeira, lançados em colaboração com instituições de ensino, ONG e agências governamentais, podem capacitar os indivíduos para navegarem eficazmente no panorama financeiro digital. As iniciativas devem ter como objectivo aumentar a sensibilização, fomentar as competências bancárias digitais e promover o financiamento responsável. Por exemplo, o Nedbank lançou recentemente um jogo digital chamado “Chow Town” na plataforma Roblox, uma iniciativa para promover junto dos clientes, especialmente dos mais jovens, conceitos de empreendedorismo e escolhas financeiras inteligentes. Não basta promover a literacia financeira da forma tradicional, deve ser algo divertido, inovador e numa linguagem simples e fácil de compreender por todos. Apesar de todos os desafios, a banca digital tem um enorme potencial para promover a inclusão financeira e estimular o desenvolvimento económico. Os dados e os relatórios sublinham sistematicamente o seu poder transformador para impulsionar o empreendedorismo, reduzir a pobreza e fomentar o crescimento económico.
riana, cerca de 30% das pessoas com uma conta de dinheiro móvel precisam de algum tipo de ajuda para a movimentar. Esta questão é referida no Inquérito Global sobre Literacia Financeira da S&P, que mostra que os países africanos têm a literacia financeira mais baixa de entre todos os analisados — ainda assim, o Botsuana tem a melhor percentagem quanto a literacia financeira (51%) e a Somália ocupa o último lugar (15%).
Numa perspectiva mais ampla, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) salienta que a literacia financeira na África do Sul é significativamente baixa, ao rondar cerca de 30%.
Num outro estudo recente do Banco Mundial, revela-se um aumento significativo de contas activas nas economias em desenvolvimento, com 71% dos indivíduos a terem actualmente contas abertas. Este aumento, atribuído principalmente à adopção de dinheiro móvel, exemplifica o impacto positivo da banca digital na inclusão financeira na África Subsaariana e não só. No Nedbank, reconhecemos a importância desta vertente, como é demonstrado nos nossos planos em curso para expandir os serviços de banca digital. O nosso objectivo é melhorar a acessibilidade aos serviços, bem como promover a conveniência e facilidade de utilização para os clientes.
Embora reconheçamos a necessidade de coexistência de modelos bancários híbridos, que combinam serviços digitais e
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Apesar de todos os desafios, a banca digital tem um enorme potencial para promover a inclusão financeira.
A Importância da Evolução da Banca Digital
Terence Sibiya • Group Managing Executive of Nedbank Africa Regions
físicos, também vemos claramente a crescente adopção dos canais digitais entre a geração mais jovem. Ao adoptar estas tendências, esforçamo-nos por satisfazer as necessidades dos clientes e contribuir para o avanço da banca inclusiva.
Durante a pandemia de covid-19, a banca digital tornou-se essencial devido ao confinamento e ao distanciamento social. Os bancos que fizeram a transição para plataformas digitais apresentaram um melhor desempenho, o que ilustra o importante papel que a banca online desempenha na resolução de crises e no apoio à recuperação económica.
Num sector bancário em constante evolução, a integração de soluções digitais é fundamental. Tecnologias avançadas como a inteligência artificial regenerativa, blockchain e a biometria são utilizadas para reforçar as medidas de segurança, simplificar as operações e criar experiências melhoradas e personalizadas. A adopção destas soluções digitais impulsiona a mudança transformadora e o avanço económico. O Nedbank exemplifica este compromisso
através de iniciativas como a SimplyBiz. co.za, uma plataforma online gratuita para empresários sul-africanos, e a Avo, uma plataforma de comércio electrónico acessível que apresenta uma abordagem inovadora e centrada no cliente.
O compromisso do Nedbank com a inovação digital produziu resultados notáveis, incluindo o desenvolvimento de uma plataforma tecnológica moderna e ágil. No início deste ano, alcançámos um marco notável quando atingimos 91% de conclusão da construção desta plataforma. No entanto, o impacto da nossa transformação digital vai além dos marcos internos, como ficou demonstrado no nosso negócio Nedbank Africa Regions (NAR).
Registámos um aumento impressionante de 18% no número de clientes digitalmente activos nesta região, representando agora 60% da nossa base de clientes activos. Este aumento evidencia a crescente adopção de soluções digitais e reafirma a nossa convicção no poder transformador da tecnologia. Este crescimento foi impulsionado pelo lançamento da carteira Nedbank MobiMo-
ney na nossa actividade NAR. A Money App (África) é um excelente exemplo da nossa inovação bancária digital. Amplamente adoptada nos mercados em que o Nedbank se encontra e com uma integração perfeita dos serviços financeiros nos dispositivos móveis dos utilizadores, a aplicação permite-lhes ter controlo total da vida financeira. Oferece transacções seguras e acesso, sem esforço, a uma vasta gama de serviços, demonstrando o imenso potencial da banca digital para aumentar a satisfação do cliente, reavivar as experiências bancárias e promover uma maior inclusão financeira.
O futuro da banca em África está nas mãos daqueles que abraçam a transformação digital e aproveitam as oportunidades que ela apresenta. Juntos, podemos moldar um futuro mais brilhante onde a inovação abre caminho para um sector bancário próspero e inclusivo. Como nos recorda Satya Nadella, presidente e diretor-executivo da Microsoft, "num mundo que enfrenta cada vez mais ventos contrários, a tecnologia digital é o propulsor da mudança".
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O compromisso do Nedbank com a inovação digital produziu resultados notáveis
especial inovações daqui
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O Energy Observer é um barco francês que circula pelos quatro cantos do mundo desde Junho de 2017 a difundir mensagens sobre a relevância da preservação do meio ambiente. Passou recentemente por Maputo e deixou lições que vale a pena tomar em consideração. O que aprendemos com elas?
CASA MOZAMBIQUE PANORAMA
Como a digitalização pode ajudar a impulsionar serviços no sector imobiliário?
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As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo. 68
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O que Aprendemos com o Energy Observer?
Esteve recentemente em águas moçambicanas o Energy Observer, um barco francês inovador e sustentável, movido a energia solar, eólica e a hidrogénio gerado a partir da água do mar por electrólise. Circula pelo mundo há seis anos a sensibilizar para a importância das energias renováveis. Chegada a nossa vez, o que aprendemos?
Àmedida que o mundo enfrenta os efeitos devastadores das alterações climáticas, apercebe-se da importância de mudar para fontes de energia renováveis. O sector dos transportes, em particular, foi identificado como um contribuinte significativo para as emissões de carbono. A viagem do Energy Observer (EO) serve para testar todo o tipo de tecnologias em situações extremas, para depois as adaptar a outras embarcações, habitações e meios de transporte.
Para o sucesso da viagem, a energia solar é recolhida por 130 metros quadrados de painéis fotovoltaicos no topo do barco, enquanto duas grandes turbinas
nheiros liderada por Victorien Erussard. Serve como modelo de transporte sem emissões.
Victorien Erussard, nascido em Saint-Malo, na França, é um ‘skipper’ [capitão de embarcações], oficial da marinha mercante e empresário francês que ganhou várias competições de barco à vela. Teve a ideia de transformar o barco e, para tal, juntou-se ao realizador de documentários Jérôme Delafosse, que explora os oceanos há 23 anos e já passou mais de 20 mil horas no mar.
Energy Observer em Maputo
A embarcação saiu do porto de Saint-Malo, França, a 26 de Junho de 2017, para passar por 101 portos em 50 países.
eólicas transformam o vento em electricidade. Tudo isto de uma forma limpa e eficiente. O Energy Observer também conta com uma unidade de dessalinização da água do mar, que depois dá origem a hidrogénio, que vai para dentro de tanques, pronto a ser transformado em energia. Quando escurece ou não há vento suficiente para fazer girar as turbinas, o barco recorre a esta fonte. É conhecido como o primeiro barco certificado do mundo movido a hidrogénio.
Inovador e inspirador, o EO, avaliado em 5,2 milhões de dólares, é um antigo navio de corrida construído em 1983, que foi submetido a extensas modificações e transformado numa embarcação do futuro por uma equipa de enge-
Ao navegar no oceano Índico em direcção à Cidade do Cabo, na vizinha África do Sul, o EO parou a 18 de Maio em Moçambique, onde foi abrigado pelo porto de Maputo, na capital do País, devido ao mau tempo em alto mar. A equipa a bordo foi recebida pela Associação Moçambicana de Energias Renováveis (AMER) e pela Embaixada da França.
Mayra Pereira, membro da AMER e presidente da Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER), explica que esta é uma tecnologia inovadora e que demonstra a países como o nosso a importância de pensar de forma diferente. “Temos de começar a pensar em sistemas híbridos, uma vez que o nosso País tem e pode usar diferentes tipos
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TEXTO Ana Mangana • FOTOGRAFIA Mariano Silva
“Temos de começar a pensar em sistemas híbridos, uma vez que o nosso País tem e pode usar diferentes tipos de recursos”
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de recursos”. É uma forma de “descarbonizar e prevenir um agravamento das mudanças climáticas. Como País, temos de ver como adaptar este tipo de tecnologia aos nossos contextos locais”, disse Mayra Pereira.
Depois de aguardar em segurança pela melhoria das condições meteorológicas, o EO regressou ao mar na manhã de 23 de Maio, em direcção à sua 80.ª escala, na Cidade do Cabo.
Embaixador dos 17 Objectivos do Desenvolvimento Sustentável
Os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015, são uma chamada global à acção para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que todos possam desfrutar de paz e prosperidade.
A inovação levou à nomeação de Victorien Erussard como o primeiro embaixador francês para os 17 ODS, em 2018. Nesse mesmo ano, foi criado um fundo para o EO cumprir o papel de embaixador e sensibilizar aquelas metas a atingir até 2030, em consonância com os acordos de Paris e os compromissos assumidos pelo Governo francês para combater os efeitos das alterações climáticas.
Desde a sua partida, o EO percorreu mais de 50 mil milhas náuticas, fez mais de 80 escalas em mais de 40 países e recebeu mais de 350 mil visitantes de diferentes aldeias para exposições educativas.
Um barco com 40 anos de história
Lançado em 1983, o EO celebra este ano o seu 40.º aniversário com múltiplos recordes e uma história impressionante. De navio de corrida mais rápido do mundo em 1994 à primeira embarcação autónoma em energia desde 2017, passando pela construção de ponta, muitas vezes optimizada, e um design de alto desempenho, tudo contribui para o transformar numa máquina com múltiplas vidas.
Construído sob o nome de Formule TAG pela Canadair, famoso construtor de aviões canadiano, o EO teve uma prestigiada linhagem de ‘skippers’. Criado pelo designer líder de navios, Nigel Irens, o barco exibia alta tecnologia e materiais compósitos. Com 24 metros de comprimento, pesava menos de 10 toneladas para mais de 440 m2 de área velica.
Era rápido. Passou por um longo período de desenvolvimento pontuado por desmantelamentos, mas, acima de tudo, marcado por altas performances, como o recorde de velocidade em 24 horas
de 512,5 milhas em 1984. Em 1992, Peter Blake, o velejador mais célebre do mundo, decidiu aumentar o tamanho do barco para 25,90 m para bater o recorde de velocidade à volta do globo, o famoso Troféu Júlio Verne, em dupla com Robin Knox Johnson, outra lenda britânica das regatas oceânicas.
Recebeu o nome de Enza e foi prolongado até aos 28m! Assim readaptado, em 1994, o navio ganhou o Troféu Júlio Verne, o verdadeiro “santo graal” da velocidade oceânica, com a marca de 74 dias, 22 horas e 17 minutos (14,68 nós de ve-
locidade média) durante um duelo dantesco com o trimarã de Olivier de Kersauson.
Depois de se tornar o barco mais rápido à volta do mundo, foi comprado pela velejadora britânica Tracy Edwards em 1997, que tentou novamente o Troféu Júlio Verne com uma tripulação exclusivamente feminina, mas acabou por naufragar. No ano 2000, o velejador Tony Bullimore comprou-o e alongou-o ainda mais, para 31 metros, de forma que participasse na The Race, regata à volta do mundo para assinalar a entrada no novo
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SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
O EO celebra este ano o seu 40.º aniversário com múltiplos recordes e uma história impressionante. De navio de corrida em 1994 à primeira embarcação autónoma em energia desde 2017
milénio, e depois na Oryx Cup, com partida de Doha, no Qatar, em 2005. Deixado em repouso durante alguns anos, foi finalmente reactivado e profundamente redesenhado por Victorien Erussard e as suas equipas em 2015 para se tornar no Energy Observer. O navio passou de 15 para 35 toneladas, com volumes de casco maiores e uma nacela central [compartimento, divisão] moldada como um trimarã de corrida.
Energy Observer 2 a caminho
Há um novo projecto francês de transporte marítimo baseado num cargueiro multifuncional de média dimensão alimentado a hidrogénio líquido. Com emissões zero, o “laboratório flutuante” está a ser desenvolvido pela mesma empresa responsável EO. Agora, a companhia está a desenvolver um navio de carga de última geração que combine capacidades de transporte com
emissões zero e maior autonomia. O navio terá 120 metros de comprimento, 22 metros de largura, um peso bruto de cinco mil toneladas, uma propulsão eléctrica de quatro MW e uma potência de célula de combustível de 2,5 MW. O conceito faz parte de um novo programa Energy Observer 2025.
Prevê-se que viaje a 12 nós (22,2 km/h, que é a velocidade média dos grandes cargueiros) com um alcance previsto de quatro mil milhas náuticas (7408 quilómetros). Como parte do desafio, o Energy Observer 2 (EO2) integrará grandes tanques de hidrogénio e terá de gerir temperaturas muito baixas.
Para além do sistema de propulsão eléctrica e da alimentação de combustível a hidrogénio, o EO2 estará também equipado com um sistema de navegação denominado Oceanwings, desenvolvido pela startup francesa Ayro, a mesma responsável pelo sistema de propulsão au-
xiliar utilizado no pioneiro Energy Observer. Outros parceiros do projecto são a conterrânea Air Liquide (especialista em hidrogénio), o Grupo CMA CGM, especialista francês em logística marítima, e a norueguesa LMG Marin para o design naval do veículo.
Esta última trabalha com propulsão descarbonizada (separação do carbonato de cálcio em óxido de cálcio e dióxido de carbono) e desenvolveu o primeiro ferry a hidrogénio líquido do mundo, denominado Hydra.
“No Energy Observer, a melhor energia é aquela que não utilizamos. Para sermos bem sucedidos na transição nos próximos anos, temos de reduzir o nosso consumo de energia e de recursos para diminuir o impacto no planeta. É necessário sensibilizar o público para que deixe finalmente de tratar a Terra como um recurso ilimitado e indestrutível”, pode ler-se no website do Energy Observer.
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CASA MOZAMBIQUE
Quando a Digitalização Chega ao Mercado Imobiliário
O surgimento de novas tecnologias e a adopção de novos hábitos tornam indispensável a digitalização de todos os sectores. O imobiliário não fica de fora. Num mercado onde o comércio é baseado na confiança, a digitalização representa mais do que o uso da tecnologia nos processos. A segurança passa a ser crucial na hora de fechar negócios. É isto que a Casa Mozambique procura assegurar
TEXTO Ana Mangana • FOTOGRAFIA D.R.
ACasa Mozambique (www.casamozambique.co.mz) é propriedade da Tech Africa, operador líder do mercado digital fundado em 2015, em Angola, pelo empresário dinamarquês Kenneth Hogrefe. Trata-se de uma plataforma que fornece uma forma mais fácil e segura para os compradores se ligarem a vendedores de confiança. O seu principal foco está nas agências e profissionais imobiliários e utilizadores particulares que podem aproveitar todas as potencialidades da plataforma para promover os seus negócios imobiliários. Isto sem esquecer os compradores, quem têm a oportunidade de avaliar, escolher e negociar o imóvel que melhor lhes convém.
Com o sucesso da AngoCasa (www.angocasa.com), plataforma desenvolvida para o mercado angolano, a Tech Africa viu a necessidade de expandir os seus serviços para Moçambique. “Depois de consolidarmos a nossa posição em Angola, sentimos que era o momento certo para nos expandirmos. Moçambique surgiu como uma oportunidade, pois sentimos que era um dos países onde podíamos fazer mais diferença. Não existia uma plataforma com as características dos nossos projectos e, além disso, o facto de Angola e Moçambique partilharem o idioma também pesou na decisão”, explicou à E&M o fundador e CEO da empresa, Kenneth Hogrefe.
A plataforma está online desde Janeiro de 2023, inicialmente disponível apenas para um número limitado de utilizadores que foram convidados para testar as diferentes funcionalidades e providenciar feedback. Este foi um passo decisivo para tornar a Casa Mozambique mais adequada aos hábitos e à realidade de Moçambique. O lançamento oficial ocorreu a 1 de Julho e já conta com cerca de 600 anúncios verificados e aprovados.
Comparando com a experiência em Angola, como avalia o mercado moçambicano neste ramo?
Como protagonista principal no cenário do marketplace em Angola, a nossa empresa tecnológica está pronta para expandir horizontes.
Pretendemos aproveitar a nossa experiência e competência para reforçar e expandir as nossas linhas de negócio, concentrando-nos em replicar os nossos modelos mais bem-sucedidos em mercados emergentes com elevado potencial de crescimento.
Desde já, vemos em Moçambique um desses mercados cheios de oportunidades. O ritmo de recuperação económica do País tem vindo a acelerar, com um crescimento de 4,1% em 2022, apesar dos desafios económicos globais marcados pelo aumento de preços do petróleo e dos alimentos. De acordo com o relatório de Actualização Económica de Moçambique de 2023, divulgado pelo Banco Mundial, a perspectiva económica a médio prazo é promissora, com previsão de aceleração do crescimento para 6% entre 2023-2025.
Em Moçambique, procuramos adoptar os mesmos princípios que nos permitiram conquistar a confiança do povo angolano. O nosso primeiro passo é construir uma imagem positiva, mantendo sempre a transparência como um pilar fundamental para que possamos, em seguida, crescer e contribuir de forma significativa para o mercado.
E como olha para o mercado imobiliário digital em África?
Estamos convencidos que os mercados digitais têm um grande potencial para transformar o panorama no continente africano. As plataformas de marketplace digital, que facilitam a ligação entre compradores e vendedores fiáveis, têm a capacidade de aumentar o rendimento e promover um crescimento económico inclusivo, sem causar qualquer perturbação notável nas empresas existentes e nas normas de trabalho actuais.
Considerando que grande parte do continente ainda não possui uma infra-estrutura de distribuição eficaz, os mercados digitais podem gerar milhões de empregos. Porém, para que maximizem o seu potencial, os sectores público e privado devem colaborar para construir um ambiente digital apropriado. Os desafios ao crescimento do sector incluem infra-estruturas subdesenvolvidas, falta de clareza regulatória e
acesso restrito ao mercado.
Os marketplaces online e as organizações governamentais podem colaborar para criar um ambiente digital saudável, implementando iniciativas para eliminar os obstáculos que enfrentam e para aliviar as preocupações do sector público.
Por exemplo, podem desenvolver programas de treino de habilitações e infra-estruturas tecnológicas como sistemas de identidade digital para garantir a transparência nas plataformas. Os sectores público e privado também podem desenvolver um sistema regulatório bipartido que equilibre os riscos sociais e políticos com a promessa de valor adicional que os marketplaces online podem proporcionar.
Mas como garantir a segurança?
Um aspecto que não se pode esquecer quando se fala da digitalização é a segurança e privacidade dos dados. Informações falsas e crimes envolvendo inquilinos e proprietários fazem parte do lado negro do sector imobiliário, mas a tendência é apostar cada vez mais em soluções e parceiros tecnológicos que garantam a segurança de todo o processo. Neste sentido, a Casa Mozambique vê a segurança como uma prioridade nas suas actividades. A empresa reconhece que, cada vez mais, tem sido difícil navegar entre a desinformação e as fraudes de vendas nas plataformas de redes sociais.
A Casa Mozambique proporciona um ambiente mais regulado e seguro para os negócios imobiliários. Asseguramos que o nosso website apenas contém anúncios de qualidade e que cada publicação é verificada por um membro da equipa, o que contribui para que a nossa plataforma conquiste uma reputação de confiança e legitimidade. Em caso de dúvidas sobre a legitimidade de um anunciante, solicitamos o envio de alguma documentação. Também procuramos de forma sistemática implementar mecanismos adicionais de segurança.
Ganhar a confiança dos consumidores B2B e B2C é essencial para o desenvolvimento de negócios no continente africano e a Casa Mozambique considera este factor como o motor do seu crescimento.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 68 IMOBILIÁRIO
BEMPRESA Tech Africa ÁREA Imóbiliário COLABORADORES FIXOS 9 PLATAFORMA
Casa Mozambique CRIAÇÃO 2023
FinTech
Empresa nigeriana lança app que permite aos estudantes africanos pagar propinas no estrangeiro
A empresa nigeriana de fintech Flutterwave lançou um produto pioneiro chamado Tuition com o objectivo de resolver as dificuldades que os pais, tutores e patrocinadores enfrentam quando financiam a educação dos seus filhos no estrangeiro. Este produto procura remodelar o quadro de pagamento da educação em África e não só.
O Tuition oferece uma estrutura de fácil utilização para o pagamento de várias taxas, sem constrangimentos, a organismos educativos em África e no estrangeiro, nas suas moedas locais. O lançamento inicial abrange cerca de 40 instituições no Reino Unido e prevê-se uma expansão para mais instituições em África, nos EUA, Canadá, França e Alemanha, à medida que o produto previsivelmente atraia cada vez mais atenção.
De acordo com a página da empresa, o Tuition processa pagamentos de uma série de países africanos, incluindo a Nigéria, Camarões, Gana, Costa do Marfim, Quénia e África do Sul. A app dá aos utilizadores várias alternativas de pagamento, através de cartões de débito, crédito, Google Pay ou transferência bancária, sendo que esta última está disponível exclusivamente na Nigéria.
Para ser justa, a Flutterwave define as taxas de pagamento de acordo com as taxas de mercado prevalecentes. Além disso, cada transacção realizada através da Tuition tem o custo de uma taxa fixa de 20 GBP (cerca de 1655 meticais), assegurando transmitir aos utilizadores informações claras e transparentes sobre todos os custos de cada transacção.
Cibersegurança
Proposta da futura Lei de Segurança Cibernética em auscultação no País
Está em curso no País o processo de auscultação da proposta da Lei de Segurança Cibernética com vista a reforçar a capacidade de resposta aos crimes digitais.
Segundo o Presidente do Conselho de Administração do Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação (INTIC), o instrumento deverá ajustar-se ao actual contexto da digitalização. Além do reforço do quadro legal sobre a segurança cibernética, Lourino Chemane apontou outras acções em curso vi-
sando combater os crimes através de plataformas digitais.
O responsável falava recentemente num seminário de preparação de um exercício de incidentes cibernéticos, cujo objectivo é capacitar diversos sectores em matéria de cibersegurança. O evento vai contribuir para a dinamização da economia digital através da promoção da segurança nas transacções electrónicas. Estiveram presentes representantes das telecomunicações, finanças, banca, energia, aviação, defesa e segurança.
Startup Biomec ganha prémio “Ideia Disruptiva” do Innovation Awards 2023
A BioMec, startup moçambicana que fabrica próteses mecânicas confortáveis e de alto desempenho com recurso a plásticos reciclados retirados do mar, foi premiada em Angola no concurso Innovation Awards 2023 na classe de melhor ideia disruptiva.
A startup foi criada pela jovem moçambicana Marta Uetela e tem suprimido as necessidades de indivíduos com os membros amputados ou com deficiências físicas.
Os Innovation Awards são uma iniciativa da H2i, empresa de soluções tecnológicas que tem como objectivo reconhecer e distinguir as mais brilhantes
Saúde
organizações privadas e públicas, startups, projectos e profissionais dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) que, com recurso à inovação e à tecnologia, contribuem para o desenvolvimento empresarial, económico e social e para a transformação e modernização dos mercados nos países em que operam.
Ao todo, foram nomeados 16 projectos de Moçambique, Angola e Cabo Verde, divididos em seis categorias: inovação empresarial, inovação e inclusão financeira, startups, ecossistema de empreendedorismo e inovação, apps e ainda uma categoria especial.
ADE capacita MISAU na concepção de mapa digital das unidades sanitárias
A Agência Nacional de Desenvolvimento Geo-Espacial (ADE) está a apoiar o Ministério da Saúde e o UNICEF na concepção de um mapa digital de saúde. A fase-piloto está a ser implementada nos distritos de Guro e Mocuba, respectivamente nas províncias de Manica e Zambézia, e visa permitir o acesso a serviços básicos de saúde a todos os distritos, comunidades e crianças. O objectivo é expandir a acção para mais províncias, fazendo com que centros e postos de saúde possam gerir melhor os seus recursos médicos de forma que estejam mais próximos das populações, independentemente da sua localização.
A Agência Nacional de Desenvolvimento Geo-Espacial tem estado a capacitar os profissionais de saúde na utilização de ferramentas de localização geo-
gráfica, para facilitar a identificação de pontos de concentração que sirvam como extensões de centros de saúde, colocando-os mais próximos e acessíveis às populações. Uma das últimas formações decorreu do Chimoio e contou com a participação de cerca de 30 profissionais de saúde, que poderão agora fazer o levantamento de dados e interpretação dos mapas digitais de saúde.
A digitalização dos mapas de saúde traz consigo uma série de benefícios significativos para a sociedade. Sérgio Niquisse, especialista em inteligência geoespacial na ADE, explica que “melhora a distribuição e a gestão dos recursos disponíveis, permitindo uma alocação mais eficiente e equitativa”, além de auxiliar “na planificação e gestão de recursos humanos”.
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PANORAMA
ócio
(neg)ócio
74 76 77 81 82 78
ESCAPE
EUA
A primeira parte de uma aventura pelo fascinante Oeste americano
ARTES
Feira do Livro Uma homenagem aos escritores Mia Couto e Rui de Noronha
ADEGA Jack & Coke
Que tal um Jack Daniel’s com Coca-Cola?
TURISMO
Entrevista
Dado Gulamhussen, do grupo VIP, fala sobre o estado da arte do Turismo
e e t
VOLANTE ’The Icon’,’ Conheca o luxuoso e futurista barco da marca BMW
s.m. do latim negação do ócio
EMPREENDEDOR Ciclismo A deficiência motora não os impediu de ligar dois extremos de África v
João Tamura nasceu em Lisboa, nos anos 90. É músico, poeta e fotógrafo. Partiu, em Setembro de 2022, numa viagem sem data de regresso ou destino definido. Tem documentado a sua jornada através de crónicas, numa simbiose entre as suas linguagens predilectas - a prosa e a fotografia analógicaque tentam ao máximo transportar o leitor para os longínquos lugares pisados pelo autor.
EUA
O Oeste Americano (I)
O Oeste Americano: a última fronteira, o lugar do sonho. O lugar do cinema, da televisão, da música. O lugar familiar onde nunca estivemos.
O Oeste Americano foi, para o meu avô, o lugar do selvagem: do cowboy, do índio, do xerife. Foi o lugar do herói solitário que, sobre o dorso do seu cavalo, rasgava infinitas planícies em direcção ao Pacífico e com ele trazia a ordem e a justiça para o indomável e desconhecido território.
Foi o lugar de Gary Cooper, John Wayne, James Stewart e Clint Eastwood, seus heróis e símbolos de uma geração. É, para o meu pai, La La Land (1), o lugar do seu maior amor, a sétima arte (2). É o lugar do argumento e da representação; o lugar de Tarantino, Spielberg, Scorsese, Fincher e de tantos outros mestres da ficção que tornaram Hollywood no lugar do cinema por excelência.
eO Oeste Americano chegou até mim de forma distinta: não pelo cinema ou pela televisão, mas pela música. California Love, canção de 2Pac, Dr. Dre e Roger Troutman, foi a minha introdução não só ao universo angelino (4), mas a outra das mi-
nhas grandes paixões: o hip-hop. Fascinado, de imediato comprei All Eyez on Me (3) na discoteca mais próxima da minha casa. Escutei o disco tantas vezes que, mesmo desconhecendo o significado da larga maioria das suas palavras, conseguia recitá-las de memória, sem falhar uma única canção. Não havia retorno e, depois de Tupac, foi a vez de mergulhar nas discografias de Snoop Dogg, NWA, Dr. Dre, Cypress Hill, Soul Assassins, The Game... Sabia tudo o que havia para saber acerca do rap de LA: o mainstream, o underground (5), as discografias, as editoras e até as animosidades entre os artistas da região.
Seria óbvio apontar o ritmo das canções ou a irreverência das rimas proferidas pelos MC, como as razões para o meu interesse, mas a verdade é que as desconheço - tal como desconheço as razões para tantas das minhas mais importantes paixões, que se instalaram no meu coração sem clara causa ou justificação, para nunca mais partirem.
Facto é que a pop que passava nas rádios, ou os discos de jazz que o meu pai tinha
em casa, não me moviam assim, e só o rap conseguiu tocar-me a ponto de influenciar a minha trajectória de vida. Mais do que as canções, eram os videoclipes que realmente me fascinavam.
Estes tinham uma identidade visual só possível em LA, tão única e vincada, que me era impossível ficar-lhe indiferente: as largas avenidas ladeadas por palmeiras, os lowriders, as tatuagens, a cultura chicana, a cultura afro-americana, a proximidade ao Pacífico, as cores, os Chuck Taylor, os Nike Cortez (6)... “Quem me dera ter nascido em LA”, pensava, durante as tardes colado ao ecrã da televisão ligada na MTV.
Ao mesmo tempo que mergulhava a fundo no rap da costa oeste, foi-me apresentada outra e ainda mais imersiva forma para explorar LA: GTA San Andreas. Eu sei, eu sei, Los Santos, a metrópole digital onde parte da narrativa do jogo tem lugar, não é “exactamente” LA. Mas, para mim, rapaz de 14 anos que habitava no outro lado do mundo, Los Santos era suficientemente LA para crer que eram as suas luminosas ruas e avenidas que a minha personagem, CJ, desbravava sob o meu comando.
Los Angeles foi o lugar do meu primeiro fascínio - só anos mais tarde descobri Tóquio e Hong-Kong, sobre os quais já aqui escrevi - e, portanto, hoje estranho a demora e hesitação em visitá-la. Talvez tenha sido consequência desse sentimento de familiaridade: para quê visitar um lugar sobre o qual já tanto sei? Certamente existirão experiências mais enriquecedoras.
Porque não explorar o Laos? Ou a Malásia? Foi a Sara, minha namorada, que insistiu na viagem. “OK, mas se vamos a LA, quero também ver algo novo”, disse eu, como se alguma vez já lá tivesse estado. “Juntamos Las Vegas, pronto”, e após quinze horas de voo aterramos em LAX.
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O ar é quente e pesado, consequência do smog, e desesperamos por uma brisa fresca e por algo que nos sacie a fome. “In-N-Out? Há um mesmo aqui ao lado! Aquele em que o Bourdain comia sempre após aterrar no aeroporto”.
Hum… one double-double, one cheeseburger, two fries and a vanilla milkshake. 17,95$? Keep the change and have a great day!”. E “damn, these are good!”, desabafa a família ao nosso lado. Concordamos. Melhores hambúrgueres à la fast food que já comemos? Provavelmente.
É com os níveis de sódio no sangue anormalmente altos que começamos a nossa odisseia até ao centro e, de imediato, duas surpresas: a dimensão da cidade e o seu trânsito. Em Los Santos não havia estes problemas… era sempre a andar! As estradas eram lugar para assapar, os sinais de trânsito eram mera decoração, e um minuto chegava para cruzarmos a cidade de ponta a ponta… Saudades, GTA.
A verdadeira Los Angeles é gigantesca - e congestionada. A distância entre o aeroporto e West Hollywood, onde fica o nosso motel, é de 23 milhas (37 quilómetros) e demoramos mais de duas horas a percorrê-las. A auto-estrada tem seis faixas de trânsito em cada um dos sentidos e nem assim o trânsito flui. De uma ponta à outra da cidade, de Calabasas a Santa Ana, são mais de 60 milhas (96 quilómetros)... Percorrê-las em hora de ponta? Não, obrigado.
Mas pronto, ao menos conseguimos sintonizar a rádio na 93.5 KDAY, que passa aquele g-funk (7) dos 90’s propositadamente criado para as vastas e demoradas estradas californianas e distraímo-nos a planear o roteiro turístico dos dias seguintes.
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O Oeste Americano: a última fronteira, o lugar do sonho. O lugar do cinema, da televisão, da música. O lugar familiar onde nunca estivemos.
Texto João Tamura
Fotografia João Tamura & D.R.
A Feira do Livro é um evento anual para a valorização da literatura
A FEIRA DO LIVRO DE MAPUTO completou a sua 9.ª edição nos dias 27 e 28 de julho, organizada pelo Conselho Municipal de Maputo em parceria com outras instituições. Mais uma edição para consolidar o objectivo de celebrar a literatura moçambicana e internacional.
A organização tem por hábito homenagear dois escritores em cada edição, um ainda vivo e outro a título póstumo. Desta vez, os homenageados foram Mia Couto e Rui de Noronha. O primeiro é um dos maiores escritores moçambicanos da actualidade, o que tem mais livros traduzidos, com publicações em 24 países e autor daquele que é considerado um dos melhores livros africanos do século XX, “Terra Sonâmbula”. Rui de Noronha, falecido em 1943, foi classificado como percursor da poesia moderna moçambicana e um dos melhores poetas de África até hoje.
Para esta edição, a feira carregou como lema “Surge et Ambula”, em referência a
Feira do Livro. Ode à Arte da Escrita e ao Hábito de Leitura
um dos poemas mais icónicos do patrono da edição, Rui de Noronha, como homenagem póstuma.
A escolha dos dois escritores foi justificada e explicada pela coordenadora da feira, Cristina Manguele, “pelo facto de terem escrito livros que são muito celebrados na literatura moçambicana, espelhando, de forma muito peculiar, a segregação racial, negritude, moçambicanidade, guerra civil e o renascimento que se operou depois do fim dos conflitos”.
Na abertura do evento, o presidente do Conselho Municipal da cidade de Maputo, Eneas Comiche, referiu-se a Rui de Noronha como figura importante para o País, porque “além do seu papel basilar e inspirador no desenvolvimento das artes literárias em Moçambique, desempenhou um papel preponderante no despertar da consciência nacionalista e patriótica
dos moçambicanos e no sentido de pertença ao continente africano”.
Quanto a Mia Couto, Comiche descreveu-o como “um dos mais notáveis recreadores das realidades socioculturais maputenses e moçambicanas”.
A Mia Couto foi atribuído um certificado de cidadão honorário e um cheque com uma quantia de 120 000 meticais. O homenageado expressou que partilha o mérito com “todos que me fizeram ser quem eu sou” e apelou a que seja dado mais apoio a outros escritores das periferias que, tal como Rui de Noronha, à época, não conseguem hoje ter sucesso por não terem os privilégios de viver no centro da cidade. “Uma feira do livro como esta deve ajudar a tornar visíveis os que vivem na sombra e que fazem arte. São centenas de jovens que não têm apoio de ninguém, não têm nem mesmo esperança de ter esse apoio, mas que não desistem de o fazer, de lutar e de realizar”.
Ao outro homenageado e patrono da edição, Rui de Noronha, foi atribuído, a título
póstumo, a mais alta distinção do município de Maputo, designada de Acácia Rubra, uma medalha de excelência.
O evento, que decorre anualmente, é um verdadeiro mundo literário e uma aventura para os amantes da literatura. Além da homenagem aos dois escritores e da exposição de livros, a Feira foi marcada por conferências e debates com vários convidados, sobre diferentes temáticas, desde cultura, literatura, escrita, língua, papel da literatura na promoção dos direitos humanos e da igualdade social, africanidade, história nacional, os efeitos da digitalização para a indústria literária em Moçambique, entre outras temáticas apresentadas por diversas individualidades da literatura nacional e internacional (escritores, editores, representantes de editoras e livrarias), interagindo de forma presencial no espaço do Conselho Municipal e virtualmente, através de plataformas digitais.
TEXTO Filomena Bande FOTOGRAFIA Mariano Silva
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“Uma feira do livro deve ajudar a tornar visíveis os que vivem na sombra e que fazem arte. Centenas de jovens que não têm apoio”.
LITERATURA
A bebida suaviza o sabor intenso do whiskey Jack Daniel’s ao misturá-lo com Coca-Cola, sem perder o impacto e o sabor de cada uma das marcas
No que dá Misturar Jack Daniel’s com Coca-Cola? Jack & Coke!
carros e bebidas alcoólicas nunca se casaram. Ou melhor, nunca antes se tinham dado por bons parceiros. Basta lembrar um dos alertas mais populares do mundo: “se conduzir não beba e vice-versa”. Mas o casamento entre o álcool e o volante não é tão desaconselhável assim. Ora vejamos:
O whiskey Jack Daniel’s e a Coca-Cola, duas das principais marcas globais de bebidas, colaboraram numa nova linha que faz parte da estratégia global de bebidas alcoólicas prontas para beber, uma das que mais crescem.
A parceria “reúne dois ícones clássicos americanos para trazer aos consumidores a experiência de sabor que amam, de forma consistente, conveniente e ‘on the go’”, disse Lawson Whiting, CEO e presidente da Brown-Forman Corporation, a maior empresa americana de vinhos e bebidas alcoólicas, à qual pertence a Jack Daniel’s.
A nova bebida pronta a beber, designada por Jack & Coke, é uma mistura perfeita de Coca-Cola e Jack Daniel’s Tennessee Whiskey. Trata-se de um tradicional cocktail americano, agora pronto a servir, que apresenta um teor alcoólico de 5% e sem qualquer tipo de conservantes. A bebida suaviza o sabor intenso do whiskey Jack Daniel’s ao misturá-lo com o refrigerante Coca-Cola sem perder, porém, o impacto e o sabor das duas marcas.
Por ser uma bebida alcoólica, o lançamento e comercialização de Jack Daniel’s & Coca-Cola seguirá rigorosos protocolos de consumo consciente da The Coca-Cola Company. Criada em 2020, a Política Global de Marketing de Bebida Alcoólica dita como operar no mercado e quais as directrizes de comunicação de bebidas alcoólicas.
Uma mistura célebre
As duas bebidas foram um cocktail antigo e a mistura já angariava muita simpatia. As duas marcas formalizaram agora a junção, apresentando a bebida pronta a consumir numa lata e com teor alcoólico equilibrado. É a continuação de outras iniciativas da Coca-Cola no ramo das bebidas alcoólicas, como o Lemon Dou e o Hard Seltzer.
O primeiro lançamento oficial da bebida foi feito no final de 2022, no México. Depois, o produto foi expandido para o Japão, Filipinas, Reino Unido, Estados Unidos e diversos países da Europa, tendo sido recente-
mente lançado no Brasil. O novo cocktail está em processo de expansão global.
A bebida adequa-se a diferentes momentos, por causa do baixo teor alcoólico, é perfeita para acompanhar festas, churrascos e outros encontros e pode ser acompanhada com alguma coisa para comer (ou não).
As bebidas prontas para beber (RTD, na sigla em inglês, para ‘ready to drink’) são um fenómeno que tem crescido nos últimos anos. Tratam-se, basicamente, de bebidas com um teor alcoólico reduzido que, na sua composição, incluem outros ingredientes além da bebida alcoólica, como sumos ou refrigerantes.
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Superação
Da Namíbia a Maputo: Resiliência Demonstrada com Ciclismo
“O ser humano não tem limites”. Esta é uma frase geralmente aplicada quando alguém faz algo extraordinário, remetendo-nos para algo incomum ou fora do normal. A E&M aborda este tema, trazendo uma história sobre resiliência de pessoas com deficiência. Há cerca de um mês e meio, um grupo de ciclistas com idade avançada e limitações físicas embarcou numa viagem de bicicleta com o objectivo de ligar dois pontos extremos do continente africano: o oceano Atlântico ao Índico.
Para se ser mais preciso, saíram da Swakopmond, na Namíbia, para Maputo, Moçambique, perfazendo um trajecto de 2354,08 quilómetros em 39 dias, atravessando cinco países e fazendo paragens em pontos estratégicos para confortar outras pessoas desabilitadas e motivá-las a dar continuidade às suas vidas, sem medo.
A viagem foi possível através de uma iniciativa designada “Bidii Yetu”, palavra em ‘kiswahili’ (língua bantu com o maior número de falantes), que em português significa “juntos somos resilientes”, cujo objectivo era demonstrar o que as pessoas portadoras de deficiência podem alcançar quando as barreiras à sua deficiência são eliminadas. Ao mesmo tempo, pretendia-se sensibilizar para o ciclo de pobreza em que estão presos milhões destas pessoas e angariar fundos e equipamento para organizações de apoio a portadores de deficiência nos países que faziam parte da rota da viagem.
“Desde jovem que sonho atravessar o continente africano através do ciclismo, mas depois vinha sempre o trabalho, a família, as insurreições e as guerras ao longo do caminho. Por causa de uma doença, perdi a capacidade de andar e, naquele momento, pensei que o meu sonho estava acabado”, conta Olaf Kulla, ciclista de 64 anos e fundador da iniciativa, que depois viu uma luz ao fundo do túnel: “um dia vi alguém numa bicicleta de mãos e pensei ‘isto é interessante’, o que será? Interpelei aquela pessoa e comecei a ver quantas coisas podia fazer por dia, quantos dias podia aguentar pedalando [com as mãos] e se era possível fazer 100 quilómetros”. Após esta descoberta, Kulla começou a exercitar-se e comprou uma bicicleta em que podia pedalar com as mãos. Deu assim início à realização do seu sonho. “A iniciativa ‘Bidii Yetu’ foi uma grande reviravolta para de-
monstrar a força das pessoas deficientes ou com limitações. Queríamos começar a fazer isto em 2022, mas o covid-19 apareceu e fez-nos adiar os projectos. Neste percurso, perdemos alguns ciclistas”, revelou.
Exemplos de superação
Durante a viagem, Kulla conta que o grupo viveu histórias que jamais poderia imaginar. Conheceu associações de pessoas com limitações que mostraram haver muito mais deficientes capazes de realizar actividades comuns. “Há um grupo de desabilitados que pegaram nas bicicletas de mão e pedalaram connosco até passarmos o Botsuana, fizeram connosco cerca de cem quilómetros. Pedalámos também com alguns ciclistas paraolímpicos, cruzámo-nos com pessoas deficientes que queriam ouvir as nossas histórias”, disse Olaf Kulla. “Uma das coisas que pretendemos mostrar é que se retirarmos algumas barreiras, as pessoas deficientes podem fazer
tudo. Num local de trabalho, quanto mais se aumentar o número de pessoas deficientes, melhor o local se torna, pois cria-se um lugar melhor para toda a gente”.
Uma das outras aventureiras nesta iniciativa é Jataya Taylor, cidadã americana que fazia parte da Marinha de Guerra dos Estados Unidos de América (EUA). Por motivos de saúde, teve de amputar uma das suas pernas, deixando-a limitada.
Porém, não desistiu, preferindo olhar para outras janelas de oportunidade que a vida abriu, como é o caso desta iniciativa. “Ficámos a pensar bastante sobre a viagem e o mais engraçado é que há pequenos aspectos diferentes em atravessar África. Mas, mesmo assim, decidimos avançar”, disse Taylor, para quem a rota permitiu “parar em vários pontos significantes para conversar e trocar impressões”. A ciclista conta que a sua amputação foi feita no joelho esquerdo. “Foi duro, pois pensei que nunca mais voltaria a ser a mesma
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pessoa que era antes. Naquele momento, fiquei muito nervosa, porque é difícil aceitar a realidade. Mas temos de deixar isso para trás. Se ficamos muito tempo a observar uma porta que foi fechada, não vemos as que estão abertas ao nosso redor”.
Que lições tirar destes ciclistas?
“Temos melhores benefícios nos EUA, onde estamos em condições de ser auto-suficientes, porque temos acesso a tudo. Posso andar com a minha cadeira de rodas e viajar de autocarro, posso entrar num centro comercial sem problemas, porque estão criadas condições”, exemplificou Jataya Taylor. “É neste aspecto que Moçambique deve aprender e crescer, pois há muito trabalho por aí. Vejo que o País tem muito potencial no turismo, mas se não se criarem condições para pessoas com deficiência, podem perder muito dinheiro. Existe muita gente com deficiência que quer aproveitar o potencial turístico de cá”,
apontou. Para o presidente da Associação de Ciclismo da província de Maputo, Daniel Lewis, a atitude dos ciclistas com limitações inspira a sociedade moçambicana. “Temos algumas pessoas com limitações dentro da associação.
Mas termos estes profissionais que se notam, não só pela deficiência, mas também pela idade que é muito avançada, é a prova de que com um bocadinho de vontade e determinação podemos chegar lá. Estes ciclistas internacionais motivarão mais ciclistas de Moçambique, assim como as nossas instituições. Vamos tentar, a partir de agora, trabalhar com a associação dos deficientes para incluí-los nestas actividades”. Depois de tanto ciclismo e aventuras, o grupo vai desfrutar do turismo nacional, desde as praias até à gastronomia.
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“Vamos tentar, a partir de agora, trabalhar com a associação dos deficientes para incluílos nestas actividades”.
E mpreendedor
TEXTO Nário Sixpance FOTOGRAFIA Mariano Silva
Turismo Nacional Tem Quase Tudo Para Dar Certo. Ainda Falta o Quase
O grupo VIP foi criado há 22 anos e conta hoje com quatro unidades hoteleiras, mas há planos para expandir o negócio. O objectivo é alargar a oferta num segmento onde, por enquanto, o potencial do País ainda não se reflecte nas receitas dos principais operadores - que ainda não recuperaram totalmente do impacto da pandemia nos seus negócios. Dado Gulamhussen, director-geral de operações do grupo VIP em Moçambique, fundador do Conselho Empresarial Nacional (CEN) da CTA e membro do Conselho Empresarial da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em que ocupa o cargo de presidente da comissão especializada em Hotelaria e Restauração, fala à E&M sobre o estado da arte do Turismo em Moçambique.
Gulamhussen encontra no empreendedorismo a base da sua forma de estar no mercado. Atento aos desenvolvimentos da indústria na CPLP, não é um optimista inveterado em relação ao estado do sector, mas vê actualmente melhorias e elogia algumas das medidas de recuperação que têm vindo a ser tomadas a nível político. Medidas de que são exemplo, em Moçambique, a facilitação de vistos de entrada e a redução de preço dos voos internos. Ainda assim, olha com sentido crítico para o muito que ainda falta fazer para potenciar ao máximo aquele que é, para si, “um sector estruturante e fundamental” para o desenvolvimento económico e social do País.
O pós-covid exige formas de ‘reanimar’ o sector
O gestor da rede de hotéis explica que a visão alargada do turismo vive da “integração de diversas partes num todo”: vontade política, disponibilidade de capital interno e externo e infra-estruturas de qualidade. “Condições naturais nós temos e em abundância. Da praia às zonas de conservação, como acontece aqui mesmo, tão perto, na reserva de Maputo, em que temos vida selvagem e paisagem natural a desembocar na praia. No mesmo dia, em poucos quilómetros, podemos ver elefantes e baleias. Isso não existe muito, mesmo em África”. Mas há mais áreas, “como Chimanimani, Gorongosa, Niassa...” O que falta então ao turismo em Moçambique para ser uma fonte de receita considerável para a economia? “Para podermos reinventar o sector, temos de começar por alinhar todos os inte-
resses e tenho de dizer que há esforços nesse sentido, a nível das associações turísticas, do Governo e dos operadores. São esforços que já estão a produzir os primeiros resultados, que são animadores. Ainda é o início, claro. Depois, precisamos também - e se calhar até deveríamos começar por aí - de pensar que tipo de turismo pretendemos ter, se será corporativo, familiar ou de massas. Em Maputo, vivemos do turismo de negócios, mas ainda não está suficientemente desenvolvido. Teríamos de atrair grandes eventos internacionais de forma regular, como acontece em Joanesburgo, Lisboa e tantas outras cidades. Para outras zonas do País, a oferta tem de ser diferenciada. No que a nós, operadores, diz respeito, creio que, enquanto sector, devemos criar pacotes turísticos apetecíveis, promoções, ofertas diversificadas para os vários públicos-alvo. Por fim, aguardar por algum desenvolvimento económico e social para potenciar um vector do turismo muito importante, o turismo interno”. E prossegue: “creio que, a um nível mais alargado, será necessário fomentar infra-estruturas logísticas, do saneamento à saúde. Isso, aliado à oferta que o sector tem de gerar, irá fazer crescer uma verdadeira indústria em torno do turismo familiar e de lazer”.
Olhando ao grupo que lidera, explica que a ampliação da rede para Nampula e Cabo Delgado está no horizonte, para aproveitar o crescimento exponencial que se espera no norte do País, assim que avancem os projectos de gás. “O nosso objectivo é crescer, claro, mas sabemos, até por valores que temos na família, que temos de o fazer contando com os nossos colaboradores, formando as nossas equipas e gerando mais postos de trabalho. O nosso objectivo está bem vincado na identidade corporativa do grupo e passa por ser mais do que um hotel, contribuindo para a criação de cadeias de valor auto-sustentáveis, procurando ampliar a importância do que é hoje o turismo a vários níveis”, assegura.
Depois de anos difíceis para a economia nacional, em que o turismo também sofreu as consequências da pandemia e de uma desaceleraçao económica, o gestor acredita que o mercado nacional“torna tudo possível”. Uma crença assente na diversidade e potencial económico, social e cultural. “O turis-
mo é, de facto, fundamental para o desenvolvimento sustentável do País, por via do incremento de receitas do Estado, das várias províncias e das comunidades”.
Em relação ao grupo VIP, explica como, no final da década passada e ainda antes da pandemia, “já havia o objectivo de ampliar a rede de hotéis e entrar em novos segmentos que não têm sido muito explorados. Depois veio a pandemia, mas podemos assegurar que esses planos são para executar”.
E é nesta perspectiva de expansão que se cumpre o desígnio do seu fundador: estar presente em todas as províncias do País. “Esse continua a ser um objectivo nosso, sem dúvida, através da abertura de resorts em que o turismo de lazer e o de negócios andam de mãos dadas e em que a oferta é absolutamente de qualidade. Queremos continuar a crescer e a ter, cada vez, mais qualidade”.
TEXTO Leandro Albino FOTOGRAFIA Mariano Silva
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Lazer
É uma cadeia hoteleira inteiramente moçambicana, mas cujo nascimento ocorreu fora do País, naquela que é uma história pouco usual: a rede de hotéis foi fundada em Portugal, em 1978, por um moçambicano. A expansão da actividade trouxe-a, décadas depois, de regresso a casa.
Era este, de resto, um sonho de família quando, há 43 anos, se iniciou um negócio que continua em crescimento até aos dias de hoje. O grupo tornou-se multinacional, mas nem por isso deixou de ter gestão familiar. Integra actualmente 16 unidades (de três, quatro e cinco estrelas) em funcionamento, entre Portugal, Angola e Moçambique.
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O GRUPO VIP
Possui dois motores de 100 kW eléctricos e seis baterias que conferem uma autonomia de 50 milhas náuticas (cerca de 100 km em terra) entre recargas
vThe Icon, o Luxuoso e Futurista
A MARCA ALEMÃ DE VEÍCULOS de luxo BMW lançou, em colaboração com a fabricante de barcos Tyde, um luxuoso barco 100% eléctrico. O modelo foi apresentado ao público durante o 76.º Festival de Cinema Internacional de Cannes, França, entre 16 e 27 de Maio. O novo barco possui dois motores eléctricos de 100 kW e seis baterias que lhe conferem uma autonomia de 50 milhas náuticas (cerca de 100 km em terra) entre recargas. O The Icon tem uma velocidade máxima de 30 nós (55 km/h), segundo a BMW.
A embarcação tem 134 cavalos de potência, pode navegar a 45 km/h, o que se torna possível por causa de um sistema desenvolvido em conjunto pela BMW e Tyde, que uniu o motor à bateria usada no veículo BMW i3 e a um conjunto de mecanismos que elevam parcialmente a embarcação, diminuindo o atrito com a água. Além disso, The Icon praticamente não emite vibrações nem produz ondas e até
tem um sistema de som Dolby Atmos para garantir uma “paisagem sonora integrada impressionante”.
Além do facto de consumir pouca energia e de ser ágil, o visual do barco também constitui uma grande atracção. Desenhado pela BMW Designworks, tem 13,15 metros de comprimento e a sua traseira mede 4,5 metros de largura. As janelas dominam cada lado, o que dá aos ocupantes uma visão ampla. Possui uma superfície vidrada a toda a volta, sacrificando o tradicional solário, habitual nos barcos, com uma cobertura em vidro em busca de uma aerodinâmica mais apurada.
O design interior não convencional proporciona um espaço acolhedor e visualmente espectacular que, combinado com outros elementos de design, dá origem a uma sala bastante agradável, repleta de luz natural. A vivacidade fresca e contemporânea é acentuada pelo esquema de cores, que é
composto principalmente por tons de verde e azul. Esta embarcação oferece aos hóspedes a oportunidade de experimentar o futuro das viagens marítimas de luxo, caracterizadas por uma intersecção de design, desempenho e transporte livre de emissões de carbono.
No meio do “deck”, o posto de comando contém controlos ao estilo iDrive da BMW, com um ecrã táctil de 32 polegadas, com resolução de 6k e controlo de voz. Também suporta comandos de voz para obter informações de alcance e boletins meteorológicos. O interior do barco tem ainda tapetes, cadeiras giratórias e tablets para utilização individual.
Como forma de reduzir o consumo de energia em até 80% e de maximizar a autonomia, o barco exibe um casco muito baixo, uma vez que foi concebido para navegar acima da ondulação. O facto de se deslocar sobre as ondas e não através delas – o que apenas será possível se estas forem de pequenas dimensões – garante um nível de conforto superior, mas, sobretudo, reduz a fricção com a água, permitindo incrementar a velocidade e diminuir o consumo.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2023 82
THE ICON
O design interior não convencional proporciona um espaço acolhedor e visualmente espectacular que, combinado com outros elementos de design
Barco da BMW