#44 | jav. fev. mar. 2022
REVISTA RUMINANTES
Figura 1
Figura 2
SAÚDE E BEM-ESTAR ANIMAL | VITELOS
A INFLUÊNCIA DO FRIO
O PRESENTE ESTUDO TEVE COMO OBJETIVO AVALIAR ATÉ QUE PONTO O MANEIO DE VITELOS RECÉM-NASCIDOS, PRESOS COM ESTACAS E CORRENTES NA PASTAGEM, NO TEMPO FRIO, PODE DAR ORIGEM A UMA INCIDÊNCIA DE DOENÇAS, A MAIOR MORTALIDADE OU A UM MENOR GANHO DE PESO.
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Por Pacheco, M., Viveiros, T., Stilwell, G.; Laboratório de Investigação em Comportamento e Bem-estar Animal (CIISA) Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa; stilwell@fmv.ulisboa.pt | Fotos George Stillwell
os Açores, é muito comum prenderem-se os vitelos recém-nascidos na pastagem com estacas e correntes ( figura 1). Um dos maiores problemas desta prática tradicional é a exposição ao calor e/ou ao sol excessivos, ou ao frio/chuva/vento excessivos. Neste estudo avaliou-se até que ponto este maneio, levado a cabo no tempo frio, pode dar origem a uma incidência maior de doenças, a maior mortalidade ou a um menor ganho de peso. Entraram no estudo vários grupos de vitelos mantidos em diferentes condições de alojamento. Na primeira visita, poucos dias após o nascimento, fez-se o cálculo do peso dos vitelos e mediu-se a temperatura (termografia por infravermelhos) de diversas áreas do vitelo. Nas seguintes visitas, o peso e o ganho médio diário foram novamente calculados e foram
registadas as ocorrências de doenças ou mortes. Para além disso, recolheram-se dados relativos ao parto, quantidade e via de administração de colostro, quantidade e via de administração de leite e a temperatura ambiente nos dias das visitas. O STRESS TÉRMICO NO CRESCIMENTO DE VITELOS A termorregulação é a capacidade dos animais homeotérmicos em manter a sua temperatura corporal dentro de um certo intervalo, apesar da exposição a diferentes temperaturas ambientes (Bligh 1998; Stull and Reynolds 2008). Em caso de condições climáticas extremas, que não possam ser compensadas pelos mecanismos termorreguladores, os animais sofrem stress térmico que tem efeitos negativos a nível do bem-estar animal (Silanikove 2000) e a nível económico (Donovan et al. 1998; Roland et al. 2016), já que o desempenho do vitelo é muito afetado 020
pela temperatura ambiente (Bateman et al. 2012). Os bovinos, dentro de um intervalo de temperatura ambiental específico conhecido como a zona termoneutra (TNZ), conseguem manter a sua temperatura corporal constante com custos fisiológicos mínimos e produtividade máxima (Kadzere et al. 2002; Roland et al. 2016). Os limites da zona de neutralidade térmica não são constantes e são determinados por diversos fatores (Jones and Heinrichs 2013) como a humidade, exposição à radiação solar, velocidade do vento e precipitação (Silva 2012). Os fatores que podem aumentar a perda excessiva de calor corporal pelos vitelos incluem uma alta relação superfície/massa corporal, pele pouco espessa, pequena quantidade de gordura subcutânea, controlo vascular cutâneo pobre e perda de calor por evaporação quando a pele está húmida após o nascimento ou devido