#44 | jav. fev. mar. 2022
REVISTA RUMINANTES
COOPERATIVISMO
"A MUDANÇA TEM QUE OCORRER PARA UMA MELHOR CAPACIDADE DE GESTÃO QUE JÁ TIVEMOS." ENTREVISTA A VITORIANO MEDEIROS FALCÃO, PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA COOPERATIVA AGRÍCOLA BOM PASTOR. Por RUMINANTES | Foto FG
E
m vésperas de eleições para a nova Direção da Cooperativa Agrícola Bom Pastor, entrevistámos Vitoriano Medeiros Falcão, atual Presidente. A conversa começou pelo tema da situação menos boa que o setor leiteiro nacional atravessa, a que o responsável da Bom Pastor se mostrou apreensivo: "O novo ciclo de dificuldades, determinado pelo baixo preço do leite e pelo crescente custo de fatores de produção, situação que tem penalizado os nossos associados e a atividade da nossa cooperativa, que é desenvolvida na área do abastecimento de fatores de produção, máquinas e equipamentos agrícolas e prestação de serviços diversos aos agricultores. A situação é muito crítica, pois os produtores vêm reduzidos os valores recebidos do leite, em simultâneo com a subida vertiginosa de todos os custos de produção, incluindo mão-de-obra e todos os custos de contexto. Perante este cenário, a Bom Pastor tem amortecido as dificuldades dos associados, vindo a reduzir ao máximo as suas margens comerciais, antecipando o pagamento de prémios comunitários aos produtos lácteos para garantir as disponibilidades de tesouraria a muitos agricultores. Tem também promovido campanhas de produção com alargamento de prazos de pagamento e multiplicado os serviços de apoio aos agricultores." Qual o papel da Bom Pastor num mundo rural de S. Miguel/Açores? Olhando para as principais preocupações que assolam o nosso mundo e a Europa em particular, um
dos maiores desafios da agricultura da próxima década será o da sua adaptação às exigências crescentes determinadas pelas alterações climáticas. Os agricultores vão ser chamados a responder ao desafio da sustentabilidade ambiental, ou seja, a produzir de forma a provocar o menor impacto possível sobre o ambiente. No caso açoriano, importa afirmar que a nossa agricultura, ao contrário de tanta outra que se faz por esse mundo fora, é ambientalmente sustentável, pelas condições geográficas e climáticas em que se desenvolve, sem exaurir solos. Neste quadro de produção ambientalmente sustentável, temos que exigir das nossas agroindústrias mais competência na leitura das oportunidades do mercado, para posicionar os nossos produtos nas prateleiras dos consumidores, afirmando e enfatizando a sua proveniência. É importante também que saibam dirigir a transformação do leite de acordo com as efetivas necessidades de mercado e não para segmentos onde existe excesso de oferta. Desta forma tem agido uma das unidades industriais da Ilha, posicionando produtos no mercado com uma dinâmica indutora de uma imagem de felicidade dos animais nas nossas pastagens, assente numa forte campanha de visibilidade. Outras, ainda, procuram mercados especializados e/ou com alguma base alternativa ao mercado nacional, o que lhes tem permitido obter melhores resultados. Como exemplos, e num produto em que o mercado é excedentário em Portugal, o leite UHT, a Bel desenvolveu e lançou o “Programa Leite das Vacas Felizes” e a Pronicol, na ilha Terceira, integrada na Lactogal, lançou 082
o primeiro “Leite Biológico Açoriano”. Só depois apareceu a Unileite com o “Leite de Pastagem” que, olhando para as prateleiras das superfícies comerciais, não é valorizado como os outros. Que balanço faz destes 3 anos de mandato e o que implementaram de novo para os associados? O balanço que fazemos do nosso mandato é muito positivo. Conseguimos reduzir os prazos de pagamento das vendas a crédito e recuperar algum crédito que podia prescrever; aumentámos, de forma muito acentuada, 40% o volume de vendas (2018 a 2021) o que foi feito com base na competitividade obtida com a redução das margens comerciais, com a oferta de mais referências e produtos e com uma dinâmica de maior proximidade aos agricultores. Por outro lado, conseguimos estabelecer novas parcerias para a comercialização de produtos e bens necessários, com melhores condições de preço e pagamento. Convocámos entidades públicas para disponibilizarem os seus serviços de atendimento dos agricultores na sede da nossa cooperativa. Encontrámos forma de entregar bens como fertilizantes, rações e
"TEMOS QUE EXIGIR DAS NOSSAS AGROINDÚSTRIAS MAIS COMPETÊNCIA NA LEITURA DAS OPORTUNIDADES DO MERCADO."