A liberdade inscrita nos sambas enredos cariocas (1943 a 2013)

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3.8 – A LIBERDADE E A ESCRAVIDÃO Nesse período, localizamos treze referências sobre a escravidão que empregaram a palavra liberdade, distribuídas em doze Escolas de Samba. Aqui ressaltamos que os sambas da Salgueiro em 1967, História da Liberdade no Brasil, e da Império Serrano em 1969, Heróis da Liberdade, mencionados neste trabalho, também abordaram a questão da escravidão. Se, no ciclo anterior, a Princesa Isabel, o poeta Castro Alves, o líder negro Chico Rei e a entidade Preto Velho foram os referentes da liberdade no tema da escravidão; nesse período, destacamos o herói de Palmares, Zumbi, o abolicionista José do Patrocínio e a elegância de Chica da Silva. Nessa direção, o samba-enredo Sublime Pergaminho, da Unidos de Lucas, 1968, além de manter o tom de denúncia, comum em escritos sobre a escravidão negra – especialmente no que tange às condições desumanas dos africanos nos navios negreiros – acrescenta, com muita propriedade, a formação das irmandades como resistência “Vendidos como escravos/ Na mais cruel traição/ formavam irmandades/ Em grande união”32 (Anexo 14) e a evasão espiritual por meio dos festejos que animavam a vontade de superar o cativeiro. Essa canção, ao descrever o fim do elemento servil, menciona, implicitamente, a Lei do Ventre Livre nos seguintes versos: “E de repente uma lei surgiu/ (uma lei surgiu) / E os filhos dos escravos/ Não seriam mais escravos no Brasil”; a Lei dos Sexagenários: “Mais tarde raiou a liberdade/ Pra aqueles que completassem/ Sessenta anos de idade”; e o sublime pergaminho, a Lei Áurea: “Oh, sublime pergaminho! Libertação geral”.

Marina de Mello e Souza, em Reis negros no Brasil escravista, afirma que “As irmandades de ‘homens pretos’ foram, segundo Caio Boschi, as únicas instituições nas quais os negros puderam se manifestar com relativa autonomia e liberdade. Entretanto eram, contraditoriamente, agentes eficazes da colonização, ‘pois a par de ser um local privilegiado da afirmação das identidades culturais, étnicas ou sociais dos grupos integrantes’ também se identificavam com a política europeia colonizadora”. (SOUZA, 2006, p. 185) Evidente que, ao escrever sobre o papel das irmandades formadas pelos escravizados, os compositores dos sambas enredos as representavam como contraponto à colonização portuguesa. O objetivo era utilizá-las como elemento de união, de “subversão”. 32

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ANEXOS – SAMBAS-ENREDOS

3hr
pages 201-278

4.13 – Considerações sobre este capítulo

11min
pages 170-176

CONSIDERAÇÕES FINAIS

6min
pages 177-181

REFERÊNCIAS

3min
pages 182-184

4.12.4 – África

1min
page 158

4.12.5 – A Escravidão

18min
pages 159-169

4.12.3 – Palmares

1min
page 157

4.12.2 – Zumbi e Outros Referentes Negros

4min
pages 155-156

4.11 – A Liberdade e as Significações Difusas

7min
pages 149-152

4.10 – A Liberdade, o Carnaval e Outras Artes

9min
pages 144-148

4.8 – Liberdade, Mitologia e Religiosidade

4min
pages 139-141

4.9 – A Liberdade e Outras Representações

3min
pages 142-143

4.6 – A Liberdade e os Países

3min
pages 134-135

4.7 – A Liberdade e o Povo

6min
pages 136-138

4.5 – A Liberdade, as Mulheres e os Direitos Feministas

4min
pages 131-133

4.4 – A Liberdade e os Indígenas

3min
pages 129-130

4.2 – A Liberdade de Expressão

3min
pages 123-125

4.3 – A Liberdade e a Independência

6min
pages 126-128

3.9 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 4 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DEMOCRACIA

5min
pages 117-120

4.1 – Introdução ao Quatro Capítulo

2min
pages 121-122

3.7 – A Liberdade e as Significações Difusas

2min
pages 109-110

3.8 – A Liberdade e a Escravidão

10min
pages 111-116

3.6 – Liberdade e Independência

9min
pages 104-108

2.5 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 3 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DITADURA

5min
pages 91-93

3.2.3 – Guararapes

2min
page 98

3.3 – Liberdade e República

3min
pages 100-101

3.2.4 – Indígenas

1min
page 99

2.4.5 – Chico Rei

2min
pages 89-90

3.5 – Liberdade e Carnaval

1min
page 103

3.4 – Liberdade e Povo

1min
page 102

3.1 – Introdução ao Terceiro Capítulo

2min
pages 95-96

2.4.4 – Preto Velho

1min
page 88

2.4.3 – Palmares

7min
pages 84-87

2.4.2 – Castro Alves

2min
page 83

2.2 – A Liberdade e a Segunda Guerra Mundial

5min
pages 75-78

2.3.2 – José Bonifácio

1min
page 81

1.4 – Considerações Sobre Este Capítulo

5min
pages 69-71

1.3.12 – Os Primeiros Sambas-Enredos

11min
pages 63-68

1.3.11 – Samba-Enredo

4min
pages 61-62

2.1 – Introdução ao Segundo Capítulo

3min
pages 73-74

1.3.10 – As Escolas De Samba

1min
page 60

1.3.7 – A Primeira Música do Carnaval

2min
pages 51-52

1.3.9 – O Samba

4min
pages 58-59

1.3.8 – Tia Ciata

7min
pages 53-57

1.3.5- A Praça Onze

4min
pages 44-46

1.3.6 – As Sociedades Carnavalescas

6min
pages 47-50

1.3.4 – Os Ranchos

3min
pages 42-43

1.2 – Origens e Significados do Carnaval

22min
pages 25-35

1.3.3 – Os Cordões

3min
pages 40-41

1.3.2 – O Zé Pereira

2min
pages 38-39

INTRODUÇÃO À TESE

12min
pages 14-21

1.1 – Introdução ao Primeiro Capítulo

3min
pages 23-24

ABSTRACT

1min
page 12

RESUMO

1min
page 11

RESUMEN

1min
page 13
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