Destacamos que, nesse agrupamento, três sambas-enredos tiveram como foco narrativo a primeira pessoa do singular. Os autores assumiam a voz dos indígenas em Catarina de Médicis na corte dos Tupinambôs e Tabajares, da Imperatriz Leopoldinense, 1994, representando um índio forte, filho da sorte, natural, guerreiro e luz liberta no carnaval. (Anexo 79) De igual forma, em Todo dia é dia de índio, da Ilha do Governador, 1995, a primeira pessoa quer ver o sol brilhar, nas ondas do mar, é tupi, é mestiço e é linguagem do outro: “Mim só qué brasilidade”. (Anexo 84) No samba-enredo Palmares, a festa da liberdade, da Vila Santa Tereza, os autores dizem ser palmarinos, filhos de Xangô que pediam também graças ao “Meu deus Tupã”, são um índio flecheiro, que pesca, caça e guerreia, sempre guiado pela liberdade. (Anexo 119)
4.5 – A LIBERDADE, AS MULHERES E OS DIREITOS FEMINISTAS Dentre os sambas-enredos selecionados para esse terceiro ciclo, encontramos cinco que reverenciam a palavra liberdade: Elis Regina, Sinhá Olímpia, Leci Brandão, Tereza de Benguela e Elza Soares. Também, destacamos quatro canções sobre os direitos feministas. Foi a Mocidade Independente de Padre Miguel que, em 1989, homenageou a cantora Elis Regina com o samba-enredo Elis, um trem chamado emoção (Anexo 55): “Nas andanças, travessias/ No caminhar por entre as pedras desse chão/ Na perfeição de se cantar a liberdade/ Na poesia de uma canção”. Observemos que o compositor demonstra conhecer muito bem a biografia da homenageada: “Artista, mãe, mulher, irreverente e tão sutil/ Cantando uma canção/ Que faz lembrar o irmão do Henfil”. Sinhá Olímpia, uma das personalidades folclóricas de Ouro Preto, foi referência no samba-enredo E deu a louca no Barroco, elaborado pela Mangueira em 1990. Aquela personagem foi a “Cinderela de Ouro Preto” na nova escrita, apresentada pelos compositores da Estação Primeira. O delírio dela era doce e por isso conquistara corações: “Acalentou o ideal de liberdade/ E transformou toda mentira/ Na mais fiel realidade”. (Anexo 58) Leci Brandão, nossa musa inspiradora era o samba-enredo da Unidos de Cosmos no Carnaval de 1991. Resgatando e ressignificando a cultura negra, o narrador escreve que “Essa negra bamba/ Foi a fundo em Luanda/ Ao encontro da raiz/ Liberdade de expressão/ Faz o seu coração feliz”. (Anexo 67) 130