1.1 – INTRODUÇÃO AO PRIMEIRO CAPÍTULO Foi necessário, antes de apresentar a análise dos 232 sambas-enredos, abordar, mesmo que de forma breve, alguns dos estudos acerca das origens e dos significados do Carnaval, bem como da formação desse evento no Brasil. Ao discutir a primeira parte deste capítulo, denominada “Origens e significados do Carnaval”, utilizamos como referências as produções escritas e os testemunhos de Eneida de Moraes, Hiram Araújo, Mikhail Bakhtin, Goethe e Roberto DaMatta. A escritora paraense, radicada no Rio de Janeiro, Eneida de Villa Boas Costa de Moraes, publicou em 1958 a primeira grande obra sobre o Carnaval, A História do carnaval carioca, esforçando-se por definir as origens e os conceitos dessa festa popular desde o Entrudo, passando pelos Cordões, os Ranchos e as Sociedades Carnavalescas, testemunhando as produções de seu tempo, uma vez que, além de participar dos desfiles e dos bailes, integrara o corpo de jurados das Escolas de Samba. O médico e pesquisador carioca, Hiram da Costa Araújo, publicou, em 2000, o livro Carnaval: Seis milênios de história, escrita que objetivou resgatar para a memória cultural as origens do Carnaval e os seus mitos fundadores, além de apresentar relevantes informações sobre as Escolas de Samba do Rio de Janeiro e, de certa maneira, prolongar a pesquisa e o debate propostos por Eneida de Moraes. O filósofo russo Mikhail Mikhailovich Bakhtin, com a sua obra A Cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais, trouxe-nos significativas contribuições principalmente ao assegurar que o Carnaval é um espetáculo ilimitado e inclusivo e a sua lei é a da liberdade. O poeta alemão Johann Wolfgang Von Goethe, além de ser um dos principais expoentes do romantismo de seu país, deixou-nos um simbólico testemunho, quando tivera a honra de assistir ao Carnaval de Roma, em 1788, registrado em sua obra Viagem à Itália, minha campanha da França – excertos sobre uma viagem ao Reno. O antropólogo carioca Roberto Augusto DaMatta, em Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasileiro, apresentou imprescindível análise sobre o Carnaval – o tema da inversão naqueles momentos de festa. Inversão, elemento que permite as condições para os deslocamentos, quando as classes sociais podem se relacionar de cabeça para baixo. Na segunda parte deste capítulo, discutimos a formação do Carnaval no Brasil. Apontamos como marco inicial, o primeiro passo, a primeira manifestação vinda do 22