A liberdade inscrita nos sambas enredos cariocas (1943 a 2013)

Page 40

1.3.3 – OS CORDÕES É importante considerar que antes do surgimento do samba, propriamente dito, houve outras manifestações que antecederam e igualmente contribuíram para a sua formação. Os cordões, criados na segunda metade do século XIX, são mais um exemplo. Cordão, segundo Sérgio Cabral, era o nome genérico de vários tipos de agrupamentos, e tanto podiam reunir carnavalescos dos bairros mais elegantes, quanto os escravizados. Nessa perspectiva, também destaca a louvável contribuição do escritor carioca, João do Rio, que registrava manifestações culturais de sua época e uma das grandes percepções dele foi a respeito da origem religiosa dos cordões – a festa de Nossa Senhora do Rosário, na era colonial. “Já naquele tempo (os negros) gostavam e saíam vestidos de reis, de bichos, de guardas, tocando instrumentos africanos e paravam em frente à casa do vicerei a dançar e a cantar.” (CABRAL, 2011, p. 18) Os Cordões eram compostos por foliões que desfilavam um atrás do outro, geralmente fantasiados e mascarados, sem se preocupar com a uniformidade. Havia uma diversidade de alegorias e representações como reis, rainhas, palhaços, velhos, diabos, baianas, dentre outros. Os foliões eram guiados por um mestre, um líder que os comandava por um apito. Sodré assegura que nos cordões a afirmação cultural não era definida por meras representações de gestos e de cantos, por exemplo, mas de inclusão de um movimento “selvagem” de reterritorialização que rompia os limites topográficos impostos aos negros por meio da divisão do espaço urbano. Nessa perspectiva histórica, acerca das origens do carnaval carioca, Eneida de Moraes aponta que o cantor e compositor Agenor Lopes de Oliveira observara que o cordão era uma sátira do povo carioca, surgida no anonimato coletivo, “após a chegada dos burocratas do Vice-Rei, da máquina estatal lusitana então montada no país, dos fidalgos ridículos e devassos, enfim da nova organização social transplantada para a nossa terra e agravada subitamente com a chegada de D. João VI e sua numerosa corte”. (MORAES, 1958, p. 122) Eneida de Moraes também registra que os primeiros Cordões nasceram de negros de várias tribos, que se reuniam nas festas natalinas e carnavalescas, e discute as contribuições dos estudos de Renato Almeida: “No Rio de Janeiro, até 1830, os Cucumbis se incorporavam aos cortejos fúnebres dos filhos de reis africanos, às centenas, sacudindo chocalhos, entoando melopeias responsórias. Esses cânticos, a princípio africanos, receberam, como os dos congos, intercalações de verso e toadas portuguesas”. 39


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ANEXOS – SAMBAS-ENREDOS

3hr
pages 201-278

4.13 – Considerações sobre este capítulo

11min
pages 170-176

CONSIDERAÇÕES FINAIS

6min
pages 177-181

REFERÊNCIAS

3min
pages 182-184

4.12.4 – África

1min
page 158

4.12.5 – A Escravidão

18min
pages 159-169

4.12.3 – Palmares

1min
page 157

4.12.2 – Zumbi e Outros Referentes Negros

4min
pages 155-156

4.11 – A Liberdade e as Significações Difusas

7min
pages 149-152

4.10 – A Liberdade, o Carnaval e Outras Artes

9min
pages 144-148

4.8 – Liberdade, Mitologia e Religiosidade

4min
pages 139-141

4.9 – A Liberdade e Outras Representações

3min
pages 142-143

4.6 – A Liberdade e os Países

3min
pages 134-135

4.7 – A Liberdade e o Povo

6min
pages 136-138

4.5 – A Liberdade, as Mulheres e os Direitos Feministas

4min
pages 131-133

4.4 – A Liberdade e os Indígenas

3min
pages 129-130

4.2 – A Liberdade de Expressão

3min
pages 123-125

4.3 – A Liberdade e a Independência

6min
pages 126-128

3.9 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 4 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DEMOCRACIA

5min
pages 117-120

4.1 – Introdução ao Quatro Capítulo

2min
pages 121-122

3.7 – A Liberdade e as Significações Difusas

2min
pages 109-110

3.8 – A Liberdade e a Escravidão

10min
pages 111-116

3.6 – Liberdade e Independência

9min
pages 104-108

2.5 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 3 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DITADURA

5min
pages 91-93

3.2.3 – Guararapes

2min
page 98

3.3 – Liberdade e República

3min
pages 100-101

3.2.4 – Indígenas

1min
page 99

2.4.5 – Chico Rei

2min
pages 89-90

3.5 – Liberdade e Carnaval

1min
page 103

3.4 – Liberdade e Povo

1min
page 102

3.1 – Introdução ao Terceiro Capítulo

2min
pages 95-96

2.4.4 – Preto Velho

1min
page 88

2.4.3 – Palmares

7min
pages 84-87

2.4.2 – Castro Alves

2min
page 83

2.2 – A Liberdade e a Segunda Guerra Mundial

5min
pages 75-78

2.3.2 – José Bonifácio

1min
page 81

1.4 – Considerações Sobre Este Capítulo

5min
pages 69-71

1.3.12 – Os Primeiros Sambas-Enredos

11min
pages 63-68

1.3.11 – Samba-Enredo

4min
pages 61-62

2.1 – Introdução ao Segundo Capítulo

3min
pages 73-74

1.3.10 – As Escolas De Samba

1min
page 60

1.3.7 – A Primeira Música do Carnaval

2min
pages 51-52

1.3.9 – O Samba

4min
pages 58-59

1.3.8 – Tia Ciata

7min
pages 53-57

1.3.5- A Praça Onze

4min
pages 44-46

1.3.6 – As Sociedades Carnavalescas

6min
pages 47-50

1.3.4 – Os Ranchos

3min
pages 42-43

1.2 – Origens e Significados do Carnaval

22min
pages 25-35

1.3.3 – Os Cordões

3min
pages 40-41

1.3.2 – O Zé Pereira

2min
pages 38-39

INTRODUÇÃO À TESE

12min
pages 14-21

1.1 – Introdução ao Primeiro Capítulo

3min
pages 23-24

ABSTRACT

1min
page 12

RESUMO

1min
page 11

RESUMEN

1min
page 13
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