1.3.3 – OS CORDÕES É importante considerar que antes do surgimento do samba, propriamente dito, houve outras manifestações que antecederam e igualmente contribuíram para a sua formação. Os cordões, criados na segunda metade do século XIX, são mais um exemplo. Cordão, segundo Sérgio Cabral, era o nome genérico de vários tipos de agrupamentos, e tanto podiam reunir carnavalescos dos bairros mais elegantes, quanto os escravizados. Nessa perspectiva, também destaca a louvável contribuição do escritor carioca, João do Rio, que registrava manifestações culturais de sua época e uma das grandes percepções dele foi a respeito da origem religiosa dos cordões – a festa de Nossa Senhora do Rosário, na era colonial. “Já naquele tempo (os negros) gostavam e saíam vestidos de reis, de bichos, de guardas, tocando instrumentos africanos e paravam em frente à casa do vicerei a dançar e a cantar.” (CABRAL, 2011, p. 18) Os Cordões eram compostos por foliões que desfilavam um atrás do outro, geralmente fantasiados e mascarados, sem se preocupar com a uniformidade. Havia uma diversidade de alegorias e representações como reis, rainhas, palhaços, velhos, diabos, baianas, dentre outros. Os foliões eram guiados por um mestre, um líder que os comandava por um apito. Sodré assegura que nos cordões a afirmação cultural não era definida por meras representações de gestos e de cantos, por exemplo, mas de inclusão de um movimento “selvagem” de reterritorialização que rompia os limites topográficos impostos aos negros por meio da divisão do espaço urbano. Nessa perspectiva histórica, acerca das origens do carnaval carioca, Eneida de Moraes aponta que o cantor e compositor Agenor Lopes de Oliveira observara que o cordão era uma sátira do povo carioca, surgida no anonimato coletivo, “após a chegada dos burocratas do Vice-Rei, da máquina estatal lusitana então montada no país, dos fidalgos ridículos e devassos, enfim da nova organização social transplantada para a nossa terra e agravada subitamente com a chegada de D. João VI e sua numerosa corte”. (MORAES, 1958, p. 122) Eneida de Moraes também registra que os primeiros Cordões nasceram de negros de várias tribos, que se reuniam nas festas natalinas e carnavalescas, e discute as contribuições dos estudos de Renato Almeida: “No Rio de Janeiro, até 1830, os Cucumbis se incorporavam aos cortejos fúnebres dos filhos de reis africanos, às centenas, sacudindo chocalhos, entoando melopeias responsórias. Esses cânticos, a princípio africanos, receberam, como os dos congos, intercalações de verso e toadas portuguesas”. 39