A liberdade inscrita nos sambas enredos cariocas (1943 a 2013)

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dos ternos de reis nordestinos, com os blocos e cordões das ruas do Rio, “do mesmo modo que foi o encontro, nos terreiros de candomblé da Saúde e da Cidade Nova, dos devotos cariocas com o samba baiano de roda, que deu origem, nas primeiras décadas deste século, ao samba.” (AUGRAS, 1998, p. 17) Nessa direção, a pesquisadora afirma que as escolas de samba incorporaram a forma de desfilar e o ritmo, a partir de diversas tradições advindas dos tempos coloniais, em que era comum o elemento religioso, imposto pelos donos do poder ou trazido no contrabando das culturas africanas. De acordo com a publicação Memória do Carnaval, os ranchos já possuíam uma organização fixa, e seu desfile incluía: “abre-alas, comissão de frente, figurantes, alegorias, mestre de manobra, mestre-sala e porta-estandarte, primeiro mestre de canto, coro feminino, segunda baliza e porta-estandarte, segundo mestre de canto, corpo coral masculino e orquestra”. (ARAÚJO, 1991, p. 170) Vê-se que essa estrutura foi quase integralmente transportada para as escolas de samba. Para Monique Augras, havia uma relação pragmática entre os ranchos que, não por acaso, coincidia com a das escolas de samba – a participação, entre seus dirigentes, de oficiais de polícia para lhes garantir a legitimidade, mesmo pacto que se repetia nos terreiros por incluírem, quase sempre, autoridades destacadas. “Essas alianças são, obviamente, de mão dupla: os policiais amigos vêm a ser também cronistas carnavalescos, e seus jocosos apelidos como que tornam visível a permeabilidade entre figuras emblemáticas da ordem e da desordem.” (AUGRAS, 1998, p. 23)

1.3.5- A PRAÇA ONZE A Praça Onze, que não existe fisicamente há mais de 75 anos, é uma personagem imprescindível para os estudos acerca da origem do Carnaval no Brasil. O nome daquele espaço rememora a data da Batalha de Riachuelo, ocorrida em 11 de junho de 1865, na Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai. Muito mais que uma homenagem de um evento histórico, foi um local extremamente simbólico para a recepção e memória cultural dos negros – a maioria deles vinha da Bahia – além de lugar de inclusão de portugueses, espanhóis, italianos e judeus. Eneida de Moraes argumenta que Artur Ramos analisou psicanaliticamente o fenômeno coletivo e carnavalesco da Praça Onze e concluiu que o negro evadido dos engenhos, das plantações, das minas, dos trabalhos domésticos das cidades, dos 43


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ANEXOS – SAMBAS-ENREDOS

3hr
pages 201-278

4.13 – Considerações sobre este capítulo

11min
pages 170-176

CONSIDERAÇÕES FINAIS

6min
pages 177-181

REFERÊNCIAS

3min
pages 182-184

4.12.4 – África

1min
page 158

4.12.5 – A Escravidão

18min
pages 159-169

4.12.3 – Palmares

1min
page 157

4.12.2 – Zumbi e Outros Referentes Negros

4min
pages 155-156

4.11 – A Liberdade e as Significações Difusas

7min
pages 149-152

4.10 – A Liberdade, o Carnaval e Outras Artes

9min
pages 144-148

4.8 – Liberdade, Mitologia e Religiosidade

4min
pages 139-141

4.9 – A Liberdade e Outras Representações

3min
pages 142-143

4.6 – A Liberdade e os Países

3min
pages 134-135

4.7 – A Liberdade e o Povo

6min
pages 136-138

4.5 – A Liberdade, as Mulheres e os Direitos Feministas

4min
pages 131-133

4.4 – A Liberdade e os Indígenas

3min
pages 129-130

4.2 – A Liberdade de Expressão

3min
pages 123-125

4.3 – A Liberdade e a Independência

6min
pages 126-128

3.9 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 4 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DEMOCRACIA

5min
pages 117-120

4.1 – Introdução ao Quatro Capítulo

2min
pages 121-122

3.7 – A Liberdade e as Significações Difusas

2min
pages 109-110

3.8 – A Liberdade e a Escravidão

10min
pages 111-116

3.6 – Liberdade e Independência

9min
pages 104-108

2.5 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 3 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DITADURA

5min
pages 91-93

3.2.3 – Guararapes

2min
page 98

3.3 – Liberdade e República

3min
pages 100-101

3.2.4 – Indígenas

1min
page 99

2.4.5 – Chico Rei

2min
pages 89-90

3.5 – Liberdade e Carnaval

1min
page 103

3.4 – Liberdade e Povo

1min
page 102

3.1 – Introdução ao Terceiro Capítulo

2min
pages 95-96

2.4.4 – Preto Velho

1min
page 88

2.4.3 – Palmares

7min
pages 84-87

2.4.2 – Castro Alves

2min
page 83

2.2 – A Liberdade e a Segunda Guerra Mundial

5min
pages 75-78

2.3.2 – José Bonifácio

1min
page 81

1.4 – Considerações Sobre Este Capítulo

5min
pages 69-71

1.3.12 – Os Primeiros Sambas-Enredos

11min
pages 63-68

1.3.11 – Samba-Enredo

4min
pages 61-62

2.1 – Introdução ao Segundo Capítulo

3min
pages 73-74

1.3.10 – As Escolas De Samba

1min
page 60

1.3.7 – A Primeira Música do Carnaval

2min
pages 51-52

1.3.9 – O Samba

4min
pages 58-59

1.3.8 – Tia Ciata

7min
pages 53-57

1.3.5- A Praça Onze

4min
pages 44-46

1.3.6 – As Sociedades Carnavalescas

6min
pages 47-50

1.3.4 – Os Ranchos

3min
pages 42-43

1.2 – Origens e Significados do Carnaval

22min
pages 25-35

1.3.3 – Os Cordões

3min
pages 40-41

1.3.2 – O Zé Pereira

2min
pages 38-39

INTRODUÇÃO À TESE

12min
pages 14-21

1.1 – Introdução ao Primeiro Capítulo

3min
pages 23-24

ABSTRACT

1min
page 12

RESUMO

1min
page 11

RESUMEN

1min
page 13
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