A liberdade inscrita nos sambas enredos cariocas (1943 a 2013)

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Foi justamente essa turma que em agosto de 1916 manipulou uma composição, naturalmente cantada em coro, que mais tarde, com a designação de samba e o título PELO TELEFONE iniciara uma nova etapa do cancioneiro carnavalesco do Rio. Os versos expressivos e bem feitos eram uma glosa sutil a um fato importante. O então chefe de polícia Aurelino Leal determinara em fins de outubro daquele ano, em ofício publicado amplamente na imprensa, que os delegados distritais lavrassem auto de apreensão de todos os objetos de jogatina encontrados nos clubes. Antes de qualquer providência, porém, ordenara que lhe fosse dado aviso pelo telefone oficial. Mas a jogatina continuou. Alguns clubes saíram das ruas principais onde se localizavam e foram instalar-se em transversais, mais escondidas. (ALENCAR, 1979, p. 118)

Monique Augras endossa que a famosa Ciata era tia de candomblé, filha de Oxum, e definiu a personalidade dela como a de uma mulher de iniciativa e dedicada ao trabalho. Como outras tias baianas de sua geração, foi também iniciadora da tradição carioca das baianas quituteiras, atividade que tem forte fundamento religioso. “Mãe de 15 filhos, todos os quais deixaram nomes marcantes tanto na participação em atividades religiosas quanto na organização de ranchos e escolas de samba, era esposa de João Batista da Silva, negro baiano” (AUGRAS, 1998, p. 18), e confirma que ele exercera um posto privilegiado, apesar de ser de baixo escalão, no gabinete do chefe de polícia no governo de Venceslau Brás, cuja posição destacada facilitaria a proteção dos sambistas que eram malvistos pelos poderes públicos. Portanto, merecidamente, Tia Ciata recebeu homenagens póstumas de várias escolas de samba, ao longo dos tempos, no exercício da memória cultural; ela, como personalidade, e a sua casa, como espaço geograficamente bem situado próximo à Praça Onze, lugar de interseção, de confluência, de união de vários grupos étnicos e culturais, permitindo, assim, que o samba nascesse plural e inclusivo.

1.3.9 – O SAMBA Eneida de Moraes afirma que a palavra samba, até 1917, era utilizada para designar agrupamento ou festa e, depois daquela data, passaria a dar nome a um gênero musical. (MORAES, 1958, p. 177) Sérgio Cabral acentua que “as primeiras formas do samba carioca foram geradas pela comunidade negra do Centro da cidade, responsável também pelas novidades carnavalescas apresentadas pelos ranchos, como as alegorias, as orquestras, o abre-alas e os ‘tenores’”. (CABRAL, 2011, p. 32) Segundo observações de Hiram Araújo, o samba, inicialmente, não era definido como um gênero musical, mas como uma dança pudica em que as pessoas exerciam um 57


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ANEXOS – SAMBAS-ENREDOS

3hr
pages 201-278

4.13 – Considerações sobre este capítulo

11min
pages 170-176

CONSIDERAÇÕES FINAIS

6min
pages 177-181

REFERÊNCIAS

3min
pages 182-184

4.12.4 – África

1min
page 158

4.12.5 – A Escravidão

18min
pages 159-169

4.12.3 – Palmares

1min
page 157

4.12.2 – Zumbi e Outros Referentes Negros

4min
pages 155-156

4.11 – A Liberdade e as Significações Difusas

7min
pages 149-152

4.10 – A Liberdade, o Carnaval e Outras Artes

9min
pages 144-148

4.8 – Liberdade, Mitologia e Religiosidade

4min
pages 139-141

4.9 – A Liberdade e Outras Representações

3min
pages 142-143

4.6 – A Liberdade e os Países

3min
pages 134-135

4.7 – A Liberdade e o Povo

6min
pages 136-138

4.5 – A Liberdade, as Mulheres e os Direitos Feministas

4min
pages 131-133

4.4 – A Liberdade e os Indígenas

3min
pages 129-130

4.2 – A Liberdade de Expressão

3min
pages 123-125

4.3 – A Liberdade e a Independência

6min
pages 126-128

3.9 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 4 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DEMOCRACIA

5min
pages 117-120

4.1 – Introdução ao Quatro Capítulo

2min
pages 121-122

3.7 – A Liberdade e as Significações Difusas

2min
pages 109-110

3.8 – A Liberdade e a Escravidão

10min
pages 111-116

3.6 – Liberdade e Independência

9min
pages 104-108

2.5 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 3 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DITADURA

5min
pages 91-93

3.2.3 – Guararapes

2min
page 98

3.3 – Liberdade e República

3min
pages 100-101

3.2.4 – Indígenas

1min
page 99

2.4.5 – Chico Rei

2min
pages 89-90

3.5 – Liberdade e Carnaval

1min
page 103

3.4 – Liberdade e Povo

1min
page 102

3.1 – Introdução ao Terceiro Capítulo

2min
pages 95-96

2.4.4 – Preto Velho

1min
page 88

2.4.3 – Palmares

7min
pages 84-87

2.4.2 – Castro Alves

2min
page 83

2.2 – A Liberdade e a Segunda Guerra Mundial

5min
pages 75-78

2.3.2 – José Bonifácio

1min
page 81

1.4 – Considerações Sobre Este Capítulo

5min
pages 69-71

1.3.12 – Os Primeiros Sambas-Enredos

11min
pages 63-68

1.3.11 – Samba-Enredo

4min
pages 61-62

2.1 – Introdução ao Segundo Capítulo

3min
pages 73-74

1.3.10 – As Escolas De Samba

1min
page 60

1.3.7 – A Primeira Música do Carnaval

2min
pages 51-52

1.3.9 – O Samba

4min
pages 58-59

1.3.8 – Tia Ciata

7min
pages 53-57

1.3.5- A Praça Onze

4min
pages 44-46

1.3.6 – As Sociedades Carnavalescas

6min
pages 47-50

1.3.4 – Os Ranchos

3min
pages 42-43

1.2 – Origens e Significados do Carnaval

22min
pages 25-35

1.3.3 – Os Cordões

3min
pages 40-41

1.3.2 – O Zé Pereira

2min
pages 38-39

INTRODUÇÃO À TESE

12min
pages 14-21

1.1 – Introdução ao Primeiro Capítulo

3min
pages 23-24

ABSTRACT

1min
page 12

RESUMO

1min
page 11

RESUMEN

1min
page 13
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