A liberdade inscrita nos sambas enredos cariocas (1943 a 2013)

Page 61

bloco ‘Deixa Falar’ abriu mão do título de escola de samba e “só não foi esquecido porque os sambistas jamais negaram o seu pioneirismo como escola de samba”. (CABRAL, 2011, p. 46) Sérgio Cabral também observou uma das curiosidades no primeiro desfile das escolas registrada pelo Correio da Manhã e pelo O Globo, foi a informação de que a Unidos da Tijuca apresentou um samba considerando o enredo. Inscrevendo, assim, a necessidade de se adequar a forma com o conteúdo, ou seja, a composição escrita com o desfile apresentado, cujo “gênero iria impor-se somente nos últimos anos da década de 1940”. (CABRAL, 2011, p. 88) Roberto DaMatta analisou o papel desempenhado pelas Escolas de Samba do Rio de Janeiro, ressaltando a consciência de seus integrantes e a possibilidade de os marginalizados serem “doutores” e “professores”, numa posição invertida. Posição que permaneceu inerente aos festejos carnavalescos desde a Antiguidade, os cultos agrários e a Idade Média, cujos maiores exemplos foram as mudanças entre escravizados e senhores. As escolas de samba têm assim um duplo padrão: de um lado, são clubes abertos e inclusivos, de outro são associações dramáticas exclusivas, com uma alta consciência de bairro, grupo e cor. Os membros das escolas sabem que são pretos e pobres (a maioria é parte do enorme mercado de trabalho marginal do Rio de Janeiro), mas estão altamente conscientes do fato de que nos seus ensaios e durante o Carnaval, são eles os “doutores”, os “professores”. Com essa possibilidade, podem inverter sua posição na estrutura social, compensando sua inferioridade social e econômica, com uma visível e indiscutível superioridade carnavalesca. Essa superioridade manifesta-se no momento “instintivo” de dançar o samba que o senso comum brasileiro considera um privilégio inato da “raça negra” enquanto categoria social. (DAMATTA, 1981, p. 128-129)

1.3.11 – SAMBA-ENREDO Alberto Mussa e Luiz Antônio Simas definem o samba-enredo como uma das espécies mais impressionantes de samba, especialmente por não ser lírica, contrariando uma tendência universal da música urbana e “porque integra o maior complexo de exibições artísticas simultâneas do mundo moderno: o desfile das escolas de samba”. Asseguram que o samba-enredo é um gênero épico. “O único gênero épico genuinamente brasileiro – que nasceu e se desenvolveu espontaneamente, livremente, sem ter sofrido a mínima influência de qualquer outra modalidade épica, literária ou musical, nacional ou estrangeira.” (MUSSA e SIMAS, 2010, p. 10) Hiram Araújo esclarece que o samba-enredo é uma produção encomendada sobre determinado tema, a trilha sonora do enredo, a ilustração poético-melódica do tema eleito 60


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook

Articles inside

ANEXOS – SAMBAS-ENREDOS

3hr
pages 201-278

4.13 – Considerações sobre este capítulo

11min
pages 170-176

CONSIDERAÇÕES FINAIS

6min
pages 177-181

REFERÊNCIAS

3min
pages 182-184

4.12.4 – África

1min
page 158

4.12.5 – A Escravidão

18min
pages 159-169

4.12.3 – Palmares

1min
page 157

4.12.2 – Zumbi e Outros Referentes Negros

4min
pages 155-156

4.11 – A Liberdade e as Significações Difusas

7min
pages 149-152

4.10 – A Liberdade, o Carnaval e Outras Artes

9min
pages 144-148

4.8 – Liberdade, Mitologia e Religiosidade

4min
pages 139-141

4.9 – A Liberdade e Outras Representações

3min
pages 142-143

4.6 – A Liberdade e os Países

3min
pages 134-135

4.7 – A Liberdade e o Povo

6min
pages 136-138

4.5 – A Liberdade, as Mulheres e os Direitos Feministas

4min
pages 131-133

4.4 – A Liberdade e os Indígenas

3min
pages 129-130

4.2 – A Liberdade de Expressão

3min
pages 123-125

4.3 – A Liberdade e a Independência

6min
pages 126-128

3.9 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 4 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DEMOCRACIA

5min
pages 117-120

4.1 – Introdução ao Quatro Capítulo

2min
pages 121-122

3.7 – A Liberdade e as Significações Difusas

2min
pages 109-110

3.8 – A Liberdade e a Escravidão

10min
pages 111-116

3.6 – Liberdade e Independência

9min
pages 104-108

2.5 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 3 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DITADURA

5min
pages 91-93

3.2.3 – Guararapes

2min
page 98

3.3 – Liberdade e República

3min
pages 100-101

3.2.4 – Indígenas

1min
page 99

2.4.5 – Chico Rei

2min
pages 89-90

3.5 – Liberdade e Carnaval

1min
page 103

3.4 – Liberdade e Povo

1min
page 102

3.1 – Introdução ao Terceiro Capítulo

2min
pages 95-96

2.4.4 – Preto Velho

1min
page 88

2.4.3 – Palmares

7min
pages 84-87

2.4.2 – Castro Alves

2min
page 83

2.2 – A Liberdade e a Segunda Guerra Mundial

5min
pages 75-78

2.3.2 – José Bonifácio

1min
page 81

1.4 – Considerações Sobre Este Capítulo

5min
pages 69-71

1.3.12 – Os Primeiros Sambas-Enredos

11min
pages 63-68

1.3.11 – Samba-Enredo

4min
pages 61-62

2.1 – Introdução ao Segundo Capítulo

3min
pages 73-74

1.3.10 – As Escolas De Samba

1min
page 60

1.3.7 – A Primeira Música do Carnaval

2min
pages 51-52

1.3.9 – O Samba

4min
pages 58-59

1.3.8 – Tia Ciata

7min
pages 53-57

1.3.5- A Praça Onze

4min
pages 44-46

1.3.6 – As Sociedades Carnavalescas

6min
pages 47-50

1.3.4 – Os Ranchos

3min
pages 42-43

1.2 – Origens e Significados do Carnaval

22min
pages 25-35

1.3.3 – Os Cordões

3min
pages 40-41

1.3.2 – O Zé Pereira

2min
pages 38-39

INTRODUÇÃO À TESE

12min
pages 14-21

1.1 – Introdução ao Primeiro Capítulo

3min
pages 23-24

ABSTRACT

1min
page 12

RESUMO

1min
page 11

RESUMEN

1min
page 13
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.