A liberdade inscrita nos sambas enredos cariocas (1943 a 2013)

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empreendimento. Ao contrário, tinha a companhia de amigos e de inimigos. Não podemos deixar de enfatizar que, ao empregar a palavra liberdade, como lema dos inconfidentes, os autores permitem-nos outra leitura além da principal, os versos “Ainda que tarde/ Libertaremos a nossa gente” podem ser facilmente deslocados do discurso das personagens inconfidentes para o dos autores, ou outros sujeitos implícitos, naquele contexto de produção.

2.3.2 – JOSÉ BONIFÁCIO Em 1958, a Portela apresentou mais um samba-enredo voltado para a história do Brasil, contado de forma oficial e sem grandes alterações. Vultos e efemérides do Brasil (Anexo 6) aborda uma pátria fundada sob o signo do amor, em 22 de abril de 1500. A Tiradentes concede-se o título de mártir inconfidente, reconhecendo nele, novamente, o herói do movimento de Minas. José Bonifácio é quem influencia Dom Pedro a proclamar a nossa independência de Portugal, a Princesa Isabel é “o anjo da abolição” e, por fim, o trio, Deodoro, Rui Barbosa e Quintino Bocaiúva, estava à frente da Proclamação da República. Apesar de o samba-enredo não propor nenhuma releitura da história e desconsiderar vários movimentos de contestação, cinco grandes datas de nossa memória – a “Descoberta”, a Inconfidência, a Independência, a Abolição e a República – foram bem articuladas naqueles 17 versos. A liberdade é aqui atribuída a José de Bonifácio13. Afinal, foi ele quem, segundo os autores, colaborou para o grito do Ipiranga: Pela página brasileira Do exemplo de amor à liberdade José Bonifácio mentor de inteligência Influenciou Pedro I A dar o grito da Independência. (Anexo 6)

13

José Murilo de Carvalho discorre sobre a performance política de José Bonifácio no dilema da Independência do Brasil e a permanência do elemento servil: “Embora no início da vida independente brasileira, um dos principais políticos da época, José Bonifácio, já estivesse alertado para o problema da formação da nação, mencionado particularmente as questões da escravidão e da diversidade racial, tudo isso ficou para segundo plano, pois a tarefa mais urgente a ser cumprida era a da sobrevivência pura e simples do país.” (CARVALHO, 2014, p. 23)

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ANEXOS – SAMBAS-ENREDOS

3hr
pages 201-278

4.13 – Considerações sobre este capítulo

11min
pages 170-176

CONSIDERAÇÕES FINAIS

6min
pages 177-181

REFERÊNCIAS

3min
pages 182-184

4.12.4 – África

1min
page 158

4.12.5 – A Escravidão

18min
pages 159-169

4.12.3 – Palmares

1min
page 157

4.12.2 – Zumbi e Outros Referentes Negros

4min
pages 155-156

4.11 – A Liberdade e as Significações Difusas

7min
pages 149-152

4.10 – A Liberdade, o Carnaval e Outras Artes

9min
pages 144-148

4.8 – Liberdade, Mitologia e Religiosidade

4min
pages 139-141

4.9 – A Liberdade e Outras Representações

3min
pages 142-143

4.6 – A Liberdade e os Países

3min
pages 134-135

4.7 – A Liberdade e o Povo

6min
pages 136-138

4.5 – A Liberdade, as Mulheres e os Direitos Feministas

4min
pages 131-133

4.4 – A Liberdade e os Indígenas

3min
pages 129-130

4.2 – A Liberdade de Expressão

3min
pages 123-125

4.3 – A Liberdade e a Independência

6min
pages 126-128

3.9 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 4 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DEMOCRACIA

5min
pages 117-120

4.1 – Introdução ao Quatro Capítulo

2min
pages 121-122

3.7 – A Liberdade e as Significações Difusas

2min
pages 109-110

3.8 – A Liberdade e a Escravidão

10min
pages 111-116

3.6 – Liberdade e Independência

9min
pages 104-108

2.5 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 3 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DITADURA

5min
pages 91-93

3.2.3 – Guararapes

2min
page 98

3.3 – Liberdade e República

3min
pages 100-101

3.2.4 – Indígenas

1min
page 99

2.4.5 – Chico Rei

2min
pages 89-90

3.5 – Liberdade e Carnaval

1min
page 103

3.4 – Liberdade e Povo

1min
page 102

3.1 – Introdução ao Terceiro Capítulo

2min
pages 95-96

2.4.4 – Preto Velho

1min
page 88

2.4.3 – Palmares

7min
pages 84-87

2.4.2 – Castro Alves

2min
page 83

2.2 – A Liberdade e a Segunda Guerra Mundial

5min
pages 75-78

2.3.2 – José Bonifácio

1min
page 81

1.4 – Considerações Sobre Este Capítulo

5min
pages 69-71

1.3.12 – Os Primeiros Sambas-Enredos

11min
pages 63-68

1.3.11 – Samba-Enredo

4min
pages 61-62

2.1 – Introdução ao Segundo Capítulo

3min
pages 73-74

1.3.10 – As Escolas De Samba

1min
page 60

1.3.7 – A Primeira Música do Carnaval

2min
pages 51-52

1.3.9 – O Samba

4min
pages 58-59

1.3.8 – Tia Ciata

7min
pages 53-57

1.3.5- A Praça Onze

4min
pages 44-46

1.3.6 – As Sociedades Carnavalescas

6min
pages 47-50

1.3.4 – Os Ranchos

3min
pages 42-43

1.2 – Origens e Significados do Carnaval

22min
pages 25-35

1.3.3 – Os Cordões

3min
pages 40-41

1.3.2 – O Zé Pereira

2min
pages 38-39

INTRODUÇÃO À TESE

12min
pages 14-21

1.1 – Introdução ao Primeiro Capítulo

3min
pages 23-24

ABSTRACT

1min
page 12

RESUMO

1min
page 11

RESUMEN

1min
page 13
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