A liberdade inscrita nos sambas enredos cariocas (1943 a 2013)

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história, com a consagração da escola. Relevante considerarmos o contexto da escrita desse samba-enredo da Salgueiro, 1960, o Quilombo de Palmares – o mesmo de 1957 Navio Negreiro, da mesma escola; de Tupy de Brás de Pina, Inconfidência Mineira e da Portela Vultos e efemérides do Brasil, ambos em 1958 – o período JK que durou de 1956 a 1961. O governo democrático de Juscelino Kubitschek de Oliveira, certamente, colaborou para que se impulsionassem variadas discussões sobre o nosso processo histórico, semelhantes àqueles quatro sambas-enredos relacionados à Independência e à Escravidão. Em Brasil, uma biografia, Lilia Schwarcz e Heloisa Starling analisam que JK, com seu Plano de Metas, “dava voz a uma nova e entusiástica condição de ser brasileiro que poderia contribuir para reparar as injustiças de uma herança histórica de miséria e desigualdades profundas, e serviria para abrir as portas da modernidade”. (SCHWARCZ e STARLING, 2015, p. 417)

2.4.4 – PRETO VELHO Em 1964, poucos dias antes do 31 de março, data em que os militares tomaram o poder, a Estação Primeira de Mangueira evocou o tema da religiosidade afro-brasileira, reverenciando uma das entidades da Umbanda, um espírito de um escravizado que se comunica com os vivos. O samba é escrito em consonância com as estruturas tradicionais das histórias infantis, que comumente se iniciam com um “Era uma vez...”. Então, “Era uma vez um preto velho/ que foi escravo”, mas que desejou retornar à senzala “para historiar seu passado”. (Anexo 9) Assim, a partir da recuperação da memória da escravidão, o compositor traz ao enredo a Bahia, a “velha Bahia”, enquanto lugar de chegada daquela entidade. Diante de dois elementos superiores da natureza, céu e lua, Preto Velho entoou uma canção. A música, cantada pela entidade na tessitura de outra música, daquele samba-enredo, foi recurso de evasão dos momentos de seu martírio. Verifiquemos que o sofrimento projetado dentro de uma canção, elaborada para ser alegre, não escapa do ritual carnavalesco, de instituir novo significado de Preto Velho no período da escravidão e, simultaneamente, reconfortar aqueles corações que poderiam se sentir oprimidos, por diversos fatores, no contexto de produção e difusão dos anos 60. Afinal, a escrita do autor

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ANEXOS – SAMBAS-ENREDOS

3hr
pages 201-278

4.13 – Considerações sobre este capítulo

11min
pages 170-176

CONSIDERAÇÕES FINAIS

6min
pages 177-181

REFERÊNCIAS

3min
pages 182-184

4.12.4 – África

1min
page 158

4.12.5 – A Escravidão

18min
pages 159-169

4.12.3 – Palmares

1min
page 157

4.12.2 – Zumbi e Outros Referentes Negros

4min
pages 155-156

4.11 – A Liberdade e as Significações Difusas

7min
pages 149-152

4.10 – A Liberdade, o Carnaval e Outras Artes

9min
pages 144-148

4.8 – Liberdade, Mitologia e Religiosidade

4min
pages 139-141

4.9 – A Liberdade e Outras Representações

3min
pages 142-143

4.6 – A Liberdade e os Países

3min
pages 134-135

4.7 – A Liberdade e o Povo

6min
pages 136-138

4.5 – A Liberdade, as Mulheres e os Direitos Feministas

4min
pages 131-133

4.4 – A Liberdade e os Indígenas

3min
pages 129-130

4.2 – A Liberdade de Expressão

3min
pages 123-125

4.3 – A Liberdade e a Independência

6min
pages 126-128

3.9 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 4 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DEMOCRACIA

5min
pages 117-120

4.1 – Introdução ao Quatro Capítulo

2min
pages 121-122

3.7 – A Liberdade e as Significações Difusas

2min
pages 109-110

3.8 – A Liberdade e a Escravidão

10min
pages 111-116

3.6 – Liberdade e Independência

9min
pages 104-108

2.5 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 3 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DITADURA

5min
pages 91-93

3.2.3 – Guararapes

2min
page 98

3.3 – Liberdade e República

3min
pages 100-101

3.2.4 – Indígenas

1min
page 99

2.4.5 – Chico Rei

2min
pages 89-90

3.5 – Liberdade e Carnaval

1min
page 103

3.4 – Liberdade e Povo

1min
page 102

3.1 – Introdução ao Terceiro Capítulo

2min
pages 95-96

2.4.4 – Preto Velho

1min
page 88

2.4.3 – Palmares

7min
pages 84-87

2.4.2 – Castro Alves

2min
page 83

2.2 – A Liberdade e a Segunda Guerra Mundial

5min
pages 75-78

2.3.2 – José Bonifácio

1min
page 81

1.4 – Considerações Sobre Este Capítulo

5min
pages 69-71

1.3.12 – Os Primeiros Sambas-Enredos

11min
pages 63-68

1.3.11 – Samba-Enredo

4min
pages 61-62

2.1 – Introdução ao Segundo Capítulo

3min
pages 73-74

1.3.10 – As Escolas De Samba

1min
page 60

1.3.7 – A Primeira Música do Carnaval

2min
pages 51-52

1.3.9 – O Samba

4min
pages 58-59

1.3.8 – Tia Ciata

7min
pages 53-57

1.3.5- A Praça Onze

4min
pages 44-46

1.3.6 – As Sociedades Carnavalescas

6min
pages 47-50

1.3.4 – Os Ranchos

3min
pages 42-43

1.2 – Origens e Significados do Carnaval

22min
pages 25-35

1.3.3 – Os Cordões

3min
pages 40-41

1.3.2 – O Zé Pereira

2min
pages 38-39

INTRODUÇÃO À TESE

12min
pages 14-21

1.1 – Introdução ao Primeiro Capítulo

3min
pages 23-24

ABSTRACT

1min
page 12

RESUMO

1min
page 11

RESUMEN

1min
page 13
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