3.1 – INTRODUÇÃO AO TERCEIRO CAPÍTULO Se o ciclo de 1943 a 1964 foi especial, em virtude da consolidação dos desfiles das Escolas de Samba e da atenção exigida para um decreto que visava “disciplinar” a escrita das canções, esse período de 1965 a 1985 destaca-se não somente pela abrangência maior de nossa pesquisa – no anterior coletamos 10 sambas-enredos que empregaram a palavra liberdade e nesse, 27 –, mas por se tratar de um contexto extremamente desfavorável para a expressão do pensamento. Afinal, o controle político, exercido pelos militares, era bem mais extenso e profundo que o anterior, do ciclo abrangido pela Era Vargas e pela Democracia Populista. Constatemos que Lilia Schwarcz e Heloísa Starling em Brasil, uma biografia, muito oportunamente, esclarecem-nos sobre os efeitos iniciais desse episódio histórico: A posse do general Castelo Branco era o prelúdio de uma completa mudança no sistema político, moldada através da colaboração ativa entre militares e setores civis interessados em implantar um projeto de modernização impulsionado pela industrialização e pelo crescimento econômico, e sustentado por um formato abertamente ditatorial. A interferência na estrutura do Estado foi profunda. Exigiu a configuração de um arcabouço jurídico, a implantação de um modelo de desenvolvimento econômico, a montagem de um aparato de informação e repressão política, e a utilização da censura como ferramenta de desmobilização e supressão do dissenso. (SCHWARCZ e STARLING, 2015, p. 448-449)
As pesquisadoras também advertem que os militares assumiram o governo de forma inconstitucional e conferiram a eles próprios poderes de exceção. Dessa maneira, foi necessário separar esse período histórico do anterior (1943 a 1964) e do posterior (1986 a 2013) por sua peculiaridade. Ademais, será muito relevante observar as formas com que a palavra liberdade adquiriu significados em momentos de censura e nos de livre expressão, levando em conta os seus referentes, quando foi possível encontrá-los, na escrita das composições. Enquanto, no ciclo passado, debruçamo-nos sobre três agrupamentos, a Segunda Guerra Mundial (20%), a Independência do Brasil (30%) e a Escravidão Negra (50%), nesse ciclo, analisamos dez, sendo Estácio de Sá, Semana de Arte Moderna, Batalha dos Guararapes, Indígenas (2,7% cada); Povo, República (5, 14%), Carnaval (8,11%), Independência do Brasil (16,22%), Significações Difusas (18,92%) e Escravidão Negra (35,14%). Classificamos como Significações Difusas aquelas elaborações com a palavra liberdade em que esse vocábulo não tivera, precisamente, um referente definido. Talvez 94