LiteraLivre Vl. 4 - nº 24 – Nov./Dez. de 2020
Maira Bastos dos Santos São Paulo/SP
Para sempre em minha vida Nasci em uma família maravilhosa, cercada de pais amorosos e irmãs companheiras. Minha vida parecia uma historinha de TV; eu tinha uma família grande, cheia de tios e tias para me mimar e me encher de carinho. Eu amava todos eles e certamente era muito amada, mas havia um tio especial. Meu tio Fernando... eu amava suas piadas e gracinhas, seu modo de nos fazer sorrir, as histórias que contava sobre o meu pai e todas as nossas conversas mesmo sobre as coisas mais banais. Estar com ele era diversão na certa, sempre alegre e animado, sempre tentando agradar. Lembro-me de quando ele se casou... Nessa época eu já era maior e as lembranças são mais nítidas. Lembrome de quando os visitávamos, das conversas na cozinha, do seu modo de demonstrar seu amor e seu carinho através das pequenas coisas, sua preocupação com meu pai e sua mania de irritá-lo ao contar fatos do passado e fofocas dos bastidores, sua implicância por eu não ter coragem de dirigir... Nessas visitas sempre ríamos muito e a imagem que ficou em minha memória é do seu sorriso. Mas “no meio do caminho tinha uma pedra”, um câncer que primeiro atacou o pulmão. Ele foi um guerreiro, aguentou quimioterapias, cirurgia, perdeu parte de um pulmão, mas superou. Deu a volta por cima. Mas a
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pedra era insistente, e ela voltou, em outro lugar, tão voraz quanto a anterior e tão devastadora. Mais uma vez ele brigou para viver, suportou todo o tratamento, idas e vindas ao hospital e melhorou. Se recuperou, ficou bem. Parecia que tudo voltaria ao normal, que a maldita pedra havia ido embora de vez, mas ela voltou, dessa vez mais forte e poderosa ela atacou uma área frágil, o pulmão já danificado e o pulmão bom. O câncer não estava para brincadeira, ele tinha um objetivo claro: tirar meu tio de mim. E ele conseguiu... depois de muitas quimioterapias, radioterapias e tudo que a medicina podia fazer, a doença venceu. Era janeiro de 2001, eu estava de folga sábado, domingo, segunda e terça… fato raro na empresa em que eu trabalhava. Na sexta-feira recebemos uma ligação avisando que o hospital havia liberado a visita porque já não havia nada que pudesse ser feito. Ouvir isso é como um soco no estômago, um tapa na cara; mas eu tinha esperança, ele tinha superado tantas recaídas, tinha lutado sempre contra a doença, eu não podia crer que ele estava desistindo, que ele deixaria o câncer vencer. Fui visitá-lo no sábado a tarde, esperava que os médicos estivessem errados, que fosse só um