LiteraLivre Vl. 4 - nº 24 – Nov./Dez. de 2020
Maria Moura dos Santos e Marcos Andrade Alves dos Santos Canaan/Trairi/CE
A sabedoria de um pote de barro Tenho um pote de barro em minha
ferrugem que saem da bomba de
cozinha de alvenaria. Esse pote vive
água.
comigo há mais de 30 anos. Comprei ele
aprendi com minha mãe em minha
assim que me mudei para esse terreno
infância de barro nos anos de 1940.
que vivo na Lavagem e desde esse
Na cozinha da mamãe também havia
período compartilhamos as ilusões da
um pote de barro tão velho quanto o
água.
uma
meu. Esse seu pote tinha sido dado
precisão maravilhosa e adoça minha
pela minha avó assim que minha mãe
memória
se
Ele
esfria toda
a
água
vez
que
com bebo
seu
Esse
casou.
foi
As
segredo
duas
eram
tão
parecidas.
vivi em minha juventude pelo meio do
saberes
mundo como caminhante que espalhava
com suas avós, entregues muitas
segredos do passado com os pés. Em
vezes pelos Encantados ao longo de
cada arrancho que me acheguei também
suas jornadas por essa terra.
enchia
minha
moringa
e
refrescava
minha imaginação.
muito
me
que
conteúdo. Me recordo das coisas que
me esperava um pote de barro, nele
Elas
um
antigos
transmitiram aprendidos
O meu pote me reconecta com esses saberes, com as andanças de minha avó dentro da noite iluminada
Jamais coloquei um balde de água
por
um
tição
de
lenha,
com
as
dentro de meu pote que não fosse coado
panelas de cebola da minha mãe,
por um pano. Amarro um paninho de
com as estradas que eu trilhei, com o
prato bem lavado na boca do pote e
voo dos Encantados pelos astros. A
ergo
para
água do meu pote de barro adoça
escorre
todas as coisas que se ajuntam no
o
balde
despejar
a
devagar
pelo
até
água.
a O
pano,
abertura líquido
deixando
na
passado
superfície branca um misto de raízes e
renascer
108
e
reclamam no
meios
presente.
para Quem