LiteraLivre Vl. 4 - nº 24 – Nov./Dez. de 2020
Maria Pia Monda Belo Horizonte/MG
Presa e livre Três paredes de aço em direção às quais ela estende suas mãos trêmulas; os ombros estão encostados em um espelho, no qual, nem querendo, ela poderia espelhar-se, porque está tudo escuro. Já se passaram dois minutos. Quanto tempo levará para alguém detectar a anomalia e corrigir o dano? Imóvel, sozinha. Não há saída e está muito quente. O elevador se fecha em torno de seu corpo e é como se ela estivesse detida em uma caixa, igual a um presente não solicitado e que ninguém espera. É como se ela tivesse ficado presa em uma caverna moderna, onde, no entanto, nem um raio de luz consegue entrar e nenhum som alivia o ouvido. Os pensamentos palpitam e pulam de um lado para o outro, se separando e se recompondo e gerando novos pensamentos, sem parar. Quanto tempo levará para ficar sem oxigênio? Ela não sabe, mas para não correr o perigo de sufocar, prende a respiração de vez em quando. Está acostumada a preservar. Está acostumada a renunciar. Sabe que não adianta entrar em pânico, que, dessa forma, só pioraria as coisas. Então fica assim, calma, imóvel. A primeira reação, diante do barulho, da parada repentina, da escuridão e da solidão, foi de terror. Um medo ancestral que, de repente, foi substituído por um alívio inesperado. Por isso, ainda não pressionou- e não pressiona- o botão de alarme. Não quer.
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