LiteraLivre Vl. 4 - nº 24 – Nov./Dez. de 2020
Patricia Hradec Guarulhos/SP
O Natal Ela disse que sua infância fora difícil, principalmente depois da doença da mãe e do sumiço do pai. Mas o Natal era uma época majestosa e conseguia recordar como ninguém cada detalhe daquele dia, mesmo que tivesse sido há mais de 63 anos, quando tinha apenas 8 anos. Suas primas vinham para a ceia e ela, toda vaidosa, pedia sempre o melhor vestido para que sua mãe costurasse, queria fazer bonito frente as primas. O pai ainda morava em sua casa e prometia todos os anos levar as crianças para comprar sapatos. Esse era o ritual: a mãe fazia a roupa e o pai dava os sapatos. Mas naquele ano, ela ganhou mais do que roupas e sapatos, ganhou um anel de rubi, lindo, delicado, que a seguiria por toda a vida. Dessa vez, ela pode ostentar mais do que sapatos e roupas. Ela conseguia se lembrar dos cheiros da casa, pernil assado com batatas e bacalhau ao vinho, odores deliciosos que traziam toda a vizinhança até o quintal. Todos ajudavam como podiam, uns ajudavam com dinheiro, outros com
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comidas, e outros com as bebidas. Caixas e mais caixas de coca-cola em garrafinhas, aquilo sim era o líquido dos deuses! Mas existia também os perfumes do campo, quando todas as crianças iam até os terrenos baldios buscarem flores para enfeitar as mesas, era uma época feliz, existia campos com flores silvestres, pássaros nativos e bichos diversos. A vida constituía uma grande festa, com as ansiedades da preparação, a felicidade da festa durante e a tristeza de esperar pela próxima, depois de tudo concluído. Com muita criatividade, a festa conseguia ser superada a cada ano, tanto na decoração quanto no número de convidados, toda a vizinhança comparecia com sua melhor roupa, sempre asseados e perfumados para aquela ocasião especial. Claro que sempre tinha a tia que exagerava na bebida e naquele ano, tia Helena teve coma alcóolico, precisaram chamar às pressas o médico da vizinhança. Isso atrapalhou não só o andamento da