LiteraLivre Vl. 4 - nº 24 – Nov./Dez. de 2020
Paulo Luís Ferreira São Bernardo do Campo/SP
Duas Rosas de Plástico “O real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia..." (Guimarães Rosa) Nonada. Não nego nem renego. Se justiça foi feita? Nem dos homens, nem do Diabo, menos ainda do Divino. Assim eu ouvi porque nada foi escrito. O que eu conto é o que ouvi. Quer ouvir também? Então escuta: O caso se deu, então, num dia de quase sossego. Quando seu Osvaldo chegou do trabalho e encontrou a casa vazia, silenciosa; na sala alguns brinquedos espalhados pelo chão. Gerusa não havia chegado ainda. Antônio e Mariazinha também não, mas seu Osvaldo já se habituara à falta deles. Contudo, o estranhamento estava por conta da sua chegada ao sentir falta de Clarinha, sua filhinha de oito anos, que tinha o costume de ir abraçá-lo logo ao portão, o qual estava
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aberto. Ainda bem que a criação das poucas galinhas, umas cabras e um casal de coelhos não se deram conta da portinhola escancarada. Deu mais uma olhada na desarrumação da sala: sobre a cadeira, a flauta doce, a partitura de Jesus Alegria dos Homens. A Clarinha devia estar tomando aula com o Juliano. Deduziu. Nesses pensamentos, resolveu voltar lá fora para desanuviar o juízo. Sentou-se no batente da porta da casa. Uma pequena cabritinha aproximou-se dele, que ele delicadamente lhe acariciou a cabeça. E aquietou-se recostado na parede. Puxou do bolso um cortador de