LiteraLivre Vl. 4 - nº 24 – Nov./Dez. de 2020
Roberto Schima Salto/SP
De Volta para Casa Quando eu era pequeno, nas férias do meio de ano, costumava descer a serra e ir para a praia com a família. Era meio que tradição na época. Creio que eram uns tios que tinham um apartamento de veraneio por lá, mas não tenho certeza. Apesar de várias décadas, recordo-me do mar, das ondas, da areia, do céu, da alegria e até de um potinho de sorvete, porém, não me lembro nada do apartamento e sequer de qual parente ele pertencia. O tempo e a memória cuidam de filtrar o que, de fato, tem importância, eu presumo. Sentia-me mais em casa no litoral do que no subúrbio da capital. Talvez, em sendo neto de japoneses, fosse a voz do sangue por descender de um povo insular. A alegria de todo aquele espaço era o que importava. Poder pisar na areia fina e macia, às vezes quente demais, conforme o horário. Explorar as pequenas criaturinhas que viviam na rebentação ou aquelas que o rebuliço das ondas trazia de vez em quando. Adorava apanhar e colecionar conchas independentemente de seu estado, pois cada qual tinha a sua importância. A multidão de banhistas incomodava,
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entretanto, não se podia culpá-los e, tampouco, ter tudo na vida, não é mesmo? Uma das coisas mais memoráveis que me contaram e eu jamais esqueci foi que, se eu aproximasse uma concha junto ao ouvido, poderia escutar o som do mar vir de lá de dentro. Ah, claro, quem me disse isso ficou para trás, muito além da lembrança. Mas, ter em mãos algo assim, que trouxesse o oceano dentro dele, estivesse onde estivesse, era mágico demais para ser ignorado e, muito menos, esquecido. Era mais uma das inúmeras charadas que o mundo tinha a oferecer a uma criança. E, para mim, foi simplesmente demais. E eu agarrei aquilo com ambas as mãos, tanto a charada quanto a concha que me fora oferecida. Sim, e lá estava ele, lá dentro... Tão perto e tão longe... O mar! Nem sempre os enigmas eram tão bem-vindos, como naquelas histórias de fantasmas que os mais velhos cismavam de contar vez ou outra. Sempre trazia um arrepio nos braços ou na nunca. Era amedrontador! Se bem que era o tipo