LiteraLivre Vl. 4 - nº 24 – Nov./Dez. de 2020
Valéria Vanda Xavier Campina Grande/PB
Fatalidade Era fevereiro, mais ou menos duas horas da tarde. O sol a pino brilhava no céu e o calor era insuportável. Precisando respirar um pouco, o porteiro do prédio desceu de sua guarita e ficou olhando a rua que se estendia muito longa como um tapete fervilhando ao sol. Neste momento, ele reparara em duas mocinhas que caminhavam a passos lentos e assustadas. Seus trajes eram simples e a maneira como andavam, olhando para os lados e para cima, admirando os arranha-céus, denunciavam que não eram meninas acostumadas à cidade grande. O porteiro tinha razão. Fazia pouco tempo que Ana e Julia moravam naquela cidade. Haviam chegado do interior no começo do ano. O porteiro não sabia, mas naquela tarde, ela foram incumbidas pela mãe de procurar escola para si e para todos os outros irmãos. Família grande, dona Olívia não tinha tempo para este tipo de atividade. Como elas já eram mocinhas, a mãe as incumbiu desta tarefa. O calor continuava intenso. Elas já haviam andado por todo o bairro e não haviam encontrado nenhuma escola até aquele momento. Do seu posto de observação, o porteiro percebia que elas se sentiam inseguras pois caminhavam lentas e
166
apreensivas como se tudo aquilo que viam fosse realmente novo para elas. Estavam naquele ponto quando perceberam um enorme pátio cheio de árvores que naquele dia quente e abafado nem balançavam suas enormes folhagens. Viram alguns brinquedos como escorrego, carrossel, balanços de madeira e outras coisas mais que caracterizam uma escola o que as alegrou enormemente, pois já estavam bastante cansadas. Imediatamente os seus rostos antes apreensivos tornaram-se mais animados. Finalmente, parecia que alcançariam seu objetivo. O homem do prédio, de seu observatório, percebeu que elas tentaram abrir o portão já bastante velho e um pouco enferrujado. Não conseguiram seu intento. Bateram palmas, chamaram, gritaram, mas não foram ouvidas, uma vez que a enorme casa que para elas seria uma escola, ficava bem ao fundo do pátio. Tentaram abrir o portão outra vez. Não conseguiram. Após algum esforço, na terceira tentativa, as correntes enferrujadas cederam sob suas mãos e elas finalmente conseguiram entrar.