LiteraLivre Vl. 4 - nº 24 – Nov./Dez. de 2020
Valquiria Imperiano Genebra,Suíça
O brilho da Ilusão Cadê a natureza? Massacrada pelos arranha céus. Que pena! Destruída por construções malfeitas, sem alamedas, sem coqueiros que balançam ao vento, sem árvores frutíferas nas ruas fornecendo frutas para as crianças comerem enquanto brincavam de esconde-esconde. Uma natureza respeitada pelas construções, dos tempos em as casas eram desgradeadas, erguidas em ruas tranquilas, onde a família podia sentar-se no jardim e jogar conversa fora, onde crianças podiam brincar de pega, de pular corda e de circo. A natureza permitia a liberdade, era selvagem, mas não nos amedrontávamos ao passar numa rua deserta e as crianças ousavam ir à escola a pé para “comer” o dinheiro do ônibus sem causar preocupação aos pais. Uma natureza bruta, com praias selvagens que só podiam ser alcançadas a pé porque o carro atolava na areia. As cidades eram tão escuras que, à noite, podíamos ver as estrelas e a lua cheia banhava a nossa pele com a cor prata. Tudo mudou, hoje João Pessoa tem um monte de prédios que enclausuram gente, onde as estrelas foram apagadas pelas luzes que o povo aprecia e acha normal. Esqueceram que essa mesma natureza nos dava liberdade, e como era bom essa liberdade! Apreciar prédios e chamar isso de crescimento, isso é um engodo alimentado pelos fazedores do mecanismo econômico e o resultado são prédios que isolam gente; são casas que aprisionam pessoas; são ruas e mais ruas iluminadas pela eletricidade e nas quais não podemos nem passear para não ser assaltado. Sob o brilho falso da falsidade do brilho artificial as pessoas deixam-se iludir, como crianças são iludidas por um pirulito de um malintencionado, o pirulito acaba e resta apenas um palito sem açúcar. Homens são facilmente iludidos por tudo que brilha, em tudo e por tudo. Posso até discursar mais sobre o brilho da ilusão, mas paro por aqui, sem apagar as luzes da esperança, mas com uma pequena frase: apague a luz e não se deixe iludir pelo falso brilho, procure enxergar no escuro, essa verdade será muito mais verdadeira. A pureza não tem o brilho de uma lâmpada, mas o brilho de uma estrela, por enquanto ela está afogada no artifício, mas uma estrela é mais poderosa e, com certeza, ela vai desafogar e sobrepor-se às luzes fabricadas pelo homem.
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