LiteraLivre Vl. 4 - nº 24 – Nov./Dez. de 2020
Willian Fontana Rio de Janeiro/RJ
Sapiofobia Ao acordar ligo a televisão e percebo nos noticiários mais problemas criados pela inteligência humana. Pego uma panela e percebo que um pote de plástico está entalado dentro dela. Sem conseguir tirar e saber o que faço a deixo e volto as minhas atenções a televisão onde as notícias mostram hackers maliciosos que criaram um transtorno num site de compras, dizia. Noutra reportagem falava como a genialidade é cruel quando um homem armou uma série de arapucas para pegar sua mulher que estava o traindo escondido. O noticiário então enfatizava que muitos sociopatas, inclusive serial killers, eram muito inteligentes. Segundo consta na notícia era que o ser humano nasceu para a poligamia e que o terrível e horroroso ardil do homem por ciúmes acarretou a morte da mulher inocente. O ciúme associado a inteligência é uma tragédia! As pessoas inteligentes eram como demônios! No ano passado fora alegado que um jovem hacker invadiu os servidores de uma instalação militar quase provocando um incidente nuclear com uma bomba de fusão atômica. A solução prevista para a grande questão da inteligência 'sem rédeas' era domestica-la mantendo-a num limite tolerável pois segundo estudos indicava que pessoas inteligentes eram as mais problemáticas e por vezes instáveis e assim imprevisíveis ao tentar criar conceitos que saíssem da segurança de suas rotinas e do cotidiano de trabalho, casa e lazer.
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"Tudo que a humanidade precisa a civilização já possui", dizia o anúncio, os problemas servem ao progresso e tentar prognósticos que exacerbem o além rotina é um risco a humanidade, afinal as grandes revoluções humanas mataram horrores e o único revolucionário que não matou ninguém acabou morto, Jesus. Para que então revolucionar? O iluminismo, a reforma protestante e industrial, quanta tragédia o ser humano em sua ideia de sempre procurar arrebatar novos níveis de compreensão e liberdade. Fora com essa mentalidade que fui para o trabalho para mais um dia do mesmo, trabalho, hora do sexo com alguma desconhecida (ou desconhecido), casa, dormir, comer e no dia seguinte a mesma coisa, novamente. Novamente. Porém, não contava com um detalhe. Ao passar pela porta de saída de meu prédio onde moro topei com uma obra que sem perceber dei de cara com uma tábua a qual lasquei a cabeça. Aturdido pelo impacto fiquei tonto e minha visão se escureceu. O peão de obra me acudiu temendo algo mais grave, mas não parecia. Me recompus e segui em frente colocando a mão na nunca onde o implante 'domesticador de pensamentos' estava quando notei que parte dele quebrou. Fiquei preocupado de ser tomado por uma intempérie de pensamentos