LiteraLivre Vl. 4 - nº 24 – Nov./Dez. de 2020
Caroline Cristina Pinto Souza Botucatu/SP
Infinidade Deserta Gélido vácuo. Um persistente invólucro em uma dimensão sombria, demarcada por átomos ocultos. Imersa em uma perspectiva ofuscada de vivacidade e de lembranças outrora refulgentes. Uma opaca ótica preenchia um universo esvaziado, aniquilado de sensibilidade. Subtraído de benevolência e de ávidas convicções, as quais residiam nas penadas almas de um pretérito longínquo. Absorvido e deletado por gerações de astros implodidos - o fim do sistema planetário. Assim, os naturais satélites se sucumbiram a um finado espectro, arrastando o conjunto de fulgor que externavam. Liquidaram-se, inclusive, as fulgurantes constelações - marcadoras simbólicas, registravam as memórias de diversos povos. Desprovidas destas, o desnorteamento se abrangia imutavelmente, visto que forneciam um roteiro de orientações a todo aventureiro que almejava demarcar as suas pegadas. Um profundo mutismo sustentava a vacuidade de mecânicos pulmões, abastecidos por resquícios d'uma época remota, a da Humanidade. Nanômetros cibernéticos rastejavam sobre a pulsação cardíaca de Khyra Allen – uma cientista que se conservou no corpo de androide com o propósito de resgatar as imateriais reminiscências da sociedade, visto que descartara a possibilidade de outros sobreviventes, desde que se viu a sós num mundo pós-apocalíptico.
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Equipada com um aparato infravermelho, enxergava em meio ao denso negrume, distintos destroços que serviriam a reabastecê-la com combustível. Os auxílios robóticos a apoiavam na caça, impulsionando o seu alcance, camuflando-se na vastidão silenciosa. Cerrou os olhos artificiais e flashbacks vieram à tona na forma de turbulentos algoritmos: Gritos ecoavam num volume ensurdecedor, suplícios incendiavam na garganta de uma população desamparada e temerosa com a iminência de uma balbúrdia assoladora agasalhada pela ganância, discriminação e frialdade dos Líderes dos Eixos - os “Faixa Preta”. Compulsivos por uma mórbida hegemonia no espaço sideral. Selecionavam perfis padrão para a formação de uma linhagem genuína. Num projeto de extermínio daqueles que consideravam como insignificantes para a progressão de uma geração legítima e desenvolvida. Khyra cedera seu laboratório de estudos genéticos para a facção criminosa por conta das constantes ameaças à sua vida. Durante os experimentos com genes pré-estabelecidos e testes que limitavam o emparelhamento cromossômico debilitariam a variabilidade de características de uma primorosa população, a doutora se arriscou em reconfigurar a máquina que coletava e