LiteraLivre Vl. 4 - nº 24 – Nov./Dez. de 2020
Diego Binotto
O eterno retorno do mesmo Sabe, hoje me sinto particularmente admirado por estar vivo Eu ando, respiro, falo, faço coisas ou não as faço Independentemente de minha vontade Ao menos daquilo que usualmente (e erroneamente) Se concebe como vontade Algo de ideal, de abstrato e egóico Artificial, e posterior ao verdadeiro querer Estar admirado com a vida compreende outras formas de interpretar o mundo Quando a própria realidade deixa de ser aquilo que espero dela E passa a ser o que ela realmente é Há um poeta multifacetado Que se julga irmão das pedras Agora, sentado e rodeado por flores amarelas E pelo vai e vem de pessoas que não vão além de onde querem ir Percebo o grau de parentesco que há entre esse poeta e uma pedra no seu jardim Laço sanguíneo por sinal Que anima cada molécula do cosmo Eis que se apresenta a vida E por ela eu muito me admiro Pois a vida é, independentemente da minha vontade Não sou eu que defino conscientemente e egoisticamente o que é a vida Ou mesmo quem eu sou Pois a vida a mim não se detém! Ela flui, me arrasta consigo Ela acontece, e me faz acontecer Não existo por mim mesmo E sim passo a existir quando estou imbuído de vida Dela partilho, assim como uma fera Um oceano, ou mesmo uma pedra Até mesmo o transeunte que me pede as horas Ou fala tolices sobre o clima O fato é que a vida operou nesse momento
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