José Brites-Neto
LENDAS SEM ESCOLA Uirapuru cantou na mata ardente, Parece querer anunciar que está mais quente. Manati bubuiou para respirar, Conversa miúda com o boto cor de rosa, Tempo bom quando era possível tal prosa, Em que não havia homem a escutar. Pirarucu não salta mais nos remansos de agora, Que saudade da lança cabocla de outrora, Hoje tem rede no igapó a toda hora. Cadê a pintada a esturrar noite afora, Será que estou surdo ou ela foi-se embora? Mapinguari, curupira são lendas sem escola, Videogame, internet são ledices de agora. Cobra grande ficou encruada na memória, O que será deste povo sem as suas tantas histórias? Lamento triste ressecado por uma jequitiranaboia. Nem guariba, nem cuatá murmuram mais neste lugar, O jacaré saltou de banda e levou o matamatá. 102