José Brites-Neto
CANTO DO UIRAPURU Canta ó pássaro da esperança, Que o teu estribilho possa fazer ressonância, Nestes corações mutilados por tanta ganância, Renova o porvir vivo e loquaz desta real jactância. Canta ó pássaro da melodiosa paz, Quando ouvimos teu canto nossa alma se compraz, Nos sentimos mais perto de Deus e jamais, Renderemos nossos votos ao teu vil edaz. Canta ó pássaro da eternidade, Teu desejo será sempre a nossa vontade, Como um povo de silvícola nascedouro, Cuja biodiversidade é o nosso maior tesouro. Canta ó pássaro de triste lembrança, Como o marca-passo de uma sonora condolência, Teu aviso sibilante que nas matas condensa, Um alvará de liberdade que tua carne nunca intenta. Canta ó pássaro de incansável fôlego, Como um mártir diapasão de consonantes desafios, És um atalaia que suplanta o medíocre trôpego, Que das nossas florestas saqueou até seus próprios rios. 106