Do que insistimos falar
A Bienal Sesc de Dança chega a sua oitava edição com o desafio de desenhar um contexto a partir das obras selecionadas e fazer com que elas, juntas, produzam sentido. A escolha desses trabalhos pretende representar a produção recente em dança, seja do Brasil ou dos países da América do Sul sem, no entanto, esquecer da importância de peças consagradas pelo tempo. A presença de obras artísticas que discursam sobre si mesmas chama a atenção e sugere um contexto emergente de fala autorreferencial. São exemplos disso O Homem Vermelho, de Marcelo Braga; O Confete da Índia, de André Masseno; A Projetista, de Dudude; Hot 100, de Cristian Duarte; e Sobre Expectativas e Promessas; de Alejandro Ahmed. Assim, esse contexto induz a uma espécie de curadoria performativa, pois a seleção dos espetáculos faz de seu conjunto um discurso, uma fala afirmativa sobre a dança e sobre o que ela insiste em dizer. Muito embora a performatividade já tenha se tornado um clichê teórico, pensar numa curadoria que possa dar conta de apresentar um discurso não pretende ser uma novidade, mas um ponto de inflexão do exercício curatorial. Performativa é também a forma pela qual outras obras aqui presentes falam de seus modos de produção, e seus títulos assim o indicam: Exhibition, de Cláudia Müller; De Repente Fica Tudo Preto de Gente, de Marcelo Evelin; Aventura entre Pássaros, de João Saldanha; Baderna, de Luis Ferron; e Enquanto Estamos Aqui, de Márcia Rubin. São modos de produzir lugares, poesia e diálogos.
Big Bang Boom, de Michelle Moura, reforça o entrelaçamento da dança com as artes visuais, ou sua visualidade. Já os trabalhos de Federica Folco e Javiera Peón revelam pensamentos em dança de outros países da América do Sul. A moldura curatorial desta Bienal se refaz ao propor trabalhos internacionalmente consagrados, como a remontagem de uma das obras mais importantes da companhia Ultima Vez, dirigida por Wim Vandekeybus, A Sagração da Primavera, celebrada em versão de Xavier Le Roy. Os espetáculos para crianças fazem parte de uma preocupação revisitada de que, para elas, não basta o colorido, é preciso apresentar e reviver com elas o modo de ver dança, como propõem Pequena Coleção de Todas as Coisas, da Cia. Dani Lima; Álbum das Figurinhas, da Cia. Balangandança; Poemas Cinéticos, do grupo Lagartixa na Janela; e Têtes à Têtes, de Maria Clara Villa Lobos. A Bienal Sesc de Dança se afirma, em voz viva e presente, no circuito de festivais em território nacional. Seu público fala e participa de um cenário fértil de espetáculos vindos de diversas regiões do país e de outras partes do mundo, o que complexifica sua vocação inicial: o fortalecimento da criação artística e da ocupação do espaço público. Dialogue. Ocupe. Aproprie-se. Equipe Curatorial Bienal Sesc de Dança 2013