História da Filosofia V3 Giovanni Reale

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Segunda parte - A

reuoIui~o iientifica

- 11. $\ formaG&o de novo tip0 de sabev, que requev a uni&o

de ciSncia e tkcnica fi

revoIuC&o c i e n t i f i c a

c r i a o cientista

0 resultado do processo cultural que passou a ser denominado "revoluqio cientifica" foi uma nova imagem do mundo que, entre outras coisas, prop& problemas religiosos e antropologicos n i o indiferentes. Ao mesmo tempo, representou a proposta de nova imagem da ciincia: aut6noma, publica, controlavel e progressiva. Mas a revoluqio cientifica foi, precisamente, um processo: um processo que, para ser compreendido, deve ser dissecado em todos os seus comDonentes. inclusive a tradiqiio hermCtica, a alquimia, a astrologia ou a magia, posteriormente abandonadas pela ciincia moderna, mas que, bem ou mal, influiram sobre sua ginese ou, pel0 menos, sobre seu desenvolvimento inicial. E preciso, contudo, ir mais alCm, j i que outra caracteristica fundamental da revolucio cientifica t a formaciio de um saber -a ciincia. precisamente - que, ao contririo do saber medieval, reune teoria e pratica, ciincia e te'cnica, dando assim origem a um novo tip0 de "douto", bem diferente do filosofo medieval, do humanista, do mago, do astrologo, ou tambtm do artesio ou do artista da Renascenca. Esse tip0 de douto gerado pela revoluqio cientifica, precisamente, n i o 6 mais o mago ou o astrologo possuidor de um saber privado ou de iniciados, nem o professor universitario comentador e interprete dos textos do passado, e sim o cientista fautor de nova forma de saber, publico, controliivel e progressivo, isto C, de uma forma de saber que, para ser validado, necessita do continuo controle da praxis, da experiincia. A revolu@o cientifica cria o

=nova

cientista experimental moderno, cuja experiincia e' o experimento, tornado sempre mais rigoroso por novos instrumentos de medida, cada vez mais precisos. E o novo

douto freqiientemente opera fora (se n i o at6 mesmo contra) das velhas instituiq6es do saber, como as universidades. Antes do period0 de que estamos tratando, as artes liberais (o trabalho intelectual) eram distintas das artes mechicas. Estas eram "baixas" e "vis"; implicando o trabalho manual e o contato com a materia, identificavam-se com o trabalho servil. As artes meciinicas eram consideradas indignas de um homem livre. Mas, no processo da revoluqio cientifica, essa separaqio foi superada: a experiincia do novo cientista 6 o experimento - e o experimento exige uma strie de operaq6es e medidas. Assim, fundem-se numa so coisa o novo saber e a uniio entre teoria e pratica, que freqiientemente resulta na cooperaqio entre cientistas, por um lado, e tCcnicos e artesios superiores (engenheiros, artistas, hidraulicos, arquitetos etc.), por outro. Foi a pr6pria idtia do saber experimental, publicamente controlavel, que mudou o status das artes mechicas.

A

revoluG&o c i e n t i f i c a :

f u s ~d o a t&cv\icaCOM? o s a b e r

Sustentou-se que a ciincia moderna, isto 6, o saber de carater publico, cooperativo e progressivo teria nascido primeiro com os artesios superiores (navegantes, engenheiros de fortificaq6es, tCcnicos das oficinas de artilharia, agrimensores, arquitetos, artistas etc.) para depois influir na transformaqio das artes liberais. Contra esta tese se disse que a ciincia n i o foi feita pelos artesiios e pelos engenheiros, mas justamente pelos cientistas, por Calileu, Kepler, Descartes etc. Esti t a tese do historiador da ciincia A. Koyrt, o qua1 sustentou que a nova balistica n i o foi inventada por operarios e artilheiros, mas contra eles, e que Calileu n i o aprendeu sua profissio das pessoas que trabalhavam nos


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