Segunda parte - $\
IX.
revoIuCzo cientificcr
iwmgem gaIiIeana
cig~cia nos diz
coma vai o c&uN
ea
f&
"como s r vai ao
cku"
Na explicitaqiio dos pressupostos, na delimitaqiio de sua autonomia, na identificaqiio das normas do metodo, em tudo isso a cihcia moderna e a citncia de Galileu. Entretanto, qua1 era exatamente a imagem que Galileu tinha da ciencia? Ou, melhor ainda, quais siio as caracteristicas da ciincia que se podem extrair tanto das pesquisas efetivas de Galileu quanto das reflex6es filosoficas e metodologicas sobre a cizncia feitas pel0 proprio Galileu? A interrogagiio e premente. E, depois de tudo o que temos dito at6 aqui, estamos agora em condiqdes de expor toda uma sCrie de traqos distintivos capazes de nos reconstruir a "imagem galileana" da cihcia. Antes de mais nada, a cihcia de Galileu niio C mais um saber a s e r v i ~ oda fe'; n i o depende da fC; tem um objetivo diferente do da f i ; se alicerqa e se fundamenta em razdes diversas das da ft. A Escritura contim a mensagem da salvaqiio, niio sendo sua a fun$20 de determinar "a constituig50 dos cCus e das estrelas". As proposigdes de fide nos dizem "como se vai a o cCu"; as proposiqdes cientificas, obtidas atravCs de "sensatas experihcias" e "demonstraqdes necessarias", atestam "como vai o cCu". Em suma, com base em suas diferentes finalidades (salva@o para a f6; conhecimento para a cihcia) e com base nas modalidades diversas de alicergamento e fundamentaqiio (na fe, a autoridade da Escritura e a resposta do homem a mensagem revelada; na cicncia, as sensatas experiincias e as necessarias proposiq6es da fC. E "parece-me que, nas disputas naturais, ela (a Escritura) deveria ser reservada para o ultimo lugar".
da ci2ncia
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como a fC em Aristoteles e o apego cego as suas palavras - impedem sua realizagiio. Diz Salviati no Dialogo sobre os dois maximos sisternas do mundo: "Havera algo mais vergonhoso do que, nas discussdes publicas, quando se trata de conclusdes demonstraveis, ver alguim aparecer de travts com um texto, muito amiude escrito com proposito inteiramente diferente, e com ele fechar a boca do adversario? [.. .] Por isso, senhor Simplicio, venha com razdes e demonstragdes, suas ou de Aristoteles, e n5o com textos e cruas autoridades, porque nossos discursos devem ser em torno do mundo sensivel e niio sobre um mundo de papel".
Portanto, a ciikcia C aut6noma em relag20 A fC, mas tambCm C algo bem diferente daquele saber dogmatico representado pels tradiqio aristotklica. Isso, porCm, niio significa para Galileu que a tradigiio C danosa enquanto tradig5o. Ela C danosa quando se erige em dogma, dogma incontrolAve1 que pretende ser intocavel. "Nem por isso digo que n5o se deve ouvir Aristoteles; ao contrhrio, louvo que seja visto e diligentemente estudado. Censuro apenas que alguCm se entregue a ele de mod0 tal que subscreva cegamente toda palavra sua e, sem buscar outra raziio, a tenha, por 'decreto, inviolavel, o que C um abuso que arrasta atras pe si outra desordem extrema, isto 6, que ninguCm mais se aplica a procurar entender a forqa de suas demonstragdes." Como foi o caso daquele aristotClico que (sustentando, com base nos textos de Aristoteles, que os nervos partem do coragiio), diante de uma dissecagiio anat6mica que desmentia essa teoria, afirmou: "Vos me fizestes ver esta coisa de tal forma aberta e sensata que, se o texto de Aristoteles niio a contrariasse, pois abertamente diz que os nervos nascem do coraqiio, por forqa seria precisp reconheci-la como verdadeira." E contra o dogmatismo e o "puro ipse Sendo aut6noma em relagiio a fe, a ciEncia deve ser muito mais aut6noma ainda em dixit" que Galileu se choca, contra a "crua relaqiio a todos os vinculos humanos que - autoridade", mas niio contra as razoes que