História da Filosofia V3 Giovanni Reale

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Terceira parte - B a c o n c Drscartrs

VII. A l m a

("res cogitansr')

e corpo ("res extensa")

Entre o mundo espiritual, a res cogitans, e o mundo mateNo hornern rial, a res extensa, n8o ha grandes intermediiirios: trata-se de as duas subst&xias, duas vertentes claramente distintas e irredutiveis uma outra. a/ma e C O ~ ~ O ,Ora, no homem, diferentemente de todos os serest as duas subsestso juntas tancias est80 juntas. Com efeito, a alma C! pensamento, n8o vida,

e sua separa~liodo corpo n%oprovoca a morte; a alma tem propriamente sede em urna pequena glsndula, chamada pineal, situada no centro doxtirebro, onde se reunem ramificados todos os tecidos das arterias que veiculam o sangue para o ctirebro. -+§ 1

0contato entre "res cogitansN

Ao contrario de todos os outros seres, no homem encontram-se juntas duas substsncias claramente distintas entre si: a res cogitans e a res extensa. Ele C urna espCcie de ponto de encontro entre dois mundos ou, em termos tradicionais, entre alma e corpo. A heterogeneidade da res cogitans em relaqio a res extensa significa antes de mais nada que a alma n i o deve ser concebida em relacio com a vida. como se houvesse varios tipos de vida, da vegetativa h sensitiva e dai a racional. A alma C Densamento e n i o vida. E sua separaqio do corpo niio provoca a morte, que C determinada por causas fisiologicas. A alma C urna realidade inextensa, a o passo que o corpo C extenso. Trata-se de duas realidades que nada t&mem comum. E, no entanto, a experiincia nos atesta urna interferhcia constante entre essas duas vertentes, como o comprova o fato de que nossos atos voluntaries movem o corpo e as sensaqdes, provenientes do mundo externo, se refletem sobre a alma, modificando-a. Escreve Descartes: " N i o basta que ela [a alma] seja inserida no corpo como um piloto em.seu navio, senio, talvez, para mover seus membros, mas e necessario que ela seja conjugada e unida mais estreitamente com ele, para, ademais, ex-

perimentar sentimentos e apetites semelhantes aos nossos, compondo assim um verdadeiro homem." Mas, por qua1 raziio e de que mod0 a alma move o corpo e age sobre ele? Foi para enfrentar essas dificuldades que Descartes escreveu o Tratado d o hom e m , no qua1 tenta urna explicaqio dos processos fisicos e orgsnicos, em urna espCcie de ousada antecipaqio da fisiologia moderna. Ele imagina que Deus tenha formado urna estatua de terra semelhante a nosso corpo, com os mesmos orgios e as mesmas funqdes. E urna espkcie de modelo ou de hipotese, com que tenta a explicaqio de nossa realidade biologica, com especial atenqiio para a circulaqiio do sangue, para a respiraqio e para o movimento dos espiritos animais. Sem abandonar a hipotese, ele explica o calor do sangue por urna espkcie de fogo sem luz que, penetrando nas cavidades do coraqiio, contribui para conserva-lo inflado e elistico. Do coraqio, o sangue passa para os pulmdes, onde a respiraqiio, introduzindo o ar, o refresca. 0 s vapores do sangue da cavidade direita do coraqio alcanqam os pulmdes atravis da veia arterial, e caem lentamente na cavidade esquerda, provocando o movimento do coraqio, do qua1 dependem todos os outros movimentos do org a n i s m ~ Afluindo . a o cCrebro, o sangue n i o apenas nutre a substsncia cerebral, mas tambCm produz "certo vento, muito sutil, ou antes urna chama muito viva e muito pura, a o que se d4 o nome de 'espiritos ani-


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VII. Alma ( "res cogitans" ) e corpo ("res extensa"

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pages 320-339

VI. 0 mundo t uma maquina

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pages 317-319

V. A existincia e o papel de Deus

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II. A experiincia da derrocada da cultura da tpoca

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VI. A induqiio por eliminaqiio e o "experimentum crucis"

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Zoroastro e Orfeu

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