Cemitério dos Aflitos: contos de vidas
Na Freguesia
do
Ó
Os crus dissabores que eu sofro são tantos, São tantos os prantos, que vivo a chorar, É tanta a agonia, tão lenta e sentida, Que rouba-me a vida, sem nunca acabar. Maria Firmina dos Reis
D
ona Gertrudes Maria da Silva descendia do bandeirante Manuel Preto, e disso tinha muito orgulho. Era proprietária de uma boa chácara denominada “América” na distante Freguesia do Ó, terras do além Tietê. Era benemérita da igreja de Nossa Senhora da Expectação do Ó (construída em 1796), santa de devoção de seu mais famoso antepassado. Para dar conta do trabalho agrícola da sua propriedade, d. Gertrudes possuía 25 escravizados. Fazia questão que todos os cativos se unissem em matrimônio, “pois o concubinato é um pecado mortal!”, acreditava a senhora. Estimulava e escolhia os pares. Francisco era um crioulo nascido e criado na “América”, portanto, “cria da casa”. Ao completar 18 anos, d. Gertrudes entendeu que era o momento de uni-lo à uma negra adquirida recentemente, Joaquina Maria da Luz, africana da Guiné (vinda do porto de Cacheu, pertencente à atual Guiné-Bissau).
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