Thais Matarazzo
Dois
inocentes
Canta, poeta, a liberdade, - canta. Que fora o mundo sem fanal tão grato... Anjo baixado da celeste altura, Que espanca as trevas deste mundo ingrato. Oh! sim, poeta, liberdade, e glória Toma por timbre, e viverás na história. Maria Firmina dos Reis
C
ristina era uma das vinte crianças da preta Candoca, africana Mina, muito estimada por seu senhor: por aumentar o seu cartel de escravizados consideravelmente. A maior parte dos filhos eram resultados dos relacionamentos com o seu dono. Moravam em um amplo sobrado à Rua do Jogo de bola, travessa da Rua da Cruz Preta (atual R. Quintino Bocaiúva). Quando as crianças alcançavam a puberdade eram vendidas. Candoca não gostava nada daquela situação, mas tinha medo de perder as regalias que tinha naquela casa. Sofria muito a cada partida. Com os últimos filhos, o senhor prometeu que não os comercializaria. Mentiu! Cristina, a “ponta de rama”, foi vendida a um casal de forros, Manoel Rodrigues da Silveira e Francisca Maria da Conceição. Habitavam uma casinha nos baixos da Rua Tabatinguera, no fundo do quintal passava o rio Tamanduateí. 69