a cultura brasileira, do modo como fez nos Ciclos de Debates do Teatro Casa Grande. Não bastasse, o autor campinense era também empresário de teatro no Rio de Janeiro, onde chegou pela primeira vez para participar de um encontro sobre cultura popular e educação na véspera da tomada do poder pelos militares. Esse fato fortuito foi, talvez, decisivo na carreira profissional do então jovem homem de teatro e radialista, que já fazia um programa de sucesso na Rádio Tabajara da Paraíba, Rodízio. Surpreendido pelas mudanças na política brasileira, foi ficando no Rio e dessa maneira tornando permanente aquilo que era apenas transitório. Juntou-se ao grupo remanescente do antigo Centro Popular de Cultura, o CPC,e daí, ao lado de Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha, do poeta maranhense Ferreira Gullar, de João das Neves, de Armando Costa e de tantos outros, fundou o grupo Opinião, que fez a sua estreia em dezembro de 1964 com o show do mesmo nome. E já esse primeiro trabalho proPaulo Vieira fissional no Rio de Janeiro foi marcante para a música brasileira por diversos motivos, entre eles por reunir artistas de caráter e formação tão diversas quanto Zé Kéti (a voz do morro), João do Vale (migrante maranhense) e Nara Leão (musa da Bossa Nova zona sul do Rio); além disso, o show Opinião inovou na técnica de apresentação de espetáculos musicais, atribuindo certa teatralidade aos cantores que agiam como atores, representando papéis, falando textos, afirmando uma opinião, coisa tão PAULO PONTES necessária para aquele momento, e ainda mais necessária UM HOMEM DE MUITAS PALAVRAS (e perigosa, politicamente falando) se tornaria nos anos subsequentes. Depois, em janeiro de 1965, Nara Leão foi por: Paulo Vieira substituída por uma moça desconhecida, trazida espeAtor, Dramaturgo com diversos textos escritos e pre- cialmente de Salvador, por sua vez já migrando de Santo miados, Diretor de Teatro, Doutor em Teatro pela Uni- Amaro da Purificação, na Bahia, e que faria retumbante versidade de São Paulo, escreveu e publicou o livro Paulo sucesso cantando Carcará, Maria Bethânia. Pontes: A arte das coisas sabidas, que foi a sua dissertaSomente em 1968 Paulo Pontes voltou à Paraíba. E aí ção de mestrado. escreveu, produziu e dirigiu o espetáculo Paraí-bê-a-bá, Durante a década de setenta, em plena vigência dos go- por sua vez enorme sucesso de público e de crítica, esvernos militares, Paulo Pontes foi um dos homens mais trelado pelos saudosos atores Ednaldo do Egypto e Lucy importantes do país, e isto não apenas em relação ao Camelo. Não demorou muito essa volta para casa, logo teatro, mas, sobretudo, em relação à cultura brasileira. logo ele partia outra vez retornando ao Rio, agora para O autor de Doutor Fausto da Silva era aquilo que hoje se trabalhar na equipe de criação da TV Tupi, para onde poderia chamar um multimídia: homem de televisão, de levou o amigo Vianinha, selando dessa forma uma parrádio, de educação (foi militante do movimento de edu- ceria que depois se estenderia à Rede Globo de Televisão, cação da Ceplar, inspirado nas ideias de Paulo Freire), e onde eles criariam no início da década de setenta um também um homem de teatro. Paulo Pontes era não ape- programa de enorme sucesso, A grande família. Mas foi nas um talento único, mas era também um líder nato, ca- na TV Tupi que Paulo Pontes conheceu a atriz Bibi Ferpaz de reunir a inteligência brasileira, de Chico Buarque reira, com quem se casou, quando ele produzia o prograa Antônio Calado, em torno de um projeto para discutir ma Bibi, série especial. 116
Revue Cultive - Genève