No meu país ainda podemos dar uma saidinha. Yo voy a bailar un tango con mi chico e beber uma copa de vino. A japonesa, discreta, com seu quimono de barras douradas, um coque elevado na nuca e um turbante enrolado na testa, segurava a filha, toda enroladinha, e nada dizia. Cerrava os olhinhos, já miúdos, para não ver tanta desgraça. Entra em cena a esbelta vienense, com sua blusa branca de mangas bufantes, saia verde florida e plissada. Também usa um avental de veludo vermelho e um adorno na cabeça que mais parecia uma coroa. Vou colocar um disco de Strauss. E saiu rodopiando no salão.
MINHAS BONECAS TRISTES Norma Brito Dias angustiantes. Efeitos nefastos da pandemia. Grupo de risco. Como numa verdadeira cruzada, luto contra meus inimigos: a tristeza e a solidão. Minhas armas são tarefas como cozinhar, arrumar, assistir a bons filmes, ler e escrever. Também ando pela casa para lá e para cá, e depois vou à cozinha. Para adoçar a solidão, faço bolos e doces.
No meio da conversa, outra boneca alemã, com suas loiras tranças dependuradas no ombro, insinuou-se. Trajando blusa branca, colete preto bordado, avental de renda branca e saia verde com flores. Não aguento mais! Eu vou é tomar uma fassbier, pois ninguém é de ferro! Pegou a caneca gigante e saiu como entrou.
A bonequinha grega se apresenta. De lenço vermelho florido, amarrado na cabeça e que dava voltas no pescoço até cobrir o nariz. Mais parecia turca. Se não fosse pelas cores... A saia era de um tecido brocado em listras azul e vermelho, com listras mais finas amarelas, cinta branca e blusa florida. Segurava um novelo de lã, pendurado no braço esquerdo e, nas mãos, a lã cruzada e esticada. Vou preparar o fio para tecer meus sonhos. Enquanto o iniNo quarto, olho para a imagem de Cristo acima da camigo não se aproxima de nós. beceira da cama, e pergunto ao Pai: o que faço hoje? Quase no mesmo instante, avisto minhas lindas bonecas Finalmente, como se também buscassem o refúgio do lar, estrangeiras, escondidinhas no nicho, parecendo assusvoltaram, uma a uma, ao seu cantinho no nicho. Tentem tadas, a pedir socorro. Como sou especialista na arte de dormir. Quem sabe vocês acordem num mundo real e bavarder, de jogar conversa fora, resolvi bater um papo mais humano? com elas. Meninas, não temam; tudo isso vai passar. É só ficarem paradinhas, e esperar o melhor. Então a francesinha falou: o que faço com meu lindo chapéu e as roupas de flâner au soleil aux Champs Elysées? Mon bijou, tira tuas vestes. Esses babados duplos, as rendas, o chapéu com a peninha, isso tudo incomoda. Prende teus cachos, põe um deshabillé, bebe um Bordeaux e tenta dormir. Logo em seguida, chegou o casal alemão com toda empáfia, e ele falou: não vou permitir que minha mulher dispa-se. Nem vou tirar minha casaca de botões dourados. Sou de uma estirpe que nada teme. Daí saiu todo prosa. A graciosa muñeca argentina, de boca carnuda, longos cílios, cabelos negros presos com flores, entrou em cena. 62
Revue Cultive - Genève