Revue Cultive n°15

Page 66

no século XIX, afirmou que os sujeitos se tornaram tipos particulares de atores no teatro da vida urbana, criando assim novas sociabilidades inventadas. E foram, justamente, as percepções do fenômeno urbano que modificaram o modus vivendi das populações, os costumes e os modos de se portar na cidade, a partir da indústria do entretenimento, da frequência aos cafés, teatros, cafés-concertos etc.

Luciana Nascimento: Bolsis-

ta de produtividade em pesquisa do CNPQ com o Projeto “Cartografias Urbanas: Centros, margens e avessos”. Professora de Cultura Literária da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Troféu Evita Perón - Embaixadora da Paz - Núcleo de Letras e Artes de Buenos Aires. Coordenadora Voluntária de Cursos de Capacitação em EaD para Moçambique. Prêmio 2020 Diamonds of Arts. http://lattes.cnpq.br/2584650402012722

Cidades: Fetiches e Vitrines por Luciana Nascimento O teórico Carl Schorske, em seu texto A ideia de cidade no pensamento europeu: de Voltaire a Spengler, compreende a cidade em três dimensões: “Creio que se podem discernir três avaliações amplas da cidade nos últimos duzentos anos: A cidade como virtude, a cidade como vício e a cidade para além do bem e do mal” (SCHORSKE, 2000, p. 53). Ou seja, a cidade gerada pela modernidade no século XIX, principalmente, concretizou o modo capitalista de produção com suas dissonâncias e conflitos. O desenho urbano passou a acompanhar o desenvolvimento do mercado e a consolidação do capitalismo, fazendo com que a cidade ganhasse formas e traçados que a distinguiam dos demais modos de aglomeração precedentes. Richard Sennet em seu texto O tumulto da vida pública 66

Revue Cultive - Genève

Todas essas experiências foram vividas tanto pelos cidadãos comuns como também pelos políticos, médicos e literatos. E foi o discurso dos literatos que certamente inaugurou, por assim dizer, “o chão das cidades”, (PECHMAN, 2007, p. 32), tendo expressado em larga medida os conflitos e as vivências dos sujeitos e a forma como estes se relacionaram dentro desse espaço. Assim, o discurso literário sobre o urbano criou uma outra cidade distinta daquela que se instaurou dentro do discurso da ordem do urbanismo. Toda a modernidade urbana teve sua matriz na “Paris, Capital do século XIX”, como bem afirmou o filósofo alemão Walter Benjamin, pois a cidade se projetou como berço das ideias iluministas e modernas, além de ter consolidado a imagem de uma “cidade mito”. De acordo com Roger Callois, o “mito de Paris” foi uma imagem criada por volta de 1840 como uma urbe concebida “com caráter tipicamente mítico relacionado às mudanças do mundo exterior, sobretudo, no cenário urbano” (CALLOIS, 1972, p.126). Ao serem representadas no discurso literário, as cidades assumem uma fantasmagoria peculiar e Paris tornou-se a matriz urbana para todo o mundo ocidental do século XIX, tendo sido representada na poesia de Charles Baudelaire, o grande poeta da modernidade. O poeta francês tematizou a cidade em seus versos em plena reforma urbana empreendida pelo então Prefeito Barão de Haussman. O poeta vê a Paris sob o impacto das mudanças, não sem uma dose de nostalgia: Fecundou-me de súbito a fértil memória, Quando eu cruzava a passo o novo Carrossel. Foi-se a velha Paris (de uma cidade a história Depressa muda mais que um coração infiel) Só na lembrança vejo esse campo de tendas, Capitéis e cornijas de esboço indeciso, A relva, os pedregulhos com musgo nas fendas, E a miuçalha a brilhar nos ladrilhos do piso.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook

Articles inside

MARIA NAZARÉ CAVALCANTI

0
pages 180-183

POSSE DOS MEMBROS CULTIVE GRUPO 1

7min
pages 161-163

POSSE DOS MEMBROS CULTIVE GRUPO 2

4min
pages 165-169

ARLINDA LAMEGO

2min
page 164

FEIRA DE SANTANA

5min
pages 158-160

ELUCIANA IRIS

4min
pages 156-157

NEUSA BERNADO COELHO

7min
pages 152-155

KAZUCO AKAMINE

1min
page 144

VALDIVIA VANIA SIQUEIRA BEAU CHAMP

6min
pages 148-149

RENATA CLARK-GRAY

2min
pages 150-151

DILERCY ARAGÃO ADLER

33min
pages 129-138

NEREIDE SANTA ROSA

5min
pages 141-143

VALERIA BORGES DA SILVEIRA

3min
pages 139-140

CLORES HOLANDA

6min
pages 127-128

PIETRO COSTA

1min
page 126

MATILDE CARONE SLAIBI CONTI

6min
pages 123-125

ANELY GUIMARÃES SANTOS

4min
pages 118-119

ANGELI ROSE

9min
pages 112-114

LUIZ CARLOS AMORIM

2min
page 115

PAULO VIEIRA

5min
pages 116-117

ROBERTO FRANKLIN

8min
pages 120-122

ELIEDER CORREA DA SILVA

1min
page 111

MEYRE APARECIDA PINTO BARBOSA

1min
page 110

IRISLENE MORATO CASTELO BRANCO

0
page 109

ELOAH WESTPHALEN NASCHENWENG

1min
page 108

EDENICE FRAGA

1min
page 107

MARIA JOSÉ NEGRÃO

4min
pages 104-105

CLÁUDIA LEOCÁDIO

5min
pages 102-103

JACQUELINE ASSUNÇÃO

1min
page 106

MANOEL OSDEMI DA SILVA

6min
pages 98-99

ALEXANDRE SANTOS

11min
pages 93-95

IVANILDE MORAIS DE GUSMÃO

5min
pages 96-97

BENJAMIN JOÃO

0
page 91

ANABELA B. GASPAR

1min
page 90

LINO LOURENÇO EUSTÁQUIO

1min
page 88

NEIDE VICENTE MALEVO

1min
page 86

HELENA N. ABRAHAMSSON

1min
page 84

ÁLVARO S. F. ANTONIO

1min
page 85

ROSÁRIO QUISSAÇA AGOSTINHO

1min
page 77

JOÃO MANUEL MUANZA ANDRÉ

1min
page 80

ALBERTINA GABRIEL

1min
page 83

SAMUEL ADILSON GOMES FERREIRA

1min
page 76

KIESSE NZAU

0
page 75

VERA LÚCIA DE OLIVEIRA

8min
pages 70-72

AUGUSTO SARVAM

4min
pages 68-69

LUCIANA NASCIMENTO

5min
pages 66-67

CHRIS HERRMANN

6min
pages 54-57

NORMA BRITO

4min
pages 62-63

PAULO BRETAS

10min
pages 58-61

LILIA SOUZA

8min
pages 36-39

VLADIMIR QUEIROZ

2min
pages 52-53

TEREZINHA MALAQUIAS

3min
pages 50-51

MARIA BELA DOS SANTOS

0
pages 48-49

RITA QUEIROZ

4min
pages 46-47

RAILDA MASSON

3min
pages 44-45

MABEL CAVALCANTI

3min
pages 42-43

ELISA AUGUSTA DE ANDRADE FARINA

5min
pages 40-41

MARIA JOSÉ NEGRÃO

3min
pages 33-35

RITA GUEDES

2min
pages 31-32

FABIANA MACHADO

3min
page 18

VALQUÍRIA IMPERIANO

9min
pages 22-25

CARLOS CARDOSO’

1min
pages 26-27

NAGÉSIA DINIZ BARBOSA

1min
pages 29-30

GRAÇA BRITO

1min
page 17

MARIA DA PAZ AZEVÊDO SILVA

2min
page 16

HÉLIA ALICE DOS SANTOS

3min
page 19

ADRIANA SUGINO

3min
pages 20-21
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.