Kiesse Nzau Angola
É
Não é poema
minha alma despida na neve Agasalhada pelo medo e rancor
Não é poema É meu doce coração dilacerado Pela angústia Vivendo o amargo da vida Não é poema Sou eu morrendo lentamente Enquanto, ouço vozes no escuro Sem ser socorrido Não é poema Sou eu me afogando nas lágrimas Enquanto queimo no inferno de gelo Não é poema É meu corpo queimado Até tornar cinza Cinza pisada, desrespeitada, Cinza que serve de tapete Para os que venceram Meu sangue, vinho do banquete Meu choro,som do trompete
Ouço gritos
Entre as paredes de pedra Rebocadas com meus absurdos Ouço gritos Dos corpos sem intestinos Terra molhada sem chuva Esquecido O clarão do sol pela manhã Ouço gritos Dos pobres corpos apodrecidos Ouço gritos Dos corpos vencidos Se mortos, mudos Sem palavras Foi-se a fala Ouço gritos, 2021 Kiesse Nzau
Não é poema Sou eu sem destino Nem inferno, nem paraíso Por onde o vento me levar Minha alma irá morar Não é poema, nunca foi Se algum dia for, serei eu Cinza, 2021 Revue Cultive - Genève
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