GABRIEL ALVES DE SOUZA - Corrente, PI Escritor, poeta, cronista, cordelista e contista DO LADO DE CÁ O lado poético da vida é se reencontrar em si e viver intensamente em equilíbrio entre Apolo e Dionísio todas as incertezas que o poeta piauiense Torquato Neto acalora em seu poema Cogito: “eu sou como eu sou vidente/ e vivo tranquilamente/ todas as horas do fim”. Somos pó em movimento trilhando com resistência, resiliência e ressignificação em uma flotilha deste “pálido ponto azul” que nos embriaga pelo prazer de experenciar em êxtase a sua natureza. Entre amores e viagens, poetizo cada ser incrível que conheço. As vezes são pessoas... elas são extraordinárias quando estão admirando a lua, lendo um livro ou fazendo um registro fotográfico contemplativo. Complemento com a música ao fundo vibrando nossas entranhas e intrinsecamente somos gratos pelo dom da vida. Nascemos como um sujeito inacabado e poucos tem autoconhecimento da sua existência, pois vivem na passividade da barbárie humana. Como “o sol é para todos”, acredito que devemos erradicar a ignorância e desfrutar o lado poético da vida. No abraço da minha mãe encontro amor, no seio da minha família encontro paz e segurança, na literatura encontro estilos e na comida o pleno sabor do gozo. Pela loucura descubro a essência do mundo e no vazio deleito na solitude perfeitamente imperfeita da alma. “E agora, José? ” O que vamos fazer em uma eternidade infeliz? Seremos filhos clandestinos e mortais desfrutando o déjà vu incompleto se Capitu traiu ou não Bentinho. Do lado de cá não tem peste negra, nazismo, Brasil 1964, guerra mundial, filhos pródigos, lutas de classes, bolha cibernética, heresias, ideologia de raça, poetas mortos, 666, suicídio, vírus, corrupção no poder, família caiada, casinha feliz, drogas, intolerância ao LGBTQIA+. E “pra não dizer que não falei das flores, o Mário Quintana nos presenteia com seu Poeminho do contra: Eles passarão.../ Eu passarinho”. É êita atrás de visse e em momentos caóticos como dizia o dramaturgo Ariano Suassuna: “Eu não troco meu ‘oxente’ pelo ‘ok’ de ninguém”. Sejamos ativistas pela arte que habita em nós, de enxergar o próximo e a si mesmo como seres humanos... apenas seres humanos. Assim como o mandacaru resistente, na “asa branca” meu repente, nesta crônica faço meu presente poético de um dia chuvoso no Nordeste. Do lado de cá os momentos se refugia no lado poético da vida e a brisa é boa, leve e calma.
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