CRISTIANO JERÔNIMO - Recife, PE Jornalista, escritor e poeta, A POESIA DO DIA A DIA ANTE A INSENSIBILIDADE São as pessoas. Não é o dinheiro. Não são status, nem são inteiros. Os dois lados da moeda são adversários e moram ao mesmo lado nas cidades. Pedaços de tudo, um pouco de cada e de um nada. Um olhar diferente, um tanto lúdico. Composição da raiz da semente germinada. Somos nós mesmos. Não é dinheiro, mas a cobrança no pé do ouvido, todo dia, o dia inteiro, afastando os desejos mais puros de Maria Glória, ou Glorinha, a sertaneja mais revolucionária e instigada do interior e da capital prómetrópole, meio província sul americana os estuários do Recife. Os pedaços que ela vem juntando há anos para preencher a sua alma lhe proporcionaram momentos de calma e também de profundos desesperos, desaguados e confessos às letras. Mas um mosaico de cacos de vidros poéticos que estava posto para ser montado nas paredes do quarto dela. Rainha de Castela, amante do Centauro, cavalgava em Espanha. Conviveu com o Minotauro. Não há nominação. Rainha de Alexandre, Deusa egípcia; guardava os segredos das múmias e a emoção de ouvir seus blues. Sertaneja, também era a Rainha do Alabama e até da Cordilheira, onde voava alto como uma condor. Descansava como se o chão fosse uma cama macia. Nero construiu piscinas com o fogo de Teseu. Ela quem acendeu o pavio. Glória tinha tudo o que queria, na sua família abastada. Mas ela só não sentia amor, só vazio e dor. Alternados com alegrias fugazes, nem sempre cotidianas. Pelos pátios da escola de freiras (um raro método pedagógico para a época), as meninas descobriam suas belezas. Aliadas dos Lápitas, da Menina de Vilhena que foi para Madagáscar. E conquistou o Egito, a Mesopotâmia, vindo da Macedônia, na compulsão dos seus domínios. Era também Maria da Glória Alexandrina. Queria ser amante de Alexandre sem que houvesse sexo e tivesse um cavalo disponível em forma de gente. Seus escritos lhe faziam pensar sempre, e muito. Glorinha lia histórias antigas por hobby. Do baú da mitologia, trazia astúcia e esperança. Também compaixão, respeito e nobreza. A inveja, o egoísmo e a ganância queimados. Resignação, otimismo e esperança. O medo, a fé, os segredos da Santa Sé. Animais evoluídos, homem e mulher. As chagas do orgulho que queimava; as do amor e os “bálsamos” que aliviavam. A falta de lógica da sociedade. A mentira, o disfarce e a verdade. A luta pela tranquilidade da cidade e um grito abafado popular. Glória nem sabia mais no que pensar. Em sua mente, o entrave da mágoa, da indolência e da escravidão que superava os muros e as senzalas era um punhal em seu peito. Entravam pelas casas e hospitais como furacão; formas de tentar atacá-la. O sonho, a utopia e o propósito. Ferramentas para alta performance. E, 35