ALBERTO ARECCHI - Pavia/ Itália Arquiteto NÓS QUE ESTIVEMOS EM NGAZOBIL Há um canto do paraíso terrestre chamado Ngazobil, na costa africana do Oceano Atlântico. Está localizado no Senegal, perto de Joal, nos locais de infância do poeta Senghor. Você sai de Dakar para aqueles poucos quilômetros de “rodovia” que conectam a cidade, localizada na ponta de uma península estreita, ao resto do país. Após cerca de trinta quilômetros, você chega à cidade de Rufisque. A estrada toca o antigo porto colonial, formado por blocos quadrados, agora quase abandonados. Você pode ver os restos dos cais de madeira do antigo porto, povoados apenas por bandos de gaivotas. Mais adiante, começa a grande madeira de baobá, uma maravilha da natureza. Dizem que os baobás identificam os antigos rastros de elefantes, que contribuem, com seus excrementos, para espalhar as sementes. Uma espécie de “simbiose entre gigantes”, do mundo animal e vegetal. Por toda a África Ocidental, onde os elefantes são agora conhecidos apenas na fotografia, mais seus caminhos antigos ainda são reconhecíveis porque marcados por uma trilha de baobás, plantas sagradas com um tronco oco, sepulcros de griots. O griot é o cantor da África negra, um homem de “casta”, que se lembra e celebra as glórias e tragédias; quando termina sua vida, ele é enterrado dentro da grande árvore sagrada. Em direção ao sul, a “Petite Côte” se desenvolve pontilhada de praias e aldeias. A partir daqui, durante séculos, os ataques dos europeus levaram manadas de escravos para costas distantes. A partir daqui, as pirogas dos pescadores continuam navegando, procurando a comida diária. As sessões de luta acontecem às margens, longas tardes são passadas no jogo da dama africana, enquanto os idosos conversam sob os velames das casas “à palabres”. Nas terras baixas ao longo do mar, durante a estação chuvosa, tem vastas lagoas cheias de manguezais, com raízes aéreas que parecem barras de gaiolas ou palafitas, mas também podem assumir a aparência de uma floresta assombrada. Em meio a paisagens sahelianas desoladas por décadas de seca, descobrimos o “paraíso” de Ngazobil. Nada de milagroso, senão a presença de um convento e uma cerca, que impediam as cabras de transformar este pedaço de terra em deserto, como toda a área circundante. Nestas praias, debaixo de um baobá, a tradição diz que (por volta do final do século XIX) o próprio São Pedro apareceu ao primeiro bispo do Senegal. A visão é lembrada por uma placa afixada no tronco do baobá. Aqui chegávamos - um pequeno grupo de amigos - nos feriados, para nos refrescar com os trabalhos semanais, em meio a uma natureza luxuriante, ao longo da praia batida por ondas longas e altas, com a areia fluindo em centenas de voltas, atravessada por correntes de espuma. Miríades de caranguejos apareciam na maré baixa. Parecia estar fora do tempo, cada encontro naquela praia era a descoberta de um milagre: as crianças da escola ou os seminaristas, a passagem de algum pescador ou agricultor dos arredores. Havia cabanas de galhos e casas de tijolos, meio escondidas pela vegetação densa, algumas agora 53