BRUNO AUGUSTO VALVERDE MARCONDES DE MOURA - São Paulo, SP TERRA MÃE BOLÍVIA O Lago Titicaca é o olho da Bolívia. O olho onde a Bolívia chora. Um olho de água onde dorme as ilhas da Lua e do Sol. O olho que olha a Bolívia dos Andes. O olho que olha a cobiça da oligarquia vende pátria e o abandono a própria sorte a que estão submetidos quéchuas, aimarás e guaranis. O olho que viu a oligarquia vende pátria subtrair o estanho em tenebrosas transações. O olho que viu a oligarquia querer vender o gás natural pelo Chile que tirou o mar da terra mãe. O olho que testemunhou os bloqueios das estradas de La Paz até a oligarquia vende pátria renunciar. O olho que viu, vê e verá a luta entre os defensores da Wiphala e a oligarquia vende pátria. O olho que viu florescer e frutificar La Paz, Cochabamba e Santa Cruz. O olho que verá o lítio ser o novo metal do diabo na Bolívia. O olho que viu, vê e verá a luta dos cocaleros para manter sua tradição de plantar a folha de coca. O olho que vê a perversidade dos latifundiários que plantam soja e cana de açúcar em Santa Cruz. O olho que vê o Beni pecuarista das enchentes ser tratado como gado pelos vende pátrias. O olho que vê a castanha de Pando ser um fator de proteção da Amazônia boliviana. O olho que vê a exploração dos minérios e da quinua em Oruro e Potosi. O olho que vê o grão frutificar em Cochabamba. O olho que vê o gás natural e a vitivinicultura em Tarija. O olho que vê a luta entre La Paz e Sucre para ser a capital do país. Olho que vê os afrobolivianos das yungas de Coroico. Olho que vê o boliviano ser tratado com saco de batatas e ser reduzindo a um grão de quinua e milho. Olho que vê a escravidão dos bolivianos nas confecções clandestinas no Brasil e na Argentina. Olho que vê o altiplano andino, as montanhas e a Amazônia boliviana. Aimarás e quéchuas navegam com sua canoa de totora no olho da Bolívia. Os Andes são os mares da Bolívia. Mar onde navegam o milho, a batata, a alpaca, a vicunha, o Lhama e o guanaco. Mar onde navegou o estanho. Mar onde navega o lítio. Mar onde navega o vinho tarijenho de altura. Mar onde navega a luta de quéchuas e aimarás. Mar onde navega o sol e a lua. Mar onde se finca a Wiphala. Mar do Tawantisuyu. Mar cantado pela quena, sicuri, bombo e flauta andina. O lago Poopó é um olho da Bolívia que secou. Um olho que ficou cego. O Salar de Uyuni é um olho de lítio. O olho que pode causar uma corrida armamentista entre a Bolívia e o Chile. O olho que pode levar a Bolívia ao mar. O Titicaca é o olho que testemunhou a ascensão e queda da oligarquia da prata, do estanho, do Movimento Nacional Revolucionário, militar e neoliberal. O olho que testemunhou o golpe fascista, cívico, militar, midiático e racista contra o primeiro presidente indígena da Bolívia. O olho que chorou lágrimas de prata e estanho. O olho que chorará lágrimas de lítio. O olho que chora o sangue de quéchuas e aimarás. Olho que continuará vendo a Bolívia. A Bolívia é uma dádiva dos Andes e do Titicaca.
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