CLAU MENDES - Tubarão, SC Escritor e poeta MINHA DOR Dou então o meu sangue, tomai do jeito que achar melhor, rasgai-me e deixai pingar sobre o chão, o que corre dentro mim, o que me faz andar, o que faz meu coração pulsar! Levai-me diante dos meus algozes em agonia da dor, do meu sangue a escorrer, do meu suor frio, dos meus passos a cambalear e dizei que me rasgou, que me dei sem reagir e que me rasgastes, que fizestes meu sangue espirrar e que não vistes uma lágrima dos meus olhos rolar. Peguem suas taças, oh algozes de minha alma! Sirvam-se do meu sangue quente que escorre pelo meu corpo sem parar, brindem pela dor da minha agonia da qual, diante de vós estou a passar, ergam suas taças e bebam do meu sangue, ergam suas vozes como ao som dos coiotes que venceram sua presa, festejam e bebam, o gosto da vitória em meu sangue. Dei o meu sangue, fui por vós rasgado, fui entre meus algozes levado, meu corpo até aqui rastejou, meu sangue no caminho pingou e, entre vós fiquei, para ser o troféu do vosso prazer. Suas taças com meu sangue ergueram e sobre a minha dor brindaram, pois tinham certeza que eu ia morrer, porém enquanto festejavam, eu me arrastei sangrando, quase sem movimentos, meu corpo a um buraco levei, pra minha sorte choveu e meu rastro apagou. Agora não mais alegres estão, o meu sangue em suas taças frio está, pois pararam de beber para me procurar, pois sabem que só me entreguei, só deixei o meu corpo rasgar, que só deixei o meu sangue escorrer, porque por um momento, eu mesmo não queria mais viver! Mas como o Sol, nasce em seu esplendor, assim a minha vontade de viver ressurgiu e mesmo quase morrendo em vossas mãos, escapei, porém, agora ferido estou, sozinho e com muita dor, se vou aguentar não sei, mas tenham certeza que eu ressurgirei e quando menos esperar, me verão e saberão que o sangue da minha dor e da minha agonia tomaram e brindaram, foi somente para entender que, por mais que meu sangue venha a derramar, a minha vontade de viver, ninguém, ninguém tirará!
78