ELIANE SANTANA - São Paulo, SP O CORAÇÃO DA CANETA Passeando pelo Insta dia desses participei de uma brincadeira daquelas de formar frases ou expressões com a data de aniversário, último número do telefone ou cor da roupa que se está usando e, para meu total contentamento, a minha frase foi: o coração da caneta. Achei mágico, porque tem muito de mim nesta frase; muito do que eu fui, do que eu sou e do que serei, apesar de sempre usar mais o lápis ou, atualmente, o computador para escrever. Por instantes, voltei ao tempo da infância onde tudo o que eu escrevia ficava escondido numa pasta velha, azul, cheia de adesivos que nem fui eu quem colocou. A pasta veio de uma doação e eu a peguei. Nunca soube quem era seu antigo dono, mas agradeci feliz quando a encontrei. Aquela era minha verdadeira companheira. Nunca tive bonecas – exceto a que ganhei como prêmio de um concurso de poesia idealizado pela professora de Português no sexto ano (7º série). E naquela época, o suprassumo do exercício de crescer era usar a caneta para escrever. Mostrar para todo mundo que já se conseguia escrever com caneta em letra de mão ou cursiva – como preferir – era incrível! Escrever sem errar, claro, até porque aquela borracha vermelha e azul que diziam que apagava caneta era expert em rasgar o caderno, isso sim! Que lembrança especial! Tirar do fundo do baú da memória a deliciosa sensação de observar cada traço de cada letra se formando de azul, de preto, de vermelho ou de verde, a minha preferida. Verde cor de mato, relva e poesia onde me deitava nas leituras inspiradas pela literatura brasileira. Tudo era único quando o texto ia surgindo devagar, de mansinho, em diferentes tons de um colorido perfeito aos meus olhos de criança que tremia na base – e até hoje treme – quando a professora lia em sala de aula. Mas, era uma sensação única, como se o mundo parasse e, ali eu entendia o valor de se estar apaixonado porque escrever é isso: apaixonar-se por si mesmo, em cada palavra que emana de si, seja no celular, no computador ou, aquele bom e velho amor à moda antiga, derramado em papel de carta cheirando a morango escorrendo beleza e luz da ponta do coração da caneta... Não importa de que forma seja; toda forma de amar é permitida, é bendita, é bonita e é bonita, especialmente se esse amor puder ser idealizado num conto, numa poesia, numa crônica para alegrar seu dia a dia, mas principalmente, para não deixar morrer os sentimentos que encontramos nas primeiras letras que fizeram parte de nossa história de tantas maneiras, algumas inclusive, já esquecidas, mas que vez por outra, nos brindam com sua doçura de amor perfeito, como aqueles finais felizes e eternos que alimentaram nossas esperanças e sonhos, de adulto ou de criança.
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