E&M_Edição 58_Março 2023 • Inteligência Artificial - Somos parte do futuro?

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ECONOMIA

COMO O AUMENTO DO PREÇO DOS TRANSPORTES E DAS TAXAS DE JURO VAI AFECTAR A RETOMA

CONTEÚDO LOCAL

“SEM A LEI DO CONTEÚDO LOCAL O PAÍS SAIRÁ A PERDER”, DEFENDEM ESPECIALISTAS EM OIL & GAS INOVAÇÕES DAQUI

DE QUE FORMA O MERCADO DE TRABALHO DEVE REAGIR À ASCENSÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL?

CEO TALKS

“VAMOS CONECTAR 4,5 MILHÕES DE PESSOAS EM TRÊS ANOS”, ANTÓNIO HOU, HUAWEI

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

SOMOS PARTE DO FUTURO?

O surgimento do ChatGPT recolocou a Inteligência

Artificial no topo da agenda global. Em Moçambique, o tema é ainda pouco falado, mas o debate em torno do potencial da IA já está lançado

MOÇAMBIQUE
Março • 2023 • Ano 06 • Nº 58 • 350MZN

6 OBSERVAÇÃO

África do Sul

A imagem de um país que enfrenta uma das piores crises energéticas de sempre, e que pode estender-se até 2025

12 OPINIÃO

BANCO BIG “Reservas Obrigatórias – O Combate à Liquidez Excessiva no Sistema Financeiro”, Wilson Tomás

14

MACRO

O previsível aumento do preço dos transportes de passageiros em Maputo e das taxas de reservas obrigatórias pelo Banco Central serão entrave à retoma económica

18

OPINIÃO

INSITE “Das Perdas e Desperdício Alimentar”, Leonor Assunção, administradora e consultora sénior

20

CONTEÚDO LOCAL

Pesquisadores da área do Oil & Gas reiteram: “sem a aprovação da lei do Conteúdo Local não haverá benefícios da exploração de gás natural a favor dos moçambicanos”

22

OPINIÃO

ABSA “Como a Robótica Está a Moldar o Nosso Futuro”, Jaikumar Sathish, director de Tecnologias de Informação

24

NAÇÃO

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

24 Em Moçambique Pesquisadores em tecnologias mostram a distância que separa o País do futuro e defendem foco na formação, regulamentação e pesquisas

32 Opinião EY “Um Teste Rápido à Eficácia da Inteligência Artificial”, Bruno Dias

34 No Mundo Estudo da EY revela que em dez anos a Inteligência Artificial vai aguçar a criatividade do Homem e transformar a sua forma de ver o mundo

38

65 ÓCIO

66 Escape Uma aventura pelas paisagens paradisíacas de Maya Bay, na Tailândia 68 Gourmet Ao sabor da ‘majestosa’ gastronomia do restaurante The Royal, na Matola 69 Adega Um gole (escrito) de canhú, a bebida tradicional de Marracuene? 70 Empreendedor Rui Machiza, um pioneiro da agricultura orgânica 73 Artes As janelas que retratam memórias de isolamento por covid-19 na obra do arquitecto e ilustrador Miguel César 74 Ao volante do novíssimo Activesphere da Audi

41 INOVAÇÕES DAQUI

42 IA e o Impacto no Emprego

Administradores da Contact explicam o que vai e deve mudar no mundo das profissões em Moçambique com a ascenção da Inteligência Artificial

46 UBI

Um aplicativo para manter os residentes da cidade de Maputo informados sobre tudo o que acontece, permitindo interactividade entre os usuários

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MERCADO & FINANÇAS

Economistas, representantes da Bolsa de Valores e do FMI apontam a educação e as alternativas de financiamento à economia entre os maiores desafios da actualidade

56

OPINIÃO

“As Redes de Negócio de Sucesso são 99,99% Baseadas no Capital de Confiança Individual”, João Gomes, Partner @ BlueBiz Consultoria

58

RENEGERAR

“Culturas Regenerativas – A Esperança não é Algo que se Tem, é Algo que se Faz”, Susana Cravo, Consultora & Fundadora da Kutsaca e da Plataforma Reflorestar.org

62

António Hou, director geral da gigante chinesa de tecnologias e telecomunicações, Huawei, promete investimentos que vão conectar 4,5 milhões de pessoas dentro de três anos

BAZARKETING

“A Boutique Inclina.”, Thiago Fonseca, sócio e director de criação da Agência GOLO, PCA Grupo LOCAL de Comunicação SGPS, Lda.

CEO TALKS

Inteligência Artificial.

O Futuro no Presente

“Olíderes africanos devem adoptar a tecnologia e usar a Quarta Revolução Industrial (4RI) para tirar o continente da pobreza e conduzi-lo a um futuro melhor”, apelou uma vez o cientista e especialista em inteligência artificial (IA) sul-africano, Tshilidzi Marwala, citado pela UNESCO, numa clara manifestação de preocupação pelo atraso que o continente apresenta em matérias de desenvolvimento tecnológico, em comparação com o resto do mundo.

E há uma razão de ser. A ONU, em reforço, veio confirmar, em 2022, a existência de três desafios da IA na África Subsaariana, nomeadamente a fraca rede de energia, a limitada infra-estrutura de Internet e as dificuldades no campo educativo. Ainda assim, há países na linha da frente quanto à adopção das ferramentas de IA.

A ONU fala da África do Sul, que lidera em larga margem, seguida do Quénia, Egipto e Nigéria. Na luta para não perder o barco da 4RI, as Maurícias tornaram-se no primeiro país africano a publicar uma estratégia nacional em matéria de IA, tendo também desenvolvido um atractivo ecossistema tecnológico e de investimento.

Moçambique não vem listado ao nível das startups especificamente ligadas à IA, mas o número de empresas que começam a pensar e a recorrer a ela não pára de crescer, sendo a banca, seguros e a análise de big data as áreas que assumem a dianteira. Entretanto, o mercado enfrenta desafios além dos

mencionados pela ONU. É este o pano de fundo da presente edição da E&M. Onde realmente estamos e para onde vamos?

Das vozes que a E&M ouviu para abordar o tema, o que ficou destacado é que precisamos de nos organizar, enquanto país, a todos os níveis: individualmente, como cidadãos, buscando conhecimentos sobre a evolução das tecnologias; como empresas e organizações, no sentido de acompanharmos a rápida difusão das novas ferramentas de IA, a exemplo do mais novo algoritmo de linguagem – o ChatGTP – e procurando formar equipas com consciência e visão futurista nestas matérias; como Governo, para alinharmos a legislação aos desafios da adopção de uma sociedade tecnológica; como academias e instituições de pesquisa, para ajustar a preparação do capital humano às exigências do novo paradigma.

Felizmente algumas alterações favoráveis já estão a ter lugar. Por exemplo, ao nível legal, poderá deixar de ser proibida a utilização de tecnologia em nuvem para processar dados de determinados sectores (entre os quais o financeiro), uma medida que pretende acelerar a transformação digital.

Além disso, a Universidade Pedagógica de Maputo está a dar os primeiros passos para formar quadros em matérias de IA, sendo que também promove iniciativas para impulsionar o conhecimento em robótica em alunos de nível secundário. São avanços importantes, mas insuficientes para a dimensão do desafio que está à nossa frente.

MARÇO 2023 • Nº 58

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso

JORNALISTAS Ana Mangana, Filomena Bande, Hermenegildo Langa, Nário Sixpene, Yana de Almeida

PAGINAÇÃO José Mundundo

FOTOGRAFIA Mariano Silva

REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@media4development.com

CONSELHO CONSULTIVO

Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO

E PUBLICIDADE Media4Development

Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

Minerva Print - Maputo - Moçambique

TIRAGEM 4 500 exemplares

EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL

EM MOÇAMBIQUE

Media4Development

NÚMERO DE REGISTO

01/GABINFO-DEPC/2018

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 4
E DITORIAL

África do Sul, 2023

Crise Energética Pode Estender-se Até 2025

A África do Sul está a enfrentar uma histórica falta de electricidade desde 2008, que nos últimos meses atingiu níveis sem precedentes, com apagões todos os dias. Por causa desta situação, em Janeiro, o banco central do país cortou a sua previsão de crescimento económico, de 2023, de 0,3% para 1,1%, prevendo que os apagões reduzam dois pontos percentuais do crescimento da produção.

O Presidente Cyril Ramaphosa tem prometido, desde que assumiu o cargo em Fevereiro de 2018, transformar a concessionária estatal de energia, a Eskom Holdings SOC Ltd., e colocar nova capacidade de geração on-line, mas muitos projectos foram adiados por alegada burocracia e indecisão do Governo.

Enquanto o ministro da Energia, Gwede Mantashe, afirmou que os problemas podem ser corrigidos dentro de seis a 12 meses, o presidente da Eskom, Mpho Makwana, alertou que os apagões persistirão até, pelo menos, 2025 porque a concessionária precisa de continuar a tirar as suas antigas usinas a carvão da linha para manutenção.

A crise energética levou Cyril Ramaphosa a declarar o estado de calamidade para permitir que o Governo acelere a sua resposta e adiantou que nomeará um ministro no seu gabinete para se concentrar em acções que impulsionem o aumento do fornecimento de energia no país.

OBSERVAÇÃO 6
FOTOGRAFIA AdobeStock
www.economiaemercado.co.mz | Março 2023

Apoio externo

Millennium Challenge Corporation anuncia 500 milhões de dólares para Moçambique

Os governos de Moçambique e dos EUA selaram, em Maputo, um conjunto de compromissos referentes aos objectivos do Compact II (CDF) do Millennium Challenge Corporation (MCC), cujo Acordo de Financiamento, de aproximadamente 500 milhões de dólares, deverá ser assinado ainda este ano.

Os compromissos assinados compreendem três áreas a serem cobertas pelo Compact II, nomeadamente a Promoção do Investimento na Agricultura Comercial, Conectividade e Transporte Rural e as Alterações Climáticas e Desenvolvimento Costeiro, marcando a consolidação do processo de concepção da iniciativa de desenvolvimento, que terá lugar em todo o território nacional, mas com um enfoque geográfico na província da Zambézia. O ministro da Economia e Finanças, Max Tonela, afirmou que “a assinatura deste Aide-Memoire (lembre-

Finanças

Fitch Ratings atribui notação de ‘CCC+’ a Moçambique por “sério risco de incumprimento”

nível, desencoraja os potenciais credores internacionais a confiarem os seus empréstimos ao País. Entre os factores que podem, individual ou colectivamente, levar a uma acção/graduação de classificação negativa, a Fitch destaca, no âmbito das finanças públicas, o aumento da probabilidade de um evento de incumprimento ou uma reestruturação do instrumento de mercado soberano.

No âmbito das finanças públicas, e igualmente entre os factores positivos que podem, individual ou colectivamente, levar a uma atribuição de rating positivo, a agência refere “um declínio substancial no rácio dívida pública/PIB, por exemplo, como resultado de uma redução sustentada do défice orçamental ou de decisões judiciais favoráveis às obrigações das empresas públicas moçambicanas em matéria de dívida”.

A Fitch Ratings atribuiu a notação de ‘CCC+’ à emissão de moeda estrangeira de longo prazo (Issuer Default Rating, IDR) de Moçambique.

Num comunicado, a empresa de notação referiu que a classificação dada ao País corresponde ao sétimo nível de “lixo”, ou seja, investimento considerado especulativo. Uma nota negativa, a este

A Fitch também refere, como factor positivo, que pode melhorar o rating de Moçambique em termos macroeconómicos uma “maior confiança nas perspectivas de crescimento a médio prazo, através da entrada em funcionamento atempada dos megaprojectos de GNL (Gás Natural Liquefeito) e, em termos estruturais, “uma forte melhoria na gestão das finanças públicas”.

te ou memorando) assinala inequivocamente o compromisso, tanto do Governo de Moçambique, como do Governo dos EUA, através do MCC, com o desenvolvimento de um Compact II para Moçambique que seja robusto e inovador.

Acreditamos que, num curto espaço de tempo, os projectos que constituirão o Compacto II serão concluídos pelas equipas técnicas, com as quais serão criadas as condições para que o Acordo de Financiamento possa ser iniciado o mais breve possível”.

Por sua vez, o vice-presidente do MCC, Mahmoud Bah, referiu que “o MCC orgulha-se de, mais uma vez, estabelecer uma parceria com Moçambique, com o objectivo de apoiar o crescimento económico inclusivo para os cidadãos deste País” e felicitou o ministro da Economia e Finanças por ter ocupado o lugar de líder para fazer a mudança acontecer.

Banca

O Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO) decidiu manter a taxa de juro de política monetária (taxa MIMO), em 17,25% e aumentar os coeficientes de Reservas Obrigatórias para os passivos em moeda nacional de 10,5% para 28% e em moeda estrangeira de 11,5% para 28,5%.

A medida “decorre da prevalência de elevados riscos e incertezas subjacentes às projecções de inflação”, não obstante “a manutenção das perspectivas de inflação na casa de um dígito, no médio prazo”, anunciou o Banco de Moçambique.

Já a decisão de aumentar os coeficientes de Reservas Obrigatórias para os passivos em moeda nacional de 10,5% para 28% e em moeda estrangeira de 11,5% para 28,5% tem o objectivo de “absorver liquidez excessiva no sistema bancário, com tendência de gerar uma pressão inflacionária”.

A Taxa do Mercado Interbancário de Moçambique (MIMO) é o mecanismo que influencia o preço do dinheiro no mercado e o nível das restantes taxas de juro. É um instrumento de política monetária usado pelo Banco de Moçambique para manter a inflação baixa e estável.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 8 RADAR
Banco de Moçambique anuncia medidas para conter a inflação

Economia Consultora Eaglestone melhora perspectivas da economia moçambicana, mas alerta para a persistência de riscos

A consultora Eaglestone informou que as perspectivas para a economia moçambicana em 2023 são favoráveis, mas notou a permanência de alguns riscos, incluindo a violência no norte do País e o ritmo de implementação de reformas.

Numa análise à economia moçambicana, os analistas escreveram que “o Governo está a concentrar-se na melhoria da actividade económica no País, juntamente com as reformas implementadas, para ajudar a aumentar as receitas públicas e as medidas para tentar conter as despesas para assegurar a sustentabilidade das finanças públicas”. Na análise, a Eaglestone escre-

ve ainda, em jeito de alerta: “veremos se as autoridades aproveitarão os melhores tempos para continuar a avançar com as reformas estruturais necessárias para promover um crescimento económico mais sustentado e melhorar a resistência do País a choques externos”.

O projecto de Orçamento do Estado (OE) para 2023 inclui um aumento de 21,5% das receitas públicas e um aumento das despesas do Estado de 4,8% em comparação com o que foi estabelecido no Orçamento do ano passado.

O OE para 2023 totaliza 472 mil milhões de meticais e prevê uma taxa de inflação de 11,5%.

Segundo a organização, depois de o crescimento no continente se ter fixado em 3,7% em 2022, os países africanos registarão uma ligeira aceleração do PIB nos próximos dois anos, e uma queda na inflação, que, no entanto, permanecerá nos dois dígitos em 2023 (14,4%) e ficará em 9,6% em 2024. As regiões africanas que registarão uma maior inflação no corrente ano são o Norte de África (16%), África Ocidental (15,1%) e África Austral (14,6%). Ainda com uma inflação na casa dos dois dígitos surge a África Oriental, com 11%, e, com a menor percentagem, a região da África Central, com 3,6% de inflação em 2023. Estas projecções integram o principal relatório económico da ONU, o World Economic Situation and Prospects Report 2023, que aponta ainda que o maior crescimento do PIB este ano será registado na África Oriental (5,1%), seguida pelo Norte de África (4,8%), África Ocidental (3,8%), África Central (3,4%) e, por fim, a África Austral (2,3%).

Analistas do Banco Mundial consideram que o porto da Beira, na província de Sofala, é o mais eficiente da África Austral e o sexto com maior rapidez no manuseamento de carga na África Subsaariana.

O índice avaliou um total de 370 portos de carga contentorizada ao redor do mundo e colocou o porto da Beira na posição 270. Na África Austral, a infra-estrutura é a mais eficiente, visto que está à frente de todos os portos da região, a exemplo do porto de Maputo, que aparece na posição 321, do porto de Durban na posição 364, Cape Town na posição 365 (estes dois na vizinha África do Sul) e o porto de Luanda, Angola, na posição 366.

Já na região da África Subsaariana, Beira é o sexto porto mais eficiente. Os três portos mais eficientes da região são o de Matadi, na República Democrática do Congo, na posição 170, seguido do porto de Berbera, na Somália, na posição 184, e o porto de Conacry, na República da Guiné, na posição 242.

O porto da Beira manuseia, actualmente, cerca de 300 mil contentores de carga por ano e projecta, a breve trecho, atingir 700 mil.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023
Panorama ONU prevê que PIB de África deverá crescer 4% em 2023 e 3,8% em 2024”
Comércio e logística Banco Mundial classifica porto da Beira como o mais eficiente da região Austral de África

NÚMEROS EM CONTA

A IA Generativa Explicada... Pela IA Generativa

Após anos de investigação, a inteligência artificial (IA) começa agora a atingir uma espécie de ponto de viragem, captando a imaginação de todos, desde estudantes que poupam tempo na redacção dos seus ensaios até aos líderes das maiores empresas tecnológicas do mundo. A excitação está a crescer a olhos vistos em torno das possibilidades que as ferramentas de IA desbloqueiam, mas do que são exactamente capazes estas ferramentas e como funcionam ainda não é amplamente compreendido.

Poderíamos escrever sobre este assunto em detalhe, mas dado o quão avançadas as ferramentas como o ChatGPT se tornaram, parece apenas correcto ver o que a IA generativa tem a dizer sobre si mesma.

A infografia acima - desde ilustrações e ícones até às descrições de texto - foi criada usando ferramentas generativas de IA, tais como o Midjourney. Tudo o que se segue neste artigo foi gerado utilizando o ChatGPT com base em sugestões específicas.

Assim, eis a IA generativa... explicada pela IA generativa. “A IA gerativa refere-se a uma categoria de algoritmos de inteligência artificial (IA) que geram novos resultados com base nos dados sobre os quais foram treinados.

Ao contrário dos sistemas de IA tradicionais que são concebidos para reconhecer padrões e fazer previsões, a IA generativa cria novos conteúdos sob a forma de imagens, texto, áudio e muito mais, utilizando um tipo de aprendizagem profunda chamada ‘redes adversas generativas’ (GAN) para criar novos conteúdos.”

Este robô — e todo o design usado na infografia, incluindo os ícones foram gerados utilizando software de IA como o MidJourney e o DALL-E. O texto foi gerado no ChatGPT.

A IA generativa é um tipo de inteligência artificial que utiliza o machine learning e algoritmos para criar todo o tipo de conteúdos originais, de textos a vídeos passando por imagens e audio.

A chamada rede neural é a base da AI e consiste na introdução de informação variada que pode ir de textos a artigos de media como vídeos e fotografias ou faixas de mp3.

O utilizador dá à IA a descrição do conteúdo que deseja...

... e a IA usa a sua rede neural para geral novos exemplos similares aos que apreendeu.

Criação de uma base de dados Inserir um comando Gerar conteúdo 1 2 3 10 www.economiaemercado.co.mz | Março 2023

Exemplos de IA Generativa

CHATGPT

IA de geração de texto

Comando

“Escreve uma letra poética sobre os dados irem tomar conta do mundo e inclui a palavra ‘ovo’”

MID JOURNEY

IA de criação de imagem

Comando

• um coelho a usar um chapéu de sol

• o Pai Natal de fato azul

• em aguarela com uma bicicleta vermelha perto de uma queda de água

CODEX

IA de escrita em código

Comando

“escreve um script para alterar a cor de fundo de um website no Python (linguagem de programação)”

“os dados vão tomar conta do mundo, é verdade está a crescer como um ovo, não é novidade está em todo o lado onde vamos, está a crescer devagar, Mas é o futuro, não há nada que não façamos”

Aplicações na vida real para esta plataforma

• comunicação, jornalismo, publishing, escrita criativa, assistência ao cliente.

Aplicações na vida real para esta plataforma

• publicidade, ilustrações, criação de imagem para empresas

Aqui está um exemplo de script que usa as bibliotecas “requests” e “beautifulsoup” em Python para mudar a cor de fundo de um website:

formulário de pedidos de importação bs4 importar BeautifulSoup

# enviar um pedido de GET para a resposta do website = request.get(“https:// yourwebsite.com”)

# analisar a sopa de conteúdo HTML = BeautifulSoup(response.content. 'htmlparser')

# localizar o elemento que deseja alterar a cor de fundo do elemento = soup. find('body')

# adicionar um novo atributo de estilo ao elemento ('style) = 'background-color: pink:'

# imprimir a impressão HTML modificada(soup.prettify0)

Aplicações na vida real

• web design, desenvolvimento de software, codificação e scripting e tecnologia

Output
11 www.economiaemercado.co.mz | Março 2023
Output Output

No passado dia 25 de Janeiro, o Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique reuniu pela primeira vez em 2023 e decidiu manter as taxas de referência inalteradas. Embora não tenha mexido na MIMO e restantes taxas como o mercado esperava, tomou uma medida arrojada e decidiu aumentar os coeficientes de Reservas Obrigatórias (RO) para passivos em moeda nacional de 10,5% para 28,0% e moeda estrangeira de 11,5% para 28,5%, justificando esta medida como forma de absorver a liquidez excessiva no sistema bancário e com isso controlar possíveis inflacionistas futuras.

Reservas Obrigatórias – O Combate à Liquidez Excessiva no Sistema Financeiro

correspondiam a cerca de três meses de cobertura de importações excluindo grandes projectos, que comparam com os cerca de USD 4 mil milhões que apresentavam em Agosto de 2021 (com oito meses de cobertura de importações). Uma continuação desta diminuição poderia criar alguma apreensão nos agentes económicos e levar a uma desvalorização do metical pela escassez de moeda estrangeira no País.

Esta alteração nas Reservas Obrigatórias tem um impacto directo negativo na margem financeira dos bancos e, consequentemente, nos resultados do fim do exercício económico de 2023. Em Janeiro (25/01), o montante aplicado em Reverse Repos (7 dias, 28 dias e 63 dias) era

o custo adicional das reservas obrigatórias no pricing das novas aplicações. No caso do câmbio, é expectável uma menor disponibilidade de divisas no Mercado Cambial Interbancário (MCI), o que pode gerar um potencial risco de desvalorização cambial do metical face aos seus pares. Este risco será, contudo, mitigado pela evolução das reservas líquidas de moeda estrangeira no País.

Por fim, esta é mais uma medida restritiva do Banco Central, que continua focado em trazer a inflação para níveis de um dígito, facto que já aconteceu no mês passado.

Um abrandamento do crescimento do crédito pesará no crescimento económico contribuindo assim para a redução mais acelerada da inflação. Com o crédito bancário mais caro, poderá observar-se um abrandamento do nível da procura agregada, com o consumo a reduzir, levando a que os preços dos produtos venham a baixar.

Fonte: Banco de Moçambique

As Reservas Obrigatórias são os montantes mínimos que as instituições financeiras devem manter de reserva junto do Banco de Moçambique, para salvaguardar um nível de liquidez adequado que acautele saídas inesperadas de liquidez e proteja os depósitos de clientes.

As RO são também uma importante ferramenta de política monetária utilizada pelo Banco Central para aumentar ou diminuir a oferta de liquidez no sector financeiro e influenciar o comportamento das taxas de juros.

A deterioração das Reservas Internacionais Líquidas (RIL) em USD nos últimos meses pode ser apontada como uma das razões que levaram o Banco Central a aumentar expressivamente as RO em moeda estrangeira.

Em Dezembro de 2022, as RIL situavam-se em USD 2,7 mil milhões, que

de MZN 117,3 mil milhões, e se assumirmos um total de depósitos em todos os bancos do País de MZN 620 mil milhões, é fácil perceber que esta subida de 17% das RO vai secar quase toda a liquidez existente em facilidades de curto prazo. É então expectável que se observe uma redução significativa nas aplicações de curto-prazo como forma de cobrir os novos requisitos de RO, reduzindo a liquidez disponível nos bancos comerciais para conceder novos empréstimos.

Esta medida do Banco Centrar motivará ainda uma subida da Prime Rate do Sistema Financeiro em função da actualização do factor de Prémio de Risco na fórmula de cálculo desta taxa, tornando ainda mais caros os empréstimos indexados, e poderá motivar uma queda das taxas de juro de depósitos a prazo, com os bancos comerciais a fazerem reflectir

A inflação homóloga atingiu o pico de 12,96% em Agosto de 2022, mas nos últimos meses tem-se assistido a uma contínua desaceleração, tendo a mesma se fixado em 9,78% em Janeiro de 2023. Estes números vêm demonstrar o sucesso nas decisões tomadas pelo Banco Central no combate à inflação, e se o processo de absorção de liquidez tiver o sucesso almejado poderá abrir espaço a uma alteração na política monetária restritiva que tem sido implementada nos últimos tempos, podendo mesmo verificar-se a primeira redução das taxas de referência ainda no corrente ano.

Existem, contudo, alguns eventos que podem alterar o rumo da história, e os recentes fenómenos climáticos adversos que têm assolado o País podem ser uma força em sentido contrário.

Um intensificar destes fenómenos pode agravar as perdas de produção agrícola e destruir infra-estruturas, como estradas, que levarão a disrupções na cadeia de abastecimento doméstico, comprometendo o crescimento económico e alterando a tendência recente de inflação.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 12 OPINIÃO

O Fardo do Preço dos Transportes e o Peso das Taxas de Juro

Em nome de uma inflação controlada a um dígito, o Banco de Moçambique tem assumido agravamentos nas taxas de juro. Enquanto isso, a pressão dos combustíveis e dos riscos externos, entre outros factores, não dão tréguas. O preço dos transportes em Maputo, por exemplo, já subiu e não há sinais de estabilidade para este ano, dizem os economistas

Recentemente, o Banco de Moçambique decidiu manter a taxa de juro de política monetária – taxa MIMO – em 17,25%, mas aumentou os coeficientes de reservas obrigatórias para os passivos em moeda nacional de 10,5% para 28%, e em moeda estrangeira de 11,5% para 28,5%.

Esta postura do Banco Central, que tem sido criticada pelo sector privado e por uma parte importante dos economistas nacionais, visa manter a estabilidade dos preços ao nível de um dígito, algo que não se consegue desde o ano passado, quando a inflação média anual esteve na casa dos 10,9%, sendo que para este ano a previsão do Governo é de 11,5%.

Paralelamente, e apesar disso, a pressão sobre os preços não pára. O preço dos transportes de passageiros, por exemplo, já foi agravado em três meticais na cidade capital do País, o que reduz ainda mais o poder de compra das famílias.

Ambas as medidas têm potencial para criar instabilidade na microeconomia (famílias e empresas) com impactos que não são de ignorar ao nível da macroeconomia.

Mas para uma melhor percepção do que nos espera nos próximos meses (e se calhar ao longo de todo o ano), a E&M traz a visão de três economistas,

pesquisadores em Economia de Desenvolvimento e docentes universitários.

Cenários de crise em cadeia

O economista Elcício Bachita começa por alertar que “a subida dos preços dos transportes vai, sem dúvida, afectar adversamente o tecido empresarial nacional e as famílias moçambicanas no geral”.

Começando pelas empresas, avança que o agravamento da tarifa dos transportes implicará um custo adicional de produção das que operam sobretudo na agricultura e na indústria, e explica que estas dependem de matérias-primas e bens de capitais que transitam por via rodoviária (que, entretanto, está mais cara).

Assim, “os custos elevados para transportar os mesmos vão ditar a subida dos custos de produção o que irá, certamente, encarecer o custo do produto final a ser vendido ao consumidor, podendo, igualmente, reduzir o seu poder de compra e, por conseguinte, a margem de lucro das empresas”.

Além disso, a subida dos preços dos transportes vai afectar negativamente as finanças das famílias mais desfavorecidas, reduzindo os bons resultados de luta contra a pobreza que o País já vinha alcançando. Prevê ainda que se registe uma subida generalizada dos preços dos produtos alimentares podendo

reverter o cenário decrescente das pressões inflacionárias na economia, como se verificou entre os meses de Dezembro do ano passado (10%) e Janeiro deste ano (9,78%).

Daqui adicionam-se também os riscos e incertezas associados às mudanças climáticas, ataques terroristas e elevados custos de produção que poderão contribuir para uma aceleração da taxa de inflação acima de 10% ao longo do ano, o que também poria em causa o crescimento.

“O PIB real poderá estar abaixo dos 5% previstos pelo Governo e pelo FMI, pois a inflação não irá estimular o con-

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 14
Texto Celso Chambisso • Fotografia Jay Garrido
“O PIB poderá estar abaixo dos 5% previstos pelo Governo e pelo Fundo Monetário Internacional, pois a inflação não irá estimular o consumo e o investimento privado ao nível das PME
MACRO

sumo e o investimento privado ao nível das PME. A inflação estimula o crescimento da economia quando a velocidade da subida dos preços de bens e serviços ao longo dos 12 meses do ano vai até 2%, o que não se vai verificar este ano”, explicou, recomendando que “o Governo deve adoptar políticas fiscais e monetárias mais coesas que possam reduzir a inflação e estimular o crescimento do PIB”.

Muita pressão

O economista Egas Daniel começa por recordar que os transportes perfazem uma percentagem significativa no

orçamento familiar em Moçambique, em torno de 4% a 5%, “por isso é inevitável que este ajuste tenha impacto na vida das pessoas, e quanto mais pobres forem mais impactados serão porque têm de ajustar um orçamento cada vez mais apertado para assegurar o transporte, em muitos casos indispensável.

E por causa do peso que tem ao nível do orçamento, o ajuste agora verificado do preço dos transportes vai ter reflexos na inflação”. Mas, ao contrário da leitura feita por Elcídio Bachita, Egas Daniel não vê um cenário de uma inflação anual a crescer além das previsões (média de 11,5%). Explica que

“a inflação média anual de 2023, embora neste momento esteja num contexto de abrandamento, continuará alta e na casa dos 11,5% de acordo com o Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE 2023), o que faz acreditar que o Governo pode ter incorporado uma possível mexida dos preços administrados dos transportes e dos combustíveis.

Ou seja, não é de esperar que a inflação esteja fora destas previsões porque, possivelmente, o Governo já equacionava esta mexida do preço dos bens administrados na previsão de inflação inicialmente feita”.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 15

RECUPERAÇÃO DO CRESCIMENTO

Apesar da prevalência de riscos, as previsões de diferentes instituições apontam para uma recuperação no crescimento do PIB este ano

INFLAÇÃO PERMANECERÁ

As previsões já apontam que dificilmente o País pode alcançar a meta de um dígito estabelecida pelo Banco de Moçambique

As taxas de juro foram sendo ajustadas em alta desde o ano passado e devem permanecer elevadas

Mas o economista Constantino Marrengula rebate: “a nossa capacidade de previsão é bastante limitada e não me parece que o ajuste actual tenha sido contemplado nos 11,5 % previstos”, refere, acrescentando: “esta situação ainda vai transferir-se na cadeia de preços e agravar a sua subida. Pode ser que a inflação avance bem além do que se conhece das previsões oficiais”.

Constantino Marrengula, por sua vez, ressalva que esta situação não vai afectar todos na mesma dimensão. Entende que vai recair mais sobre as famílias e sobre as micro e pequenas empresas, uma vez que “as empresas que operam em situação monopolista e oligopolista conseguem repassar o custo da inflação ao consumidor final.

Mas as de pequena dimensão têm grande dificuldade em fazer o reparo e acabam amortecendo parte do choque inflacionário nas suas próprias contas”.

Mais desequilíbrios do lado das taxas de juro

Elcídio Bachita lembra que os agravamentos das taxas de juro por parte do Banco de Moçambique fazem parte do seu papel como regulador do mercado financeiro, visando enxugar o dinheiro em circulação dentro do sistema financeiro, tornando-o menos acessível ao público e ao sector privado.

Tudo para perseguir o mandato de conter a subida generalizada de preços a curto e médio prazo. Mas alerta que o ajuste do coeficiente de reservas obri-

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ELEVADA ALTAS TAXAS DE JURO (em %) (Inflação média de 2023 em %) (Inflação média de 2023 em %) 5 4,2 5 9,9 8,9 6,5 Banco Mundial Standard Bank Governo Fitch Solutions FMI Governo ONU Standard Bank Oxford Economics 11,5 11,2 Reservas obrigatórias em moeda estrangeira 28,5% MIMO Reservas obrigatórias em moeda nacional 17,25% 28% FONTE Banco de Moçambique 5

gatórias em moeda externa de 11,5% para 28,5% é uma medida que, apesar de evitar uma eventual depreciação do metical em relação ao dólar e ao euro, bem como evitar o outflow da moeda externa devido ao aumento da procura para transacções ao nível externo, poderá propiciar o aumento dos custos das importações e favorecer o aumento do desequilíbrio na balança de pagamentos do País.

Já Egas Daniel explica que o ajustamento das reservas obrigatórias – percebidas como a obrigatoriedade de os bancos comerciais depositarem parte da sua liquidez no Banco Central sem nenhuma remuneração – funciona como uma medida complementar e alternativa à subida da taxa MIMO “que já se mostra insustentável e até ineficaz se continuar a subir sem ter outros instrumentos complementares”.

Ou seja, “a ideia é aumentar o grau de resposta do sistema financeiro aos aumentos anteriores da taxa MIMO, para enxugar a liquidez excessiva associada ao aumento das despesas do Governo, por sua vez ocasionada pela implementação da Tabela Salarial Única e

pela tendência crescente do endividamento público”.

O economista entende que estas medidas acabam por ser desafiadas por choques externos (guerra na Ucrânia, alterações climáticas, etc., e a frágil capacidade de resposta interna), “o que mostra que o País só poderá retomar a estabilidade em 2024, porque os efeitos das medidas do Banco de Moçambique são de médio prazo. Por exemplo, começou a aumentar a taxa MIMO no ano passado, mas até no presente ano teremos uma inflação acima da meta estabelecida num dígito”, concluiu.

Para o economista Constantino Marrengula, esta postura do Banco de Moçambique reflecte que a instituição está a tentar evitar o pior, por isso está a realizar choques muito grandes nas taxas de juro. “Confunde-se um pouco com uma instituição que procura fazer a sua parte para minorar o impacto dos problemas que outros sectores da economia provocam”, argumentou.

Com a elevaçao do Coeficiente de Reservas obrigatórias, teme-se que os pequenos bancos percam a capacidade de conceder financiamentos.

“O País só poderá retomar a estabilidade em 2024, porque os efeitos das medidas do Banco de Moçambique são de médio prazo... no presente ano teremos uma inflação acima de um dígito”

Das Perdas e Desperdício Alimentar

Para a leitura deste artigo é, antes do mais, necessário que se compreendam os conceitos de:

- Perda e desperdício alimentar(2) (PDA) – diminuição, independentemente da causa, de alimentos originalmente destinados ao consumo humano, em todas as fases da cadeia alimentar, desde a colheita ao consumo.

- Perda ou desperdício da qualidade dos alimentos(2) – diminuição de um atributo de qualidade dos alimentos (nutrição, aspecto, microbiologia, etc.), ligada à degradação do produto, em todas as etapas, da colheita ao consumo.

- Sistema alimentar(5)- todos os elementos (ambiente, pessoas, insumos, processos, infraestruturas, instituições, etc.) e atividades relacionadas com a produção, processamento, distribuição, preparação e consumo de alimentos, e os resultados dessas atividades, incluindo os socioeconómicos e ambientais.

- Sistema alimentar sustentável(5)sistema que oferece segurança alimentar e nutrição para todos, de forma que as bases económicas, sociais e ambientais para gerar alimento e nutrimento adequados para as gerações futuras não sejam comprometidas.

2) A perspectiva em números:

- Em 2021, aproximadamente 821 milhões de pessoas passaram fome.(1)

- Cerca de 1/3 da produção mundial, equivalente a sensivelmente 1.3 biliões de toneladas de alimentos por ano, é perdida ao longo da cadeia alimentar desde a produção ao consumo.(2)

- As perdas e desperdício alimentar atingem cerca de 280 – 300 Kg/capita/ano na Europa e América do Norte e de 120–170 Kg/capita/ano na África Subsariana e Sul/Sudeste Asiático.(3)

- Quase 3.1 biliões de pessoas não têm

poder de compra para a dieta saudável mais barata, o que compromete a sua saúde e bem-estar.(3)

Se os dados lhe parecem aberrantes e considera que é urgente implementar medidas para a sua reversão, estamos alinhados. Se não, vejamos.

Para além da imediata diminuição da quantidade de alimentos disponível para a alimentação humana, a PDA implica o gasto dos recursos utilizados (como água e terra, entre outros). Além disso, os agentes da cadeia alimentar afectados têm prejuízos económicos que poderão conduzir a uma diminuição ou anulação da sua capacidade produtiva.

Portanto, a PDA conduz à diminuição da sustentabilidade dos sistemas alimentares, colocando em causa a alimentação e nutrição das gerações actuais e futuras. Por isso, a sua redução é um meio relevante tanto para aumentar a disponibilidade de alimentos e diminuir a fome a nível mundial, como para reduzir o impacto ambiental da produção alimentar.

Tal, justifica que a agenda de objectivos de desenvolvimento sustentável estabeleça como meta, no ponto 12.3, “reduzir as perdas de alimentos ao longo das cadeias de produção e abastecimento, incluindo as perdas pós-colheita” até 2030.

Entretanto, várias causas podem estar na origem da PDA que ocorre, e aumenta progressivamente, da produção ao consumo. Por exemplo, mau planeamento e momento da colheita, ausência de boas práticas (incluindo de manipulação e de higiene) em diversas fases da cadeia alimentar, escassez de equipamento apropriado, presença de contaminações (físicas, químicas e biológicas) que ponham em causa a saúde humana e falta de informação dos consumidores. Assim, a sua diminuição deve ser trabalhada em várias frentes ao longo da cadeia alimentar.

Uma política e ambiente de negócios favoráveis promovem e facilitam a adopção de práticas que podem conduzir à

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 18 OPINIÃO
Leonor Assunção • Administradora e Consultora Sénior na InSite
Várias causas podem estar na origem da PDA que ocorre e aumenta progressivamente, da produção ao consumo. Por exemplo, mau planeamento e momento da colheita, ausência de boas práticas em diversas fases da cadeia...

redução da PDA. Por exemplo, em Moçambique, a aposta na infraestrutura logística, no controlo da qualidade alimentar e na industrialização, terão certamente um impacto positivo nesse âmbito.

Contudo, além da intervenção do Estado é necessário que toda a cadeia, dos produtores aos consumidores, se oriente para minimizar a PDA, nomeadamente através de:

Implementação de boas práticas agrícolas, veterinárias e de processamento, incluindo de higiene, que contribuem para evitar a ocorrência de contaminações físicas, químicas e biológicas e de danos físicos nos produtos.

Em particular, a adopção de meios de armazenamento e conservação que reduzem a proliferação de microorganismos e atrasam a maturação (como o uso de sacos herméticos e de equipamentos de frio), poderão ter um papel fundamental na manutenção da qualidade e segurança dos alimentos.

Adopção de soluções, incluindo tecnológicas, que facilitem o transporte, processamento e embalamento de alimentos.

Medidas simples, como a proteção da carga por lonas que evitem o sobreaquecimento e a realização do transporte de alimentos e animais às horas de menor calor e movimento, poderão ter um impacto significativo na qualidade dos alimentos para consumo humano.

Por outro lado, ao nível do processamento, o recurso a boas práticas de manipulação e embalagens que facilitem a utilização integral do produto, a aquisição de doses individuais, a diminuição

da proliferação de microorganismos, a desaceleração do estado de maturação e a conservação do produto após abertura, poderão também contribuir para a redução da PDA.

Aposta em recursos e tecnologia que previnam a PDA na hotelaria e restauração. Neste sector, os gestores deverão balancear o custo/benefício das soluções a adoptar. Por exemplo, a aquisição de um gerador poderá ser ressarcida na indisponibilidade prolongada de energia.

O investimento em formação poderá ser compensado pela redução do descarte de alimentos e aumento da confiança dos consumidores. E, sistemas adequados de frio permitirão certamente um aumento do tempo de conservação e qualidade dos alimentos.

Por outro lado, o conceito de comida a peso ou de meia-dose poderá diminuir o desperdício.

Redução das PDA ao nível doméstico, que também permitirá diminuir os gastos dos consumidores com a alimentação. Por exemplo:

- Fazer uma lista de produtos a adquirir, que ajudará a evitar as compras por impulso e a dosear a quantidade de alimentos que se leva.

- Evitar a compra de comida para um período demasiado longo.

- Ler e perceber a informação no rótulo relativa ao prazo para consumo e regras de conservação, utilização e reutilização dos alimentos.

- Conservar os produtos de forma adequada.

- Ajustar a quantidade confeccionada ao consumo, evitando sobras.

- Utilizar técnicas de preparação e confecção que permitam a utilização integral da parte comestível dos alimentos.

- Aprender a conservar e reutilizar sobras: por exemplo, procurar receitas que permitam a sua transformação criativa.

A escassez de recursos e aumento dos preços dos alimentos reforçou a necessidade de “fazer mais com menos”.

Porém, reduzir a PDA só é possível com um esforço colectivo, de produtores a consumidores, no sentido de promover alimentos sem valor comercial e relegar para último a opção de descarte.

Garantir a sustentabilidade dos sistemas alimentares em prol do bem-estar das gerações actuais e futuras é um dever de todos.

A construção do futuro é hoje e depende de si e de nós.

(1) IFAD, 2021. Transforming food systems for rural prosperity. Rural Development Report 2021.

(2) Committee on World Food Security, 2014. Food losses and waste in the context of sustainable food systems. A report by the High-Level Panel of Experts on Food Security and Nutrition.

(3) FAO, IFAD, UNICEF, WFP and WHO, 2022. The State of Food Security and Nutrition in the World, 2022. Repurposing food and agricultural policies to make healthy diets more affordable. Rome, FAO.

(4) FAO, 2016. Food Loss Analysis: Causes and Solutions. Case studies in the Small-scale Agriculture and Fisheries Subsectors. Rome, FAO

(5) A Research Agenda for Food Systems, Colin L. Sage 2022

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O desperdício alimentar é uma realidade evitável desde que se implementem as práticas de correcção

Uma Década à Espera de Uma Lei… E Muito Ainda Por Esclarecer

O tempo passa, mas prevalecem muitas zonas de penumbra quanto ao futuro da exploração de recursos naturais. Ainda assim, os entendidos na matéria não se cansam de “emprestar” o seu saber na tentativa de mudar o rumo das coisas

Nunca ficaram claras as razões para quase se ter abandonado a ideia de instituir uma lei de Conteúdo Local, da qual se fala há cerca de dez anos, e cuja proposta chegou a ser aprovada em Agosto de 2019 pelo Conselho Económico. Hoje, várias versões são chamadas à análise quando se levanta esta questão vital para um país rico em recursos naturais, principalmente o gás natural.

A E&M ouviu três figuras que acompanham de perto matérias relacionadas com o Conteúdo Local e que tentaram explicar os obstáculos que existem no terreno, como removê-los e quais as implicações da sua eventual prevalência para a economia.

O primeiro é Florival Mucave, expert em Oil & Gas, com experiência de trabalho em empresas como a petrolífera estatal angolana SONANGOL e actual presidente da Câmara de Energia de Moçambique (CEM).

Sobre a proposta de lei de Conteúdo Local, Mucave diz ter-se apercebido que “durante os trabalhos da sua elaboração, os diferentes ministérios que participavam não tinham clareza do que pretendiam, pelo que cada um apresentava uma visão diferente sobre o assunto”.

Será por isto que não se consegue chegar a consensos. Assim, o presidente da CEM defende que as empresas moçambicanas devem criar parce-

rias com empresas estrangeiras, de modo a ganharem capacidade e experiência para competirem na indústria de hidrocarbonetos.

O outro é o economista Humberto Zaqueu, com larga experiência de trabalho na monitoria de grandes projectos e actividades do Governo, e que entende ser importante, primeiro, criar-se capacidade tecnológica, financeira e humana para as empresas moçambicanas competirem com as estrangeiras no fornecimento de bens e serviços às concessionárias do gás da Bacia do Rovuma, o que não parece estar a acontecer ou, pelo menos, não está no ritmo desejado.

Ao contrário de Florival Mucave, que defende que mais do que se criar uma lei, é necessário que se crie uma visão e/ou estratégia sobre o Conteúdo Local que poderia designar-se por Conteúdo Nacional, Humberto Zaqueu acredita que “é importante que se aprove a lei porque teremos indicadores para perceber o impacto que esta terá nas empresas moçambicanas”.

O outro lado da história na voz da sociedade civil

A E&M ouviu, igualmente, Adriano Nuvunga, director-executivo do Centro Para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), uma das mais interventivas organizações da sociedade civil que fazem uma espécie de rastreio do que se passa na indústria extractiva.

Nuvunga refere que, apesar de as multinacionais envolvidas nos projectos de gás em Moçambique se posicionarem a favor da defesa dos interesses do País, na realidade, são elas que pressionam o Governo a não avançar com a proposta de lei para a Assembleia da República. Entende que aquelas empresas buscam salvaguardar os seus interesses na contratação de bens, serviços e mão-de-obra, para além de escaparem à obrigatoriedade de alienarem as suas acções.

Refere, igualmente, que o decreto-lei que atribui um regime especial para as áreas 1 e 4 da Bacia do Rovuma é uma prova da pressão que as multinacionais exercem sobre o Governo. “Se formos a observar, as multinacionais já têm estabelecidos contratos de prestação de

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 20 CONTEÚDO LOCAL
“Sem uma lei de Conteúdo Local, o País não terá argumentos legais para impor a preferência na aquisição de bens e serviços locais, na contratação de mão-de-obra local...”
Texto Celso Chambisso e Manuel Mandlaze • Fotografia Istock Photo

produtos e serviços com empresas experientes de outros países”, explicou. “Sem uma lei de Conteúdo Local, o País não terá argumentos legais para impor a preferência na aquisição de bens e serviços locais, na contratação de mão-de-obra local e na participação de singulares e pessoas colectivas privadas e públicas nos projectos de grande dimensão”, reforçou.

Florival Mucave concorda, mas explica de outra forma. “Uma lei de Conteúdo Nacional também não será do agrado de alguns investidores estrangeiros, pois as multinacionais têm o que chamam de global supplier, ou seja, as contratadas e as subcontratadas para os produtos e serviços que pretendem. Quando tu lhes dizes que quando chegarem a Mo-

çambique têm de ter um parceiro nacional, que seja uma empresa ou cooperativa constituída por moçambicanos que vai ter 15%, tu estás a tirar 15 % daquela empresa em benefício dos nacionais”, esclareceu.

Tirando as conclusões feitas por estas fontes, a imprensa reporta, inúmeras vezes, várias iniciativas levadas a cabo pelas multinacionais para apoiar empresas nacionais a se posicionarem. Tempo é tudo o que já não temos, restando apenas aguardar para ver o desfecho deste enredo.

Fontes de inspiração

No que se refere à experiência de outros países que desenvolveram a indústria do petróleo e gás com sucesso, Flo-

“A pergunta que uma vez fiz à Total é: quanto tempo precisa para formar um perfurador? A resposta foi 18 meses. Então, porquê os perfuradores vêm com vistos de 5 ano?”

“As grandes empresas tiram proveito da falta de regras estabelecidas sobre como engajar e potenciar empresas locais e jovens moçambicanos que precisam de formação”

“Sem uma lei de Conteúdo Local, o País não terá argumentos legais para impor a preferência na aquisição de bens e serviços locais, na contratação de mão-de-obra local…”

rival Mucave avançou que Moçambique deveria aprender com Trinidad e Tobago. “Eles têm a vantagem de ser uma ilhacom uma população pequena, mas em termos de utilização do gás para a industrialização do país fizeram um trabalho excelente. Apesar da sua dimensão geográfica, têm fábricas de fertilizantes, amónia e GPL (Gás para Líquidos), que é um processo que transforma gás natural em combustíveis líquidos. O combustível proveniente deste processo pode ser utilizado em veículos equipados com motores a diesel sem modificações”, explicou.

Mucave defende ainda que Moçambique deve olhar para os países do Mar do Norte, quando se fala em Conteúdo Nacional, como a Noruega.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 21
lFiro v a l Mucave, Presidente
bmuH e r to Zaqueu,Economista dAir a n o Nuvunga,Director-executivod o
doCEM
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Como a Robótica Está a Moldar o Nosso Futuro

Já pensou como é que seria um espaço de trabalho em que um colaborador pode trabalhar 365 dias por ano, 24 horas por dia, sem intervalos para café ou almoço, sem reclamações, horas de pausa ou ausências? Parece bom demais para ser verdade, não é? Na verdade é isto que, hoje em dia, a Robótica oferece às organizações.

Nos últimos anos, a Robótica tem-se tornado cada vez mais relevante não só no sector bancário, mas também ao nível das diversas indústrias porque fornece uma solução económica, eficiente e exacta para muitas das tarefas executadas pelo Homem. Ao longo deste artigo, abordaremos os benefícios, a aplicação na indústria, a relação custo-benefício, a ameaça à força de trabalho humana, o futuro da Robótica e como podemos estar preparados para esta mudança.

A Robótica não beneficia somente a banca, ela tem sido aplicada nos mais diversos sectores de actividade, tais como a indústria, o turismo e a saúde, onde todos têm um coeficiente comum – automatizar tarefas repetitivas, melhorar o controlo de qualidade, aumentar a produtividade e reduzir custos. Por exemplo, os robots podem executar tarefas como introdução de dados, atendimento automático ao cliente e até detecção de fraudes, permitindo que as pessoas se concentrem em tarefas que exijam mais pensamento estratégico e soft skills.

Se olharmos mais numa óptica de utilização de robots nas fábricas, estes vieram para reduzir o custo de produção ao diminuir a necessidade de mão-de-obra. Esta substituição fez com que as empresas produzissem bens a um custo mais baixo e aumentassem a sua competitividade. Contudo, e como tudo, embora a Robótica tenha muitos benefícios, ela também representa uma ameaça para a força de trabalho humana.

À medida que a decisão é automatizar mais e mais tarefas, existe o risco de uma substituição de pessoas por robots – este aspecto tem sido, a nível mundial, uma preocupação da grande parte dos trabalhadores cujas funções estão directamen-

te relacionadas com tarefas rotineiras. Porém, encontrar pessoas qualificadas para planear, operar e manter um robot pode ser caro. Além disso, os robots, por padrão, não estão equipados com inteligência artificial, portanto, um robot mal programado pode representar um risco para o negócio.

O futuro da Robótica aparenta ser brilhante pois, à medida que a tecnologia avança, os robots ficam mais avançados e capazes de realizar cada vez mais tarefas. A Robótica continuará a desempenhar um papel importante nos vários sectores, uma vez que as empresas procuram, e continuarão sempre à procura, de formas para melhorar a sua eficiência.

No entanto, para estarmos bem preparados para o futuro da Robótica, é importante que se invista na formação e treinamento dos colaboradores. Isso garantirá que eles tenham as habilidades necessárias para engrenar num mundo onde os robots estão cada vez mais predominantes. Além disso, as empresas deverão investir na pesquisa e no desenvolvimento para se manterem à frente e na vanguarda da inovação em Robótica.

Uma maneira de nos preparamos para o futuro é, desde já, iniciar a trajectória para a implantação da Inteligência Artificial e da Robótica, que deverá incluir uma avaliação do estado actual da tecnologia, uma análise das necessidades e preferências do cliente e um plano para testar e implementar as novas iniciativas. Também é importante considerar como é que a Inteligência Artificial e a Robótica podem integrar-se nos sistemas já existentes, bem como as possíveis alianças com fornecedores ou parceiros da área de tecnologia.

Em modo de conclusão, importa referenciar que a Robótica veio para ficar e está a mudar a forma como fazemos negócio. O sector bancário e todas as outras indústrias devem abraçar esta mudança e investir em tecnologia para se manterem competitivos. Com o investimento certo na formação, pesquisa e desenvolvimento podemos ter a certeza que estamos bem preparados para o futuro que se avista.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 22 OPINIÃO
O futuro da Robótica aparenta ser brilhante pois, à medida que a tecnologia avança, os robots ficam mais avançados e capazes de realizar cada vez mais tarefas.
NAÇÃO | INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Com a Inteligência Artificial Cada Vez Mais Real, Como Faremos Nós Parte do Futuro?

Nos últimos tempos, tornou-se evidente que será impossível dispensar a Inteligência Artificial de qualquer domínio da vida nos próximos anos, e não haverá qualquer área em que esta não venha a ser chamada a optimizar processos considerando tempo, eficiência e custos. No entanto, tudo se está a precipitar a uma velocidade nunca antes vista, reforçando a tese de que o futuro (re)nasce agora, não com base no sonho do Homem, mas no algoritmo generativo das máquinas que parecem tudo saber. Com o lançamento do ChatGTP, no final do ano passado, foi dado mais um desses passos rumo a um novo amanhã, que entusiasma quase tanto como suscita questões e levanta preocupações que não têm, para já, resposta. E nós? Que lugar ocuparemos neste “maravilhoso mundo novo”?

Texto Pedro Cativelos & Celso Chambisso • Fotografia Istock Photo & D.R.

Desde o início da primeira revolução industrial que se iniciou em 1760, as máquinas têm sido amplamente utilizadas para melhorar a eficiência. Três séculos depois, e com o mundo a bater, com estrondo, na porta da Quarta Revolução Industrial, do outro lado está a era em que as máquinas se tornaram inteligentes, optimizando-se a si mesmas e aos sistemas nos quais operam. Chegou o tempo da Inteligência Artificial (AI).

E esta é uma mudança que está a moldar muitas das megatendências, que, por sua vez, estão a mudar, já hoje, a forma como o mundo funciona. Mais do que tudo, a vida, tal como a conhecemos, do trabalho às empresas, do nosso dia-a-dia à forma de nos relacionarmos, tudo irá mudar nas próximas décadas. E esse futuro já começou. Os mais pessimistas vêem-no como a ascensão dos robots – um futuro distópico de desemprego em massa e desumanização à medida que máquinas inteligentes, metódicas e incansáveis eliminam a necessidade de pessoas, reféns da sua orgânica ineficácia e imprecisão e dos seus humanos circunstancialismos e emoções. Não faltam livros e filmes com essa visão. Mas acreitando no princípio de Lavoisier de que "na natureza nada se cria, nada se perde e tudo se transforma”, e olhando à História, temos de ponderar o facto de, embora as novas tecnologias possam diminuir, ou mesmo irradiar, em muitos casos, a necessidade de envolvimento humano em diversas tarefas, elas irão também conduzir à criação de novos empregos e indústrias.

Para a consultora Ernst & Young (EY) “o desafio não é a tecnologia – é ser criativo ao reinventar como usá-la para gerar novas oportunidades, valor e crescimento”.

IA cresce pelo Mundo. E cá dentro?

Se a IA é já uma realidade que está a mexer com as projecções do que será o futuro do mundo nos mais variados aspectos, como estamos a este nível em Moçambique? O que estamos a fazer nas esferas tecnológica, regulatória, de formação, entre outras, e até onde seremos capazes de nos 'encaixar' nesta tendência?

O que se pode dizer, de forma muito sucinta, é que enquanto nos países mais desenvolvidos economicamente, em termos de pesquisas e de implementação de ferramentas de IA, há experiências práticas interessantes, Moçambique ainda ocupa uma posição modesta, sendo os sectores financeiro, das telecomuni-

cações e das extractivas, as poucas áreas em que se está, de facto, a olhar para esta nova realidade, embora ainda com muito espaço por explorar.

A E&M ouviu o engenheiro João Gaspar, presidente da Associação das FinTech de Moçambique ((FINTECHMZ), com mais de 30 anos de experiência nas áreas de IT e Telecomunicações bem como na definição, implementação e suporte de serviços e negócios na área de sistemas de pagamentos. João Gaspar recorda como já se utilizaram alguns princípios da IA (machine learning) para diagnosticar doenças em plantas agrícolas. Tirou-se uma fotografia a uma planta de milho, que foi depois trabalhada num software que está na cloud e que tem milhões de informações sobre as várias doenças de plantas. Através da fotografia conseguiu-se comparar dados e fazer-se um diag-

nóstico. Na medicina, por exemplo, estas tecnologias têm já uma larga aplicação e, a este nível, a IA será fundamental para novas descobertas médicas que poderão salvar milhões de pessoas em todo o mundo. "Por exemplo, é possível ter pequenos dispositivos electrónicos a acompanharem o ritmo cardíaco de uma pessoa durante todo o dia, e esses dados são depois carregados numa cloud e comparados a outros milhões de casos que lá existem. A partir daqui é possível perceber o padrão da pessoa testada em relação aos casos existentes, diagnosticar falhas com alguma precisão e prever algum tipo de doença próxima. Esta seria a utilização da IA mais imediata e interessante para nós humanos”, defende João Gaspar. Ouvimos também o administrador do BCI, Rogério Lam, mestre em Engenharia de Telecomunicações e cujo

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NAÇÃO | IA
Moçambique estará ainda longe deste cenário, mas há sectores como a banca, as telecomunicações ou as extractivas que já olham a IA como algo "inultrapassável" no curto prazo

ONDE (JÁ) ESTÁ A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

A IA já não é coisa do futuro. É uma realidade presente em vários segmentos económicos e sociais. Conheça algumas das suas aplicações práticas.

INDÚSTRIA

Há equipamentos que fabricam e conferem os produtos sem precisarem de ser operados por um humano. Também estão a ser desenvolvidas máquinas que criam e executam por si mesmas novos projectos criativos sem limitações de uso.

GPS

As rotas sugeridas pelo aplicativo Waze geralmente apontam o melhor caminho. Isso acontece porque o programa usa a Inteligência Artificial para interpretar dados fornecidos automaticamente por outros usuários sobre o tráfego nas vias.

CARROS AUTÓNOMOS

Uber, Google e Tesla são algumas das empresas que desenvolvem carros que não precisam de motorista para conduzilos. A inovação é possível graças a uma combinação de tecnologias e sensores que orientam o movimento dos automóveis.

ATENDIMENTO AO USUÁRIO

Chatbots e sistemas com processamento de linguagem natural estão a ficar cada vez mais inteligentes para substituir operadores humanos e estarem à disposição de usuários com dúvidas 24 horas por dia.

COMÉRCIO ONLINE

Algoritmos de lojas virtuais reconhecem padrões de compras de usuários para apresentar-lhes ofertas de acordo com as suas preferências. A Amazon criou a Amazon Go, uma loja de retalho que não conta com ‘stocker’ e check-out, por exemplo.

JORNALISMO

Com acesso a bases de dados, há programas capazes de escrever matérias jornalísticas informativas com uma perfeição que torna difícil para o leitor distingui-las de textos escritos por humanos.

BANCA

Instituições financeiras utilizam algoritmos para analisar dados do mercado, gerir finanças e relacionar-se com clientes. Em Moçambique, o sector financeiro é o que está mais próximo da realidade actual.

ENTRETENIMENTO

Um dos exemplos mais quotidianos é o sistema de recomendação personalizada em serviços de streaming, garantindo uma melhor experiência na plataforma. Os games e e-sports estão também cada vez mais imersivos.

DIREITO

Escritórios de advocacia e departamentos jurídicos contarão com robots para realizar, de forma mais rápida, precisa, directa e acessível do ponto de vista económico, boa parte do que um advogado faz na actualidade.

SAÚDE

Um dos exemplos actuais é o uso de máquinas inteligentes na identificação de focos de contaminação e infectados pelo covid-19. Antes, a tecnologia já estava a cooperar com o diagnóstico precoce de doenças como o Alzheimer, etc.

MANUTENÇÃO PREDITIVA

Antecipar problemas é uma boa maneira de evitar dores de cabeça no futuro. E é exactamente isso que a IA faz. Avalia informações preliminares de maquinaria e produtos e evita que eventuais erros parem uma empresa inteira.

REDES SOCIAIS E APLICATIVOS

Reconhecimento de fotos, identificação de objectos e situações, reprodução temática de vídeos, tradução simultânea e remoção automática de conteúdo inapropriado são algumas das contribuições da IA para redes sociais e outros aplicativos.

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currículo inclui uma já longa e sólida experiência em canais digitais. Falando sobre a importância da IA no sector financeiro, começa por concordar que “já estamos todos a ser testemunhas do efeito positivo que as transformações tecnológicas têm no acesso aos serviços financeiros, destacando-se a explosão na utilização de canais alternativos ao balcão bancário tradicional”. No entanto, prossegue, "a questão que se levanta relativamente à IA lança um desafio ainda mais específico e consequente dos processos de transformação digital, pois a utilização de canais alternativos é um grande gerador de volume de dados para as instituições financeiras, nomeadamente nas transferências, depósitos ou pagamentos de compras, todos com o potencial de produzir insights importantes para a gestão das instituições financeiras, em especial as que operam no sistema bancário nacional. Do que tenho observado no mercado, a implementação destas iniciativas em Moçambique ainda é algo modesta e com pouca visibilidade e não vislumbro ainda aplicações de utilização de ferramentas de IA por cá. No entanto, insisto que tal não quer dizer que não esteja a ser feito trabalho nesse sentido. A minha observação prende-se

essencialmente pela dimensão dos canais de acesso aos consumidores". Mas esta é, para o responsável do BCI, "só uma das variadíssimas vertentes de utilização da IA. Outras serão muito pouco perceptíveis para o consumidor, como por exemplo as componentes de segurança, de prevenção do branqueamento de capitais, segmentação de clientes, análise de risco", complementa. "De um modo geral, a IA irá seguramente melhorar um conjunto de processos internos das instituições, bem como nas iniciativas de contacto directo com os clientes dos bancos. Como? Diria que podemos acelerar os processos de validação documental no processo de abertura de contas onde, por exemplo, pode ser utilizado o reconhecimento facial com recurso à IA, ou até espoletar recomendações num conjunto de produtos e servi-

ços mais adequados ao perfil de determinado cliente, aliás, ao estilo do que hoje já se observa, por exemplo, quando temos recomendações de filmes no Netflix ou no YouTube." E continua: "ainda ao nível de processos internos, pode ser utilizada uma das componentes da IA, o Machine Learning, para identificar padrões e desenhar melhor os processos de concessão de crédito. Podem ainda ser melhorados os processos de segmentação da carteira, com vista a segmentar clientes com base em comportamentos e interesses similares e adequar a oferta aos tais segmentos específicos. Depois, na vertente de interacção com os clientes, a utilização da IA com recurso a chatbots é uma oportunidade para os bancos e pode ajudar a melhorar significativamente a experiência dos clientes 24 horas por dia, sete dias por semana", assegura.

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A História sugere que, embora as novas tecnologias possam acabar com a necessidade de envolvimento humano em algumas tarefas, também permitem a criação de novos empregos

O caso do ChatGTP e a corrida à IA

O ChatGTP é a ferramenta de IA que está a dar que falar em todo o mundo. Trata-se, no fundo, de um algoritmo de linguagem, criado pela OpenAI, com sede em São Francisco (EUA), especificamente para gerar textos em linguagem natural, de maneira semelhante a um ser humano. Com maior capacidade e velocidade.

João Gaspar afirma que a adopção desta tecnologia em Moçambique e no mundo será, a partir de agora, bastante rápida, e embora "a tecnologia seja, de facto, impressionante", também tem falhas próprias e levanta já algumas questões éticas. Ao nível do ensino, por exemplo, são já vários os casos de estudantes que se graduaram recorrendo a esta tecnologia e existe um grande movimento em Inglaterra e nos EUA que pretende proibir o uso deste tipo de ferramentas. "Esta IA, associada à capacidade que as máquinas têm de aprender, torna-se cada vez mais inteligente porque vai correlacionar e validar dados que estão em várias fontes, de tal forma que depois os apresenta mais correctamente em textos ou em programas”, explica João Gaspar.

Tal é o potencial detectado em poucos meses de ChatGTP que não é de admirar que nas últimas semanas tenham

sido canalizados investimentos massivos das grandes tecnológicas para a Open AI. Entretanto, a Microsoft apostou 10 'bis' e lançou o novo Bing (o seu até agora muito pobrezinho motor de busca quando comparado com o Google), turbinado por um software de IA da OpenAI, baseada no GPT-4, modelo que ainda não foi lançado ao público. O novo Bing, que está disponível para um pequeno grupo de testes e terá acesso ampliado em breve, aparenta ser um híbrido de um mecanismo de busca padrão e um chatbot no estilo GPT. Um misto de Google (nós) e de algo a tentar ser como nós (a IA). Irá funcionar como: digita uma frase — diga, “escreva um menu de um jantar vegetariano” — e o lado esquerdo da sua tela será preenchido com anúncios padrão e links para sites de receitas. No lado direito, o Bing começa a digitar uma resposta com frases completas, geralmente linkadas aos sites de onde as informações foram retiradas. Para fazer uma pergunta relacionada ou solicitar informações mais detalhadas — por exemplo, “escreva uma lista de compras para o menu, dividida por corredores (do supermercado) e com quantidade suficiente para oito pessoas” — você pode abrir uma janela de chat e digitar. Claro que nem todas as IA

são... tão inteligentes ou bem-intencionadas (?) como são 'vendidas' pelas tecnológicas que as criam. Que o diga a Alphabet que em Fevereiro entrou na corrida dos chatbot com o "Bard", a sua resposta ao GPT da Open AI. Porém naquela que foi a sua apresentação oficial ao mundo, "afirmou" incorrectamente que o telescópio James Webb foi o primeiro a tirar fotografias de um planeta fora do nosso sistema solar. E como não foi, a empresa-mãe do Google afundou na bolsa e perdeu 100 mil milhões de dólares em valor de mercado. Por uma vez, os internautas que se apressaram a apontar um erro em caixas de comentários fizeram-no... sem causar dor em alguém.

Mas porque é que esta tecnologia é considerada completamente disruptiva no que diz respeito ao que se vai assistir daqui em diante? É que, de facto, conseguiu criar um circuito de produção intelectual, no caso digital, similar à do cérebro humano, ou seja, trabalha com ligações lógicas entre os neurónios e várias áreas do cérebro onde está guardado o conhecimento. Com a velocidade de processamento e o acesso a um conjunto de informação, estas correlações são muito mais rápidas e consegue-se dar soluções e ideias, desenvolver

produtos e serviços muito mais rapidamente do que qualquer ser humano. Por exemplo, enquanto existem pessoas vocacionadas para a Medicina, para a Engenharia ou as Artes, no caso do GTP, o sistema tem todas estas valências.

Para as aplicações como o ChatGTP, o DALL-E (que cria imagens ultra-reais) e outras que produzem traduções, textos publicitários, pautas musicais ou código de computação, há que considerar o machine learning ou a aprendizagem constante das máquinas. A diferença é que o GPT não está ligado à Internet e por isso não consegue ir buscar dados actuais. Mas os novos motores de machine learning que estão a ser criados (casos do Bard e do novo Bing) estão ligados à Internet e assim podem pesquisar e validar dados. Sendo acessível em qualquer parte do mundo, as empresas e instituições em Moçambique têm como fazer uso do ChatGTP nas suas actividades, mas há importantes barreiras por transpor para tornar isso possível, desde as de ordem legal até ao investimento no capital humano, passando pela adopção da cultura de pesquisa em tecnologia. E há riscos, claro, ao nível do emprego, do cibercrime e, no caso de Moçambique, da

própria iliteracia digital. "A evolução tecnológica, como tudo, tem prós e contras e a tensão entre os potenciais benefícios da IA e a preocupação em torno de questões como a perda de empregos é comum, e é importante abordá-la de maneira ponderada e diferenciada. De um modo geral, embora o potencial da IA no sector bancário no País seja enorme, é importante que a sua implementação ocorra de uma forma gradual, responsável e sustentável, tendo em conta os desafios e riscos inerentes, bem como a necessidade de garantir uma prévia regulamentação", assinala Jaikumar Sathish, director de Tecnologias de Informação (CIO) do Absa Bank.

Barreiras legais e perigos reais Consta que, actualmente, o OpenIA e o ChatGPT já têm alguns pilotos e vão lançar em breve o Application Program Interface (API), que são rotinas que se podem ligar aos sistemas informáticos das empresas, seja de que ramo forem (clínica médica, banco, seguradora, empresa do Estado, etc.). Isto é, não será preciso que as empresas desenvolvam toda uma arquitectura nos seus sistemas (o que para já é impossível), daí a importância das interfaces com estes motores e bases de da-

dos que estão na cloud. Esta oportunidade poderia ser acessível e bem aproveitada pelas empresas e organizações em Moçambique, mas há uma barreira estrutural: é que existem actividades, nomeadamente as da área financeira, em que não é permitido utilizar tecnologia que esteja na nuvem para processamento de dados. Exige-se, pelo contrário, que essa informação esteja num servidor privado dentro do País, o que é, dizem-nos, tecnicamente impossível, porque a valência deste tipo de soluções consiste em que trabalhem numa rede neural, na qual a informação está disseminada por uma rede de computadores em qualquer parte do mundo.

Mas este impedimento pode ter os dias contados. A E&M ouviu Lourino Chemane, presidente do Instituto Nacional das Tecnologias de Informação e Comunicação (INTIC) — órgão responsável por regular, supervisionar e fiscalizar o sector das Tecnologias de Informação e Comunicação no País — que, reconhecendo haver a necessidade de corrigir a regulamentação relacionada com a questão da computação em nuvem, revelou "estarem já em curso" acções para alterar o actual código legal. A primeira medida foi o

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NAÇÃO | IA

lançamento de um concurso para a contratação de um consultor que irá encarregar-se de elaborar os passos que devem ser seguidos para a utilização segura dos dados em nuvem, visto que há questões por acautelar relacionadas com a salvaguarda da segurança cibernética. Outra é a construção e operação dos centros de dados em agenda. “Entendemos que não podemos fugir às boas práticas ao mesmo tempo que temos o dever de estimular a criatividade e a inovação”, assumiu.

Olhando para o mercado do emprego, Alexis Meyer-Cirkel, representante residente do FMI em Moçambique, que prefere abordar toda a questão como economista e não como representante daquela instituição, começa por deixar claro que, no novo paradigma de aprimoramento da IA, as empresas, definitivamente, devem chamar a si a responsabilidade de formar o seu capital humano, pois não haverá volta a dar se quiserem tornar-se competitivas. E admite, entretanto, que o temor de que tecnologias como o ChatGTP possam ocasionar o desemprego massivo de pessoas pode efectivar-se, com a agravante de poder causar, simultaneamente, a substituição de trabalhos da área da produção e dos serviços.

E cita como exemplo o fim de grande parte das agências de viagens em resultado do avanço da comunicação digital que liga compradores e operadores de forma directa. Apesar disso, sublinha, sempre que a tecnologia avança e se teme o aumento do desemprego, verifica-se, depois, que os postos de trabalho em causa são readaptados ou transformados noutras competências. “Como economista, vejo a evolução da IA como um ‘problema bonito’, porque vai gerar eficiência na produção, competitividade, maior crescimento e melhor distribuição de renda. Mas será preciso definir como é que os sectores público e privado vão coordenar, em conjunto, a estratégia de implementação da IA, lembrando que os governos têm um papel importante a desempenhar em todo o processo”.

Entretanto, uma pesquisa facultada à E&M pela EY sobre o tema acrescenta que a chave para maximizar o potencial passará pela combinação criativa de soft-ware de IA com outras tecnologias, aumentando as suas capacidades para criar novas e melhores formas de trabalhar e transformar a tecnologia emergente numa vantagem competitiva. “Afinal, historicamente, a maioria dos avanços tecnológicos não provêm de momentos únicos de genialidade. Até a própria IA é um exemplo disso”, refere o estudo, sugerindo que as empresas terão muito trabalho para transitar para a nova realidade.

IA made in Moçambique?

Além da experiência que está a ser ensaiada pela Universidade Pedagógica de Maputo, com o seu projecto de Robótica Educacional (leia o “Especial Inovações Daqui”), e de alguns, poucos e isolados, projectos desenvolvidos por outras universidades, o País não se tem assumido como potencial protagonista da mudança. Para Rogério Lam, administrador do BCI, investir em IA em Moçambique "pode ser um desafio, especialmente no que diz respeito à infra-estrutura e ao acesso a recursos de pesquisa e desenvolvimento. No entanto, existem iniciativas locais que podem promover o desenvolvimento da IA, como parcerias entre empresas, universidades e organizações do Governo.

“Acredito que seja possível explorar a possibilidade de desenvolver soluções de IA adaptadas ao contexto moçambicano. Embora seja verdade que a maioria destas soluções sejam importadas, não significa que não seja possível criar soluções locais. E isso pode trazer benefícios significativos, como a redução de custos e a criação de soluções adequadas às necessidades específicas do nosso mercado e ainda como forma de capacitação dos quadros

nacionais”, referiu. Mas alerta que "é importante lembrar que o desenvolvimento de soluções de IA requer investimento em pesquisa e desenvolvimento, bem como em capacitação de recursos humanos". Além disso, prossegue, "é fundamental garantir a transparência e a ética no desenvolvimento e uso da IA". E sublinha que, “com esforços conjuntos que envolvam as empresas, universidades e organizações do Governo, "será certamente possível desenvolver soluções de IA made in Moçambique adaptadas ao contexto local”.

São precisas equipas de “Estratégias de Inovação”

João Gaspar, por seu turno, considera ser urgente que todas as empresas comecem a pensar em constituir equipas de duas ou três pessoas numa área que se pode chamar “Estratégias de Inovação”. Sugere que estes quadros não olhem para o que a empresa está a fazer hoje, mas para tecnologias que serão implementadas no futuro da empresa. “É preciso ter algum tipo de investimento para enveredar por este caminho, pois não é fácil pagar a alguém que não está a trazer negócio hoje, estando a preparar para o futuro”, admite o engenheiro.

No fim de contas, Moçambique não foge à realidade de nenhum país do mundo quanto à possibilidade de acesso a determinadas ferramentas de IA mas, por outro lado, o que não falta são desafios no quadro da adopção destas novas ferramentas 'desenhadas' pela IA, a começar pela conjuntura socioeconómica de um país que tem um dos PIB per capita mais baixos a nível mundial, e que se debate com a exiguidade de recursos materiais e humanos com capacidade técnica, conhecimento e literacia digital.

Depois, todos os intervenientes ouvidos pela E&M coincidem num facto: é fundamental assegurar a utilização destas novas ferramentas e das excitantes possibilidades que abrem em linha com os aspectos regulatórios e éticos. E alertam para a utilização destas ferramentas dever ser continuamente monitorada e optimizada para conferir confiança dos consumidores. Se assim for, pode trazer benefícios para áreas como a Educação, a Medicina, a ciência e a produção de conhecimento, melhorando a eficiência, a produtividade e reduzindo custos, fraudes e actividades suspeitas. Se vier por bem, será um parceiro. No fundo, está nas nossas mãos, como sempre esteve, a forma como a IA se irá posicionar no nosso futuro. Se será uma ajuda para melhorar o mundo real em que vivemos. Ou se só mais uma desculpa para o destruir.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 31

Um Teste Rápido à Eficácia da Inteligência Artificial

Inteligência Artificial (IA) é uma das áreas mais emocionantes e de rápido crescimento da tecnologia actualmente. É uma combinação de técnicas matemáticas, estatísticas e algoritmos que permitem aos sistemas “aprender” e realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana.

Muito se tem falado do impacto da IA nas nossas vidas, na nossa forma de trabalhar e no aumento de produtividade inerente à sua utilização.

Já fiz alguns artigos para esta revista, e o processo de escrita típico para cada um deles demora sensivelmente uma semana, desde pensar as mensagens-chave, alguma pesquisa e, inevitavelmente, uma tarde de domingo sentado em frente ao computador por forma editar o texto final.

Uma das áreas actualmente mais faladas para utilização de IA é a de geração de conteúdos. Os modelos podem ser usados para gerar texto sobre assuntos específicos, como resumos de notícias ou artigos de opinião em várias línguas. Isso pode ser útil para jornalistas, ou para casos como o deste vosso amigo, que precisam escrever rapidamente sobre assuntos complexos.

Mas será que utilizando IA conseguirei ser realmente mais rápido e produtivo na construção do artigo? Decidi utilizar o ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI, para responder a esta pergunta uma vez que tenho lido em várias fontes que é capaz de escrever código de programação, de passar em testes de acesso à universidade e até de escrever teses. Há já empresas ligadas à comunicação e imprensa que estão a recorrer ao Chat-GPT para escrever artigos ou seleccionar informação.

Funciona de forma muito semelhante ao Google mas indo mais além, já que foi “treinado” numa enorme quantidade de textos da Internet e é capaz de gerar respostas coerentes para uma ampla variedade de perguntas e estímulos. Fui-

-lhe fazendo perguntas e utilizando as respostas como conteúdos para este artigo. Na prática, foi uma conversa.

A IA, e o ChatGPT em particular, têm um grande potencial de impactar positivamente a sociedade em muitos sectores, incluindo saúde, educação, finanças, entretenimento e muito mais.

Por exemplo, sistemas de IA podem ser usados para melhorar a eficiência e precisão dos diagnósticos médicos, fornecer aos utilizadores recomendações personalizadas e ajudar a resolver problemas complexos de forma mais rápida e eficiente.

A IA e o ChatGPT também apresentam desafios éticos e de segurança. Por exemplo, há preocupações sobre a privacidade e segurança dos dados usados para treinar sistemas de IA.

A IA e outras tecnologias avançadas têm o potencial de automatizar algumas tarefas e transformar diversos sectores, incluindo a produção, o atendimento ao cliente, a saúde e as finanças. Algumas profissões que podem ser afectadas incluem operadores de máquinas, operadores de “call center”, profissionais de saúde, advogados e, sim,… jornalistas e escritores de artigos de opinião.

É importante notar que a IA também pode criar novos empregos e oportunidades, especialmente na área de desenvolvimento de tecnologias avançadas. Além disso, muitos trabalhos podem ser transformados, em vez de serem completamente substituídos, como os profissionais que precisam de trabalhar com a tecnologia para obter resultados mais eficientes.

Em resumo, a Inteligência Artificial é uma área em constante evolução que oferece enormes oportunidades e desafios. O ChatGPT é apenas uma das muitas inovações recentes na IA que está a transformar a forma como trabalhamos e vivemos.

Como sociedade, precisamos de continuar a explorar e entender esta tecnologia, a fim de maximizar os seus benefí-

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 32 OPINIÃO
Bruno Dias • Consulting Partner
É importante notar que a IA também pode criar novos empregos e oportunidades, especialmente na área de desenvolvimento de tecnologias avançadas. Além disso, muitos trabalhos podem ser transformados...

cios e minimizar os seus riscos. A Microsoft tem aqui uma posição de vantagem ao ter-se associado cedo à OpenIA, sabendo-se que, em breve, terá o ChatGPT integrado nos seus serviços e produtos. A Google está atrasada neste campo e por isso resolveu revelar recentemente o Bard, ainda em fase de testes, a sua proposta para combater a proposta da OpenIA.

Uma das maiores vantagens do Bard é que vai conseguir dar aos utilizadores respostas com base no que está agora a acontecer, no momento, utilizando a Internet. O ChatGPT da OpenAI tem aqui uma limitação, pois apenas oferece informação que estava disponível no passado. À parte disto, o modo de utilização será o mesmo, ou seja, baseado numa conversa.

A Google advertiu que o Bard pode, por enquanto, fornecer informações imprecisas ou inadequadas. A fase de testes destina-se a ajudar a Google a continuar a aprender e a melhorar a qualida-

de e a velocidade do Bard. Nenhum dado sobre como e quando o público pode experimentar o Bard está ainda disponível.

Apesar desta advertência, na demonstração colocada no Twitter, o Bard deu mesmo uma resposta com uma imprecisão. Este facto levou as acções da Alphabet, dona do Google, a caírem 7,7% na quarta-feira, 8 de Fevereiro do presente ano, eliminando US$ 100 biliões do seu valor de mercado. Impressionante, não é? Impressionante, quer pela dimensão do impacto, quer pela ingenuidade de um gigante que deu o flanco ao mundo de forma inadvertida.

Devo dizer que esta experiência foi positiva, e que a maior parte dos conteúdos de informação consegui obter no ChatGPT.

Excepção feita para conteúdos mais quotidianos ou alguns (poucos) tópicos em que me informou que a sua “informação de treino” não contém dados para me responder.

O resultado, meus caros, foi condensar uma semana de dedicação a um artigo a uma manhã de domingo muito bem passada a conversar com o ChatGBT e que permitiu a edição rápida deste texto.

O caos que reina nas várias plataformas de conhecimento leva a que estas tecnologias possam ser alimentadas pela própria desinformação criada pelo homem e que podem levar-nos a um futuro onde será difícil de distinguir o que é falso e o que é verdadeiro.

Estes tópicos, e os associados à ética de manipulação de informação, são, a meu ver, os grandes desafios destes paradigmas de IA. Os algoritmos terão de aprender com fontes fidedignas e com os dados correctos.

Mas uma coisa é certa: vieram para ficar e vão ser aperfeiçoados continuamente! Já não estamos muito longe do que lemos nos livros do Isaac Asimov ou do Arthur C. Clarke. Garanto-vos que a conversa foi muito estimulante e recomendo. O leitor não quer experimentar?

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 33
A IA já garante automatismo nos processos produtivos, mas ainda está em evolução

O Homem Será Mais

Criativo e o Mundo Totalmente Novo… Em Dez Anos!

As transformações a que assistimos hoje em dia e as que se esperam num futuro breve não serão meramente de cariz tecnológico. Mudarão completamente a nossa forma de ver o mundo. Prevê-se que a IA venha a estimular a criatividade das pessoas para atender outro tipo de necessidades humanas. E essa mudança já começou

Aconsultora Ernst & Young (EY) acompanha muito de perto a ascensão da Inteligência Artificial em todas as suas nuances, e facultou à E&M importantes pesquisas que exploram diferentes contextos de vida das sociedades que devem ser impactadas por esta nova abordagem.

Um dos estudos foi realizado por Nicola Morini Bianzino, director de Tecnologia de Clientes Globais da EY, focado em trazer produtos de tecnologia para os clientes da consultora e posicionar essa mesma tecnologia no centro da organização.

Intitulado “A IA é o início do ser humano verdadeiramente criativo?”, o estudo parte do princípio de que “o sucesso e o crescimento não serão alcançados focando apenas na tecnologia, porque a tecnologia nada mais é do que uma ferramenta que nos permite desenvolver bens e serviços de que os humanos precisam.

A verdadeira habilidade não está no desenvolvimento de soluções tecnológicas, mas sim em identificar o que as pessoas querem – e então encontrar as melhores maneiras de entregar. A questão não é como usar a tecnologia, é o impacto que ela pode ter”.

Mestre em IA e Economia pela Universidade de Florença e considerado um dos líderes de pensamento em IA, machine learning, inovação e big data, Nicola Bianzino faz uma série de análises sobre as “promessas da IA” às sociedades, referindo, primeiro, que poderá aumentar e melhorar a inteligência humana, ajudando-as a fazer melhores esco-

lhas. E, neste aspecto, faz menção ao facto de que, num mundo com mais dados do que nunca, a mente humana não está naturalmente equipada para detectar correlações nos milhares de pontos de dados. Mas quando a criatividade humana é combinada com o enorme poder de computação das técnicas de IA, podemos ampliar as fronteiras da nossa compreensão do mundo ao nosso redor.

Assim, em vez de ser apenas uma maneira mais rápida de analisar informações, a IA pode tornar-se num estímulo para um pensamento mais criativo sobre como usar os dados, sugerindo soluções que os humanos podem nunca ter considerado.

“Mesmo agora, os assistentes inteligentes com interfaces de conversação já estão a começar a ser usados para ajudar a aprimorar os processos de tomada de decisão em tempo real, ajudando trabalhadores menos experientes a aproveitar a experiência conjunta de todo um sector, sugerindo melhores abordagens para resolver problemas de engenharia”, exemplificou.

O pesquisador entende, entretanto, que, na próxima década, estes ajudantes de IA começarão a trabalhar cada vez mais com tarefas mais complexas, permitindo que os humanos inovem, concentrando-se na escolha da melhor solução e não apenas na identificação das opções ou na modelagem de cenários para ajudá-los a decidirem sobre as melhores opções com base em previsões.

Além desse horizonte, ainda de acordo com o estudo, o potencial é que a IA se torne verdadeiramente simbiótica com a inteligência humana: uma ferra-

menta cada vez mais essencial para entender o mundo e criar novas maneiras de melhorá-lo.

“A criatividade pode ser uma característica exclusivamente humana, mas, assim como a IA, pode melhorar a eficiência de outros sistemas e processos, tal como optimizar o processo criativo”, explicou.

A relação entre IA e a criatividade humana

De acordo com o pesquisador, a IA, no seu nível mais básico, simula aspectos da inteligência humana – como o reconhecimento de padrões, análise de dados e resolução de problemas.

Mas enquanto nós, humanos, podemos identificar padrões naturalmente, os nossos preconceitos e suposições humanas podem atrapalhar. Por isso, à medida que melhoramos a criação da IA,

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 34 NAÇÃO | INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Texto Celso Chambisso • Fotografia Istock Photo

este tipo de erros deve ser resolvido (cada vez mais), permitindo adoptar uma abordagem menos humana para a análise e resolução de problemas.

“Como resultado desta situação, teremos uma maneira totalmente nova de ver o mundo”, refere Nicola Bianzino. E reforça: “ao combinar a compreensão e a interpretação humana e da IA, podemos encontrar maneiras totalmente novas de abordar desafios, desenvolver ideias e impulsionar o crescimento”. Ou seja, “em vez de começar um raciocí-

nio ou resolução de problemas com uma tela em branco, podemos usar a IA para direccionar o nosso julgamento criativo e processos de tomada de decisão para sugerir rotas de inovação com maior probabilidade de sucesso, com base nos dados disponíveis”.

Mais tempo para o trabalho… e para a vida

Numa altura em que a qualidade de vida das pessoas é negativamente impactada pela dificuldade de conciliar as

necessidades da vida privada com as da vida profissional, há indicação de que o problema pode ter os dias contados.

A pesquisa da EY refere os ganhos de tempo decorrentes da evolução da IA: “as tecnologias de aumento de eficiência são fantásticas para eliminar a necessidade de envolvimento humano em tarefas demoradas de back-office ou trabalho pesado físico, permitindo que os humanos se concentrem mais no trabalho pesado intelectual”. Depois questiona: “afinal, quem tem tempo para ter novas ideias se tem prazos para cumprir e planilhas para preencher?”

A explicação para o optimismo quanto ao maior ganho de tempo é a utilização da tecnologia com mais frequência para melhorar a eficiência. E a mecanização e automação que podem imitar o comportamento humano para realizar tarefas repetitivas e de alto

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Em vez de ser apenas uma maneira mais rápida de analisar informações, a IA pode tornar-se num estímulo para um pensamento mais criativo sugerindo soluções que nunca foram consideradas

volume, libertando tempo para que as pessoas se concentrem em trabalhos de alto nível e mais valiosos, como pesquisa e desenvolvimento ou planeamento estratégico.

Além disso, “tempo economizado pode criar novas oportunidades para o envolvimento humano – voltando a ser humano ao envolver-se na construção de relacionamentos entre humanos e em actividades e projectos colaborativos.

Estes tipos de interacções não apenas ajudam a melhorar a cultura organizacional, como também possibilitam aqueles momentos de colaboração que podem levar a ideias inovadoras que muitas vezes são desencadeadas pela discussão”, concluiu.

IA pode não favorecer igualdade de género

O lado bom da IA é o mais evidenciado, mas, obviamente (e como em tudo na vida), existe o outro lado. E este consta de outra pesquisa, igualmente da EY, mas realizada pela líder global da instituição para a área da mulher, Julie Linn Teigland.

A responsável começa por questionar: “Porque precisamos de resolver a questão do preconceito de género antes que a IA a torne pior?”. Aliás, este é o título do seu estudo. E sugere que há riscos importantes a considerar a este nível. Mas que argumentos apresenta?

Vejamos:

A pesquisadora recorre a um relatório denominado Global Gender Gap do Fórum Económico Mundial, para avançar que apenas 22% dos profissionais de Inteligência Artificial em todo o mundo são mulheres, em comparação com 78% dos homens. E conclui que essa descoberta é alarmante por si só, mas é ainda mais alarmante à luz da rápida taxa de mudança tecnológica que estamos a experimentar hoje. E porquê?

Admitindo que “o surgimento da IA melhorará as nossas vidas em muitos aspectos”, Julie Teigland aponta, igualmente, “sérios riscos”, justificando que a IA depende de algoritmos que aprendem com dados do mundo real para que possam, inadvertidamente, reforçar os preconceitos sociais existentes.

Assumindo, igualmente, que a questão não é a IA, mas como os humanos a constroem, revela que existe um risco muito real de que, em vez de resolver o problema do preconceito de género, a IA apenas o exacerbe ainda mais.

“Hoje já vemos anúncios direccionados em que os algoritmos estão a perpetuar a diferença salarial, encami-

nhando as listagens de empregos mais bem pagos para os homens. Enquanto isso, assistentes virtuais – que são subservientes e não remunerados – tendem a ser retratados por mulheres, e muito mais mulheres do que homens devem perder os seus empregos para a automação”, observou.

Assim, para a pesquisadora, “a IA provavelmente aumentará, em vez de reduzir, a diferença de género no futuro, a menos que tomemos medidas agora”.

Uma das sugestões para evitar esta previsão é que o “cuidado para que a crescente representação das mulheres na força de trabalho não se limite apenas a alguns sectores tradicionalmente femininos, como organizações sem fins

lucrativos, saúde e educação, mas a inclusão de mulheres em novos campos, incluindo software, engenharia e serviços de TI, bem como áreas tradicionalmente dominadas por homens, como finanças e manufactura”.

Além disso, as mulheres também precisam de estar equipadas para desempenhar papéis de responsabilidade nos sectores públicos, para garantir que a IA seja desenvolvida da forma mais inclusiva possível e que os benefícios sejam igualmente compartilhados, independentemente de género, raça, etnia, etc. “As abordagens de cima para baixo, como o estabelecimento de padrões globais, precisarão de trabalhar com esforços de baixo para cima”, concluiu.

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NAÇÃO | INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
“Cuidado para que a crescente representação das mulheres na força de trabalho não se limite apenas a alguns sectores tradicionalmente femininos... mas inclua novos campos dominadas por homens”

Culturas Regenerativas –A Esperança não é Algo que se Tem, é Algo que se Faz

Gregory Bateson acreditava que os maiores problemas do mundo se devem ao resultado da diferença entre:

- Como a natureza funciona;

- Como as pessoas pensam. Não querendo fazer parte do bloco dos “buscadores de culpados” e/ou dos desiludidos com a humanidade, é no mínimo estranho que exista cada vez mais clareza sobre os riscos complexos que enfrentamos, enquanto organismo global vivo, e que continuemos os nossos estilos de vida, práticas económicas e agendas políticas (e sociais) como se nada se passasse (com todo o respeito pelas genuínas intenções e trabalho/serviço dedicado).

Embora vejamos “os outros” a morrer, e saibamos que a morte é uma visita garantida, há uma certa dificuldade em aceitar que ela chegará a nós.

Vanessa Andreotti, professora e investigadora cujo trabalho admiro pela sua importância, sobretudo no ecossistema educativo que continua a educar para a competição, diz-nos que, “os nossos actuais problemas globais não estão relacionados com a falta de conhecimento, mas sim com um hábito de ser inerentemente violento da modernidade colonial. Quatro negações estruturam este hábito de ser:

1 - A negação da violência sistémica e a cumplicidade no dano (o facto de que as nossas comodidades, garantias e prazeres são subsidiados pela expropriação e exploração noutro lugar);

2 - A negação dos limites do planeta (o facto de o planeta não poder sustentar o crescimento e o consumo exponencial);

3 - A negação do enredamento (a nossa insistência em vermo-nos como separados uns dos outros e da terra, em vez de “enredados” num metabolismo vivo mais amplo que é bio-inteligente), e

4 – A negação da profundidade e magnitude dos problemas que enfrentamos: as tendências:

a) para procurar “esperança” em soluções simplistas que nos façam sentir e parecer bem;

b) para nos afastarmos do trabalho difícil e doloroso (por exemplo, para nos concentrarmos num “futuro melhor” como forma de escapar a uma realidade que é percebida como insuportável).”

(Gesturing Toward Decolonial Futures, Vanessa Andreotti).

Desligamo-nos de tal forma da lógica da vida que, apesar dos sinais de alerta à nossa frente, e em nós próprios enquanto parte do organismo vivo global, continuamos a caminhar mecanicamente, incapazes de parar, reformular perguntas e reflectir.

Entre a polaridade que acha que o cenário é exagerado e vive como se nada se passasse e a que acha que o mundo vai acabar, há uma esperança - que é activa.

Joanna Macy e Chris Johnstone falam-nos sobre as três histórias do nosso tempo:

1. Business as Usual – abordei-o no meu primeiro artigo, e tem que ver com este “continuar a viver como se nada se passasse”;

2. O Grande Desmoronamento – uma visão apocalíptica, que tende a bloquear-nos e/ou a adoptar caminhos radicais;

3. A Grande Viragem – que não nos traz promessas, nem certezas, mas que traz acima de tudo clareza, vontade e coragem.

A esperança activa é uma prática. “... É sobre tornarmo-nos participantes activos na realização daquilo que esperamos.” (Active Hope, Joanna Macy e Chris Johnstone).

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 38 OPINIÃO
Há ainda uma tendência para continuarmos a ver o activismo como um papel específico centralizado em determinados sectores ou pessoas
Susana Cravo • Consultora & Fundadora da Kutsaca e da Plataforma Reflorestar.org

Quando falamos em Culturas Regenerativas, é altamente provável que os seus aprendizes-praticantes se revejam e caminhem para esta “grande viragem” que nos traz, essencialmente, três dimensões em que podemos intervir:

1. Acções de contenção: Para desacelerar os danos à Terra e seres que nela vivem;

2. Práticas e Sistemas que Sustentam a Vida: Transformação das fundações da nossa vida comum;

3. Mudança de Consciência: Na visão do mundo e nos valores.

E o que dificulta esta “grande viragem”:

• Os pressupostos da sociedade de crescimento industrial;

• A ilusão da separação;

• A falta de percepção do meu papel no todo maior e sua inter-relação (a tendência para nos vermos na “equipa dos bons”);

• Pensamento dual e mecanicista;

• O paradigma antropocêntrico;

• Foco no problema e no problem solving, isolando as questões em si-

los e perdendo de vista o sistema maior;

• A massificação e uniformização de políticas e programas (baseada na falta de conhecimento e respeito pelos lugares);

• A centralização do poder de decisão, escolha e influência numa camada que se considera mais preparada, experiente e inteligente e que não dá lugar a uma escuta, participação e cooperação equilibrada e necessária.

Há ainda uma tendência para continuarmos a ver o activismo como um papel específico centralizado em determinados sectores ou pessoas. Esta tendência não é só baseada na visão tradicional, ela está ligada a esta desresponsabilização e negação.

Todos nós somos agentes de mudança. Activismo é activar o meu estado de agência.

Fazendo-nos perguntas simples e difíceis, como:

- De que forma estou a relacionar-me com a vida?;

- A partir de onde estou a operar?;

- A forma como estou a viver serve a mim, à minha família, à minha equipa, à minha comunidade, ao planeta?;

- Como é que posso activar o meu estado de agência?

Este exercício franco, regular e feito a partir de um lugar de humildade e verdadeira abertura ao caminho da cooperação, para que não se caia no radicalismo e moralismo da busca de culpados, nem nos riscos do “grande desmoronamento”, é o convite que deixo a tod@s nesta edição.

Lembrando que, para nos reconectarmos com os princípios da vida, é preciso, antes de mais, parar, respirar fundo, abrir-me ao “não saber”, ouvir outras vozes, reformular as perguntas e, acima de tudo, habitá-las, sem pressa de lhes encontrar resposta.

Com a leveza, humildade, ânimo e coragem do aprendiz-praticante, que tem consciência que, ao seu alcance, está apenas activar o seu estado de agência, na sua esfera, no seu lugar. E que muitas “pequenas esferas e lugares” são importantes e têm poder.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 39
A esperança activa é uma prática

especial inovações daqui

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TECNOLOGIA E EMPREGO

A rápida evolução das ferramentas de Inteligência Artificial coloca questões e desafios a profissionais e empresas de um crescente número de sectores de actividade.

Uma app para ‘ligar’ e manter conectados os residentes de Maputo

As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo

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PANORAMA

Tecnologia é (Des)Emprego? Como é Que Nós, e o Mercado, Podemos Reagir?

O burburinho global gerado pelo ChatGPT trouxe consigo, nos últimos meses, um conjunto de inovações que, ao mesmo tempo que se constituem como soluções para inúmeros problemas, colocam simultaneamente questões sobre o futuro de inúmeras profissões que poderão, a breve trecho, vir a ser substituídas pela tecnologia. A IA será uma ameaça à existência de certas profissões? Ou podemos trabalhar juntos?

No filme Terminator2, de 1991, protagonizado por Arnold Schwarzenegger, o mundo caía num apocalipse tecnológico, desencadeado pela ascensão das máquinas criadas pela Skynet que, ao adquirirem consciência, decidem então eliminar todos os seres humanos do planeta Terra por os considerarem uma ameaça à sua existência. Há 30 anos, tudo isto era pura ficção científica, e uma obra de imaginação inatingível pelo mundo de então em que, recordemos, a Internet, os telemó-

já estão a surgir baseadas nesta tecnologia não são acompanhadas das preocupações pelas consequências que estas podem desencadear. Pelo menos para já. Mas o debate, esse sim, está lançado e, acredita-se, será dos mais interessantes de seguir nos próximos tempos. Olhando apenas ao mundo do emprego, não é a primeira vez que o mercado do emprego é confrontado com mudanças contextuais provocadas pela tecnologia. Longe disso. Historicamente, o mercado de trabalho está em constante transformação, e profissões que dei-

veis e até os computadores pessoais não existiam de forma massificada e disponível ao uso comum.

No entanto, hoje em dia, a realidade parece aproximar-se da ficção, pelo menos (esperemos, claro) na parte em que as máquinas já pensam, ainda que de forma generativa baseada no machine learning e na utilização de algoritmos. E aquilo a que assistimos com a ascensão do ChatGPT e de outros mecanismos baseados na mesma tecnologia são o primeiro sinal real de que o futuro já chegou.

Será justo dizer que o entusiasmo com que foram recebidas as inovações que

xam de existir dão espaço a novas ocupações para melhor atender às demandas emergentes. Tal é o caso da profissão de telefonista, fundamental até à década de 1980, muito antes da automação de serviços. Na altura, as operadoras de telefonia dependiam de profissionais que passavam os sinais de comunicação da central para canais específicos. Porém, com a automação das linhas telefónicas e o avanço da tecnologia de dispositivos móveis, essa profissão deixou de existir para o público. E o mesmo aconteceu com a profissão de linotipista (sim, existia!), cuja tarefa era a de manusear o linotipo, uma máquina de escrever tradi-

cional que possui um depósito de linhas que armazenam um determinado número de frases prontas, optimizando o trabalho de digitação e impressão das folhas. Assim como os dactilógrafos, a máquina também exigia cursos de especialização, permitindo que os linotipistas trabalhassem em editoras e jornais. Mas com o advento da tecnologia, principalmente computadores e impressoras, esta profissão foi também extinta. Então, porque seria diferente agora?

O que vai então mudar?

O ChatGPT e outros, como o DALLE ou o Mid Journey (criação de imagem)

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TEXTO Nário Sixpene • FOTOGRAFIA Istock Photo, D.R.
Sónia Silva e Nuno Rocha explicam que a mudança vai manifestar-se de três formas: a mutação de algumas profissões, o desaparecimento de umas e o surgimento de outras
TECNOLOGIA VS TRABALHO

por exemplo, têm sido vistos enquanto ameaça às carreiras de jornalistas, copywriters, artistas plásticos, linhas de apoio ao cliente, advogados, cientistas, médicos, programadores, manequins ou actores. E só para citar alguns. Mas será mesmo assim? Sónia de Sousa Silva e Nuno Rocha, especialistas em RH (e administradores da Contact, uma das empresas de recrutamento líderes no mercado nacional), defendem que, na verdade, “é natural que haja preocupações que são legítimas, mas este é um fenómeno normal e, quiçá, benéfico para o mundo das carreiras. A IA poderá extinguir empregos, mas o merca-

do naturalmente irá criar centenas de outras ocupações com maiores graus de complexidade e responsabilidade”, argumentam. E, lançando um olhar ao futuro, explicam como a mudança se poderá manifestar de três formas: “iremos assistir à mutação da natureza de algumas profissões, ao completo desaparecimento de umas e ao surgimento de novas actividades, porque as mudanças são uma consequência natural da evolução”.

Recrutamento já se está a adaptar

E como irão as empresas de recrutamento adaptar-se a todo este novo enquadramento que a IA poderá represen-

tar para o mercado? Para os administradores da Contact “o tempo das empresas com várias pilhas de curricula em cima da mesa já acabou”, e justificam que “isto só foi possível porque a transformação digital aconteceu, incorporando mais tecnologia e ferramentas para a execução dessas actividades”. Assim, “actualmente, o uso da tecnologia em empresas como a Contact já é mais do que essencial, traz-nos mais agilidade e uma tomada de decisão mais assertiva em qualquer processo de recrutamento e selecção. Com isso, diminuem-se as etapas operacionais e garante-se mais tempo para se pensar na parte estratégica do processo”, assinalam.

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No entanto, há ainda coisas essenciais que a IA não faz, e dificilmente poderá fazer num futuro próximo. “Muitas tarefas e habilidades ainda exclusivamente humanas, como a empatia, são, no fim de contas, importantes no processo de recrutamento e selecção. Sem interacção humana, pode ser difícil construir relações com os candidatos e avaliar a sua adequação cultural”, explicam.

Aumento exponencial das competências em IA

E continuam: “se a tecnologia já era indispensável para manter as empresas competitivas, agora ganhou maior relevância e importância, principalmente depois da pandemia. A flexibilização exigida e o home office levaram a uma maior procura de profissionais qualificados na área de tecnologias de informação”. E o mercado nacional, poderá, no médio prazo, dar respostas a esta mais do que prevísivel necessidade? “Em Moçambique, assistimos às universidades a introduzirem no seu currículo licenciaturas e mestrados em Robótica e Inteligência Artificial, e isso é um primeiro sinal claro de que já existe a necessidade em formar estes skills”.

Claro que a realidade socioeconómica de um país que ainda tem demasiados desafios mais próximos e urgentes para ultrapassar colocam a questão do impacto da IA no mercado de trabalho numa perspectiva ainda longínqua, mas já existem, hoje, sectores de actividade, como as Telecomunicações e a Banca, em que o debate sobre o processo de automação e inclusão de IA nas suas operações é tido em conta. Não haja dúvidas que a transição digital já começou e o processo é, nesta altura, imparável.

O que o mercado vai procurar

E é por isso mesmo que é essencial que os jovens moçambicanos estejam cientes de que a IA fará parte do seu (e do nosso) presente e que se devem preparar para esta nova Era buscando uma maior capacitação e formação nestas matérias.

Sónia Silva e Nuno Rocha concordam que, felizmente, já há cada vez mais jovens entusiastas das tecnologias que procuram formação nessas áreas. “Se estão cientes desta transição? Parte sim, outra nem tanto. E aqui a questão é de base, é necessário criar, nos jovens, hábitos de utilização de tecnologias e de levantarem questões para a resolução dos seus problemas, questões essas que permitirão incutir mais esforço no desenvolvimento de ferramentas que nos simplifiquem o dia-a-dia”, argumentam.

E aconselham: “é preciso apostar no conhecimento de linguagens de programação como C#, C++, Java e Python. É preciso gostar de estatística e de matemática e procurar formação superior específica nestes segmentos. As áreas que claramente vão apresentar uma procura mais acentuada serão, com certeza, a inteligência artificial, blockchain, big data e data analytics”, assinalam.

Quanto às organizações, consideram que a IA pode ser uma importante aliada na análise de grandes quantidades de dados, assim como no acesso à informação em tempo real e na relação com os clientes, como é o caso dos assistentes virtuais. “Há, como consequência, uma procura de profissionais que tenham essas competências técnicas. Mas não só, pois as competências interpessoais ou soft skills são, no mínimo, igualmente importantes para desenvolver as solu-

ções de forma eficaz. Com a IA, a procura poderá recair em profissionais ‘transversais’, capazes de trabalhar em equipa, criativos e com grande flexibilidade e, do lado das empresas, um dos desafios que se colocam a este nível será o défice de profissionais nesta área, o que as obrigará a reforçarem o investimento na formação dos seus próprios profissionais”.

Formação, o outro lado da moeda

Em Moçambique têm sido dados alguns passos no reforço da formação em Robótica, embora ainda haja um grande caminho a percorrer no que diz respeito à IA. Os progressos a este nível começam a acontecer pela porta da Universidade Pedagógica de Maputo, mais concretamente através da Faculdade de Matemática e Ciências Naturais. A E&M falou com Armindo Monjane, director e professor catedrático desta instituição,

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que nos revela que, para conseguir resultados satisfatórios na formação de quadros nacionais em tecnologias, a instituição ainda busca por parcerias internacionais e recursos financeiros, pelo que existe um plano estratégico já bem definido para atacar este objectivo, que consistirá na selecção dos programas a leccionar, dos docentes que poderão colaborar bem como nos modelos de ensino a serem adoptados.

Mas, enquanto isso não acontece, de acordo com Armindo Monjane, a UP vai investindo nas chamadas ‘Salas do Futuro’, espaços multidisciplinares que funcionam como oficinas pedagógicas para o ensino integrado em STEM (Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática). Estão equipadas com kits de ciências, robótica e equipamento digital e vão permitir a integração de várias áreas do saber no mesmo espaço com novos mé-

todos de ensino para o desenvolvimento de competências para aprendizagem baseada na resolução de problemas da realidade quotidiana, tendo como suporte todas estas novas ferramentas de IA que estão agora disponíveis em open source (disponíveis para a comunidade de programadores que as queiram utilizar na criação de soluções). Por agora está disponível apenas uma sala, instalada no campus principal da UP em Maputo, mas a previsão é que sejam instaladas outras três noutros pontos do País.

Formação para os mais novos

Ainda no quadro da sua intervenção neste âmbito, a UP está a desenvolver o que chama de robótica educacional. Consiste em despertar, nos alunos de nível secundário, o gosto pela ciência e pelos automatismos da IA e da Robótica.

“À luz da robótica educacional, a Uni-

versidade forma já centenas de jovens anualmente, que exibem os seus projectos numa competição promovida na academia e em que participam centenas de alunos representantes de algumas escolas da capital. Os vencedores têm, depois, a oportunidade de integrar equipas de concorrentes internacionais, que acabam por ser uma oportunidade de entrar em contacto com conhecimentos de outras realidades”, realça o responsável.

A este respeito, do último evento de robótica educacional, realizado em finais do ano passado, foram seleccionados seis alunos para um concurso internacional em Dallas, nos Estados Unidos, em Abril deste ano. Antes, graças ao mesmo evento, um outro grupo de jovens moçambicanos tinha tido a oportunidade de participar num concurso similar na Suíça.

O projecto de divulgação da iniciativa da robótica educacional nas escolas tem apoios de várias organizações, sendo

uma das principais a Osuwela – uma ONG ligada às ciências que fomenta o pensamento crítico, cria conteúdos para projectos na área da robótica, etc. –, que fornece formação para alunos e professores dos Clubes STEM das 12 escolas secundárias envolvidas na cidade e província de Maputo. Tudo isto é possível graças à aliança com parceiros estratégicos como a ExxonMobil, a VexRobotics, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, entre outros parceiros.

Ainda de acordo com Armindo Monjane, a ideia passa agora por “ampliar este movimento” a cada ano que passa e tentar massificar o gosto pela IA e pela Robótica para, a partir daí, começar o estímulo a iniciativas “made in Mozambique” que possam contribuir para aproximar humanos e máquinas e, assim, criar as respostas aos problemas concretos da sociedade moçambicana e global.

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É preciso apostar no conhecimento de linguagens de programação... gostar de estatística e de matemática, e procurar formação superior específica nestes segmentos

Quando Uma Cidade Inteira Cabe na Palma da Nossa Mão

A sociedade moderna debate-se com a cada vez mais difícil rotina corrida das grandes cidades e o acumular de actividades que, em certa medida, reduzem a qualidade de vida. Mas o que é que a tecnologia não consegue fazer para assegurar comodidade aos utilizadores? A UBI é uma dessas ferramentas que propõem resolver grandes problemas só com um clique

Se “saber é poder”, então o que dizer de uma solução tecnológica que o torna capaz de saber tudo o que se passa na cidade onde vive? Isto pode não ser novo nos países mais desenvolvidos, mas é-o aqui, em Moçambique. Já existe e faz, de facto, uma grande diferença.

A cidade de Maputo, que nunca tinha tido uma ferramenta tecnológica que pudesse informar o cidadão sobre o que acontece em todas as esferas da sua dinâmica diária, passou a contar com este tipo de serviços a partir do momento que uma startup designada VOID decidiu criar a UBI, uma plataforma para manter o cidadão mais conectado à sua cidade.

A UBI (ubi.co.mz) é, na verdade, uma plataforma de informação sobre a cidade e tudo o que nela acontece, composta por um ecossistema de aplicações e quiosques interactivos colocados nas movimentadas avenidas de Maputo. O objectivo, desde o início da sua criação, é que tudo o que é informação sobre a cidade esteja disponível na pla-

taforma, permitindo também acesso aos negócios locais. A plataforma congrega também um conjunto de ferramentas que os empreendedores locais podem utilizar, incluindo a possibilidade de criar a sua própria loja online, assinalar os produtos disponíveis ou criar campanhas promocionais.

Ou seja, através desta plataforma, é possível fazer o cruzamento entre a compra e a venda, na exacta intersecção entre os interessados em comprar um bem ou serviço e o vendedor.

Além disso, contém uma funcionalidade utilizada para eventos, que é, no fundo, uma agenda cultural de tudo o que se realiza na cidade.

Nela é possível, por exemplo, comprar bilhetes, receber convites e participar em promoções dentro dos eventos. E ao nível da mobilidade urbana, é ainda possível consultar as diferentes rotas de transporte para facilitar a mobilidade dos utilizadores.

“A UBI começou a ser trabalhada em 2015, mas só foi lançada em 2018. Foram praticamente três anos a trabalhar no projecto, num investimento feito com recursos próprios. Por isso levou tempo até ser lançada no mercado”, revela Alexandre Coelho, director-geral da VOID à E&M.

Em finais de 2021, a plataforma foi colocada em standby muito por causa do impacto da pandemia de covid-19, mas também pelo facto de a empresa estar a reposicionar-se e a mudar as estratégias de actuação.

No princípio não conseguiu muito espaço no mercado porque, segundo Alexandre Coelho, o público não estava preparado para algumas das inovações que a plataforma trazia, nem para o elevado grau de complexidade das suas funções, o que dificultava a sua utilização. Hoje, entretanto, a plataforma está em transformação e será reacti-

vada ainda este ano. Alexandre Coelho confessa que a UBI nunca chegou a ser sustentável.

Embora tivesse algum rendimento, ainda não permitia alcançar o break even (quando os custos ultrapassam as receitas) do projecto.

“Então, desenhámos um plano para melhorar a sustentabilidade da plataforma. Íamos caminhar neste sentido, pelo menos era esta a estratégia, e logo à partida teríamos conseguido, mas a pandemia veio alterar tudo”, esclareceu o jovem gestor.

“Neste momento estamos à procura de investidores para a plataforma e isso poderá acelerar tudo o que temos em termos de planos”, sublinha. “Estávamos para relançá-la em finais do ano passado, pois tínhamos um investidor com quem estávamos a trabalhar, mas as negociações pararam e estamos novamente no mercado em busca de outro investidor que possa mudar o actual cenário da plataforma”, esclarece Alexandre Coelho.

Sobre esta questão, o responsável realça que um dos grandes obstáculos ao desenvolvimento das startups no País prende-se com “a falta de uma rede de investidores de capital de risco, que leva a que os novos produtos e serviços tecnológicos dependam apenas do investimento com fundos próprios”, que geralmente não são suficientes na primeira fase dos projectos.

Até porque, prossegue, “qualquer solução tecnológica exige muito investimento em marketing para garantir que se mantenha sempre na mente do cliente, para lá do investimento na solução em si”, reitera.

Para o futuro, “o que temos planeado é, após esta fase de transformação, relançarmos a plataforma e prosseguir com a estratégia de expansão da rede dos painéis digitais pelo País”, concluiu.

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BEMPRESA VOID ÁREA Comunicação PLATAFORMA UBI PRÓPRIETÁRIO Alexandre Coelho CRIAÇÃO 2015
UBI
TEXTO Nário Sixpene • FOTOGRAFIA Paulo Almeida
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Digitalização

Empresa iColo abre centro de dados em Maputo

A iColo, empresa pertencente ao grupo Digital Realty que opera na construção e operação de centros de dados neutros para distribuição de Internet, anunciou a abertura do seu primeiro centro de dados em Maputo. Apelidado de MPM1, o novo centro expande a presença da empresa e complementa a sua estratégia de fornecer instalações de colocationde classe mundial que suportam as crescentes necessidades de conectividade ao longo do Sudeste de África, impulsionadas pelo crescimento de cabos submarinos.

Espera-se que a implementação da empresa em Maputo melhore a acessibilidade à Cloud (tecnologia que permite acesso remoto a softwares e armazenamento de arquivos) e aos conteúdos, aumente a digitalização, melhore a experiência online para empresas e consumidores locais e ajude a construir uma sociedade digital ampla e mais inclusiva através da plataforma global de data center.

O director-geral da iColo Moçambique, José Almeida, referiu que “este novo data center é um marco significativo no desenvolvimento da Internet em Moçambique, trazendo soluções confiáveis e de alta qualidade com um histórico de longa data de excelência operacional. Este campus, altamente conectado, fornecerá uma base para um forte crescimento de dados no País e em todo o continente africano”.

A iColo está num campus de 9500 metros quadrados, localizado na cidade de Maputo, na Avenida Vladimir Lenine.

Telecomunicações

Vodacom lança cabo submarino para desenvolver economia digital no País

A Vodacom, empresa de telefonia móvel, lançou o cabo submarino do projecto 2Africa, com o objectivo de apoiar a crescente economia digital em Moçambique. O sistema de cabo submarino de fibra óptica vai melhorar a capacidade da Internet e acelerar a conectividade em todo o País, permitir que mais comunidades acedam a uma linha de recursos transformadores, desde educação e cuidados de saúde a empregos e serviços financeiros, e ainda experimentar os benefícios económicos e sociais da conectividade sem descontinuidades. Para a

Ciência

Vodacom, a aterragem deste cabo submarino reafirma o compromisso da empresa em impulsionar a inclusão digital em Moçambique e no continente africano, pela via do aumento do acesso a serviços de Internet de qualidade e investimentos na infra-estrutura de rede.

O consórcio, projecto lançado em Maio de 2019, é constituído por oito parceiros internacionais – China Mobile International, Meta (Facebook), MTN GlobalConnect, Orange, center3 (stc), Telecom Egypt, Vodafone/Vodacom e WIOCC.

Empresa produz painéis solares a partir de materiais da lua

Uma equipa da Blue Origin, empresa privada de astronáutica e serviços de voo espacial suborbital, anunciou ter conseguido um avanço tecnológico significativo, ao fabricar células solares e fios condutores de electricidade somente com recurso a material semelhante ao que existe no rególito lunar.

A superfície da lua tem rególitos e poeiras com todos os materiais que, em teoria, permitem criar células solares, como silício, ferro, magnésio e alumínio, por exemplo. Assim, há muito que investigadores e grupos de trabalho ex-

Sustentabilidade

ploram a ideia de construir painéis solares na lua, com recurso a estes materiais apenas. Agora, a Blue Origin anunciou ter conseguido um feito que nos coloca mais próximos deste cenário.

Os investigadores aplicaram um processo chamado electrólise de rególito derretido para conseguir criar estes componentes. A equipa aplicou uma corrente eléctrica ao rególito a uma temperatura acima dos 1600 graus centígrados e, através do processo de electrólise, foram extraídos minérios como ferro, silício e alumínio.

Cientistas criam sistema que transforma plástico e CO2 em combustíveis

Investigadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, desenvolveram um reactor alimentado por energia solar, que pode converter CO2 (dióxido de carbono) e plásticos em combustíveis sustentáveis e outros produtos valiosos para uma variedade de indústrias.

Em testes, o CO2 foi convertido em gás de síntese, um bloco de construção es-

sencial para combustíveis líquidos sustentáveis, e as garrafas de plástico foram convertidas em ácido glicólico, amplamente utilizado na indústria cosmética. O sistema pode ser facilmente ajustado para produzir diferentes produtos, alterando o tipo de catalisador utilizado no reactor e constitui um passo importante na transição para uma economia circular mais sustentável. Os resultados da investigação foram publicados na revista “Nature Synthesis”.

A equipa concebeu diferentes catalisadores, que foram integrados no absorvedor de luz. Ao alterar o catalisador, os investigadores podiam alterar o produto final. Os testes mostraram que o reactor pode converter eficazmente garrafas de plástico PET e CO2 em diferentes combustíveis à base de carbono.

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PANORAMA

Uma Reflexão Sobre as Mulheres e as Finanças no Mês da Mulher

Março é um mês especial porque, em todo o mundo, é celebrado o Dia Internacional da Mulher. Nós, como mulheres, podemos usar esta ocasião para reflectir sobre a nossa liberdade financeira.

Poupar e investir pode ser um tema intimidante inicialmente, porém o velho pensamento de que "alguém irá cuidar das minhas finanças por mim” deixou de ser válido. Como mulheres, somos mais do que capazes de gerir as nossas poupanças e investimentos familiares.

O mundo convencional dos investimentos, tal como o conhecemos, mudou. A tecnologia facilitou o acesso à educação e à alfabetização financeira. Com este acesso simplificado à tecnologia, tornou-se possível auto educarmo-nos e mantermo-nos no controlo das nossas finanças, apesar de alguns dos desafios que enfrentamos como mulheres.

As mulheres, no geral, recorrem mais aos produtos de poupança do que a instrumentos de investimento por uma simples azão: preferem optar por soluções mais seguras, de longo prazo e com garantia de capital, que lhes permita enfrentar situações de emergência.

É uma mentalidade que deve mudar. Na verdade, investir as poupanças ajuda a criar riqueza a longo prazo. Combater a inflação e o aumento do custo de vida é possivel, caso se consiga um equilíbrio entre poupança e investimento, para assegurar que o dinheiro não perca valor com o tempo.

Entender o conceito de inflação e de custo de vida é muito importante quando falamos de investimentos. Se os seus fundos crescerem a uma taxa inferior ao aumento do custo de vida, então a sua riqueza perde valor ano após ano.

Por outro lado, investir pode acelerar o crescimento e o alcance de objectivos a longo prazo. É também verdade que, em média, as mulheres têm uma esperança de vida mais longa do que os homens e elas acabam, frequentemente, por ser os únicos decisores no que respeita a questões financeiras em algum momento das suas vidas.

Sim, a regra a adoptar deve ser sempre planear e falar das suas finanças com o seu cônjuge ou parceiro, para que ambos possam contribuir activamente para o processo de alinhamento financeiro e compreender as decisões que estão a ser tomadas para o agregado familiar.

De salientar, também, a importância de assegurar que o património da família seja correctamente protegido através de instrumentos como testamentos. Planear significa manter as finanças da família sob controlo para que, mesmo que surjam imprevistos, o estilo de vida da família não sofra alterações.

Quer seja casada, mãe solteira, a trabalhar a tempo inteiro ou a tempo parcial, é importante que cada mulher comece a planear e a gerir as suas finanças.

As mulheres devem investir tempo a assistir a webinars financeiros, podcasts educativos e a ler artigos da especialidade, além de conversar com consultores financeiros.

A orientação na construção de conhecimentos financeiros e no controlo da trajectória financeira está apenas a um clique de distância.

Criar uma cultura de poupança e investimento entre as mulheres não só nos ajudará na construção de uma maior segurança financeira, como também contribuirá em muito para aumentar a taxa de poupança doméstica no nosso País.

Como mulheres moçambicanas, somos resistentes, fortes e incrivelmente capazes de dominar o mundo das finanças e, consequentemente, controlar o nosso próprio destino.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 50 OPINIÃO
As mulheres devem investir tempo a assistir a webinars financeiros, podcasts educativos e a ler artigos da especialidade, além de conversar com consultores financeiros
Nancy Mafundza • Directora de Retalho do FNB Moçambique
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Das Perspectivas Económicas às Grandes Preocupações do Momento

Moçambique prepara-se para eliminar, até final do ano, a obrigatoriedade da intervenção da figura de despachante aduaneiro no desembaraço de mercadorias, de modo a tornar possível a relação directa entre o Estado e o importador ou agente económico. Que implicações a medida terá no processo em si e na vida daquela classe de profissionais?

Tratou-se de um Seminário Económico sobre Perspectivas Macroeconómicas para 2023 e Sustentabilidade das Empresas Moçambicanas, promovido pela Associação de Comércio, Indústria e Serviços (ACIS) em parceria com a Bolsa de Valores de Moçambique e o banco Moza, a 16 de Fevereiro.

Talvez por se assumir que muita informação já se tinha antes avançado sobre as perspectivas económicas (sabe-se, por exemplo, que o Produto Interno Bruto deve crescer em torno de 5%, a inflação estará na casa dos dois dígitos e que prevalecem riscos associados à guerra na Ucrânia, terrorismo em Cabo Delgado e desastres naturais), as discussões tomaram outro rumo.

Enquanto o FMI identificou a educação como uma prioridade sobre a qual o País se deve focar, a Bolsa de Valores de Moçambique olhou para a ainda fraca utilização dos instrumentos do mercado de capitais como uma preocupação a ter em conta para acelerar o crescimento no presente ano.

Quanto vale a educação na Economia?

De acordo com a apresentação feita pelo representante do FMI em Mo-

çambique, Alexis Meyer-Cirkel, uma das componentes que vai influenciar o potencial de crescimento macroeconómico é a Educação.

Na sua intervenção, explicou que na teoria económica existem três mecanismos que identificam onde a Educação pode impactar no crescimento. Em primeiro lugar, aumenta o capital humano existente em qualquer país e essa força de trabalho aumenta a produtividade de cada um e da indústria como um todo, incrementando, assim, a produção nacional.

Em segundo lugar, influencia a capacidade de inovação da sociedade que, por sua vez, desenvolve a tecnologia de processos que por si ocasionam o crescimento económico. Por último, a educação facilita a ligação, ou seja, a composição do capital humano, e a forma como é difundida e distribuída numa nação é importante por influenciar a capacidade de absorver conhecimento e tecnologia de fora e incorporar nos processos produtivos dentro do país.

Fazendo uma radiografia da importância do capital humano nacional na produtividade, Cirkel esclareceu que os economistas, muitas vezes, decompõem o crescimento económico em que defi-

nem que o Produto Interno Bruto (PIB) é considerado como o somatório da produtividade, capital (infra-estruturas públicas) e trabalho.

A partir daqui, conclui-se que cada economia tem uma composição particularmente diferente das outras, uma vez que umas têm uma força de trabalho muito grande e acabam contribuindo mais, e outros países trabalham com mais capital, de onde provém a produtividade. Outra forma de se conhecer, ao detalhe, a contribuição do trabalho no crescimento é fazer uma decomposição a mais, que consiste em manter, na equação, a produtividade e o capital, mas subdividir o trabalho em quantidade de trabalhadores e o capital humano (educação).

Olhando para a situação de Moçambique, e utilizando qualquer das metodologias, entre 1999 e 2004, a contribui-

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 52 MERCADO & FINANÇAS
Texto Filomena Bande • Fotografia Jay Garrido & Mariano Silva
“O crescimento tem vindo a arrefecer e a pobreza continuam alta, daí que o investimento, em particular na educação, seja fundamental para a sustentação de um crescimento diversificado

ção do capital humano no crescimento do PIB foi de 14%, um valor elevado comparado com outros países em desenvolvimento, o que terá sido impulsionado pela rápida escolarização da população no pós-independência. Mas nos anos subsequentes, este indicador regrediu de forma preocupante.

A escolarização continua com índices modestos em comparação com alguns países pares (ver gráfico). “O crescimento tem vindo a arrefecer, e a pobreza e as desigualdades continuam altas, daí que o investimento, em particular na educação, seja fundamental para a sustentação de um crescimento sustentável, diversificado e inclusivo que reduz a pobreza.

Moçambique tem de fechar o gap de educação em relação aos países pares, e o investimento em educação deve basear-se na conciliação entre a quan-

tidade e qualidade”, recomendou o economista.

Melhorias na gestão da coisa pública Para não fugir por completo do tema sobre as perspectivas da economia, Alexis Meyer-Cirkel destacou alguns avanços continuados ao longo dos últimos anos, apesar das críticas que, por vezes, são emitidas contra o Executivo. “Vejo críticas em várias áreas, mas acho que há também uma falta de apreciação para as reformas que já foram feitas.

Isso inclui a lei do sector empresarial, a implementação do sistema de investimento público, as leis de branqueamento de capitais e a criação do fundo soberano que são um arcabouço institucional resiliente, transparente e essencial para aumentar a qualidade da gestão e a previsibilidade da gestão pública”, descreveu.

O FMI comparou Moçambique a outros dois países com estrutura de renda similar concluiu que este é o país que apresenta uma lenta evolução da alfabetização

Alexis Meyer referiu, igualmente, como “interessante”, o facto de que “em Abril do ano passado, as nossas projeções (FMI) tanto para este ano quanto para o próximo não foram ajustadas, enquanto para o resto do mundo, com algumas excepções, foram sempre revistas em baixa. Então, tivemos, até à publicação do relatório do último do trimestre do País uma surpresa positiva. Tínhamos uma previsão de crescimento de 2022 um pouco abaixo de 4% e a realidade foi um pouco acima. Por isso a nossa previsão de crescimento deste ano é um pouco abaixo de 5%, o que representa um continuado crescimento económico e da estabilidade”, concluiu.

Mas as empresas precisam de tornar-se competitivas?

Foi a vez de Salim Valá, presidente da Bolsa de Valores de Moçambique

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FRACA EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO
FONTE FMI VIETNAME 88 96 1989 2020 TANZÂNIA 59 82 1995 2021 MOÇAMBIQUE 39 63 1992 2022
Taxa de alfabetização de adultos em %

(BVM), lançar o apelo para uma melhor organização das empresas, principalmente as PME para que se tornem competitivas nacional e internacionalmente.

O presidente da BVM entende que neste cenário em que a renda per capita e o PIB são ainda muito baixos (492 dólares e 15,8 mil milhões de dólares respectivamente em 2021), uma das fórmulas para o crescimento macroeconómico do País é capacitar as empresas para torná-las aptas para integrar a BVM, e se tornarem mais competitivas, sustentáveis, lucrativas e com facilidades de acesso a financiamentos.

“As empresas procuram lucratividade e isso é bom, mas se não existir uma instituição forte e bem capacitada a cooperar com estas, os ganhos que conseguirem podem ser momentâneos.

Ou seja, o fortalecimento da própria

instituição e o capital humano adequado, calibrados aos desafios do País, regionais e globais, tornam-se num activo económico para o sector empresarial e constituem uma vantagem competitiva para as empresas.

Há várias instituições a trabalharem. No entanto, a capacitação de empresas tem sido feita ainda de forma pouco coordenada e não numa perspectiva de longo prazo”, revelou.

Explicou, entretanto, que a BVM, na sua missão tradicional já faz capacitação de muitas empresas. “Quando submetem o pedido de admissão à Bolsa, as empresas pressionam e reclamam do rigor nos requisitos porque têm objectivos e negócios por fechar. Mas as exigências que fazemos têm o objectivo de alavancar as capacidades da empresa sob o ponto de vista de organização e ges-

tão, financeiro, e de governação no geral. Esses elementos são importantes”, acrescentou.

As mais-valias da Bolsa

A BVM como um mecanismo de reforço de capacidades vem para alavancar as empresas, trazendo as PME e as startups promissoras para o mercado de capitais. É um mercado de incubação, que permite a capacitação e o reforço em termos de empoderamento das empresas para aceder ao financiamento via bolsa.

Mas muitas vezes, essas empresas, quando reúnem os requisitos, estão também preparadas para aceder a outras instituições financeiras para fazer negócios. “Portanto, temos os requisitos para cada um deles, requisitos de ordem jurídico-legal, financeiros e de mercado. Para responder a este tipo de requisitos, as empresas devem estar organizadas e preparadas, devidamente auditadas. Assim elas crescem”, explicou o presidente da BVM.

A Bolsa reporta a existência de várias empresas que querem beneficiar do financiamento por via do mercado de capitais, mas adverte que, para tal, devem preparar-se e organizar-se para assegurar uma boa governação, umas vez que as que estão no mercado de capitais submetem-se a um escrutínio público e têm a obrigatoriedade de fornecer informação permanentemente ao mercado.

Os estudos em Moçambique, não apenas os da BVM, apresentam três razões de dificuldade para a adesão das empresas à Bolsa de Valores, nomeadamente a falta de uma contabilidade organizada, a ausência de uma boa saúde económica e financeira e a necessidade de dispersão accionista.

“Mas estamos a trabalhar com parceiros no sentido de solucionar isso, temos uma parceria com a Ordem dos Contabilistas e Auditores de Moçambique e com o ISCAM- Instituto Superior de Contabilidade e Auditoria de Moçambique, com o propósito de identificar meios de chegar ao nível das pequenas empresas que não tenham uma estrutura organizada” destacou Salim Valá.

E, para finalizar, sublinhou que as Pequenas e Médias Empresas são a chave do processo do empoderamento empresarial, reconhecendo que “temos ainda grandes desafios nas infra-estruturas, no acesso ao financiamento, na segurança e assistência técnica, na ligação entre as universidades e as empresas, o pouco uso da ciência e tecnologia na produção e produtividade, a excessiva burocracia, entre outros”.

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“Temos uma parceria com a OCAM e o ISCAM para identificar meios de chegar ao nível das pequenas empresas que não têm uma estrutura organizada” Salim Valá, presidente da BVM

Vem este artigo a propósito do facto de as organizações, em consequência da progressiva eliminação das restrições de contacto social, resultantes da pandemia de covid-19, estarem a apostar enormemente, também em Moçambique, em promover iniciativas de i) RECONECTAR com os seus trabalhadores, clientes, fornecedores, competidores e parceiros; ii) e de REACTIVAR, com sucesso, as suas Redes de Negócio (Business Networks).

Confesso que padecia de uma antiga antiga crença limitadora1 em relação às Redes de Negócio (RN) que se traduzia no seguinte comportamento :

“ODIAVA, e não me sentia nada à vontade a falar com estranhos, em ambiente estranho. Mas reconhecia que era a melhor estratégia de marketing para fazer crescer o meu negócio.”

E há ciência por detrás desta atitude: está comprovado que quando falamos com estranhos em ambientes estranhos… sentimo-nos impostores!

E não estava sozinho nesta crença limitadora, pois tinha a companhia dos Millennials2.

De acordo com um estudo do LinkedIn (2022)3, os Millennials têm mais dificuldade em manter as suas RN. 43% deles têm dificuldade em manter-se em contacto com as suas RN, mais do que qualquer outra faixa etária.

Neste artigo desafio o meu leitor@ a avaliar o estado da sua RN e a responder à seguinte questão: porque falham as Redes de Negócio (RN) e o que fazer para mudar de atitude e melhorá-las significativamente?

Vejamos sucessivamente:

- O que é uma Rede de Negócios e para que serve?

As Redes de Negócio de Sucesso são 99,99% Baseadas no Capital de Confiança Individual

- Quais são os erros mais frequentes na activação de RN e estratégias de melhoria?

- Conclusão.

Na minha opinião, a caracterização de uma Rede de Negócios (RN) aponta para a presença de seis dimensões críticas:

1- É um processo estruturado: neste contexto, uma RN segue, lenta e seguramente, na linha do tempo, um padrão de boas práticas que se organizam em três fases distintas i) Preparação; ii) Encontro Face-to-Face; iii) Follow-up.

Os erros mais frequentes que ocorrem nesta dimensão, e respectivas estratégias de melhoria (indicadas a negrito), são:

Apesar de quase 100% das pessoas concordarem que o business networking é essencial, é difícil manter o contacto com as pessoas

[Na fase de Preparação] a total ausência de estabelecimento prévio de objectivos: v.g. com quem quero contactar?

[Na fase do Encontro Face-to-Face] continuar a persistir na ATITUDE negativa de que se trata apenas: i) de uma corrida de 100 metros (i.e., do tipo speed date), e não de uma maratona; ii) de uma troca de cartões de visita, de apertar as mãos, de beber uns copos e de trincar uns snacks com estranhos, esquecendo que se trata de NET+WORKING; iii) de falar em 100% do tempo, ao invés de escutar activamente e de forma equilibrada, segundo a distribui-

ção de Pareto 80% ouvir/20% falar, com o maior número de pessoas, não demonstrando estar PRESENTE e FOCAD@; iv) e muito menos tentar, a todo o preço, fechar a todo o custo vendas spot; vi) ou agressivamente INTERROMPER as CONVERSAS; vii) ou pedir para serem apresentad@s a Fulano e Sicrano, esquecendo-se que OUVIR e AJUDAR o OUTRO faz parte do mantra das RN de sucesso.

[Na Fase de Follow-up], a generalidade dos estudos aponta para a quase inexistência de mecanismos de follow-up como a principal falha. Por exemplo, apesar de quase 100% das pessoas concordarem que o business networking é essencial, é difícil manter o contacto com as pessoas. Estudos mostram que menos de 50% conseguem manter-se em contacto com a sua rede (Nota: Lembremo-nos do caso dos Millennials).

2- É um [Processo estruturado] baseado no desenvolvimento de RELAÇÕES SOCIAIS: neste contexto, uma RN i) assenta num mecanismo de socialização e aculturação; ii) em grupos rotativos e de reduzida dimensão.

Os erros mais frequentes que ocorrem nesta dimensão são: i) a inexistência de qualquer interacção social (caso limite de participantes introvertidos); ii) a interacção social, mas apenas dentro do mesmo grupo, sem haver diversificação – todos conhecemos eventos de networking em que, do princípio ao fim, o “grupinho” manteve-se inalterado; iii) e a corrida-de-ratos, em que “toda a gente” quer estar com “toda a gente”. Manter-se FOCADO na lista de contactos previamente elaborada na fase de Preparação é a estratégia geral recomendada.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 56 OPINIÃO
João

Apesar de o covid-19 ter valorizado reuniões virtuais, muitos ainda preferem

3- É um [Processo estruturado relacional] que privilegia o contacto, a proximidade e a PRESENÇA FÍSICA. Ainda que, com a pandemia do covid-19, se tenha popularizado a ideia da RN virtual, de acordo com um estudo recente4, muitos respondentes indicaram preferir reuniões de negócios presenciais porquanto lhes permite i) construir relações comerciais mais fortes e significativas (85%); ii) dá-lhes a capacidade de ler a linguagem corporal e expressões faciais (77%); iii) além disso, dá-lhes mais interacção social e a capacidade de se ligarem com colegas/clientes/parceiros (75%); iv) permite um pensamento estratégico mais complexo (49%); vi) e proporciona um melhor ambiente para uma tomada de decisão difícil e oportuna (44%).

4- É um [Processo estruturado relacional, eminentemente presencial] que requer a utilização intensa de competências-soft5 dos intervenientes na RN. Neste contexto, temas como i) pensamento estratégico; ii) negociação; iii) exercício da presença executiva; iv) escuta activa; v) leitura de linguagem cor-

poral e facial; vi) comunicação assertiva e empática são os mais demandados.

5- Tais [Competências-soft], cujo exercício sistemático pelos intervenientes na RN acelera a criação e o florescimento do respectivo CAPITAL DE CONFIANÇA individual, o qual pode assumir, à medida que este se desenvolve e ao longo do tempo (lembremo-nos, a RN é uma maratona), as seguintes formas6 i) Maior Visibilidade do indivíduo/organização; ii) Maior Credibilidade do indivíduo/organização e iii) Maior Rentabilidade do negócio.

6- E, em função do valor do CAPITAL DE CONFIANÇA INDIVIDUAL acumulado, os intervenientes na RN podem, com maior ou menor facilidade, aspirar (i.e., objectivos das RN): i) não apenas, e primeiro, a AJUDAR EFECTIVAMENTE OS OUTROS intervenientes na RN; ii) mas, principalmente, e só DEPOIS, alcançar os seus OBJECTIVOS DE NEGÓCIO7

Em conclusão

A nossa melhor tradição infantil reco-

menda que “não se fale com estranhos”!

Tal explica, em grande parte, as nossas crenças limitadoras e o facto de muitos de nós nos sentirmos IMPOSTORES quando presentes em ambientes de, e com, estranhos, como é o caso de uma Rede de Negócios (RN).

Cada uma das seis dimensões críticas acima aludidas das RN é uma lente para nos ajudar a observar e colectar exemplos de más práticas e erros que comprometem a criação e o desenvolvimento do tão necessário CAPITAL DE CONFIANÇA INDIVIDUAL.

E sem este CAPITAL DE CONFIANÇA INDIVIDUAL, cada um de nós, enquanto membro de Redes de Negócios, verá comprometida i) a sua Visibilidade na RN; ii) a sua Credibilidade na RN; iii) e, em última instância, a eficácia da RN como um instrumento estratégico de marketing para PODER AJUDAR OS OUTROS, e a nós PRÓPRIOS, a fazer crescer a Rentabilidade (em sentido amplo) dos negócios.

Em síntese, sem o CAPITAL DE CONFIANÇA INDIVIDUAL não será possível fazer a transição bem-sucedida da nossa posição de simples CONTACTO numa RN, para a posição de forte e valiosa CONEXÃO: seremos mais um estranho entre estranhos.

P.S. Declaro que este artigo não foi escrito por qualquer Inteligência Artificial

1 São crenças (ideias, opiniões, percepções, julgamentos, convicções), adquiridas ao longo das nossas vidas, que diminuem as nossas possibilidades, as nossas capacidades, o nosso poder de transformação e o nosso crescimento. As crenças limitadoras impedem-nos de obter melhores resultados e de alcançar as nossas metas.

2 Geração Millennial, os nascidos entre os anos de 1981 e 1996.

3 Citado no artigo “25+ Surprising Networking Statistics [Relevant in 2023]”, publicado em https://novoresume.com/career-blog/networking-statistics.

4 “Face Squared – The Numbers Behind Face-to-Face Networking”, publicado em Great Business Schools, 2021.

5 Sobre competências-soft mais importantes numa RN, cfr. MISNER, Ivan Video “Top 10 Traits Of A Master Networker, em https://www.youtube.com/ watch?v=QbIqqWhCBMs

6 Cfr. o relatório de 2023 da Eldeman Truster Barometer, em https://www.edelman.com/trust/2023/ trust-barometer.

7 São exemplos de objectivos de negócio de uma RN: obter novos contratos; encontrar parceiros estratégicos; aceder a recursos escassos (Pessoas; Tecnologia; Ideias, Inspiração e Conhecimento; Meios financeiros; Aconselhamento, Mentoring e Coaching); etc.

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fazê-lo presencialmente

“Vamos Conectar 4,5 Milhões de Moçambicanos em Três Anos”

A Huawei, gigante chinesa da tecnologia e telecomunicações, está a investir fortemente na transformação digital do continente africano, e Moçambique não é excepção. Em exclusivo à E&M, o director-geral da empresa no país, Hou Qiang, explica os passos principais da estratégia da tecnológica chinesa para o mercado nacional

Com uma presença de cerca de 20 anos em Moçambique e com uma meta bem definida que passa por conectar, literalmente, todos os cantos do País, a Huawei é um dos principais e mais activos players de um segmento que, sendo pouco visível, será dos mais impactantes se pensarmos no Moçambique do século XXI.

Apesar de estimar que existam hoje mais de 18 milhões de moçambicanos a contactarem, de forma directa, ou indirecta, serviços da Huawei, Moçambique é dos países com uma das mais baixas taxas de conectividade em África (apenas 16% de uma população de 31 milhões de pessoas). Apesar disso, ou sobretudo por isso mesmo, a empresa acredita estar no caminho certo para alterar o paradigma a breve trecho. Das comunicações à criação da infra-estrutura que serve de base à tecnologia, a todos os níveis, o director-geral da Huawei Moçambique, Hou Qiang, explica a estratégia da empresa para o país, do posicionamento actual no mercado, sem esquecer o potencial do 5G, entre outras soluções que já pareceram mais distantes.

Gostaria que me falasse das metas da Huawei em Moçambique no curto, médio e longo prazos.

A nossa estratégia está centrada em quatro áreas: as conexões digitais, a digitalização das indústrias, a energia renovável e digital e a cultivação de talentos. Estes são os nossos quatro pilares.

Das quatro prioridades que citou, qual é a área de negócios em maior

expansão no mercado interno? Diria que é ao nível das carteiras digitais (a Huawei é o parceiro tecnológico da Vodacom, no M-Pesa). Oferecemos equipamentos e serviços para operadoras de telecomunicações e são elas que lançam esses serviços para o público.

Um trabalho menos visível, do vosso lado, tem que ver com a ampla rede infra-estrutural de antenas e sistemas de transmissão que têm vindo a instalar por todo o país, é assim?

Sim, e isso tem que ver com a primeira área em que estamos concentrados, as conexões digitais para todos porque, de acordo com a ONU, o acesso digital para os serviços de telecomunicações faz parte dos direitos básicos do ser humano, e segundo o último reporte de economia global, lançado pelo Global System Mobile Comunication Association, até hoje, em todo o mundo, há cerca de 500 milhões de pessoas que ainda não estão conectadas.

Então, a Huawei Global, nos últimos 30 anos, entrou em mais de 170 países e construiu mais de 1500 redes para fornecer serviços de telecomunicações para cerca de 3 biliões de pessoas. Foi também a este propósito que, no dia 23 de Novembro de 2022, o presidente da Huawei Global assinou um memorando com o Instituto Internacional de Telecomunicações, comprometendo-se a fazer parte do programa Partner to Connect.

A Huawei promete que, até 2025, vai usar as suas soluções inovadoras e de baixo custo para conectar mais de 120 milhões de pessoas em todo o mundo e isso irá acontecer também em Moçambique.

Os projectos em Moçambique entram, então, nessa estratégia global?

Exactamente. Em Moçambique, queremos operar nas cidades grandes, nas capitais, fornecendo Internet de alta velocidade e qualidade. Quando saímos das cidades para as zonas rurais, perdemos as conexões básicas. De acordo ainda com as estatísticas da Global System Mobile Communication Association, só 75% das pessoas estão conectadas à Internet, o que quer dizer que cerca de um quarto dos moçambicanos ainda não estão conectados.

Por isso, enquanto Huawei Global, queremos que, em Moçambique, nos próximos três anos, como prometemos, possamos usar as nossas soluções inovadoras e de baixo custo para conectar cerca de 4,5 milhões de moçambicanos desconectados. Essa é a visão da Huawei Moçambique.

Como é que pretendem fazê-lo?

A solução que desenhámos e desenvolvemos implementámo-la também no Gana. Naquele país, apercebemo-nos da existência de várias vilas em zonas rurais que não têm conexões. Isso acontece porque o retorno do investimento é de longo prazo e, por isso, grande parte das empresas não se sentem motivadas a investir nesses lugares.

A nossa abordagem é diferenciada. Entrámos nesses sítios e, primeiro, trocámos o gerador que usa combustível para um que utiliza energia solar (renovável); depois, baixámos a altura das torres de 72 ou 54 metros para 36, 24 ou 18 metros. Em algumas vilas com cerca de 2 mil pessoas, por exemplo, nem precisámos de colocar torres comerciais, colocámos apenas antenas e fizemos uma cobertura de maior precisão. Depois, optámos por um modelo de transmissão. Antigamente, utilizávamos satélite para transmitir os sinais, o que tem um custo muito alto. Nós adoptámos o sinal 4G para fazer transmissões e isso baixou o custo. De for-

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 58 CEO TALKS | ANTÓNIO HOU
Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva e Istock Photo
De acordo com as estatísticas da Global System Mobile Communication Association, só 75% dos moçambicanos estão conectados à Internet. Isto é, cerca de um quarto ainda não está ligada

BNOME: Hou Qiang (António)

CARGO: CEO da Huawei Technologies Mozambique

EXPERIÊNCIA: Hou Qiang tem mais de seis anos de experiência de trabalho nos países lusófonos como Macau da China, Portugal, Angola e Moçambique, com competências profissionais em economia digital, whitepaper nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação e acesso universal à banda larga. Actualmente, é CEO da Huawei Technologies Moçambique, bem como membro da Equipa de Gestão Executiva da Huawei Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

ma muito resumida, com estas pequenas alterações de abordagem, conseguimos baixar tornar competitiva a entrada nas zonas rurais e, desta forma, tornar possível a sua ligação à rede.

Recentemente lançaram, juntamente com uma operdadora, um serviço de 5G. Qual é o seu potencial num país como Moçambique?

Sim, mas trabalhamos com todas as operadoras ao nível do 5G. Creio, por isso, que num futuro muito próximo todas elas irão lançar serviços 5G. Depois, vou relembrar alguns dados da China, onde já construímos 1,6 milhões de estações de 5G e já registámos cerca de 428 milhões de usuários. O tráfego de 5G já ocupa 27% dos números gerais, incluindo 2G, 3G e 4G. Em Moçambique, podemos ver que o 4G ainda domina o mercado e ocupa 60% do espaço geral do tráfego de dados. Acredito que nos próximos dois a três anos o 4G vai continuar a ocupar a maior quota, mas claramente que o 5G irá crescer muito, embora aqui em Moçambique o custo ainda seja demasiado elevado. Importa referir que, neste momento, há um esforço do Governo e das operadoras para baixar os custos e, com isso, poder oferecer serviços de dados mais mais baratos. Já podemos encontrar terminais de 4G com custos de entre 25 a 30 dólares, mas para termi-

nais de 5G esse custo subiria para cerca de 100 dólares. Estes são factores que limitam o desenvolvimento de 5G aqui. Contudo, temos outros caminhos por seguir. Quais? Em vez de conectar o 5G ao telefone directamente com a antena, existe outra maneira em que as operadoras lançam o rooter de 5G que vai receber o sinal da antena e converter para o sinal do Wi-fi. Assim, qualquer terminal pode aceder a esse Wi-fi e desfrutar da velocidade 5G. Acreditamos que esse seja o modelo mais adequado para o mercado de Moçambique. Na África do Sul, temos uma operadora como cliente que se dedica ao desenvolvimento da rede 5G e já se tornou na maior operadora do continente africano neste segmento, usando este modelo para oferecer pacotes de rooters 5G.

Mas, num país como Moçambique, qual seria o potencial real, até em termos de aplicação, do 5G?

Temos de olhar por duas formas. Primeiro, o 5G para o consumidor comum e, segundo, para a área industrial, logística, mineração, condução autónoma por exemplo. Na China, há um porto onde se usa a combinação de várias tecnologias: a condução autónoma, cloud, inteligência artificial e computação. Combinamos essas tecnologias para que os camiões se conectem à estrada e usem condução

autónoma o que aumenta a eficiência e garante a segurança.

Uma das vossas áreas de foco em Moçambique será também a industrial?

Sim. Focamos na digitalização das indústrias. Na conferência de parceiros que realizámos recentemente, mostrámos exemplos do que se faz ao redor do mundo e discutimos sobre como usar as TIC para impulsionar a digitalização das indústrias. Muitos dos nossos parceiros actuam nesta área porque acreditamos que seja impulsionadora do desenvolvimento da indústria.

Quais são os planos que têm para o curto e médio prazo no país?

Identificámos três áreas prioritárias. A primeira é a inclusão digital, por isso investimos em infra-estruturas que são importantes para desenvolvermos plataformas digitais e os jovens desenvolverem conteúdos digitais. Segundo, a digitalização na indústria e dos serviços públicos. Na China, há uma janela única onde todos os serviços públicos estão integrados, e sonhamos com a possibilidade de tal poder vir a ser concretizado aqui, porque existem várias vantagens. Por exemplo, se o Governo tiver uma plataforma unificada, pode desenvolver um aplicativo que todos os ministérios podem usar. Poupa o investimento para pesquisa e desenvolvimento integrado, é rápido e cria mais eficiência de trabalho e cooperação entre departamentos.

Esse projecto já está a ser trabalhado com o Governo moçambicano?

Não, mas é uma ideia que ainda está a ser conversada. Trazemos também experiências de outras partes do mundo para que o Executivo tenha referências. A terceira área é a incubação de talentos. Nos próximos anos vamos cultivar 4500 talentos moçambicanos e vamos oferecer formações para 1500 funcionários públicos. Já temos oito academias de TIC em igual número de universidades e queremos expandir esse número para 30 nos próximos anos.

Estamos em coordenação com a Secretaria de Estado da Juventude e Trabalho para que os jovens que participam nas nossas formações obtenham certificados da Huawei para poderem entrar na empresa com oportunidades de estágio e trabalho. Assim, podemos construir um ciclo de formação, certificados e emprego. Acreditamos que os talentos digitais vão promover plataformas, infra-estruturas e conteúdos digitais que ajudem o País a ter maior competência nesta era digital.

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 60
“Neste momento há um esforço muito grande do Governo e de todos os operadores para baixar os custos da infra-estrutura e, com isso, poder disponibilizer pacotes de dados mais baratos”

A Boutique Inclina.

Estavam num salão na cidade grande.

A Ninita fazia as unhas da esposa do Doutor enquanto falava. E falava, falava. Nesse dia a Ninita estava mais bonita com roupas novas.

- Ninita, onde compraste essa blusa e essa carteira tão chique, de marca. É mesmo Louis Vuitton original?

- Sim, Senhora, comprei na Boutique Inclina!

- Boutique Inclina?

- Sim, na Boutique Inclina.

- Ninita, tens de me dar a morada dessa boutique. Eu quero ir lá hoje.

- Senhora, a Boutique Inclina está em todo o lado.

- Como assim, Ninita?

- É só a Senhora andar, ir na rua, no passeio, pára e inclina. Assim vai ver as roupas ali no chão.

A Senhora não estava a perceber bem.

A Ninita continuou a explicar.

Há outros que chamam de calamidades. Mas é tudo Dzudza na Boutique Inclina.

- Dzudza?

- Sim. Dzudza significa vasculhar. Assim, a Senhora tem de dzudzar, inclinar, vasculhar nos fardos e apanhar o que quer na Boutique Inclina.

A Ninita continuava a contar. E a conversa continuava cada vez mais interessante.

As unhas estavam quase feitas e a Esposa do Doutor estava pronta para ir à tal Boutique Inclina.

A Ninita reforçou. Então, primeiro inclina para ver. Depois faz dzudza para vasculhar e encontrar os melhores artigos. Porque os fardos vêm todos amarfanhados. Na verdade, dzudza significa sacudir. Para encontrar.

Ou seja, inclina, vasculha e compra.

Para onde se inclina o mercado

O informal cresce mais rápido e é o grande mercado em Moçambique.

Tudo começou com as calamidades naturais como as cheias e ciclones. As imagens dramáticas aparecem nos media global. E os países do chamado primeiro mundo enviavam donativos. Ainda o fazem.

Uma das formas de ajudar é enviar roupa porque as cheias frequentes no País deixam centenas de milhares de pessoas sem nada.

Com o andar dos anos, a expressão “calamidades” tornou-se numa marca.

Quando se pergunta a alguém onde comprou tal coisa, a resposta comum é: “Comprei nas calamidades.”

Entretanto, esse mercado cresceu muito dada a demanda.

E os mais astutos não deixaram isso passar. Inclinaram-se para aí.

Hoje chegam contentores grandes a Moçambique com fardos de roupa vindos da Ásia e outros lugares.

Comerciantes locais importam essa roupa para a Boutique Inclina.

E os fardos vêm compactados. Cada fardo pode chegar a pesar mais de 30 quilos e é vendido por valores superiores a 5 mil meticais.

Depois disso há uma acção em cadeia. Os fardos são comprados e revendidos em peças de roupa nos mercados informais.

Esses mercados são completos. Um ecossistema de vendas. Até publicitários ambulantes têm. Chamam-se Modjeiros. São eles que fazem tudo para chamar a atenção dos clientes que vêm à Boutique Inclina. “Buyane, Buyane, Buyane à Boutique Inclina. Dzudza, teka.” Que significa, venham, venham vasculhar na Boutique Inclina.

Os Modjeiros são anúncios humanos. Marketing directo, activação no local. Usam um pouco de tudo para captar a atenção. Alguns usam a música. Até dançam se for preciso. Outros dizem piadas que têm que ver com as roupas. Ou mesmo com as raparigas que passam. O que importa é chamar a atenção. Os Modjeiros sabem os tamanhos das roupas e chamam as pessoas de acordo com a disponibilidade do stock.

Mas é preciso inclinar-se. E vasculhar bem para encontrar as melhores peças.

A Ninita é uma das clientes mais frequentes da Boutique Inclina.

Ela tanto inclina que já e inquilina. Passa a vida lá.

Não compra apenas para ela. Revende e faz margem.

Faz guevanço.

Porque as melhores roupas são seleccionadas e tratadas, lavadas e chegam à cidade como se fossem novas. Embrulhadas. Bem apresentadas. Uma forma de packaging. Com etiqueta, tudo.

Até boutiques do centro nobre da cidade vendem essas roupas.

A Ninita explicou que o guevanço é

www.economiaemercado.co.mz | Março 2023 62
Opiniões importadas podem facilmente mudar a inclinação do seu gráfico de vendas
Thiago Fonseca • Sócio e Director de Criação da Agência GOLO PCA Grupo LOCAL de Comunicação SGPS, Lda.
BAZARKETING

comprar para revender nas grandes empresas de Maputo pela porta de trás. Ou até nas lojas.

Aquelas Senhoras e aqueles Doutores, muitas das vezes, vêm à Boutique Inclina.

Mas outras vezes a Boutique Inclina vai até eles. E lá, às empresas, chegam os fardos e compram-se as roupas.

Porque nem sempre fica bem um Senhor Doutor ir até lá.

Mas comprar sempre se compra. Porque o que vende é o que vem de…

São roupas de marca.

Mas também tem umas piri-piri. Que significa “piratas” ou falsificadas.

Ou seja, uma calamidade dentro das calamidades.

Há de tudo na Boutique Inclina.

Não é marketing. É bazarketing

Há muito para aprender sobre o mercado local com a Boutique Inclina.

Acha mesmo que o mercado se inclina para crescer em forma de shoppings e malls? Ou de forma mais simples e orgânica?

Todos os anos chegam grandes profissionais de marketing a Moçambique vindos de economias mais avançadas e com bastante experiência.

Tentam aplicar aqui as mesmas técnicas de venda desses mercados.

Mas é preciso entender para onde o mercado se inclina.

O publicitário local tem de ser um Modjeiro. Falar a língua do povo. E as marcas globais e locais também. Se querem comunicar com o mass market.

Mais de 70% da população moçambicana é jovem. Com uma média de 17 anos de idade.

São essas gerações que vão gerir e gerar resultados na economia e definir a verdadeira classe média local.

Mas é preciso entender a Boutique Inclina e as outras lojas desse enorme shopping que se chama mercado informal.

Dentro da Boutique Inclina há outras boutiques. Como a Boutique Selecta.

E a Boutique Paciência.

Essa é a melhor boutique. Mas é preciso paciência. Porque para encontrar a

melhor roupa é preciso procurar muito e isso leva tempo.

E muitas mais. Que surgem conforme as circunstâncias e a necessidade.

E dependendo de para onde se inclinar nas estratégias de marketing conseguirá melhores ou piores resultados.

Até porque uma inclinação pode ser para baixo ou para cima.

Opiniões importadas podem facilmente mudar a inclinação do seu gráfico de vendas.

O case da Boutique Inclina é apenas um de muitos.

E, na verdade, todas as marcas estão inclinadas para esse mercado. Mas nem todas se inclinam.

Seja qual for o negócio da sua empresa e da sua marca, se quer crescer é preciso ter uma certa inclinação para o mercado local.

NOTA: Este artigo é a versão completa do artigo que saiu no Diário Económico, em Fevereiro deste ano.

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Ilustração de Maisa Chaves

ócio

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Uma aventura pela paisagem paradisíaca de Maya Bay, na Tailândia.

e

g68

Ao sabor das iguarias do restaurante The Royal, na Matola.

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Um gole (em palavras) de canhú, a tradicional bebida que dá sabor ao festival de Marracuene.

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

João Tamura

partiu, em Setembro de 2022, numa viagem sem data de regresso ou destino definido. Tem documentado a sua jornada através de crónicas, numa simbiose entre as suas linguagens predilectas - a prosa e a fotografia analógicaque tentam transportar o leitor para os lugares pisados pelo autor.

Maya Bay

Estamos Sempre a um Passo

O meu amigo foi a Maya Bay antes de esta se tornar na mítica praia de A Praia, filme de Danny Boyle com Leonardo DiCaprio.

- È veramente bellissima. Dovrebbe andare! (o que, em português, seria “é linda, deverias ir!”)

Na longa-metragem do realizador britânico, Maya Bay é o lugar após a última estação do último comboio, o pedaço de céu na terra com o qual somente os mais dedicados, destemidos e inevitavelmente exaustos viajantes são presenteados, após uma demasiado longa e distante travessia.

- O barco já não nos leva até à ilha! Ficámos ao largo, somente.

eDisse-lhe, em 2019, quando visitámos o sul da Tailândia pela primeira vez. O Governo tailandês foi forçado a encerrar Maya Bay ao turismo entre 2018 e 2022 – a priori deste encerramento, mais de 6000 visitantes chegavam diariamente à pequena ilha. Caso erguêssemos um drone, facilmente vislumbraríamos mais de 100 barcos atracados na pequena lagoa. O mar? Coberto de barcos. O areal? Coberto de pessoas. E de plásticos. E de beatas. E de garrafas de Chang. E de garrafas de Singha (cerveja tailandesa). Caminhar sobre as areias da praia era uma tarefa difícil, da-

da a multidão - ainda mais difícil era nadar em paz no oceano sem ouvirmos:

- Could you please step aside?

You’re ruining my picture… Desde a estreia do filme, no ano 2000, que Maya Bay foi invadida sem pudor ou timidez. Essa desmedida invasão mexeu com o ecossistema da ilha: o coral foi quase inteiramente destruído e muita da fauna que povoava as águas turquesa foi expulsa. Hoje, pós-reabertura, é permitida a chegada de 380 visitantes por hora. O coral foi reposto e mostra sinais de saúde; muita da fauna retornou e multiplicou-se.

É agora proibido fumar na ilha e, apesar de podermos avançar alguns passos oceano adentro, é também proibido nadar – quem o fizer, arrisca-se a uma multa de 5000 baht. É impossível pernoitar em Maya Bay – não existem alojamentos na ilha. Para visitá-la, temos de partir ou das ilhas Phi Phi ou de Krabi, ou de Phuket – lugares que em tempos foram tão ou mais belos que a praia de A Praia –, mas que hoje têm menos de idílico.

O paraíso pede cuidado e equilíbrio, exige ser tocado com luvas brancas e bisturi – caso contrário, perdê-lo-emos. Temos demasiados exemplos de “sei que é difícil imaginar, mas isto era lindo há x anos…”, enquanto temos à frente um me-

do Paraíso

galómano hotel de dez andares com um Mcdonald’s no seu piso térreo. Vi-o muito, pela Tailândia, pelo Vietname, pelo Brasil: paisagens de cortar a respiração polvilhadas com demasiados restaurantes de cadeias norte-americanas, bancas de smoothies de fruta, de poke bowls, de batidos proteicos; demasiadas promessas sobre o mais orgânico dos batidos, o mais homemade dos panini, a mais saudável, natural e fit combinação de ingredientes. Abacate e mel.

Abacate e ovo. Abacate, abacate, abacate. Invadimos o paraíso e não resistimos a dar-lhe um pequeno toque de SoCal (SoCal, ou Califórnia do Sul, o epicentro global do “mais saudável, mais fit, mais orgânico”), seja este no Golfo de Bengala ou no Mar do Caribe.

Chegar ao “ainda intocado” paraíso torna-se cada vez mais trabalhoso, portanto: na Tailândia, não nos basta o voo até Banguecoque, o comboio nocturno até Surat Thani, o autocarro até Don Sak e, finalmente, o barco até às principais ilhas do golfo –também estas, como Maya Bay, já há muito tempo foram “descobertas”. Koh Samui? Demasiado turística. Koh Tao? Demasiado cara. Koh Pha Ngan? Demasiado festiva.

O paraíso? Koh Wua Talap, ilha ainda pouco visitada, de areia branca e águas transparentes, parte do parque natural de Ang Thong, com somente uma pousada e um restaurante – ambos geridos pelo próprio parque natural – e sem bares ou pubs que transmitam a Premier League. Da ilha onde estamos, Koh Samui, resta-nos, então, a travessia marítima para Koh Wua Talap.

Podemos pagar a um pescador pelos 28 km que nos distanciam desta, dizem. É a opção mais barata, dizem. “Será seguro?”, pergunta a Sara. “Sei lá...”, respondo eu. Como alternativa, podemos partilhar a travessia com o grupo de 32 turistas que já aguardam pelo ferry no pontão.

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- How much is the ticket?

- 1700 baht.

- For the two?

- No, per person.

- Per person?!

- Yes, yes. Come, come.

Chegados à ilha, temos ainda de pagar a taxa do parque natural – 300 baht. Seis horas para desfrutarmos deste pedaço de céu na terra. E sim, é verdade, no paraíso as cores são mais belas: o verde das palmeiras, o azul do mar, o branco da areia, o amarelo das flores; os sabores mais intensos: a papaia mais doce, a malagueta mais picante, a lima mais ácida. No entanto, ao fim de um pouco mais de quatro horas chamam-nos de volta ao ferry: as pesadas nuvens no horizonte podem complicar o retorno a Koh Samui caso aguardemos mais. Não há reembolso para o tempo em falta no paraíso.

No Camboja, para onde iremos em seguida, o paraíso, dizem, não se encontra em Phnom Penh ou em Siem Reap, mas sim em Koh Rong. Da capital, onde aterraremos, são cinco horas num autocarro até Sihanoukville e, de seguida, uma hora de ferry até ao arquipélago. Os alojamentos são caros, dada a diminuta oferta e competitividade. Também os restaurantes, leio.

- Achas mesmo que vale a pena? E se ficar mau tempo, como na Tailândia?

Decidimos não arriscar a demasiado longa e dispendiosa travessia.

A definição de paraíso, claro, difere de pessoa para pessoa: a minha cada vez mais se afasta da utópica praia de areia fina e águas turquesa. Esse lugar, realizo, tende a ser ou demasiado caro para o meu orçamento ou demasiado longínquo para a minha paciência. Prefiro deixá-lo em paz, num recôndito canto deste vasto mapa-mundo. Em oposição, cada vez mais o meu paraíso se assemelha a Banguecoque ou a Hong Kong. Sou feliz num lugar onde possa serpen-

tear o trânsito da nocturna metrópole sobre uma scooter, por entre infinitos arranha-céus e luzes de néon; sou feliz num lugar que me inspire a escrever e a fotografar, a falar com os outros que aqui habitam e a descobrir as suas histórias; sou feliz num lugar onde possa parar numa qualquer banca à beira da estrada e, por um preço acessível, possa deliciar-me com iguarias que nunca vi antes e cujo nome não consigo correctamente pronunciar; onde possa encontrar um 7-Eleven (cadeia norte-americana de lojas de conveniência, extremamente popular na Ásia, e em especial na Tailândia, onde existem mais de 13 mil espaços da marca.

Apesar da sua pequena dimensão - estilo minimercado - os artigos para venda nos 7Eleven são variadíssimos, desde snacks a refeições completas; desde medicamentos não sujeitos a receita médica a artigos electrónicos; desde cuecas a modems e routers) e, a qualquer hora da noite ou do dia, pedir a sua mítica toastie de fiambre e queijo, famosa tosta de queijo e fiambre do 7-Eleven, mantimento diário de muitos trabalhadores, estudantes e mochileiros. Será esta a melhor tosta mista do mundo? Provavelmente não. Mas, custo-benefício, dificilmente encontrarão uma melhor nesta parte do mundo. Sou feliz num lugar com museus de arte contemporânea, salas de cinema e laboratórios que revelem e digitalizem película. Sim, tendo a ser mais feliz na metrópole do que fora desta, para desagrado da Sara.

E, por isso, de quando em vez, dou o braço a torcer e lá vamos nós, de comboio em comboio e de ferry em ferry, em busca do mais despovoado dos areais e do mais quente dos oceanos.

A tarefa revela-se cada vez mais árdua para os que, como a Sara, ainda procuram esse paraíso intocado – este encontra-se cada vez mais longe; afasta-

-se de nós, de ano para ano, de década para década. No futuro, estará noutro planeta? Provavelmente. Depois, noutra galáxia? Talvez. É irremediavelmente invadido por nós, viajantes, que não resistimos a tocar-lhe sem luvas brancas e bisturi. E, portanto, o paraíso não se afasta, afastamo-lo. Tornámo-lo tão irreconhecível que só nos resta olhar para fotografias de outrora e desabafar “sei que é difícil imaginar, mas isto era lindo há x anos…”. Considero-me sortudo: os meus paraísos ainda proliferam, continente afora. Banguecoque, Hong-Kong, Saigão, Tóquio. Daqui a dias partirei para Phnom Penh, capital do Camboja. Museu de arte contemporânea? Check. Laboratório que revele e digitalize película? Sim, existe um, nos arredores da cidade. Salas de cinema? Bastantes. Possível paraíso? Assim o espero… Espera, e 7-Eleven? Claro que sim, o primeiro da cidade abriu no final de 2021! E suspiro de alívio… Conseguem imaginar um paraíso sem 7-Eleven? Eu não.

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A definição de paraíso, claro, difere de pessoa para pessoa: a minha cada vez mais se afasta da utópica praia de areia fina e águas turquesa
Texto & Fotografia João Tamura

sangue azul ou não, todos gostamos de nos sentir realeza quando se trata de receber um serviço. E porque ir a um restaurante é uma das experiências mais completas de que podemos usufruir, o The Royal surgiu para proporcionar aos seus clientes um tratamento verdadeiramente real.

Estabelecido na Matola, mais precisamente no Novare Matola Mall, este restaurante traz a promessa de uma aventura inovadora e requintada com padrões internacionais, cozinha gourmet e bebidas que não devem nada à criatividade.

Quem o diz é Naimo Tempo, responsável pela comunicação do estabelecimento, que acrescenta: “o conceito ‘ganhou asas’ pelo facto de se notar que as pessoas solicitavam um espaço onde pudessem desfrutar de um ambiente reservado e acolhedor, mas também dinâmico e animado.”

Focado numa gastronomia diversificada, com um toque

The Royal – Uma Experiência

de infusões globais, mas sem esquecer os pratos tradicionais moçambicanos, que recebem do chef um twist refinado, o The Royal faz as delícias dos residentes da Matola e arredores.

“Único”, nas palavras de Naimo Tempo, o espaço procura a todo o custo manter o elevado padrão de serviço e oferta de produtos, facto que se tornou complicado durante a pandemia, com a dificuldade de repor alguns produtos importados. “(…) temos tido, infelizmente, algumas rupturas não esperadas e demoras na importação…, mas graças aos anos de experiência na área temos cada vez menos lacunas neste aspecto.”

Mas este desafio não maculou em nada o serviço do The Royal, que tem a motivação do seu pessoal como uma prioridade de topo, assegurando formação contínua e uma plata-

forma que garante que as suas preocupações são ouvidas. Afinal, são as pessoas que fazem deste um espaço majestoso.

E porque restaurantes há muitos, quisemos saber o que faz deste especial. “O The Royal permite aos clientes desfrutarem de um ambiente de negócios, uma palestra/formação de trabalho, um almoço corporativo, uma festa temática, um buffet, música ao vivo, e até uma noitada mais animada… O espaço é multifacetado e pode também acolher lançamentos de marcas/produtos, entre outros.”

Felizmente, a diversidade também se estende à cozinha, de onde saem apetitosos manjares, desde a famosa tábua de carnes à Royal Pizza, sem esquecer o popular sushi, a suculenta picanha ou as exóticas ostras.

Mas o que não pode mesmo negar às suas papilas gustativas é o prazer de saborear o atum braseado (seared tuna).

São 200 g de lombo fresco de atum nacional, preparado com uma mistura de gergelim, sete temperos japoneses, redução de vinagre balsâmico

e servido numa generosa cama de rúcula. Uma experiência sublime!

E se o que procura num restaurante é mais do que boa comida, saiba que neste há sessões de música ao vivo. “O público não vai a um restaurante apenas para se alimentar… a experiência, a animação, o ambiente e a música são fundamentais.

Optamos por variar nas apresentações de forma a agradar à maior diversidade de público possível, temos karaoke, música acústica, apresentação de DJ e bandas renomadas.”

Bem feitas as contas, o The Royal está mais do que preparado para o receber: da elegante decoração ao atendimento, sem descurar aspectos práticos como o estacionamento ou a incrível experiência sensorial oferecida pelas iguarias e pela música, este espaço tem tudo. Só falta a sua presença.

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Novare Matola Mall
THE ROYAL g Majestosa
Felizmente, a diversidade também se estende à cozinha, de onde saem apetitosos manjares, desde a famosa tábua de carnes à Royal Pizza, sem esquecer o popular sushi...

Os Segredos da Bebida Tradicional

com o início do ano, no sul de Moçambique, em particular no distrito de Marracuene, começa a época do canhú, conhecido também como Marula, uma fruta encontrada na África Austral, cujas origem e ocorrência estão associadas ao povo Bantu. Uma pequena fruta verde que, ao amadurecer, toma uma tonalidade amarelada. É abundante na região e conhecida como especialidade do distrito.

De pequena, a fruta tem apenas o tamanho, mas a sua importância para o histórico distrito de Marracuene, o seu sabor e as curiosidades que giram à sua volta fazem dela uma verdadeira atracção que atinge o auge a cada dia 2 de Fevereiro, data em que se homenageiam os guerrilheiros que resistiram à ocupação colonial do distrito de Marracuene, e em que dezenas de milhares de pessoas, idas de todas as partes do sul do País, se sentam no mesmo recinto para desfrutarem do que é conhecido como “O Festival do Canhú”, bebida destilada a partir da fruta com o mesmo nome. Ou seja, o momento de exaltação dos heróis locais contra a invasão colonial (conhecidos pelos nomes de Nwamatibyana, Mahazule, Zilhalha, Mabjaia e outros tombados na batalha de Marracuene em 1895) ocasiona a invasão de Marracuene para a festa do canhú, também conhecida por Guaza Muthini.

Na edição de 2023, a época do canhú foi oficialmente aberta a 6 de Janeiro. E a E&M esteve lá para explorar os mistérios e curiosidades em torno desta adega. Ficámos a saber que os habitantes de Nhongonhane (bairro de maior ocorrência do canhú em Marracuene) são os responsáveis por abastecer as festividades do Gwaza Muthini com a bebida, em celebrações que têm a particularidade de serem acompanhadas com carne de hipopótamo.

A bebida, como nos explicou a anciã Laura Nhagumbe, é feita de forma artesanal, com procedimentos bastante simples: recolhe-se a fruta e deixa-se até maturar, o que pode levar até quatro dias. A seguir, lava-se e retira-se a casca, espreme-se para extrair o líquido; separam-se as sementes e conserva-se o líquido em recipientes apropriados (geralmente galões), adicionado a um pouco de água para fermentar. Ao fim de três ou quatro dias, dependendo da temperatura do ambiente, a bebida está pronta para consumo.

Para quem preferir uma versão doce, pode consumi-la passado apenas um dia depois do último procedimento de confecção. É que a bebida pode levar três diferentes variantes: a primeira é o sumo doce não fermentado, a segunda é a bebida fermentada e alcoólica e a terceira, que resulta da segunda, é a que fica no fundo do recipiente, geralmente um pouco mais espessa. Todas estas versões têm um sabor único, inconfundível, suave e, por isso, muito apreciado tanto pelas comunidades locais co-

do Sul de Moçambique

mo por turistas nacionais e estrangeiros. Quem bebe canhú sabe que os últimos litros do galão não se dão aos mais velhos. E o velho Raimundo Boane, secretário da Vila de Marracuene, explica a razão: “é um afrodisíaco muito potente! Quando um grupo se reúne para beber, ao notar-se que já se vai aos últimos litros do odre, onde a bebida vai ficando mais espessa, os mais velhos são convidados a retirar-se e começa uma disputa entre os mais jovens pela mesma, porque ‘dá energias que os jovens gostam’ e para os mais velhos só traz confusão”, explicou o velho, tentando disfarçar o embaraço com um sorriso.

Mas a propriedade afrodisíaca da bebida não se encontra apenas na variedade espessa. Será por aqui que se explicam algumas das mais fundamentais regras de consumo: os homens ficam de um lado e as mulheres do outro. As casas-de-banho para homens ficam do lado oposto das casas-de-banho das mulheres. Se vai beber com o seu parceiro/parceira, esteja atento porque há uma outra regra de senso comum: “ninguém deve ajudar a resolver problemas (traições) que acontecerem em ambiente do consumo do canhú, e nenhum infractor será responsabilizado em nenhum outro fórum”.

Com todas as curiosidades, o canhú é, sem dúvida, uma das bebidas típicas mais apreciadas da zona sul de Moçambique. Entretanto, a fruta de que é feito é a mesma usada na destilação industrial para produção de um licor mundialmente famoso – a Amarula.

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Na edição de 2023, a época do canhú foi oficialmente aberta a 6 de Janeiro. E a E&M esteve lá. Ficámos a saber que os habitantes de Nhongonhane (bairro de maior ocorrência do canhú em Marracuene) são os responsáveis por abastecer as festividades
Texto Filomena Bande Fotografia Augusto Santa Maria

Fertinegócios

Os Primeiros Passos para Uma Agricultura Amiga do Ambiente

o termo agricultura orgânica foi desenvolvido pelo inglês Sir Albert Howad, entre os anos de 1925 e 1930. No entanto, essa modalidade de agricultura ganhou força somente na década de 1960.

Consiste em não utilizar fertilizantes sintéticos, agro-tóxicos, sementes modificadas, reguladores de crescimento animal e intensa mecanização das actividades, visando reduzir os impactos ambientais, além de cultivar produtos alimentares mais saudáveis.

Até aqui, este modelo ainda não está enraizado em Moçambique, mas os passos iniciais para o tornar efectivo podem já ter sido dados quando, em 2018, foi criada a Fertinegócios, uma empresa que actua em todo o ciclo de produção, desde a produção de fertilizantes e mudas de plantas, até à comercialização de vegetais.

Trata-se de uma startup que traz uma linha de produção totalmente orgânica, ou seja, segue todo o ciclo produtivo de forma orgânica, sendo o seu substrato orgânico e refinado (o seu principal produto) produzido com casca de pinho, coco e matéria orgânica.

Além do substrato, a startup fabrica adubo orgânico, substrato para sistemas semi-hidropónicos (produção em baldes, sem terra) e vegetais e frutas produzidos nos seus campos em Namaacha, província de Maputo, e que são comercializados em supermercados.

A empresa foi criada por Rui Jubileu Machiza, motivado pela busca da independência financeira. Machiza confessa que abraçou esta actividade sem qualquer formação em matérias similares, visto que é formado em gestão financeira. Por isso, teve de contar com o apoio do seu irmão, especializado em agricultura.

“Neste momento eu sou o único produtor de substrato orgânico para comercialização em Moçambique, embora existam alguns produtores de pequenas quantidades para uso doméstico.

Antes que eu começasse a produzir, os substratos comercializados no País eram todos estrangeiros, provenientes de paí -

ses como Brasil e África do Sul. Como tal, espero explorar isso e ganhar o mercado. Quero fazer análises laboratoriais e químicas para comprovar as propriedades dos meus produtos e colocar tudo isso na embalagem.

Acredito que dará uma outra dimensão ao meu negócio”, esclareceu Rui Machiza. Actualmente, a Fertinegócios tem uma carteira de clientes fidelizados em

toda a zona sul do País e noutros pontos, nomeadamente nas cidades de Tete, Quelimane e Pemba.

Esses clientes são, na sua maioria, empresas de produção orgânica de mudas, como a Agribusiness Systems, que é uma das maiores, senão a maior produtora de mudas do Sul, e algumas organizações governamentais que recebem fundos do Governo para distribuir

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insumos às comunidades. Com esta rede de clientes, a empresa chega a distribuir uma média de 500 sacos de substrato por mês.

A principal ambição da Fertinegócios, agora, é a cobertura nacional. Para isso, será necessário firmar parcerias com entidades que actuem nas diferentes zonas para possibilitar a distribuição da sua produção. Outro grande foco é criar

E mpreendedorismo

Trata-se de uma startup que traz uma linha de produção totalmente orgânica, ou seja, segue todo o ciclo produtivo de forma orgânica, sendo o seu substrato orgânico e refinado (o seu principal produto) produzido com casca de pinho, coco e matéria orgânica

uma imagem melhorada para os produtos através da elaboração de uma embalagem formal com informações essenciais – nome dos produtos, especificações laboratoriais e informações técnicas que descrevem a quantidade e os tipos de nutrientes que estes produtos contêm.

“Gosto de oferecer um pacote completo. Quando alguém quer substrato, devo explicar as propriedades que tem e

dar orientações de como trabalhar, porque o sucesso do meu cliente é o meu sucesso também. Portanto, seria muito mais fácil ter isso já na embalagem”, explicou o empreendedor.

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TEXTO Filomena Bande FOTOGRAFIA Mariano Silva & Fertinegócios

num passado não muito distante, quando o confinamento e a limitação de circulação, de repente, se tornaram numa regra de vida, o arquitecto e ilustrador Miguel César entregou-se ao trabalho de reflexão e apontamento.

Viajando pelo seu próprio interior, criou uma série de desenhos feitos à mão com esferográfica e caneta de gel sobre o papel, acabando por criar “Os Ofícios da Alma”, obra exposta na Galeria da Fundação

Fernando Leite Couto.

São no total 34 desenhos mais um (35) que mostram o processo de libertação de uma alma criativa que enfrenta a privação de liberdade, enclausurada num espaço fecha-

Covid-19 e o Confinamento que Inspirou os “Ofícios da Alma”

do e obrigada a ausentar-se do mundo.

Uma tentativa de sobreviver à solidão e à saudade dos amigos, familiares e dos lugares favoritos. São 35 telinhas (com uma dimensão de apenas 12 cm2) que mostram paisagens da natureza, lugares externos, pessoas (que são a maior fonte de inspiração do artista) e objectos.

São papéis que ilustram lugares não visitados, eventos naturais não presenciados (como, por exemplo, as estações do ano), rostos não vistos, objectos usados mesmo sob obrigação (como o álcool em gel e

as máscaras), tudo visto à lupa e através dos óculos de um preso domiciliário em busca de conforto para o espírito.

Finalmente livre, com o retorno à vida normal em 2022, Miguel buscou métodos para conservar os seus desenhos, os seus companheiros e todos os itens que eram vitais na altura do confinamento.

Talvez tenha sido uma forma inconsciente de expressar a sua vingança pela reclusão. O artista vitrificou os desenhos em resina, congelou-os e confinou-os de tal forma que não mais poderão ser libertos, porque qualquer tentativa de alforriá-los os destruiria.

Como artista, Miguel César confidenciou-nos que “não trabalha para fazer exposições, elas nascem de forma espontânea, no acaso originado pe-

la presença de obras”. A sua maior linguagem artística é a pintura, mas acompanham também a escultura, a pintura mural, a pintura a óleo e acrílica e o teatro. Neste último, tem algumas participações na concepção e execução de cenários para peças de companhias nacionais.

O arquitecto e ilustrador moçambicano, natural de Sofala, revela que “fazer arte não é tarefa fácil, pois esta precisa de ser executada com muita atenção e dedicação, um trabalho que deve partir, em princípio, do interior do próprio artista, dos seus sentimentos e experiências”.

Ode à arte!

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A exposição do artista e arquitecto
Miguel César está patente na Fundação Fernando Leite Couto
TEXTO Filomena Bande FOTOGRAFIA Mariano Silva
OS OFÍCIOS DA ALMA
Finalmente livre, em 2022, buscou métodos para conservar os seus desenhos, os seus companheiros e todos os itens que eram vitais na altura do confinamento

ACTIVESPHERE

O Audi Activesphere tem 4,98 metros de comprimento, 2,07 metros de largura, 1,60 metros de altura e 2,97 metros de entre-eixos. As rodas usam pneus 285/55

O Novo ‘Dois em um’ da Audi

O MODELO ACTIVESPHERE foi apresentado a 26 de Janeiro e é o último dos protótipos sphere da Audi, seguindo os modelos skysphere de 2021, grandsphere e urbansphere space de Abril de 2022.

O carro inovador da Audi tem a grande atracção de ser um verdadeiro ‘dois em um’. Em apenas um segundo pode transformar-se de SUV Coupé de cidade para uma pick-up capaz de transportar cargas. Mas os atractivos do Audi activesphere não se limitam à versatilidade da sua carroçaria (SUV e pick-up).

O carro permite uma condução autónoma total em que o volante e os pedais desaparecem. Neste protótipo não há qualquer tipo de monitor, pois os menus serão apresentados através de óculos de realidade virtual.

O novo conceito eléctrico da Audi aumenta as ambições pa-

ra os próximos carros. O seu alcance é de 600 km/h, tem rodas dinâmicas (quando usadas off-road, abrem-se para optimizar a ventilação e, na rodovia, fecham-se para favorecer a aerodinâmica) e tracção eléctrica.

O Audi Activesphere tem 4,98 metros de comprimento, 2,07 metros de largura, 1,60 metros de altura e 2,97 metros de entre-eixos. As rodas usam pneus 285/55. Além disso, a tecnologia de carga é de 800 volts, garantindo que a bateria pode ser carregada com até 270 kW num tempo de carga muito curto (apenas 10 minutos são suficientes para carregá-la a um nível que permite ao veículo rodar mais de 300 km. E em menos de 25 minutos, a bateria de 100 kWh carrega de 5% a 80%).

Segundo a Audi, esta tecnologia revolucionária entrará, pe-

la primeira vez, nos segmentos de faixa média de alto volume e de luxo com a plataforma eléctrica premium da marca.

“Os veículos sphere concept apresentam a nossa visão para a mobilidade premium do futuro. Estamos a viver uma mudança de paradigma, especialmente no interior dos nossos futuros modelos Audi. O interior transforma-se num lugar onde os passageiros se sentem em casa e podem ligar-se ao mundo exterior ao mesmo tempo.

A inovação técnica mais importante no Audi activesphere é a nossa adaptação da realidade aumentada à mobilidade. A Audi dimensions cria a síntese perfeita entre o espaço envolvente e a realidade digital”, afirmou Oliver Hoffmann, membro da Direcção de Desenvolvimento Técnico da Audi.

vSegundo a Audi, esta tecnologia revolucionária entrará, pela primeira vez, nos segmentos de faixa média de alto volume e de luxo com a plataforma eléctrica premium da marca

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O Novo ‘Dois em um’ da Audi

2min
page 74

Covid-19 e o Confinamento que Inspirou os “Ofícios da Alma”

3min
page 73

Fertinegócios - Os Primeiros Passos para Uma Agricultura Amiga do Ambiente

4min
pages 70-71

Os Segredos da Bebida Tradicional do Sul de Moçambique

4min
page 69

The Royal – Uma Experiência Majestosa

3min
page 68

Maya Bay - Estamos Sempre a um Passo do Paraíso

8min
pages 66-67

“Vamos Conectar 4,5 Milhões de Moçambicanos em Três Anos”

9min
pages 58-60

Das Perspectivas Económicas às Grandes Preocupações do Momento

8min
pages 52-54

Quando Uma Cidade Inteira Cabe na Palma da Nossa Mão

4min
pages 46-47

Tecnologia é (Des)Emprego? Como é Que Nós, e o Mercado, Podemos Reagir?

10min
pages 42-45

O Homem Será Mais Criativo e o Mundo Totalmente Novo… Em Dez Anos!

8min
pages 34-36

Com a Inteligência Artificial Cada Vez Mais Real, Como Faremos Nós Parte do Futuro?

18min
pages 24-31

Uma Década à Espera de Uma Lei… E Muito Ainda Por Esclarecer

5min
pages 20-21

O Fardo do Preço dos Transportes e o Peso das Taxas de Juro

8min
pages 14-17

A IA Generativa Explicada... Pela IA Generativa

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pages 10-11

Crise Energética Pode Estender-se Até 2025

2min
page 6

Inteligência Artificial. O Futuro no Presente

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Inteligência Artificial. O Futuro no Presente

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O Novo ‘Dois em um’ da Audi

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Covid-19 e o Confinamento que Inspirou os “Ofícios da Alma”

1min
pages 71-72

Os Primeiros Passos para Uma Agricultura Amiga do Ambiente

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pages 68-69, 71

Os Segredos da Bebida Tradicional

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pages 67-68

The Royal – Uma Experiência

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do Paraíso

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pages 64-66

Estamos Sempre a um Passo

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A Boutique Inclina.

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pages 60-61

“Vamos Conectar 4,5 Milhões de Moçambicanos em Três Anos”

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pages 56-58

As Redes de Negócio de Sucesso são 99,99% Baseadas no Capital de Confiança Individual

4min
pages 54-55

Das Perspectivas Económicas às Grandes Preocupações do Momento

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pages 50-52, 54

Quando Uma Cidade Inteira Cabe na Palma da Nossa Mão

6min
pages 46, 48

Tecnologia é (Des)Emprego? Como é Que Nós, e o Mercado, Podemos Reagir?

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pages 42-45

Culturas Regenerativas –A Esperança não é Algo que se Tem, é Algo que se Faz

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pages 38-39

O Homem Será Mais

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pages 34-36

Um Teste Rápido à Eficácia da Inteligência Artificial

4min
pages 32-33

Com a Inteligência Artificial Cada Vez Mais Real, Como Faremos Nós Parte do Futuro?

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pages 25-31

Como a Robótica Está a Moldar o Nosso Futuro

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Uma Década à Espera de Uma Lei… E Muito Ainda Por Esclarecer

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pages 20-22

Das Perdas e Desperdício Alimentar

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O Fardo do Preço dos Transportes e o Peso das Taxas de Juro

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pages 14-17

Reservas Obrigatórias – O Combate à Liquidez Excessiva no Sistema Financeiro

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Exemplos de IA Generativa

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NÚMEROS EM CONTA A IA Generativa Explicada... Pela IA Generativa

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Crise Energética Pode Estender-se Até 2025

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Inteligência Artificial. O Futuro no Presente

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pages 4, 6
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