Viver em São Martinho

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ças brigam à noite pelo caminho por aquilo que mendigaram. Assim cresce uma geração de proletários a quem está reservado um triste futuro.5

Na Vestfália, onde a base da economia era a agricultura, havia se difundido também, há mais tempo, o plantio do linho, cuja fibra era utilizada na fiação e na tecelagem (linifício). Tal atividade econômica trazia para as famílias dos pequenos agricultores e rendeiros um ganho suplementar, garantindo-lhes a sobrevivência. Esta atividade desenvolveu-se inicialmente nas dependências dos proprietários rurais (Bauernhöfen) para uso doméstico. Havia um ditado que dizia: “A melhor roupa do agricultor é aquela que ele mesmo tece e costura”.6 Depois, com o progresso do comércio, os agregados envolveram-se nesta atividade, fazendo dela uma fonte de renda suplementar e desenvolvendo-se, então, a tecelagem doméstica (Hausweberei). Na cozinha, único lugar aquecido da casa, encontrava-se o tear onde, do amanhecer até tarde da noite, se trabalhava sem descanso. Nos meses do inverno, quando não havia serviço nos campos, toda a família ficava envolvida nesse trabalho. Enquanto a mulher e os filhos preparavam o linho e confeccionavam o fio, o pai tecia. Além do linho, trabalhavam também com algodão fornecido por empresários de fora que, por sua vez, recebiam a mercadoria pronta e estabeleciam o preço. A maioria das famílias tinha um tear doméstico, que se constituía em importante fonte de renda para quem não possuía terra ou não tinha o suficiente para tirar dela o sustento. Em meados do século XIX, estabeleceram-se na Vestfália muitas indústrias têxteis que sufocaram completamente a produção doméstica. Os teares manuais não puderam competir com as máquinas, o que obrigou muitas famílias a emigrar para poder sobreviver.7 “Entre aqueles que podiam escolher entre a vida de um trabalhador rural ou industrial e a emigração para um país onde as terras eram baratas e férteis, muitos se decidiram pela emigração”8. A maioria das famílias de origem vestfaliana que se estabeleceu em São Martinho 5

6 7

8

HAGEN, Hermine von; BEHR, Hans-Joaquim. Bilderbogen der westfälischen Bauerngeschichte. Landwirtschaftsverlag: Münster-Hiltrup, 1988. p. 155. “Selbst gesponnen, selbst gemacht, ist die beste Bauerntracht”. Sobre a situação econômica e social na Vestfália no século XIX, confira HAGEN, Hermine von und BEHR, Hans-Joachim. Bilderbogen der Westfälischen Bauerngeschichte. Münster: Landwirtschafsverlag, 1988. WILLEMS, Emílio. A Aculturação dos alemães no Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1980. p. 33.

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