Muitos imigrantes e seus descendentes aprenderam o português, graças à presença de algumas famílias luso-brasileiras residentes na colônia. Os luso-brasileiros, por sua vez, por mais isolados que estivessem no meio dos alemães, resistiram ao aprendizado e ao uso da língua germânica, salvo raras exceções.3 Mas o principal motivo do aprendizado do português foi a necessidade. O comércio praticado com a população de língua portuguesa em Imaruí e em Laguna levou a maioria das famílias a aprender o mínimo de idioma nacional, principalmente os pais de família, que levavam os produtos ao mercado daquelas cidades. Nos períodos de guerra, principalmente durante o segundo conflito mundial, a população de São Martinho foi afetada pela proibição do uso da língua alemã. Esta proibição, no entanto, não atingiu tão fortemente o uso da língua materna no âmbito familiar e no cotidiano, por causa da distância dos centros de repressão e do isolamento em que vivia a população. Vale destacar que o então prefeito de Imaruí, tinha na região de São Martinho alguns importantes aliados políticos de origem alemã. Por isso, e a pedido destes, fez vista grossa ao uso do idioma alemão entre os colonos durante a guerra.4 Como autoridade máxima no município, não molestou seus súditos de origem alemã. Procurou “ignorar” o fato de a população de São Martinho ser de origem alemã e praticar o idioma alemão. Afinal, dessa população “obediente e laboriosa” procediam os fiéis eleitores que já lhe haviam dado, e ainda lhe dariam, a vitória nas urnas. Mas, acatando ordens superiores, houve remanejamento de professores. Os de origem alemã foram transferidos para escolas onde a população era luso-brasileira e as escolas de São Martinho foram confiadas à professoras luso-brasileiras. Terminada a guerra, todos voltaram aos seus antigos postos de magistério. Nas escolas comunitárias que existiram em São Martinho até à primeira guerra mundial, ensinava-se em língua alemã com material didático proveniente da Alemanha. Após a guerra as escolas foram encampadas 3
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Até a década de 1970 eram raros os casamentos interétnicos. Quando isso acontecia, prevalecia o idioma falado pela mãe. Por isso, algumas famílias luso-brasileiras se germanizaram porque as respectivas mães eram de origem alemã. Como exemplo, cita-se a família de Silvano Espíndola, cujas filhas aprenderam a falar fluentemente o alemão porque a mãe (Adélia Baasch) era de origem alemã. O prefeito era o capitão Pedro Bi encourt, e um dos principais cabos eleitorais na região de São Martinho era Felipe Heerdt, residente em Rio São João. A pedido deste, o prefeito teria “ignorado” o uso do alemão pelos colonos.
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