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Nascimento
O nascimento de uma criança era sempre um acontecimento importante e nos revela as crenças e as tradições trazidas pelos imigrantes para o Vale do Capivari, especialmente para São Martinho. É necessário observar que a gravidez era considerada uma doença cercada de mistérios. Sobre este assunto, os pais mantinham absoluto segredo. Não podiam, em hipótese alguma, tratá-lo com os filhos. Como os bebês nasciam em casa, os filhos passavam o dia com parentes ou vizinhos. As crianças eram convencidas a acreditar na história da cegonha que pescava o recém-nascido em alguma lagoa da redondeza. E a parteira era a encarnação da cegonha. Era ela que trazia os bebês. Os filhos eram vistos como uma bênção divina e, por isso, as famílias tinham prole numerosa. O nascimento da criança era anunciado aos vizinhos e aos parentes. A parturiente ficava sete dias de cama e durante quarenta dias não aparecia em público. Sua alimentação era sopa de galinha para não causar cólicas à criança. Nos primeiros domingos após o nascimento da criança, as mães vizinhas faziam a sua visita à nova mãe. Neste dia as mulheres costumavam ir acompanhadas de seus maridos. Davam os parabéns aos genitores pelo recém-nascido, desejando, ao mesmo tempo, viel Glück und Segen, muita felicidade e bênção. Os homens reuniam-se em torno de uma mesa para jogo de cartas, enquanto as mulheres faziam companhia à mãe do recém-nascido. As visitantes costumavam levar alguma oferenda, na maioria dos casos uma galinha, uma dúzia de ovos, alguma massa de farinha de trigo, arroz, ou outro artigo semelhante para a cozinha do lar feliz. Outros levavam um vestidinho, um sabonete ou um frasco de talco. Essa tradição faz parte da religiosidade do povo, pois segundo o relato bíblico, o menino Jesus recebeu a visita dos Reis Magos que lhe ofereceram presentes. No meio da tarde, todos os convivas eram chamados à mesa para o Kinderkaffee, o café de bebê, onde eram servidos doces, bolos e cucas. Os homens não podiam recusar um trago de cachaça. A escolha do nome cabia geralmente aos pais. Quanto a isto, podem-se observar várias fases: nos primeiros tempos prevaleceram os nomes da tradição familiar, isto é, os filhos recebiam os nomes dos avós e dos tios que também eram os padrinhos. Se o filho mais velho era do sexo masculino, recebia o nome do avô paterno que também era seu padrinho, se era do sexo feminino, recebia o nome da avó que [ 246 ]